Ângelo Kretã
Ângelo dos Santos Souza Kretã (Aldeia Indígena de Mangueirinha, 12 de dezembro de 1942[1] — Pato Branco, 29 de janeiro de 1980) foi uma liderança indígena brasileira do povo caingangue. Era filho do professor branco Gentil Souza e da índia Balbina da Luz Abreu. Para ter direito a uma posição na sociedade da sua aldeia, foi batizado com o sobrenome indígena que havia pertencido a seu bisavô materno, o cacique Antônio Joaquim Kretã. Foi criado por um tutor, o líder João Antônio de Morais.[2] Quando criança sua aldeia foi expulsa da Terra Indígena de Mangueirinha, que foi fracionada e vendida pelo governo. Em 1963 a FUNAI começou a trabalhar para reaver as terras para os índios, mas sem sucesso.[3] Nesta época Kretã deixou a casa de Morais e passou a viver na aldeia.[4] Viveu como agricultor e se destacou em trabalhos comunitários. Em 1971 foi eleito cacique, e ao discursar em sua posse afirmou o compromisso de recuperar o protagonismo dos índios nos assuntos que lhes diziam respeito.[2] Kretã começou a se tornar mais conhecido quando foi eleito vereador pelo MDB em 1976, o primeiro indígena brasileiro a assumir uma legislatura, defendendo a demarcação das terras indígenas. Entre 1978 e 1979 liderou a retomada de posse das Terras Indígenas de Chapecó, Rio das Cobras e Mangueirinha, nesta recuperando mais de 9 mil hectares para seu povo, de uma área original de 18 mil ha, expulsando posseiros que lá estavam instalados,[5] e dando início a um movimento que se espalhou por vários estados.[2] Em 1979 foi um dos principais articuladores na criação da União das Nações Indígenas.[6] Sua atividade desencadeou resistências de latifundiários e madeireiros, passando a receber ameaças, e em 22 de janeiro de 1980 sofreu um acidente automobilístico, vindo a falecer no dia 29 no hospital de Pato Branco, havendo indícios de ter sido um atentado. Sua morte recebeu ampla divulgação.[3][5] O sepultamento contou com a presença das principais lideranças indígenas dos três estados do sul do Brasil e de São Paulo.[5] Foi casado com Elvira dos Santos, deixando o filho Romancil e a filha Eloy. Romancil Kretã tornou-se cacique e continua suas lutas.[2] Ângelo Kretã tornou-se um símbolo das lutas indígenas no Brasil.[5] Hoje é visto como uma importante liderança indígena brasileira[7][8] e a maior liderança do sul nos primórdios do movimento de retomadas.[9] O dia de sua morte é comemorado como Dia de Luta e Resistência dos Povos Indígenas da Região Sul.[8] Seu nome batiza uma escola em São Paulo, por conta "da relevância dos serviços prestados à comunidade indígena",[10] uma praça em Curitiba e a Sala Angelo Kretã no Solar do Barão em Curitiba. Em 2017 um evento no Solar do Barão recuperou sua memória,[9] quando o prefeito Rafael Greca abriu oficialmente o seminário Em Memória de Ângelo Kretã: Balanços e Perspectivas sobre a Questão Indígena no Sul do Brasil, realizado na Universidade Federal do Paraná.[11][7] Em 2020 várias entidades indígenas do sul do país organizaram uma grande festividade na Terra Indígena Tupã Nhe'é Kretã para homenageá-lo.[5] Na ocasião as lideranças publicaram uma carta aberta denunciando as violações dos direitos indígenas e fazendo várias reivindicações.[12] No mesmo ano a Assembleia Legislativa do Paraná instituiu a Semana Ângelo Kretã de Luta pelos Direitos dos Povos Indígenas, a ser comemorada na primeira semana de abril.[4][13] Ver tambémReferências
Ligações externas
|