Abu 'Ali al-Muhassin al-Tanukhi (Tanukhi) nasceu na Síria e perdeu a visão aos quatro anos devido à varíola.[3] Era originário da cidade de Maarate Anumane (المعرة) na Síria, da qual seu nome deriva. Estudou em Alepo, na Antioquia, e em outras cidades sírias, onde seguiu uma carreira como pensador, filósofo e poeta antes de retornar à sua cidade-natal de Maarate Anumane, onde viveu o resto da vida, praticando ascetismo e o veganismo.[4][5]
Viajou rapidamente para o centro de Bagdá, onde atraiu um grande número de discípulos de ambos os sexos para ouvir as suas palestras sobre poesia, gramática e racionalismo.[6] Um dos temas mais recorrentes da sua filosofia era a dos direitos da razão contra as pretensões do costume, da tradição e da autoridade.
Embora fosse um defensor da justiça social e da ação, al-Ma'arri sugeriu que as mulheres não deveriam ter filhos, a fim de salvar as gerações futuras das dores da vida.
Al-Ma'arri ensinou que a religião era uma inútil “fábula inventada pelos antigos”,[8] exceto para aqueles que exploram as massas de crédulos.[8] Durante a vida de al-Ma'arri, muitos califados surgiram no Egito, Bagdá e Alepo, onde se serviram da religião como um instrumento para justificar o seu poder.[9]
Rejeitou os postulados do Islã, bem como de outras religiões, afirmando:
“Não pressuponhas que as declarações dos profetas sejam verdades; elas são todas mentiras. Os homens viviam confortavelmente, até que eles vieram e estragaram a vida. Os livros sagrados são apenas um conjunto de contos ociosos que poderiam ter sido produzidos em qualquer época e que, de fato, o foram.”[10]
Al-Ma'arri criticou muitos dos dogmas do Islã, tal como a Hajj (a peregrinação santa até Meca), a que chamou uma “romaria de pagãos”.[11]
Um dos seus poemas exprime exatamente os seus pontos de vista:
Todos erram — muçulmanos, cristãos, judeus e magos:
Rejeitou a alegação de qualquer revelação divina.[14] As suas convicções religiosas eram as de um filósofo e asceta, para quem a razão fornece um guia moral, e a virtude é a sua própria recompensa.[15]
Obras
As suas coleções de poesia são intituladas The Tinder Spark (Saqt az-zand; سقط الزند) e Necessidade Desnecessária (Luzum ma la yalzam; لزوم ما لا يلزم أو اللزوميات), também chamadas Luzumiyat. Ficou notável pela sua aparente descrença nas religiões reveladas, o que era raro no século XI.
Os filhos da sabedoria apegam-se mais ao onírico do que ao Arabistão.[16]
Abū al-'Ala al-Ma'arrī na elegia composta por si sobre a perda de um familiar, combina a sua tristeza com observações sobre a efemeridade da vida:
Suaviza os teus passos. Parece-me que a superfície da Terra é feita apenas de corpos dos mortos;
Caminha pausadamente no ar, assim não pisarás os restos dos servos de Deus.[17]
Abul-ʿAla também é conhecido pelo seu famoso livro Resalat Al-Ghufran (رسالة الغفران), um dos livros mais eficazes do patrimônio árabe, e que deixou uma influência notável sobre as próximas gerações de escritores. É um livro da divina comédia, que se concentra na civilização poética árabe, mas de uma forma que toca todos os aspectos da vida. As características mais interessantes do Resalat Al-Ghufran são os seus geniais devaneios, os aforismos filosóficos e a linguagem de traço burilado. Há algumas “semelhanças superficiais” do Resalat Al-Ghufran com a Divina Comédia, salientadas por alguns estudiosos.[18]
Abul-ʿAla também escreveu o Fusul wal ghayat (“Parágrafos e Períodos”), uma coleção de poesias em estilo semelhante ao Alcorão. Há alguns estudiosos que supõem que Abul-ʿAla a escreveu a fim de ilustrar que a linguagem do Alcorão não é milagrosa, mas que só é assim considerada porque já tinha sido reverenciada como tal há centenas de anos. Contudo, nem todos os estudiosos concordam com esta interpretação.
↑Bigotte de Carvalho, Maria Irene (1997). Nova Enciclopédia Larousse vol. 1. Lisboa: Círculo de Leitores. p. 33. 314 páginas. ISBN972-42-1477-X. OCLC959016748
↑Philip Khuri Hitti. Islam, a Way of Life. [S.l.]: University of Minnesota Press. 147 páginas
↑ abcBigotte de Carvalho, Maria Irene (1997). Nova Enciclopédia Larousse vol. 1. Lisboa: Círculo de Leitores. p. 33. 314 páginas. ISBN972-42-1477-X. OCLC959016748