O termo Androginia pode se refererir a dois conceitos: a mistura de características femininas e masculinas em um único ser, ou uma forma de descrever algo que não é nem masculino e nem feminino.[1]
A pessoa que se sente com alguma combinação de características culturais, tanto masculinas (andro) quanto femininas (gyne), é quem se identifica e se define como tendo níveis variáveis de sentimentos e traços comportamentais que são tanto masculinos quanto femininos.[2][3]
A palavra é muitas vezes grafada como androgenia, com variações androgênico, andrógena e androgênica, sendo termos relacionados aos testóides, androgênio, cujo sufixo deriva de genes sendo associados ao desenvolvimento ou produção hormonal das características masculinas.[4][5][6][7][8][9][10][11]
Conceito de androginia humana
A pessoa andrógina é aquela que tem características físicas e comportamentais de ambos os sexos. Assim sendo, torna-se difícil definir a que gênero pertence uma pessoa andrógina apenas por sua aparência externa, [12] denotando a androginia como ambiguidade de gênero, mas não necessariamente pertencendo a um gênero ambíguo ou epiceno, como as identidades ambíguas andrógine e ambígue.[13][14][15][16][17][18][19][20][21]
Pessoas andróginas com componentes físicos do sexo masculino geralmente utilizam adereços femininos e aquelas com componentes físicos do sexo feminino geralmente utilizam adereços masculinos, provavelmente para ressaltar a dualidade. Tende-se a pressupor que pessoas andróginas sejam invariavelmente homossexuais ou bissexuais,[22][23] o que não é verdade, uma vez que a androginia é uma caracterísitca do comportamento e da aparência individual da identidade de gênero, nada tendo a ver com a orientação sexual, ou ainda com atração erótica por alguém semelhante. Assim, pessoas andróginas podem se identificar como homossexuais, heterossexuais, bissexuais, assexuais ou ainda como pansexuais.[24][25] Há ainda os que são ginessexuais e androssexuais, não especificando o gênero, ou sexo de uma monossexualidade androgínica.[26]
No campo da psicologia, várias medidas foram usadas para caracterizar o gênero, como o Bem Sex-Role Inventory e o Personal Attributes Questionnaire.[31]
Traços masculinos são categorizados como agênticos e instrumentais, lidando com assertividade e habilidade analítica.[32] Traços femininos são categorizados como comunitários e expressivos, lidando com empatia e subjetividade.[33] Indivíduos andróginos exibem um comportamento que se estende além do que é normalmente associado ao seu gênero.[34] Devido à posse de características masculinas e femininas, os indivíduos andróginos têm acesso a uma gama mais ampla de competências psicológicas em relação à regulação emocional, estilos de comunicação e adaptabilidade situacional, e já foram associados a níveis mais altos de criatividade e saúde mental.[35][36]
O Bem Sex-Role Inventory (BSRI) foi construído pela principal proponente da androginia, Sandra Bem (1977).[37] O BSRI é uma das medidas de gênero mais amplamente utilizadas, embora ultrapassada. Com base nas respostas de um indivíduo aos itens do BSRI, Bem o classifica como tendo uma das quatro orientações de papéis de gênero: masculino, feminino, andrógino ou indiferenciado. Bem entendeu que tanto as características masculinas quanto as femininas poderiam ser expressas por qualquer pessoa e isso determinaria essas orientações de papéis de gênero.[37]
Para a Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, andrógino ou androgínico se refere a uma integração dos pares de opostos Anima e Animus, respectivamente o feminino e o masculino, sendo ambas características associadas à mesma pessoa.[38][39]
A pessoa andrógina é, também, segundo o livro "O Banquete", de Platão, uma criatura mítica proto-humana. No livro, o comediógrafo, Aristófanes descreve como teriam surgido os diferentes sexos. Havia antes três criaturas: Andros, Gynos (gino ou ginos) e Androgynos (andróginos ou andrógino), sendo Andros entidade masculina composta de oito membros e duas cabeças, ambas masculinas, Gynos entidade feminina mas com características femininas semelhantes, e Androgynos composto por metade masculina, metade feminina. Essas não estavam agradando os deuses, que resolveram separá-las e/ou dividi-las em duas partes, para que se tornassem menos poderosas. Fracionando Andros, originaram-se dois homens, que apesar de terem seus corpos agora separados, tinham suas almas ligadas, por isso ainda eram atraídos um pelo outro. O mesmo teria ocorrido com as outras duas criaturas, Gynos e Androgynos. Andros deu origem aos homens homossexuais, Gynos às lésbicas e Androgynos aos heterossexuais. Segundo Aristófanes, seriam então divididos aos terços os heterossexuais e homossexuais. Alma gêmea seria um conceito vindo dessa história com alusão criacionista, de acordo com o movimento esotérico de teosofia, de Edgar Cayce.[40][41][42][43][44][45][46]
A identidade de gênero de um indivíduo, um senso pessoal de seu próprio gênero, pode ser descrita como andrógina se ele sentir que possui aspectos masculinos e femininos. A palavra andrógino pode se referir a uma pessoa que não se encaixa perfeitamente em um dos papéis masculinos ou femininos típicos de sua sociedade, ou a uma pessoa cujo gênero é uma mistura de masculino e feminino, não necessariamente meio a meio. Embora a androginia não seja entendida majoritariamente como uma identidade sexual, muitos indivíduos andróginos se identificam como sendo mentalmente ou emocionalmente masculinos e femininos. Eles também podem se identificar com expressões mais recorrentes para demarcação de posicionamento social, como "neutros em termos de gênero", "genderqueer" ou "não-binários". Eles podem ter uma identidade equilibrada que inclui as virtudes de homens e mulheres e podem desassociar a tarefa com o gênero ao qual eles podem ser social ou fisicamente atribuídos.[50] As pessoas que se identificam como andróginas geralmente desconsideram quais características são culturalmente construídas especificamente para homens e mulheres em uma sociedade e, em vez disso, se concentram em qual comportamento é mais eficaz na circunstância situacional.[50]
Na contemporaneidade
Moda
A moda sempre foi um ambiente marcado pela polarização entre feminino e masculino, por meio de roupas culturalmente associadas ao homem e outras associadas à mulher. Entretanto, a moda andrógina vem despontando como movimento desafiador dos padrões estéticos e, por isso, segundo a jornalista especialista em moda Lillian Pace, vivemos um momento de transformação da moda pautado pela inclusão, diversidade e igualdade entre os gêneros.[51] Nesse sentido, a androginia vem sendo utilizada pela moda como instrumento social de expressão, cujo apelo vem sendo levado à frente por grandes grifes como Versace, Gucci e Luis Vuitton.[52] Trata-se, portanto, de um fenômeno na moda que mistura, intencionalmente, as características femininas e masculinas de vestimentas construindo um produto marcado pela androginia e dando visibilidade às pessoas que se não se enquadram perfeitamente nas definições binárias de gênero.[53][54][55][56][57][58][59][60][61][62][63][64][65][66][67][68][69][70]
Símbolos e iconografia
Nos mundos antigo e medieval, os andróginos eram representados na arte pelo caduceu, bastão de poder transformador na antiga mitologia greco-romana. O caduceu foi criado por Tirésias e representa sua transformação em mulher por Juno como punição por atacar cobras em acasalamento. O caduceu foi posteriormente carregado por Hermes/Mercúrio e foi a base para o símbolo astronômico do planeta Mercúrio e o signo botânico do hermafrodita. Esse sinal agora é usado às vezes para pessoas transgênero.
Outro ícone comum da androginia no período medieval e no início do período moderno foi o Rebis, uma figura masculina e feminina conjunta, muitas vezes com motivos solares e lunares. Ainda outro símbolo era o que hoje é chamado de cruz solar, que unia o símbolo da cruz (ou sautor) para masculino com o círculo para feminino.[71] Este signo é agora o símbolo astronômico do planeta Terra.
↑Goldberg, Ellen (13 de junho de 2013). «Ardhanārīśvara: An Androgynous Model of God». In: Diller, Jeanine; Kasher, Asa. Models of God and Alternative Ultimate Realities (em inglês). [S.l.]: Springer Science & Business Media !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de editores (link)