O gênero Ardipithecus compreende um conjunto de primatashominóidesfósseis encontrados no noroeste da África que são considerados descendentes dos Orrorin tugenensis e ancestrais diretos dos australopitecíneos. As semelhanças com os Australopithecus são grandes, ainda que apresentem traços mais simiescos e — entre os fósseis encontrados — menos corpulência que estes.
A análise comportamental inicial indicou que o Ardipithecus poderia ser muito semelhante aos chimpanzés, no entanto, análises mais recentes baseadas no tamanho canino e na falta de dimorfismo sexual canino indicam que o Ardipithecus era caracterizado por agressão reduzida, [1] e que eles se assemelhavam mais aos bonobos .[2]
Espécies conhecidas
Na atualidade estão classificadas duas espécies de Ardipithecus: o A. ramidus e o A. kadabba, ainda que o primeiro seja por vezes considerado uma subespécie deste último com o nome de Ardipithecus kadabba ramidus. Os fósseis de A. ramidus estão datados em um período de 3,8 a 4 milhões de anos a.C., enquanto que se considera que A. kadabba habitou o norte da África entre 5,2 m.a. a.C. a 3,8 milhões de anos a.C..
Hábitos e estilo de vida
Com base no tamanho dos ossos, acredita-se que as espécies de Ardipithecus tinham tamanho aproximado de um moderno chimpanzé. Inicialmente a análise comportamental mostrou que Ardipithecus poderia ser muito parecido com os chimpanzés, indicando que os antepassados humanos iniciais eram muito semelhantes aos chimpanzés em comportamento. Porém novos estudos questionaram tais conclusões.[3]
Em um estudo que assume o status hominínico do Ardipithecus ramidus, argumenta-se que a espécie representa uma alteração heterocrônica do plano geral do corpo dos grandes primatas.[4] Neste estudo, a semelhança da morfologia craniofacial da espécie com a dos chimpanzés subadultos é atribuída à dissociação do crescimento craniofacial do crescimento cerebral e das trajetórias associadas à história de vida, como a erupção do primeiro molar e a idade do primeiro nascimento. Consequentemente, argumenta-se que a espécie representa uma ontogenia única, diferente de qualquer macaco existente. O crescimento reduzido na região alveolar sub-nasal da face, que abriga o complexo canino projetado em chimpanzés, sugere que as espécies tinham taxas de crescimento e biologia reprodutiva diferente de qualquer espécie viva de primata. Nesse sentido, as espécies podem mostrar a primeira tendência para a psicologia social, parental e sexual humana. Consequentemente, os autores argumentam que não é mais sustentável extrapolar dos chimpanzés nas reconstruções do comportamento social e de acasalamento dos primeiros hominídeos, fornecendo mais evidências contra o chamado "modelo referencial dos chimpanzés".[5] Como os autores escrevem quando discutem o padrão incomum de crescimento cranio-dentário das espécies e a luz que pode lançar sobre as origens da sociabilidade humana:
“O contraste [dos humanos] com os chimpanzés é instrutivo, pois quando os humanos começam a desenvolver laços sociais mais amplos depois que a dentição permanente começa a romper, no mesmo marco de desenvolvimento, a projeção facial dos chimpanzés aumenta. Em outras palavras, os humanos parecem ter substituído o crescimento craniofacial por um período prolongado e intensificado de desenvolvimento socioemocional. Como um. "A.ramidus" não tem mais uma ontogenia que resulta no desenvolvimento de uma mandíbula prognática com um complexo C/P3 (que é um dos meios mais importantes pelos quais os machos disputam status dentro das hierarquias de acasalamento de outras espécies primatas), jovens e os membros sub-adultos da espécie devem ter buscado outros caminhos pelos quais se tornarem membros reprodutivamente bem-sucedidos do grupo social. A implicação dessas diferenças interespecíficas é que "A. ramidus" teria muito provavelmente um período de socialização infantil e juvenil diferente do dos chimpanzés. Conseqüentemente, é possível que em "A. ramidus" vejamos a primeira, embora incipiente, tendência para formas humanas de socialização infantil e organização social".[4]
A estrutura do hálux do A. ramidus sugere que a criatura andava ereto, e isto apresenta problemas para as teorias atuais das origens do bipedalismo dos hominídeos: acredita-se que os Ardipithecus viviam mais em florestas fechadas do que na savana, onde uma locomoção mais eficiente no consumo de energia permitida pelo bipedalismo seria uma vantagem.
O dedão do pé do Ardipithecus era preênsil, como nos demais primatas atuais, e o permitia subir nas árvores, além de pegar objetos com os pés. No entanto, as suas mãos se pareciam com as nossas principalmente pela posição do polegar que não se voltava para trás como os atuais chimpanzés e gorilas. Apesar do polegar pequeno e dos outros dedos serem muito alongados, a estrutura da mão favorecia mais a manipulação de objetos do que o segurar nos galhos das árvores como se verifica nos macacos atuais, onde o polegar voltado para trás é uma adaptação que favorece esta prática.
As teorias mais recentes afirmam que a postura bípede do Ardipithecus trariam vantagens em relação a necessidade de um comportamento mais social, possibilitando as fêmeas se dedicarem mais as suas crias (levando a mais eficiência na reprodução) e aos machos maior facilidade de trazer comida para a família. Os machos mais adaptados no andar bípede levavam mais vantagem e eram os preferidos pelas fêmeas por terem as mãos totalmente livres da tarefa de locomoção, favorecendo-o no trazer mais comida. Além disso, os pequenos caninos que tinham, em formato de diamante como nós e não em "V" como nos chimpanzés, denotam um caráter mais sociável e menos agressivo; comportamento este preferidos pelas fêmeas.
Alguns pesquisadores inferem que a forma da pelve e membros e a presença de seu hálux seqüível, que a espécie era um bípede facultativo: bípede ao se mover no chão, mas quadrúpede quando se movia em galhos de árvores.[6][7][8] A. ramidus tinha uma habilidade de andar mais primitiva do que os hominídeos posteriores, e não podia andar ou correr por longas distâncias.[9] Os dentes sugerem onívoria e são mais generalizados que os dos macacos modernos.[6]
↑ abClark, Gary; Henneberg, Maciej (2015). «The life history of Ardipithecus ramidus: A heterochronic model of sexual and social maturation». Anthropological Review. 78 (2): 109–132. doi:10.1515/anre-2015-0009
↑Sayers, Ken; Raghanti, Mary Ann; Lovejoy, C. Owen (2012). «Human Evolution and the Chimpanzee Referential Doctrine». Annual Review of Anthropology. 41: 119–38. SSRN2158266. doi:10.1146/annurev-anthro-092611-145815
↑ abWhite, T. D.; Asfaw, B.; Beyene, Y.; Haile-Selassie, Y.; Lovejoy, C. O.; Suwa, G.; Woldegabriel, G. (2009). «Ardipithecus ramidus and the Paleobiology of Early Hominids». Science. 326 (5949): 75–86. Bibcode:2009Sci...326...75W. PMID19810190. doi:10.1126/science.1175802