Augusto Müller
Augusto (August) Müller (Baden, Alemanha, 1815 — Rio de Janeiro, 1883) foi um pintor e professor de artes alemão radicado no Brasil.[1] Aluno e posteriormente professor da Academia Imperial de Belas Artes,[2] dentre suas obras conservadas pelo Museu Nacional de Belas Artes destacam-se os trabalhos: Jugurta na Prisão, Retrato de um mestre de Sumaca e o Retrato de Grandjean de Montigny.[3] O Museu Imperial possui o retrato da Baronesa de Vassouras e diversas obras de paisagem do artista, como Rio de Janeiro visto da Ilha das Cobras.[3] BiografiaImigrante alemão, e irmão do pintor Guilher Mïller, chegou ao Rio de Janeiro por volta de 1820, juntamente com seu pai. Matriculou-se em 1829 na Academia Imperial de Belas Artes, tendo sido um destacado discípulo de Debret.[1] Premiado na exposição de alunos de 1834, Muller foi, no ano seguinte, nomeado professor substituto, por concurso, da cadeira de Paisagem,[1] recebendo o título definitivo em setembro de 1851, com a aposentadoria de Félix-Emile Taunay. Lecionou até 1860 na Academia, mas pouco afeito ao que considerava mediocridade do ambiente cultural em que vivia, foi se retraindo, até que abandonou de todo a pintura. Entre seus discípulos, figurou Antônio Araújo de Sousa Lobo.[1] Müller é considerado um dos principais pintores paisagistas da época, além de ter tido um papel significativo na Academia Imperial de Belas Artes.[4] Nas palavras dos críticos:
Embora nem todos tenham uma visão totalmente positiva da arte acadêmica no Brasil no século XIX:
Academia de Belas ArtesA Academia de Belas Artes tem, então, não apenas um papel fundamental para o desenvolvimento artístico de August Müller, mas também para diversos dos artistas contemporâneos do pintor alemão.[7] O Império Brasileiro, durante o Segundo Reinado, destacou-se por investir em criar uma imagem nacional, o que planejava construir com a atuação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e com a Academia Imperial de Belas Artes. Ambas ficaram encarregadas em dar uma nova cara para a monarquia brasileira.[7] Como o Rio de Janeiro era considerada a metrópole do Segundo Reinado, ele acabou por se tornar o polo artístico do país na época, unindo a Academia Imperial de Belas Artes, a Corte e o patrocínio de Dom Pedro II, o que permitia o estudo e desenvolvimento das artes no Brasil. A Academia polarizava o movimento artístico brasileiro na época através do ensino acadêmico, suas exposições e sua colaboração com o governo.[2] O surgimento da escola de artes deve-se, em grande parte, à Missão Artística Francesa, a qual surgiu em torno de 1815. Com a chegada alguns dos idealizadores e participantes da missão francesa no Brasil, foi feito o decreto de 12 de agosto de 1816, o qual estabeleceu a criação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, que depois se tornou Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura, em 1820; por fim, foi nomeada Academia das Artes, em 23 de novembro do mesmo ano por conta de outro decreto. Após a queda da monarquia no país, a escola de artes recebeu o nome oficial de Escola de Belas Artes.[2] Nicolas-Antoine Taunay é considerado o símbolo da Missão Artística de 1816.[2] Taunay teria deixado a França após a queda de Napoleão pois ele, como bonapartista, achou a situação de seu país insustentável. Após passagem por Portugal, o pintor francês optou por escolher o Brasil para sua estadia. Outras fontes afirmam que Joachin Lebreton, por ser o chefe da Missão Artística Francesa e fundador do Louvre, teria iniciado a missão também no Brasil, ao desembarcar no Rio de Janeiro em 26 de março de 1816, juntamente com Tunay e com Jean Baptiste Debret, o arquiteto Grandjean de Montigny e o escultor Auguste-Marie Tauney, irmão de Nicolas-Antoine.[2] Mas o foco volta para Nicolas-Antoine Tunay: o parisiense dedicou-se à paisagem e se tornou um dos artistas favoritos de Napoleão. Suas habilidades para retratar as cenas ao ar livre se tornaram um dos exponentes para o trabalho paisagista realizado na Academia Imperial de Belas Artes, o qual August Müller iria posteriormente se inspirar,[2] embora o principal motivo que tenha levado a escola artística dedicar grande parte do ensino de paisagem ao nacionalismo.[7] Baseando-se na literatura que se formava no Brasil, a qual focava na formação de identidade nacional, a produção iconográfica da época, como diz Lilia Schwarcz:
Tendo sua primeira exposição em 1829, a Academia de Belas Artes teve turbulências em sua direção, até que, em 1845, o progresso das artes recebeu uma conquista decisiva: a instituição dos prêmios de viagem. A partir dessa época, as exposições e concursos de viagem passaram a ser mais comuns, permitindo ao ensino artístico no Brasil ser considerado organizado e avaliador fundamental para a competência e dedicação dos componentes da missão francesa e de seus discípulos brasileiros.[2] Pinturas e gênerosOs estudos na Academia Imperial de Belas Artes foram determinantes para os estilos artísticos praticados por August Müller durante sua vida. Com a vinda de membros da Missão Artística Francesa ao Brasil, recebeu-se também a influência direta da arte francesa do início do século XIX, a qual é baseada no estilo Napoleônico e neoclássico.[2] No Brasil, os franceses encontraram não apenas o estilo colonial, mas como também o Barroco português, fazendo nascer a reprodução artística na Academia de Belas de obras influenciadas por todos esses estilos.[2] Praticou a pintura histórica (Jugurta no fosso de Túlia é sua obra mais conhecida no gênero, tendo-lhe valido a Ordem da Rosa quando exposta) e o retratismo , principalmente o da baronesa de Vassouras, o do Mestre de uma Samuca - encomendado pelo governo imperial - e o do arquiteto Grandjean de Montigny, o qual foi incluído na Exposição da História do Brasil, realizada em 1881 no Rio de Janeiro.[1] Foi também um paisagista, destacando-se nesse último gênero as vistas do Rio de Janeiro que, entre 1835 e 1840, executou por encomenda do cônsul dos Estados Unidos da América, William Wright, na capital do Império, e que lhe garantem uma situação privilegiada entre os pioneiros da pintura paisagística no Brasil.[1] O paisagismo teve um grande papel durante o Segundo Reinado, exatamente por exaltar a imagem do país e ajudar na formação de identidade nacional, como diz Lilia Schwarcz[7]: "o paisagismo, em especial aquele que destaca a exuberância tropical ou cenas do cotidiano e, mais especialmente, da própria história nacional que, nesse momento, é também redefinida e sujeita a novo calendário." Quando professor, Müller levava seus alunos ao ar livre para praticar o paisagismo, mas somente após exercícios de cópias de estampas e obras de paisagens europeias. A prática foi criticada por Manuel Araújo Porto Alegre, em uma carta direcionada ao professor, que criticava a demora para a ida ao ambiente natural e que o método utilizado poderia viciar os alunos a apenas reproduzirem cenas da Europa, enquanto as paisagens do Rio de Janeiro apresentavam mais cores e um ambiente completamente diferente.[8] Müller também usa do artificio da fotografia, como vários de seus contemporâneos. Baseando-se em fotos, o pintor alemão podia usar uma imagem congelada para a produção de suas obras.[9] Müller foi gracejado com medalha de ouro em 1834, 1840 e 1864 por causa de suas obras apresentadas nas Exposições Gerais de Belas Artes da Aiba.[1] Principais obrasComo paisagismo era a técnica que ensinava na Academia de Belas Artes,[1] Müller se destacava com as pinturas que fazia das paisagens do Rio de Janeiro,[4] mas, além disso, o pintor alemão também se sobressaia como retratista, pintando figuras do cenário brasileiro da época sob encomenda do Império ou retratando personagens históricos de forma a ajudar na formação de identidade nacional através da arte.[7] JugurtaUma das principais pinturas de Müller é a obra Jugurta na Prisão, um retrato do imperador da Numídia Jugurta no que seria uma prisão romana, conhecida como Carcere Mamertino.[10] A prisão, também chamada de carcere Tulliano, é a prisão mais antiga de Roma e, considerada por alguns, a mais antiga do mundo.[10] Localizada no Fórum Romano, o carcere Mamertino recebeu por mais de mil anos os maiores do povo e Estado de Roma, tais como o Pôncio, o rei dos gauleses Vercingetorix, São Pedro e os conspiradores de Catilina.[10] Retratado na pintura de Müller, o imperador aprece despido de roupas com exceção de um pedaço de pano vermelho que lhe cobre as genitais. As cores escuras indicam o formato da prisão Mamertina, assim como a presença de mãos de uma pessoa ajoelhado no canto superior esquerdo da tela. Diz-se que, ao ser jogado na prisão, o rei da Numídia, teria gritado: "Como é legal esse seu banheiro, Romanos!"[10] Os inimigos que ficavam aprisionados no carcere Mamertino eram mantidos ali até que os romanos decidissem ser a hora de sua execução ou, como no caso de Jugurta, permaneciam até sua morte.[10] Mestre de SumacaRetrato de um mestre de Sumaca, Manuel Correia dos Santos foi encomendado pelo governo imperial para August Müller e apresentado na Primeira Exposição Geral de Belas Artes no Rio De Janeiro.[1] Alberto Cipiniuk, em seu livro A Face pintada em pano de linho: moldura simbólica da identidade brasileira[11] classifica a pintura:[12]
No capítulo 1. O biografo e o seu assunto, o retratista e seu modelo, Alberto Cipiniuk[11] coloca em pauta o motivo que teria feito o império encomendar a pintura:[11]
Após ter apontado suas próprias indagações como elitistas, Cipiniuk justifica:[11]
Retrato da Baronesa de VassourasO Retrato da Baronesa de Vassouras exibe Eufrásia Teixeira Leite, uma herdeira e investidora financeira que investiu grande parte de sua fortuna a instituições assistenciais e educacionais da cidade de Vassouras. Sobrinha do barão de Vassouras, Eufrásia acabou por herdar o título, assim como a fortuna feita por seu pai e tio, que faziam as intermediações financeiras com os prósperos fazendeiros de café.[13] Retrato de Gradjean de MontignyO retrato de Grandjean de Montigny feito por Müller é uma das obras mais famosas do pintor alemão. Grandjean, além de ter sido o responsável por trazer a arquitetura como um dos principais estudos na academia de Belas Artes no Brasil, foi o primeiro professor oficial de arquitetura do país. Membro da Missão Artística Francesa, o professor teve sua formação como artista na Escola de Belas Artes de Paris, sob a orientação de Delannoy, Percier e Fontaine.[14] Grandjean desembarcou no Rio de Janeiro em março de 1816, juntamente com Jean Baptiste Debret, o escultor Auguste-Marie Taunaye o pintor Nicolas-Antoine Tunay.[2] O retrato do arquiteto francês foi incluído na Exposição da História do Brasil, realizada em 1881 no Rio de Janeiro.[2] Retrato de Luísa Francisca GrandjeanA esposa de Grandjean de Montigny é a mulher retratada em O Retrato de Luísa Francisca Panasco.[14] ExposiçõesComo aluno e professor da Academia Imperial de Belas Artes, August Müller teve suas obras em diversas exposições da escola artística do país, assim como em exibições de outros institutos, museus e em exposições realizadas após sua morte[1]:
Referências
Ver também
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