Balduíno II de Jerusalém ou Balduíno de Bourcq, por vezes chamado erroneamente de Balduíno de Burgo (m. 21 de agosto de 1131) foi conde de Edessa (1100-1118) e rei de Jerusalém (1118-1131).
Era filho do conde Hugo de Rethel e de Melisende de Montlhéry, tendo dois irmãos, Gervásio e Manasses, e duas irmãs, Matilda e Hodierna. Balduíno é considerado primo dos irmãos Eustácio III de Bolonha, Godofredo de Bulhão e Balduíno I de Jerusalém, mas não há a certeza do exacto grau de parentesco, talvez por parte de uma eventual avó materna, Ida de Bolonha.[1] Era também primo direito do seu sucessor em Edessa, Joscelino de Courtenay, por parte das suas mães, Melisende e Isabel de Montlhéry.
O cronista das cruzadasGuilherme de Tiro descreveu Balduíno como "um homem devoto e temente a Deus, notável pela sua lealdade e grande experiência em assuntos militares", e conta que fôra cognominado de o Espinhoso (cognominatus est Aculeus). ibne Alcalanici, cronista do século XII em Damasco que o chamava de Balduíno o Pequeno (Baghdawin al-ru'aiuis) para o distinguir de Balduíno I, notou que "depois dele não havia ninguém entre eles que possuísse bom julgamento e capacidade de governar".
Em 1100 morreu Godofredo de Bulhão. Balduíno de Bolonha foi eleito rei de Jerusalém e Balduíno de Bourcq foi nomeado conde de Edessa. Casou-se em 1101 com Morfia, filha do príncipe arménioGabriel de Melitene, seguindo o exemplo de uma aliança arménia do seu antecessor.
Boemundo I de Antioquia fora aprisionado pelos danismendidas, deixando o seu sobrinho Tancredo da Galileia, rival de Balduíno de Bolonha, na regência do seu principado. Para retirá-lo desta posição de poder, Balduíno de Bourcq ajudou a resgatar Boemundo, mas no ano seguinte juntou-se ao príncipe da Galileia para ambos auxiliarem o rei Balduíno I contra os egípcios em Ascalão.
Em 1104 os seljúcidas invadiram Edessa e, com a ajuda de Boemundo I de Antioquia, Tancredo da Galileia e Joscelino de Courtenay, Balduíno II de Edessa enfrentou-os na batalha de Harã. O resultado foi desastroso: aprisionado pelo inimigo, tal como Joscelino, o seu condado passou para a regência de Tancredo. Este e o seu tio Boemundo preferiram trocar os prisioneiros turcos por dinheiro em vez de fazer o resgate do conde cristão. Assim permaneceu em cativeiro em Mossul até 1108, data em que o seu primo Joscelino o resgatou por 60 000 dinares.
Tancredo recusou-se a devolver-lhe Edessa, mas com o apoio dos arménios, bizantinos, e até dos seljúcidas, foi obrigado a ceder. Em 1109, depois de se reconciliar com o príncipe da Galileia, participaram ambos na tomada de Trípoli. Entretanto muitos territórios na margem oriental do rio Eufrates estavam perdidos. Este rio fazia uma importante divisória no condado: em 1112, Joscelino criara um estado cruzado semi-autónomo, vassalo do condado de Edessa, ao redor de Turbessel, a oeste do Eufrates, onde as terras eram prósperas; Balduíno II controlava o território a leste, ao redor da cidade de Edessa, que era pouco populado e continuamente alvo de investidas dos seljúcidas. Assim, nesse ano Balduíno retirou Turbessel a Joscelino, que partiu para Jerusalém onde, com a morte de Tancredo, foi-lhe oferecido o seu principado da Galileia.
Rei de Jerusalém
Com a morte de Balduíno I em 1118, a coroa foi oferecida ao irmão mais velho deste, Eustácio III de Bolonha. Joscelino de Courtenay insistiu que o reino passasse para Balduíno de Bourcq, apesar de este ter exilado o primo de Edessa em 1113. Balduíno aceitou e foi coroado no domingo de Páscoa de 14 de abril desse ano. Quase imediatamente, o Reino Latino de Jerusalém foi invadido simultaneamente pelos seljúcidas da Síria e pelo Califado Fatímida do Egito. Mas o novo rei deu mostras de força e decisão e os exércitos muçulmanos abandonaram o território sem se travar qualquer batalha.
Em 1119, foi a vez do Principado de Antioquia ser invadido, e Balduíno acorreu prontamente com o seu exército. Mas o regente Rogério de Salerno não aguardou a chegada dos aliados e as suas forças acabaram por ser aniquiladas na chamada batalha do Campo de Sangue. Apesar de esta ter sido uma catástrofe para o principado cruzado, Balduíno assumiu a regência, ajudou Antioquia a recuperar-se e a expulsar os turcos ainda no mesmo ano.
Nesta época foi fundada uma segunda ordem militar: em 1118, Hugo de Payens criou a Ordem do Templo em Jerusalém, enquanto que a Ordem do Hospital, fundada em 1113, se desenvolveu em ordem militar a partir da ordem de caridade original. Balduíno também convocou um concílio em Nablus, em 1120, onde provavelmente terão sido estabelecidas as primeiras leis escritas do reino, e alargou os direitos e privilégios às crescentes comunidades burguesas.
Em 1122 Joscelino de Courtenay, nomeado conde de Edessa quando Balduíno subiu ao trono, foi aprisionado em batalha. O rei assumiu a regência de mais este estado cruzado mas também acabou por ser aprisionado pelos turcos enquanto patrulhava as fronteiras de Edessa em 1123, e acompanhou Joscelino no seu cativeiro. Eustácio Grenier assumiu a regência de Jerusalém e derrotou uma invasão egípcia. Depois da morte deste ainda no mesmo ano, Guilherme Bures foi nomeado regente.
Balduíno e Joscelino escaparam da prisão com a ajuda dos arménios em 1124. Entretanto os cruzados cercaram e tomaram Tiro com a ajuda de uma frota veneziana. Isto levaria ao estabelecimento de colónias mercantis italianas nas cidades costeiras do reino, que eram autónomas e isentas de impostos e deveres militares, sob os termos do Pacto de Varmundo (Pactum Warmundi), um tratado de aliança entre o Reino Latino de Jerusalém e a República de Veneza).
Em 1125 Balduíno reuniu cavaleiros de todos os estados cruzados e enfrentou os seljúcidas na batalha de Azaz. Apesar de os números do inimigo serem bastante maiores, os cruzados venceram e reafirmaram muita da influência que tinham perdido desde o Campo de Sangue.
Se Antioquia e Edessa não tivessem entrado em conflito um contra o outro depois desta batalha, talvez Balduíno tivesse conseguido atacar Alepo; mas pouco tempo depois esta cidade e Mossul uniram-se sob o comando de Zengui, em 1128. Incapacitado de atacar qualquer destas cidades, Balduíno tentou tomar Damasco em 1129 com a ajuda dos Templários, mas falhou.
No exército cristão que atacou Damasco em 1129 encontrava-se Fulque de Anjou, genro de Balduíno, que nomeou Melisende sua herdeira e combinou o seu casamento com o angevino. Em 1131, Balduíno adoeceu. Morreu a 21 de agosto, sendo sepultado na Igreja do Santo Sepulcro. Melisende sucedeu ao pai com Fulque como consorte e o novo casal real foi coroado a 14 de setembro.
Referências
↑A History of the Crusades, vols. I-II, Steven Runciman, Cambridge University Press, 1951-1952