Share to: share facebook share twitter share wa share telegram print page

Batalha de Vagabanta

Batalha de Vagabanta

Descrição da batalha num manuscrito do século XVI
Data 371
Local Bagauna, Bagrauandena, Armênia
Desfecho Vitória armeno-romana
Beligerantes
Império Sassânida
Reino da Albânia
Império Romano
Reino da Armênia
Comandantes
Urnair Musel I
Trajano
Vadomário

A Batalha de Vagabanta ou Bagauna foi travada em 371 perto do assentamento de Bagauna, no distrito de Bagrauandena, na Grande Armênia, entre uma força conjunta armeno-romana e um exército sassânida, com os romanos e armênios emergindo vitoriosos. Foi registrada pelo historiador romano Amiano Marcelino, bem como pelo historiador armênio Fausto, o Bizantino.

O historiador armênio Moisés de Corene e vários historiadores armênios posteriores que o seguiram colocam a batalha em um campo chamado Zirave, e assim a batalha é chamada de Batalha de Zirave em algumas fontes armênias. Na visão dos historiadores Hakob Manandian e Nina Garsoïan, este é um erro de Moisés ou uma confusão da Batalha de Vagabanta com a batalha em Ganzaca descrita no próximo capítulo da história de Fausto.[1][2]

Contexto

Após o Paz de Nísibis de 363 selada pelo Império Romano e o Império Sassânida, pela qual os romanos deixariam de intervir nos assuntos armênios, a Armênia foi deixada à mercê do xainxá Sapor II (r. 309–379), que em 367/68 aprisionou o rei Ársaces II (r. 350–368) e se esforçou para consolidar o domínio persa no país. Em 369, o imperador Valente (r. 363–378) permitiu que Papa, filho de Ársaces II, retornasse à Armênia acompanhado pelo general Terêncio. No entanto, Papa foi logo expulso da Armênia pelos exércitos de Sapor e forçado a se esconder em Lázica.[3] Enquanto Papa estava escondido, Sapor o contatou e o persuadiu a mudar sua lealdade à Pérsia, mas essa tentativa de reaproximação foi abortada quando o general de Valente, Arinteu, chegou e restaurou Papa ao trono armênio pela segunda vez.[4]

Sapor ficou furioso com esse movimento, mas não considerou que a paz com os romanos fosse nula até o inverno de 370. Sapor reuniu um exército, que, de acordo com Fausto, incluía as forças de seu aliado, o rei Urnair da Albânia,[5] e invadiu a Armênia na primavera de 371. Valente enviou um grande exército para a Armênia sob o comando dos generais Trajano e Vadomário, mas com ordens de se envolver apenas em ações defensivas, na esperança de manter a paz com a Pérsia.[6] Os armênios também reuniram seu exército sob o comando do asparapetes (comandante-em-chefe) Musel I e se encontraram com os romanos perto do assentamento de Bagauna, no distrito de Bagrauandena, no sopé do monte Nifates, perto da nascente do rio Arsânias.[7] Fausto dá o número do exército armênio como 90 mil.[5]

Batalha

O exército combinado armeno-romano encontrou a força invasora sassânida perto de Bagauna. De acordo com Amiano Marcelino (29.1.3), os romanos inicialmente se retiraram para evitar o combate, mas acabaram sendo forçados a responder aos ataques da cavalaria sassânida e obtiveram uma vitória decisiva na batalha subsequente, infligindo pesadas baixas aos persas. Fausto dá crédito considerável pela vitória ao asparapetes Musel.[7] Fausto também conta como Urnair pediu a Sapor para deixar seu contingente enfrentar a força armênia, e como Musel se envolveu num combate individual com Urnair e feriu o rei albanês, mas permitiu que escapasse com vida.[5][8] Isso pode indicar que a batalha ocorreu de forma semelhante a outras batalhas onde os romanos e seus aliados enfrentaram os persas e seus aliados, com os romanos enfrentando os persas e os aliados lutando entre si.[9] Segundo Fausto, Papa não participou da batalha e observou do Nifates junto com o patriarca Narses I, o Grande a pedido dos generais romanos.[7][5]

Rescaldo

Amiano (29.1.4) escreve que vários outros combates foram travados após a vitória armeno-romana em Bagauna, com resultados variados. Fausto conta sobre outra grande batalha em Ganzaca no Azerbaijão, onde os armênios e romanos derrotaram os persas novamente, desta vez com Sapor liderando em pessoa.[10] Após essas batalhas, Sapor enviou emissários e uma trégua foi acordada. Sapor então retornou a Ctesifonte e Valente a Antioquia, com a Armênia efetivamente sob a suserania romana.[7] A trégua duraria sete anos.[11] Como resultado dessas vitórias, Musel teria reconquistado muitos territórios armênios perdidos e forçado os nobres que se revoltaram contra a monarquia arsácida a se submeterem à autoridade de Papa.[7][12][a]

Notas

[a] ^ A extensão da reconquista dos territórios armênios por Musel não é certa e provavelmente exagerada por Fausto. Fausto nomeia os seguintes territórios entre os recapturados: parte do Azerbaijão, Nova Siracena, os distritos de Corduena, Codritom e Tamoritis, em Gordiena, as províncias de Gogarena, Caspiana e Arzanena, os distritos de Sacasena e Gardamana, em Otena, o distrito de Coltena, em Artisaquena, e os principados de Sofanena, Ingilena e Anzitena, na Armênia Quarta. Manandyan descarta a reconquista de Arzanena e Corduena (que haviam sido cedidas à Pérsia por Roma em 363), bem como a captura da Sofanena, Ingilena e Anzitena, que haviam sido anexadas por Roma.[13] Chaumont considera improvável a reconquista de territórios da Albânia (Orquistena, Otena, Sacasena, Gardamana e Coltena).[8]

Referências

  1. Manandyan 1957, p. 205.
  2. Fausto, o Bizantino 1989, p. 308, V.iv n. 1.
  3. Lenski 2002, p. 172.
  4. Lenski 2002, p. 173.
  5. a b c d Fausto, o Bizantino 1989, p. 189-194 (V.4.197-204).
  6. Lenski 2002, p. 174.
  7. a b c d e Lenski 2002, p. 175.
  8. a b Chaumont 1985.
  9. Hughes 2013, p. 102.
  10. Fausto, o Bizantino 1989, p. 184-196 (V.4.204-207).
  11. Hughes 2013, p. 106.
  12. Fausto, o Bizantino 1989, p. 199-202 (V.8-20.213-217).
  13. Manandyan 1957, p. 208.

Bibliografia

  • Chaumont, M. L. (1985). «Albania». Enciclopédia Irânica. Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Colúmbia 
  • Fausto, o Bizantino (1989). Garsoïan, Nina, ed. The Epic Histories Attributed to Pʻawstos Buzand: (Buzandaran Patmutʻiwnkʻ). Cambrígia, Massachusetts: Departamento de Línguas e Civilizações Próximo Orientais, Universidade de Harvard 
  • Hughes, Ian (2013). Imperial Brothers: Valentinian, Valens and the Disaster at Adrianople. Barnsley: Pen & Sword. ISBN 978-1848844179 
  • Lenski, Noel Emmanuel (2002). Failure of Empire: Valens and the Roman State in the Fourth Century A.D. Berkeley, Los Angeles e Londres: Imprensa da Universidade da Califórnia 
  • Manandyan, Hakob (1957). Kʻnnakan tesutʻyun hay zhoghovrdi patmutʻyan, hator B, masn A [Critical theory of the history of the Armenian people, volume II, part I]. Erevã: Haypethrat 
Kembali kehalaman sebelumnya