Bento de Queiroz Pereira Pinto Serpe e Melo (Favaios, 8 de setembro de 1772[1] - Avidagos, 17 de maio de 1816[2]), foi um fidalgo e militar português, brigadeiro de ordenanças na guerra peninsular.
Biografia
Era filho de José Pereira Pinto de Queiroz Sarmento Guedes (1738 - c. 1799), morgado de Santo António de Favaios, Capitão-mor de Favaios desde 30 de outubro de 1770 até à data de seu falecimento,[3] com sua prima D. Ana Bernardina Pereira Pinto Serpe e Melo (1744 - 1805), herdeira por sua mãe do morgadio de São Nicolau de Alcongosta, no Fundão, e por seu pai herdeira do morgadio de Lourosa, que incluía as casas e quintas de Lourosa, Covelo e Cruzeiro, todas situadas em Viseu e seu termo.[4][5][6]
D. Ana Bernardina usava o sobrenome Melo por várias linhas de ascendência, sendo a primogénita a da sua bisavó,[7] D. Jacinta de Melo, filha herdeira de Fernão de Melo Soares, moço fidalgo da Casa Real em 1648[8] e chefe da varonia dos Melo, em Portugal.[9][10] E era também a representante da linha primogénita da família Vaz Guedes Pereira Pinto (ou seja, a família do renomado humanista do século XVI, Frei Diogo de Murça, e dos morgados do Arco, em Vila Real, fundado no ano de 1636 por um sobrinho-neto de Frei Diogo), por ser neta de Nicolau Pereira Pinto da Fonseca,[11] morgado de Alcongosta,[12] moço-fidalgo da Casa Real em 08.05.1696,[13][14] e filho mais velho do 3.º morgado do Arco, no qual não sucederia, por ter falecido ainda em vida de seu pai.[7]
Bento de Queiroz foi o primogénito de 4 irmãos e 3 irmãs (entre as quais se destacou Maria Vitória Serpe e Melo, casada em segundas núpcias com o dirigente político e militar luso-brasileiroFrancisco de Albuquerque Melo),[15] pelo que veio a ser herdeiro e senhor dos morgadios de Favaios, Alcongosta e Lourosa.[16]
Além de Capitão-mor de Favaios e Alijó, foi brigadeiro de ordenanças a partir de 1809,[18] participando ativamente no recrutamento e comando de tropas para defesa contra a segunda e a terceira invasão francesa de Portugal.
Foi também, como grande proprietário em Favaios, Avidagos, Viseu e Fundão, personalidade bem conhecida e influente na política local dessas regiões.
A sua memória seria recordada em obra literária, logo após a sua inesperada morte, através de uma elegia de 15 páginas, da autoria do escritor e poeta Francisco José Cabral,[20] publicada em Lisboa no ano de 1816, sob o título "Elegia à morte de Bento de Queiroz Pereira Pinto Serpe e Mello".[20][21]
A elegia começa com um soneto:
Em um carro tirado por Arpias
Divaga a Morte sobre a Terra e mares
Fervem-lhe em torno trágicos azares
Torvas Esfinges, lívidas, sombrias:
(...)
Debaixo de seus pés, Queiroz baqueia;
Em hora triste, em hora malfadada,
Da vida se lhe rompe a frágil teia.
E desenvolve-se assim:
II
Por lei, de que nenhum mortal se esquiva
Finalizou Queiroz;que perda ingente!
A torva, carrancuda Libitina
Guerra declara a tudo o que é vivente
III
Em feia estância, em erma penedia
Entre a Esposa e o Irmão, que ali concorre,
Com Deus no coração, com Deus nos lábios,
Olhando para o Ceo, suspira e morre
IV
Que é d'elle? aonde está? não posso achá-lo
Já é cinza na fria sepultura;
Em fumo se tornou uma existência,
que merecia ter perpétua dura.
V
Este bom cidadão, bom pai e esposo
Que suspiros do peito nos arranca!
Mirrou-se aquella mão, que dadivoza,
A todos foi clemente, a todos franca.
E a elegia prossegue, neste tom, até a última quadra, de número 46.
O autor do "Portugal Antigo e Moderno", renomado dicionário corográfico de Pinho Leal, comentando-a no ano de 1886, considerou tratar-se de "bonitos versos... qualquer dos nossos poetas se ufanaria, assignando-os".[21]
Bento de Queiroz Pereira Pinto faleceu na sua quinta do Carvalhal, em Avidagos, sendo sepultado na respectiva capela.[2][23]
Casamento e descendência
Casou-se em Vila Real, na freguesia de São Pedro, em 12 de fevereiro de 1797,[25] com sua prima, D. Leonor Vaz Guedes Pereira Pinto, filha de Miguel António Vaz Guedes Pereira Pinto, Fidalgo da Casa Real, 5.º senhor do Morgado do Arco, em Vila Real, e dos Morgados de S. Miguel e de Montebelo, no Fundão,[26] e de Francisca Margarida Leocádia Pereira Pinto de Magalhães.
↑«Viseu: antiga e nobilíssima cidade de Portugal, Viseu. - Biblioteca Nacional Digital». purl.pt. Comissão de Iniciativa e Turismo de Viseu. Dezembro de 1931. pp. 4–5. Consultado em 10 de novembro de 2024. [No] Fontêlo ... nota-se à esquerda um portão brasonado (Serpes e Melo) encimada por uma cruz de granito, vasada e rendilhada, que dá o nome à Casa: é a Casa do Cruzeiro.
↑ abManuel José da Costa Felgueiras Gaio (1940). «Biblioteca Nacional Digital. Nobiliário de Famílias de Portugal, Tomo 23, § 10». purl.pt. p. 52. Consultado em 23 de setembro de 2023. Nicolau Pereira Pinto... casou com D. Josefa de Mello, filha herdeira de Lourenço de Mello Sampaio, filho 2.º da casa de Espinhosa e de sua mulher D. Jacinta de Mello, filha herdeira de Fernão de Mello Soares... morreu em vida de seu pai e por isso perdeu o morgado do Arco, que passou para seu irmão...sua filha herdeira casou com Filipe Serpe... [sendo pais de] D. Ana Bernardina de Mello, casada com José PInto de Queiroz, capitão-mor de Favaios
↑«Anuário da Nobreza de Portugal - 1985 - III. Tomo II». www.biblioteca-genealogica-lisboa.org. 1985. pp. 1041 – 1042. Consultado em 23 de setembro de 2023. D. Jacinta de Mello... filha herdeira de Fernão de Mello Soares... chefe da varonia dos de Mello em Portugal
↑Anuário da Nobreza, op. cit., p. 1041 ("Nicolau Pereira Pinto da Fonseca, morgado de Alcongosta. filho primogénito de Miguel Pereira Pinto do Lago, morgado do Arco, em Vila Real")
↑«Monumentos. Casa de Santo António de Favaios». www.monumentos.gov.pt. Consultado em 25 de junho de 2023. 1809 - durante as invasões francesas, Bento Pereira Pinto Serpe de Sousa e Mello foi Brigadeiro de Ordenanças
↑Torres, Resenha das familias titulares..., p. 293
↑Valente, Vasco Pulido (2018). O Fundo da Gaveta. Lisboa: D. Quixote. Edição do Kindle. pp. 276–277. Consultado em 28 de fevereiro de 2024. [entre] os primeiros títulos dados em recompensa de serviços políticos e militares, mas sobretudo militares, [em 1823] José Pinto Guedes, visconde de Vila Garcia, Luís Pinto Guedes visconde de Montalegre...
↑ abSilva, António de Matos e (2006). Anuário da Nobreza de Portugal, III, Tomo IV. Lisboa: Instituto Português de Heráldica - Dislivro Histórica. p. 1014
↑Cabral, José Carlos Ataíde Tavares da Cunha (1988). «O Último Fidalgo de Santo António de Favaios». Associação Portuguesa de Genealogia. Raízes e Memórias (2): 21 - 28|acessodata= requer |url= (ajuda)