Casa do Patronato AgrícolaA Casa do Patronato Agrícola é um prédio histórico localizado na Rua Doutor Antônio Casagrande, no Bairro Marechal Floriano, em Caxias do Sul, Brasil. O Patronato Agrícola de Caxias do Sul foi uma instituição assistencialista e educativa idealizada pelo intendente Celeste Gobbato. O governo brasileiro havia regularizado a criação dos patronatos agrícolas em 25 de julho de 1919, estabelecendo que tais instituições deveriam atender exclusivamente os menores pobres e dar-lhes educação moral, cívica, física e profissional, com um foco no trabalho agrícola, com o fim de integrar, com conhecimentos modernos, essa população desvalida nas classes produtivas rurais.[1] Uma primeira experiência na cidade neste sentido havia sido iniciada em 1918 pela Escola de Engenharia de Porto Alegre como uma seção do Patronato Agrícola do Rio Grande do Sul, e incorporada pela Escola Industrial Elementar, sendo inaugurada em 1920. A escola ministrava educação básica e profissionalizante, dava atendimento médico e recebia estudantes internos e externos. Os trabalhos agrícolas eram realizados em um campo de 8 mil m2, e incluíam jardinagem, cultivo de hortaliças e frutas, além de pequenas lavouras de batata, milho e feijão.[2] Inicialmente o curso teve um expressivo sucesso, dando uma formação superior àquela ministrada aos candidatos a operários, mas em torno de 1922 entrou em declínio e foi encerrado em 1924. Considerando o apoio às classes agrícolas uma das prioridades da sua administração, Gobbato reativou a ideia e lançou uma campanha para a criação de um patronato nos moldes fixados pelo governo federal. Uma comissão foi formada sob a presidência de Demétrio Niederauer, com apoio das Damas de Caridade, para colaborar na fundação. Foi obtido um terreno e o projeto para o prédio foi desenvolvido pelo arquiteto italiano Luiz Gastaldi Valiera. Um jornal foi fundado em 1927 para promover a ideia, O Popular, que circularia até 1930. A construção iniciou em fins de 1927, e foi inaugurada por Getúlio Vargas em 22 de abril de 1928, iniciando suas atividades em agosto, contando com uma grande extensão de terras.[1][3] Em 5 de outubro de 1928 recebeu seu Regulamento, onde se determinava que funcionaria como uma escola prática de agricultura, e que...
Como presidente foi nomeado João Issler e como diretor, o agrônomo Salvador Petrucci, que também ocupava o cargo de Inspetor Escolar do município. O professor Firmino Bonett foi nomeado auxiliar. No primeiro ano foram matriculados doze alunos. Embora defendido por Gobbato como uma "obra patriótica", o Patronato recebeu diversas críticas, especialmente pelo alto custo do elegante casarão criado para a sua sede, que consumiu mais de 83 contos de réis, e pelo pequeno número de jovens beneficiados.[1][3] Desativado em 1930 pelo intendente Thomaz Beltrão de Queiroz, sua decisão também despertou críticas, e sendo obrigado a justificar-se junto ao Conselho Municipal, alegou a desproporção entre os custos de manutenção e os benefícios produzidos, mas prometeu não desamparar os internos, pretendendo encaminhá-los a outras instituições.[3] Em 1935 o prédio estava abandonado e já necessitava reparos, e o candidato a prefeito Dante Marcucci pretendia destiná-lo a alguma congregação religiosa.[4] Marcucci foi eleito e os Lassalistas efetivamente assumiram o edifício em 1936, dando continuidade às atividades como uma escola de artes e ofícios para menores nos moldes da Fundação Pão dos Pobres de Porto Alegre, dotada também de um curso de viticultura e enologia.[5][6] Os trabalhos dos Lassalistas duraram pouco e em 1938 o prédio foi posto à disposição do Governo do Estado e reformado para servir de abrigo e reformatório de menores, inaugurado em 1939 com o nome Escola Educacional 10 de Novembro.[7][8] Em 1952 a instituição foi extinta e seu grande terreno foi loteado em 500 parcelas destinadas primariamente à construção de moradias populares. Alguns lotes foram doados para a construção do Abrigo da Velhice, de um hospital e da Casa da Criança.[9][10] O prédio principal foi repassado às Irmãs do Sagrado Coração de Maria, que realizam diversas modificações no espaço físico e instalaram uma creche e um internato para meninas. As irmãs se retiraram em 1961, sendo ocupado por alguns meses por funcionários do DAER, e em 1962 duas salas foram emprestadas para o recém criado Instituto Mário Totta (APAE). Em 1969 a APAE recebeu todo o prédio em doação da Prefeitura, instalando salas de aula, oficinas e clube de mães.[5][11][12] Com a construção de um anexo moderno em 1981, a APAE negligenciou o prédio histórico e ele caiu em abandono, e nesta condição permaneceu por anos, deteriorando-se.[13][5][14] Em 1989, já muito arruinado, a APAE solicitou à Prefeitura a sua demolição, por considerá-lo perigoso, mas o Conselho Municipal de Patrimônio considerou que tinha grande valor histórico e recomendou seu tombamento, o que impediu a derrubada.[11] O tombamento não aconteceu, mas em 1992 a Sociedade de Engenharia, Arquitetura, Agronomia e Química de Caxias do Sul firmou uma parceria com a Prefeitura e a APAE para uma reforma da ala norte, com o intuito de ocupar a edificação,[14] sendo reinaugurada em 7 de outubro de 1993 como sede da Sociedade e da Inspetoria do Conselho Regional de Engenheiros e Arquitetos.[15] Em 1998 o presidente da APAE e a presidente da Fundação Viva Città solicitaram ao poder público a proteção do edifício, reconhecendo seu valor histórico.[16] Foi tombado em 8 de setembro de 2003,[17] e um restauro foi iniciado em 2010.[18] É uma casa de três pavimentos, mais o torreão, em estilo eclético, com uma área construída de 632 m2 e coberturas em quatro águas. Possui volumetria dinâmica e elevado valor estético, com quatro fachadas livres e bem definidas, e três blocos principais: a circulação ao centro, a administração ao norte e os aposentos para os estudantes ao sul. O interior apresenta um sistema construtivo peculiar, no qual se mesclam escadas e entrepisos em concreto, ferro e madeira, vigas de madeira maciça e divisórias em alvenaria, madeira e estuque.[12] Ver tambémReferências
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