Katukina do Rio Biá
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População total |
628[1]
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Regiões com população significativa |
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Línguas |
catuquina |
Religiões |
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Grupos étnicos relacionados |
Canamaris |
Catuquinas ou Katukinas é uma denominação atribuída a pelo menos três grupos indígenas.
O primeiro deles, da família linguística katukina,[2] os chamados Katukina do Rio Biá,[3] localizados na região do rio Jutaí,[4] no sudoeste do estado do Amazonas, nas Terras Indígenas Paumari do Cuniuá, Paumari do Lago Paricá, Rio Biá e Tapauá.
São também chamados Katukina dois grupos da família linguística pano,[5] localizados no estado do Acre. Mas nenhum desses dois grupos pano reconhece o termo "katukina" como autodenominação. Um deles, localizado nas margens do rio Envira, próximo à cidade de Feijó, autodenomina-se Shanenawa e seria parte de um clã do povo Yawanawá:
- “Desde os tempos imemoriais, os Yawanawá, o povo da queixada, ocupam as cabeceiras do rio Gregório, afluente do rio Juruá, geograficamente pertencente ao município de Tarauacá, Acre. Sua população atual é de 636 pessoas e pertence ao tronco linguístico Pano. As famílias estão distribuídas nas comunidades Nova Esperança, Mutum, Escondido, Tibúrcio e Matrinxã. As comunidades são formadas pelas famílias Yawanawá, Arara, Kãmãnawa (povo da onça), Iskunawa (povo do japó), Ushunawa (povo da cor branca), Shanenawa (povo do pássaro azul), Rununawa (povo da cobra) e Kaxinawá (povo do morcego).”[6]
Já o outro grupo, denominado Katukina-Pano, habitante das aldeias localizadas nas margens dos rios Campinas e Gregório, não reconhece qualquer significado no nome “Katukina” na sua língua, mas aceita a denominação. Dizem os seus integrantes que ela foi “dada pelo governo”. No entanto, nos últimos anos, jovens lideranças indígenaestimulamdo a consolidação da denominação de Noke Kuin, Noke Kui ou Noke Koi[7] (em português, “gente verdadeira”) para o grupo. Internamente, são usadas seis outras autodenominações, que se referem aos seis clãs nos quais o grupo se divide. Observou-se que tais denominações são praticamente idênticas aos nomes de alguns clãs do povo Marubo, com o qual os chamados Katukina-Pano apresentam várias outras semelhanças linguísticas e culturais.[8][9]
Portanto, os chamados Katukina do Acre, sem qualquer parentesco com os katukinas do Amazonas, foram assim denominados, aparentemente pelas primeiras expedições de contato realizadas por não índios na região, e acabaram aceitando essa denominação.
- O seringueiro não estava interessado em distinções linguísticas e culturais; com uns poucos nomes batizou todas as tribos, fazendo-os recair sobre grupos completamente diferentes.[10]
Os Katukina-Pano distribuem-se entre duas Terras Indígenas:
- TI do rio Gregório, no município de Tarauacá, no Acre (também habitada pelos Yawanawá), na Aldeia Sete Estrelas, localizada nas margens dos rios Gregório
- TI do rio Campinas, na fronteira dos estados do Amazonas e do Acre, nos limites dos municípios de Tarauacá, no Acre, e Ipixuna, no Amazonas.
Os Shanenawa
A Terra Indígena Katukina/ Kaxinawá,[11] no município de Feijó (Acre), foi assim denominada por engano. Ali estão, de fato, dois povos Panos, aparentados: um deles é o Kaxinawá.[12] Mas o outro povo não é o Katuquina: trata-se, na verdade, dos autodenominados Shanenawa (povo do pássaro azul). Estudos linguísticos realizados na década de 1990 comprovam que, embora a língua shanenawa seja da família Pano (assim como a língua dos Kaxinawá e a dos chamados Katukina-Pano), apresenta diferenças significativas em relação à língua falada pelos Katukina-Pano do rio Campinas e do rio Gregório (Terra Indígena Campinas/Katukina e T. I. Rio Gregório, ambas no Acre).[11][13] Por receio de perder o direito às terras e considerando todo o histórico de violência e injustiça que sofreram, os Shanenawa resolveram não desfazer o equívoco.[14]
Histórico
Historicamente, os etnônimos Katukina, Kanamari e Kulina foram utilizados para designar povos bem diferentes, em diversos lugares. Isso porque os primeiros colonos da região do rio Juruá classificavam os índios em “dóceis” e “rebeldes”. Os termos Kanamari, Katukina e Kulina eram associados aos índios dóceis, enquanto o sufixo -naua (ou -nawa) era normalmente associada aos índigenas guerreiros, que combatiam a presença do homem branco. Os Kaxinawá, por exemplo, eram identificados como rebeldes. Assim, para fugir das expedições de captura e matança organizadas por colonos brasileiros, muitos povos adotaram os etnônimos Katukina, Kanamari e Kulina.[15] Mas, internamente, os chamados Katukina do Acre denominam-se conforme os seus clãs - kamãnawa (povo da onça ou do cachorro, dependendo da fonte), varinawa (povo do sol), satanawa (povo da lontra), neianawa (povo do Céu), entre outros clãs menos numerosos.
Referências
- ↑ «Quadro Geral dos Povos». Instituto Socioambiental. Consultado em 2 de setembro de 2017
- ↑ ANJOS, Zoraide dos. Fonologia e Gramática Katukina-Kanamari. Orientação: W.L.M. Wetzels; F. Queixalós. Vrije Universiteit Amsterdam, junho de 2011.
- ↑ Instituto Socioambiental. Povos Indígenas no Brasil. Katukina do Rio Biá
- ↑ RANGEL, Lúcia Helena Vitalli (1994) Os Jamamadi e as armadilhas do tempo histórico (Tese de Doutorado). São Paulo: PUC-SP 1994: 11, apud PAULA, Sandra Aparecida Ayres de Territorialidade Indígena na Amazônia Brasileira do século XXI: o caso Jamamadi. Curitiba: UFPR, 2005, p. 23.
- ↑ MARTINS, Homero Moro. O Katukina e o Kampô: aspectos etnográficos da construção de um projeto de acesso a conhecimentos tradicionais. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília (DAN/UnB). Orient. Prof. Dra Alcida Rita Ramos. Brasilia, 2006.
- ↑ VINNYA, Aldaiso Luiz; OCHOA, Maria Luiza Pinedo; TEIXEIRA, Gleyson de Araújo (orgs.). Costumes e Tradições do Povo Yawanawá. Rio Branco: Comissão Pró-Índio do Acre/ Organização dos Professores Indígenas do Acre, 2006.
- ↑ Coordenação Regional do Juruá - FUNAI / Acre. Festa dos Noke Koi: Uma celebração à resistência cultural.
- ↑ Instituto Socioambiental. Povos Indígenas no Brasil. Katukina Pano
- ↑ Instituto Socioambiental. Povos Indígenas no Brasil. Marubo. Por Julio Cezar Melatti. Universidade de Brasília.
- ↑ RIBEIRO, Darcy. 1970. Os Índios e a Civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 559 págs. 1ª edição, apud PAULA, Sandra Aparecida Ayres de Territorialidade Indígena na Amazônia Brasileira do século XXI: o caso Jamamadi. Curitiba: UFPR, 2005, p. 19
- ↑ a b Terra Indígena Katukina/Kaxinawa
- ↑ Instituto Socioambiental. Povos Indígenas no Brasil.Os Kaxinawá - Identificação. Por Elsje Maria Lagrou, antropóloga, professora da UFRJ. Novembro de 2004.
- ↑ Instituto Socioambiental. Povos Indígenas no Brasil. Katukina Pano. Língua. Por Edilene Coffaci de Lima. Universidade Federal do Paraná. Janeiro, 1999
- ↑ Instituto Socioambiental. Povos Indígenas no Brasil. Shanenawa. Luta pela terra
- ↑ Instituto Socioambiental. Povos Indígenas no Brasil. Katukina do Rio Biá. Por Jeremy Deturche. Universidade Paris X-Nanterre. Junho de 2007.