Cneu Domício Córbulo
Cneu Domício Córbulo ou Corbulão (em latim: Gnaeus Domitius Corbulo; c. 7 — 67) foi um general romano da gente Domícia nomeado cônsul sufecto em 39. A sua carreira militar de sucesso em conflitos contra tribos germânicas revoltosas, Arménia e Parta, contrasta com diversos bloqueios à sua carreira e serviço por emperadores tementes da sua popularidade, e o seu injusto fim às ordens de Nero. Dião Cássio descrevê-lo-ia no seu História de Roma:
HistóriaNasceu na Itália numa família de dignidade senatorial. Seu pai, com quem partilhava o nome, entrou no senado como um pretor no reinado do imperador Tibério (r. 14–37). Córbulo era filho de Vistília[nota 1], originária da Itália de uma família de status pretoriano. Vistília teve sete filhos com seis diferentes maridos,[nota 2] alguns deles personagens importantes no cenário político da época. Filhos como o notório delator Públio Suílio Rufo, os irmãos Quinto Pompônio Segundo e Públio Pompônio Segundo, cônsules em 41 e 44 respectivamente, e Milônia Cesônia, imperatriz-consorte do imperador Calígula.[1] Desconhecem-se os os primeiros anos da carreira de Córbulo, mas é certo que foi cônsul sufecto em 39 durante o reinado de seu cunhado Calígula (r. 37–41). Depois do assassinato de Calígula, a carreira de Córbulo foi interrompida e só retomou em 47 quando o imperador Cláudio (r. 41–54) o promoveu a comandante dos exércitos na Germânia Inferior, cuja base era em Colônia Agripinense. O novo posto era desafiador e Córbulo teve que lidar com grandes revoltas entre os povos germânicos dos queruscos e caúcos. Ele ordenou a construção de um canal ligando os rios Reno e Meuse.[2] Partes desta obra, conhecida como Canal de Córbulo (Fossa Corbulonis), foram encontradas em escavações arqueológicas. Seu curso é idêntico ao Vliet, que conecta as cidades modernas de Leida (antiga Matilo) e Voorburgo (Fórum de Adriano; Forum Hadriani). Ao chegar à Germânia Inferior, Córbulo utilizou esquadrões do exército e da marinha para patrulhar o curso do Reno e o mar do Norte, acabando por expulsar os caúcos das províncias romanas. Além disto, também instituiu um rigoroso programa de treinamento para assegurar a efetivamente máxima das legiões romanas na região. Conta-se que ele executou dois legionários depois que eles foram pegos trabalhando na construção das fortificações de um acampamento sem estarem com suas espadas na cintura.[3] Ele teria dito que eles "esperavam derrotar o inimigo com uma picareta".[4] No orienteSegundo Dião Cássio, Cláudio teme que Córbulo se distinga demais, tornando-o excessivamente poderoso, e ordena seu retorno a Roma. Dião relata que Córbulo terá comentado "quão felizes eram os que chefiavam exércitos nos velhos tempos", não impedidos de obter vitórias por necessidades políticas. Leal a Cláudio, ficará em Roma até 52, quando foi nomeado governador da província da Ásia. Depois da morte de Cláudio, em 54, o novo imperador, Nero, enviou-o para as províncias orientais para enfrentar o Reino da Armênia. Depois de alguma demora, ele finalmente partiu para a ofensiva em 58 e, reforçado por tropas vindas da Germânia, atacou Tiridates I, rei da Armênia e irmão de Vologases I. Artaxata e Tigranocerta foram capturadas por suas legiões (a III Gallica, a VI Ferrata e a X Fretensis) e o jovem Tigranes, que havia sido criado em Roma e era um obediente servo do governo romano, foi instalado como novo rei da Armênia. Em 61, Tigranes invadiu Adiabena, um território do Reino Parta, e o conflito entre Roma e os partas parecia inevitável. Vologases, porém, achou por bem propor a paz. Concordou-se que tanto as tropas romanas quanto as partas deveriam deixar a Armênia, Tigranes seria deposto e Tiridates seria novamente reconhecido como rei. O governo romano não concordou com o acerto e Lúcio Cesênio Peto, legado imperial propretor da Capadócia, recebeu ordens de resolver a questão subjugando a Armênia. A proteção da Síria durante o período tomou todo o tempo de Córbulo. Cesênio Peto, um comandante fraco e incapaz, que "desprezava a fama de Córbulo", sofreu uma dura derrota na Batalha de Randeia (62), na qual ele foi cercado, forçado a capitular e acabou entregando a Armênia aos partas. O comando das tropas foi novamente entregue a Córbulo. No ano seguinte, com um forte exército, ele atravessou o Eufrates, mas não chegou a enfrentar Tiridates, que lhe ofereceu a paz em troca de termos de submissão a Roma. Em Randeia, Tiridates colocou seu diadema aos pés da estátua do imperador e prometeu não retomá-la a não ser pelas mãos de Nero em Roma. Tiridates visitaria uma Roma ainda marcada pelo grande incêndio de 64, e a sua re-coroação às mãos do imperador foi uma celebração de vitória na qual Córbulo seria honrado como herói de Roma,[5] e na qual o também ovacionado Nero participaria como músico e cocheiro de bigas, para pasmo de Tiridates.[6] A Nero, Tiridates diria "tendes em Córbulo um bom escravo".[nota 3][7] Últimos anosA corte imperial de Nero foi marcada por numerosas conspirações pela ordem senatorial. Depois de dois fracassados complôs entre nobres e senadores — incluindo o genro de Córbulo, o senador Ânio Viniciano — para derrubar Nero em 62, o imperador passou a suspeitar de Córbulo e do apoio que ele recebia da população romana. Nesta altura, um ambiente de paranóia pesava crescentemente sobre o palácio imperial. Em 65, após descobrir a conspiração de Pisão, Nero teria mandado o seu conselheiro Séneca suicidar-se, a par de muitos outros. Em 66, aquando a visita de Tiridates, Nero acusaria no Senado vários proeminentes como Quinto Bareia Sorano e Públio Trásea Peto de traição a Roma e à sua pessoa, votando o Senado por ele controlado várias sentenças de suicídio voluntário (liberum mortis arbitrium).[8] Dando amplo uso às leis romanas contra lesa-majestade, levaria também o cônsul Marco Júlio Vestino Ático ao suicídio, por forma a esposar a sua mulher Estacília Messalina ele próprio. Em 67, vários distúrbios irromperam na região da Judeia e Nero, depois de ordenar que Vespasiano tomasse o controle das forças romanas na região, convocou Córbulo e seus dois irmãos, que governavam a Germânia Superior e a Inferior, até a Grécia. Ao chegarem a Cencreia, porto de Corinto, os enviados de Nero ordenaram que Córbulo se suicidasse. Obediente, ele se lançou sobre sua própria espada dizendo "Axios!" ("[sou] digno!").[9] No ano seguinte, uma outra conspiração conseguiria de facto derrubar Nero, que seria votado pelo senado hostis publicus ("inimigo público")[10], e levado também ele ao suicídio. ObrasCórbulo escreveu um relato de suas experiências na Ásia, mas ele se perdeu.[11] Casamento e filhosCórbulo casou com Cássia Longina, uma romana de família senatorial, filha de Caio Cássio Longino (cônsul em 30) e de sua esposa, Júnia Lépida, uma trineta de Augusto. Eles tiveram duas filhas, Domícia, que se casou com o senador Ânio Viniciano,[12][13][nota 4] (que serviria sob o comando de seu sogro Córbulo na Guerra romano-parta de 58-63), e Domícia Longina, que se casou com o futuro imperador Domiciano e se tornou imperatriz. Ver também
Referências
Notas
Bibliografia
Ligações externas
|