DemarquiaDemarquia (em inglês: Demarchy) é um termo cunhado pelo filósofo austríaco Friedrich Hayek em seu livro Direito, Legislação e Liberdade, depois usado por John Burnheim para descrever um sistema político sem Estado ou burocracia. O conceito em Burnheim difere do de Hayek. Para o primeiro, este sistema político se basearia em grupos de decisores escolhidos aleatoriamente. Estes grupos, chamados "jurados políticos" (policy juries), "jurados civis" (citizens' juries) ou "Conferências de consenso" (Consensus Conferences), deliberariam e tomariam decisões sobre políticas públicas do mesmo modo que os jurados alcançam vereditos nos casos penais. A demarquia tenta superar alguns dos problemas funcionais das democracias representativas convencionais, que na prática têm sido sujeitas à manipulação por parte de lobbies e que uma divisão entre políticos profissionais (incluindo nessa categoria os lobbistas) e um eleitorado basicamente passivo, descomprometido, inativo e freqüentemente desinformado. Segundo Burnheim, a eleição aleatória dos decisores políticos facilitaria aos cidadãos comuns participarem de forma significativa, e dificultaria que lobbies corrompessem o processo. A democracia ateniense fez muito uso de sorteio de decisores, com praticamente todos os oficiais do governo preenchidos dessa forma em vez de eleições. Nas províncias canadenses de Columbia Britânica e Ontário, um grupo de cidadãos foi sorteado para criar a Assembleia sobre a Reforma Eleitoral para investigar e recomendar mudanças nos sistemas eleitorais das províncias. Conceito em HayekNo sentido hayekiano, porém, demarquia não significa escolha de governantes aleatória, mas sim a democracia dentro dos princípios do Estado de Direito (ou Rule of Law). Hayek demonstra esses princípios com mais profundidade em The Constitution of Liberty e Law, Legislation and Liberty. A principal coisa que um Estado de Direito deve fazer é usar coerção apenas para respeitar regras gerais de justa conduta mais ou menos aceitas pela população. Nenhuma interferência específica, que não seja com base nessas regras, é bem vinda. Nesse sentido, a demarquia de Hayek se assemelha às discussões de Locke, Hume e Kant sobre os limites da ação do Estado.[1]
Para Hayek, intervenções diretas na produção, ou controle direto da economia pelo Estado, como ocorreram no socialismo e no nazismo, necessariamente desrespeitam o Estado de Direito, ou Império da Lei. Até mesmo um imposto progressivo, em oposição a um imposto proporcional, seria uma forma de violar o Império da Lei.[2] Hayek propõe um sistema constitucional em seu Law, Legislation and Liberty, que seria uma tentativa concreta de resolver problemas de seu tempo, pois ele especifica mais como se daria o funcionamento de seu sistema. Esta é sua Proposta de Constituição, que é um sistema representativo de seu conceito mais geral de demarquia, porém a demarquia não deve ser confundida com ela. Países mais próximos de uma demarquia são, segundo Hayek, a Suíça, a Alemanha logo após a Segunda Guerra e os EUA logo após a Independência. Sua Proposta Constitucional seria um modelo a ser aproximado por países que não têm ou não se aproximam da demarquia, porém, segundo Hayek, países com longa tradição constitucional liberal clássica não precisavam segui-la.[3] Apesar disso, o entendimento do sistema constitucional concreto que ele propôs pode ser uma das melhores maneiras de entender seu conceito de demarquia. Referências |