Com este edito ficava estipulado que a confissão católica permanecia a religião oficial do Estado mas era agora oferecida aos calvinistas franceses a liberdade de praticarem o seu próprio culto. Nos séculos XVI e XVII o edito ficou conhecido como "edito de pacificação".[1]
Que a memória de todos os acontecimentos ocorridos entre uns e outros depois do começo do mês de março de 1585 e durante as convulsões precedentes dos mesmos, até ao nosso advento à coroa, fiquem dissipados e assumidos como coisa não sucedida. Não será possível nem será permitido aos nossos procuradores-gerais, nem a nenhuma outra pessoa pública ou privada, em nenhuma altura, nem lugar, nem ocasião, qualquer que seja, fazer menção de tal, nem processar ou perseguir ninguém em nenhum tribunal ou jurisdição.
O historiador francês Claude-Carloman de Rulhière assim narrou os episódios que se seguiram à revogação do Edito de Nantes, em especial os tratamentos dos padres e dos juízes aos hereges:
Essa foi a ocasião da lei terrível: aqueles que, quando doentes, recusarem o sacramento serão, depois de suas mortes, arrastados pela lama e terão seus bens confiscados. Caso se recuperem, receberão a pena para se redimirem, os homens condenados para sempre às galés, as mulheres à prisão, ambos tendo seus bens confiscados. Mas na maioria de nossas cidades tivemos muitas vezes o horrendo espetáculo de cadáveres arrastados pela lama e também, com frequência, vimos enraivecidos sacerdotes, viático na mão, escoltados por um juiz e seus meirinhos e assistentes, indo às casas de moribundos, e logo depois o populacho fanático divertindo-se com a execução da lei em todo o seu horror. (...) Eu diria que podia ser visto, ao lado do leito dos doentes, um padre cercado por meirinhos e seus assistentes, dispensando com a mais solene pompa os sacramentos sagrados, o mais terrível dos mistérios, instando um homem moribundo a cometer o sacrilégio e zombando dele para a multidão atraída pela curiosidade, alguns tremendo com a profanação, outros se divertindo muito com a visão do herege humilhado, reduzido a uma escandalosa hipocrisia para manter seu capital inteiro para sua família e alguns adornos sem valor para sua sepultura.[4]
↑Acreditou-se durante muito tempo que o edito de Nantes não tinha sido selado com lacre verde, utilizado para os éditos perpétuos, mas com lacre moreno, usado para os editos temporais. Tal se deveu aos historiadores do século XIX que o viram de cor amarelada e no século XXI já está de cor acastanhada-escura. Análises químicas recentes mostram que a cera usada contém pigmentos verdes, o que descarta a hipótese do cálculo político. Veja-se o artigo de Bernard Barbiche no n.º 17 de Collections de l’Histoire, 2002.
↑História do Mundo - Civilização Francesa: História da Civilização Francesa. Acessado em 27/07/2012.
↑Rulhière, Claude-Carloman de. Eclaircissements. [S.l.: s.n.] pp. Vol. I, pp. 351–355; Vol. II, p. 177.