É, das três irmãs, a de que menos se têm informações, tendo vivido reclusa e introvertida. Charlotte Brontë, no seu prólogo para a edição de Wuthering Heights de 1850, falou da relação da irmã com as pessoas:
"Embora seus sentimentos pelos que a cercavam fossem benevolentes, relações com eles ela nunca procurou, nem, com poucas exceções, as experimentou. E mesmo assim ela os conhecia: sabia seus costumes, sua linguagem, a história de suas famílias; podia ouvir sobre eles com interesse, e falar deles com detalhes (...); porém, com eles, raramente trocou uma palavra".[2]
Depois da morte de sua mãe, quando Emily tinha três anos de idade, a austera tia Branwell foi morar com eles, e Maria, Elizabeth e Charlotte foram mandadas para um colégio interno em Cowan Bridge, onde sofriam castigos, alimentavam-se mal e não dormiam, devido ao frio. Emily juntou-se a elas durante algum tempo quando tinha seis anos. Quando uma epidemia de febre tifoide atingiu a escola, Maria e Elizabeth ficaram doentes e a primeira foi enviada para casa, onde morreu pouco tempo depois. Após a morte de Maria, o pai resolveu levar as crianças, definitivamente, de volta para casa, porém Elizabeth acabou por falecer depois do seu regresso.[6]
Em casa, a nova empregada Thabitha (Taby) costumava contar-lhes histórias, e anos mais tarde Emily a homenageou como a fiel personagem de Nelly Dean, em Wuthering Heights. As 3 meninas, Charlotte, Emily e Anne, aprendiam tarefas domésticas e o único filho homem, Patrick (costumavam chamá-lo de Branwell), aprendia grego e latim com o pai.[7]
Emily e os irmãos criaram, em suas brincadeiras, várias terras imaginárias (Angria, Gondal, Gaaldine), que aparecem nas histórias que eles escreveram. Tais terras imaginárias eram relatadas em detalhes, jornais e outros artigos que as crianças costumavam escrever, e onde seus soldados de chumbo, presente do pai, costumavam “morar”. Poucos dos trabalhos de Emily neste período sobreviveram, exceto por alguns poemas declamados pelas personagens e a lista de personagens de Gondal elaborada por Anne.[7][8]
Posteriormente, Charlotte entrou para o colégio em Roe Head, Branwell começou a beber, e Emily começou a se isolar em seu mundo. Quando Charlotte, que acabou sendo bem aceita em Roe Head, foi convidada a lecionar naquela escola, levou Emily consigo; devido, porém, à timidez, Emily não se integrou e acabou voltando para casa, onde Anne se preparava para ocupar o seu lugar em Roe Head. Branwell, nessa época, já bebia imoderadamente, contava mentiras, não seguia a carreira promissora que o seu talento e o esforço do pai prenunciavam, e nem chegou a realizar os exames preparatórios na Academia de Belas-Artes de Londres, para onde o pai o mandara.[7]
Idade adulta
Emily tornou-se professora na Law Hill School em Halifax em setembro de 1838, quando tinha 20 anos.[9] No entanto, começou a ter problemas de saúde devido ao estresse causado por dias de trabalho de 17 horas e regressou a casa em abril de 1839.[10] A partir daí, dedicou-se maioritariamente a tarefas domésticas e a ensinar catequese. Ela aprendeu alemão sozinha através de livros e tocava piano.[11]
Emily passava os dias, em casa, solitariamente. Em certa ocasião, um cão a mordeu no braço, e ela mesma cauterizou a ferida, ficando com o braço definitivamente deformado.[11] Nos intervalos dos afazeres domésticos, compunha versos que escondia. Através da correspondência com Charlotte, ficou sabendo que a irmã mandara uns versos aos poetas William Wordsworth e Southey, e não fora muito encorajada.
Charlotte resolveu partir para a Bélgica, para trabalhar, levando Emily consigo. Em Bruxelas, conhecem o Professor Constantin Héger, por quem Charlotte se apaixona, apesar de ele ser casado. Héger ficou impressionado com a personalidade de Emily e escreveu:
"Ela deveria ter sido um homem: um grande navegador. A sua racionalidade poderosa teria retirado novas perspectivas através do seu conhecimento das velhas e a sua vontade forte e imperiosa nunca teria esmorecido perante oposição ou dificuldades, apenas perante a morte. Ela tinha cabeça para a lógica e uma capacidade de debate pouco comum para um homem e ainda mais rara numa mulher... este dom era prejudicado pela tenacidade da sua teimosia que a tornava obtusa a todos os argumentos que desafiavam os seus desejos e as suas ideias do que era correto."[12]
As duas irmãs dedicaram-se a estudar francês e alemão e, ao fim de um semestre, tinham conseguido aperfeiçoar o seu francês de tal modo que Héger lhes pediu que ficassem mais seis meses em Bruxelas. Ele até propôs despedir o professor de Inglês da sua escola e oferecer o emprego a Charlotte, enquanto Emily ensinaria música.[13] Porém, a doença e a morte da tia delas obrigaram-nas a regressar a Haworth.[14]
Os irmãos voltam a se reunir, com planos de fundar uma escola, mas não conseguiram alunos. Anne e Branwell vão trabalhar de preceptores, e Emily e Charlotte ficam em Haworth. Em 1845, Charlotte descobriu os poemas de Emily e decidiu que queria publicá-los, juntamente com os seus e os de Anne.[15] Em janeiro de 1846, uma pequena editora aceitou publicar o livro a expensas das próprias autoras, e foi usada, para isso, a herança da tia. Apenas dois exemplares foram vendidos, apesar do elogio da crítica. As três irmãs não desanimaram, e cada uma começou a escrever sua narrativa.[16]
Wuthering Heights
Charlotte foi a primeira a publicar, Jane Eyre, sob o pseudônimo de Currer Bell, atingindo grande sucesso. Quando Wuthering Heights foi publicado em 1847, sob o pseudônimo Ellis Bell, Jane Eyre já estava na 2.ª edição. Wuthering Heights foi publicado como dois volumes de um conjunto de três que incluía Agnes Grey de Anne Brontë.[17] A estrutura do romance e o clima tenso da história levaram a que os críticos não compreendessem e não valorizassem por completo a obra.
A violência e a paixão do livro levaram o público vitoriano e alguns dos primeiros críticos que o leram a acreditar verdadeiramente que tinha sido escrito por um homem. Segundo Juliet Gardiner: "a paixão sexual vívida e poder da sua linguagem e descrição impressionaram, deixaram perplexos e chocaram os críticos".[18] Embora tenha recebido críticas na época em que foi lançado, posteriormente o livro foi incluído no cânone dos clássicos da literatura inglesa. Recebeu várias versões oficiais no cinema e inúmeras adaptações.[19]
Apesar de uma carta da sua editora indicar que Emily tinha começado a escrever um segundo romance, o manuscrito nunca foi encontrado. É possível que Emily, ou um membro da sua família o tenha destruído, se é que alguma vez existiu, quando a doença a impediu de o terminar.[20]
Morte
Emily acreditava que a sua saúde, à semelhança da dos irmãos, tinha sofrido devido ao clima severo do local onde viviam e às condições insalubres da sua casa (a água que recebiam vinha contaminada pelo escoamento do cemitério da igreja).[21][22] Ela apanhou uma constipação grave durante o funeral do seu irmão Branwell em setembro de 1848[23] e a sua saúde piorou ainda mais quando contraiu tuberculose.[24] Apesar de o seu estado de saúde se ter agravado bastante, ela recusou qualquer assistência médica e remédios, dizendo que não queria "veneno, nem médicos" perto dela.[25] Na manhã do dia 19 de dezembro do mesmo ano, Charlotte, preocupada com o estado de saúde da irmã, escreveu:
"Ela fica mais fraca a cada dia que passa. O médico expressou a sua opinião de forma demasiado obscura para ter alguma utilidade: ele enviou alguns medicamentos que ela não tomou. Nunca conheci momentos tão negros como estes, peço a Deus para que nos dê força a todos."[26]
Ao meio-dia, Emily piorou: só conseguia falar através de sussurros entre suspiros. As suas últimas palavras que a família conseguiu ouvir foram: "podem chamar um médico? Queria que um me visse",[27] mas foi tarde demais. Ela morreu nesse dia às duas.[28]
O seu irmão tinha morrido três meses antes, o que levou uma criada a declarar que "a Menina Emily morreu de coração partido pela morte do irmão".[29] Emily tinha emagrecido tanto que o seu caixão tinha apenas 40 centímetros de largura.[30] Ela foi enterrada na igreja de St. Michael and All Angels Cemetery, Haworth, Oeste de Yorkshire, Inglaterra.[31][32] No ano seguinte morre sua irmã, Anne Brontë.[33]
Publicações
Bell, Ellis (1847). Wuthering Heights, A Novel 1 ed. Londres: Thomas Cautley Newby. Emily Brontë as 'Ellis Bell'
↑The letters of Charlotte Brontë (1995), edited by Margaret Smith, Volume Two 1848–1851, p. 27
↑Gaskell, Elizabeth (1998) [1857]. The Life of Charlotte Brontë. New York: Penguin. p. 264.
↑Uma carta de Charlotte Brontë a Ellen Nussey é citada no livro de Elizabeth Gaskell, The Biography of Charlotte Brontë. Oxford Edition 1996. Charlotte fala do inverno de 1833/34, que foi bastante húmido, e diz que houve bastantes mortes na aldeia. Pensa-se que tal se deveu ao facto de a água escoar do cemitério.
Juliet R. V. Barker (1995). The Brontës. Phoenix House. [S.l.: s.n.] ISBN1-85799-069-2
Editor Victor Civita (1970). Os Imortais da Literatura Universal: Emily Brontë. São Paulo: Abril Cultural. [S.l.: s.n.] pp. 69–84 – Volume I, capítulo 5,
BRONTË, Emily (1970). O Morro dos Ventos Uivantes. São Paulo: Abril Cultural. [S.l.]: Volume 10
BRONTË, Emily. O Morro dos Ventos Uivantes. Editora Martin Claret. Dados biográficos: A autora e sua obra