Giacomo GeremiaGiacomo Geremia (San Martino di Lupari, 15 de outubro de 1880 — Caxias do Sul, 20 de setembro de 1966) foi um fotógrafo ítalo-brasileiro. Era filho dos italianos Antônio e Regina, que viviam da agricultura. Tinha o irmão Pio. Em 1892 a família emigrou para o Brasil, fixando-se na colônia italiana de Antônio Prado. Os pais continuaram na lavoura e o menino Giacomo trabalhava buscando água para os operários da construção de estradas. Cansado dessa vida, com apenas dez anos fugiu de casa e dirigiu-se à capital do estado, Porto Alegre, onde conseguiu emprego como torneador de móveis e condutor de pipas de água potável para o abastecimento a domicílio. Com dezoito anos, adoentado, mudou-se para Vacaria, nos altos da Serra do Nordeste, em busca de melhores ares. Ali conheceu outro italiano que trabalhava com fotografia, de quem aprendeu a técnica. Giacomo herdou o equipamento do mestre e iniciou na profissão como fotógrafo itinerante, percorrendo a pé ou a cavalo fazendas e vilas dos Campos de Cima da Serra no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Nessa região, numa época de desbravamento e colonização, os fotógrafos eram muito raros.[1][2] Na descrição do Arquivo Histórico de Caxias do Sul,
Em torno de 1905 estava em Antonio Prado, onde abriu um pequeno estúdio fotográfico, mas continuava a atender clientes em toda a zona rural do entorno.[2] Em 1909 casou-se com Angela Ida Zacchera. Pouco depois, em uma de suas visitas a amigos de Caxias do Sul, foi estimulado a radicar-se na cidade. Em 1911 já estava lá, onde passaria o resto de sua vida. Na Avenida Júlio de Castilhos, a uma quadra do centro, fundou o Atelier Photographico Geremia, especializado em retratos e trabalhando já com várias técnicas fotográficas.[1] Em 1913 mudou-se para um novo prédio, com instalações mais amplas, na mesma avenida, onde o atelier ficaria mais conhecido como Studio Geremia. Fazia ampliações em grandes formatos para ornamentar os salões elegantes, muitas vezes retocando as fotografias com tintas e giz colorido e colocando os personagens contra fundos pintados que evocavam ruínas antigas, interiores sofisticados, fontes, bosques e outras paisagens românticas, e que eram muito apreciados pela elite. Giacomo tornou-se referência na arte do retrato na cidade e região. Foi o primeiro fotógrafo da cidade a usar iluminação artificial e tinha grande cuidado com os efeitos de luz. O estúdio se tornou um dos principais de Caxias nas primeiras décadas do século XX, tendo como único concorrente sério o de Júlio Calegari.[1][2] Em 1914 já era citado entre os principais artistas da cidade, chamado de "genial",[3] e no mesmo ano o seu retrato do intendente José Pena de Moraes, que havia participado da Exposição Agro-Industrial, foi instalado oficialmente na sede da Municipalidade.[4] Foi muito premiado em feiras e exposições estaduais, e vários outros profissionais, que mais tarde ganharam respeito, no estúdio tiveram sua escola, como Antonio Beux, Ary Cavalcanti e Mauro De Blanco, além de seu próprio filho, Ulysses Geremia.[2] Na década de 1930 já tinha um grande prestígio em toda a região colonial,[2][5] e notícias na imprensa chamavam seus trabalhos de "obras de arte".[6][7] Também era procurado para fotografar formaturas, casamentos, inaugurações de obras públicas, solenidades e festas cívicas como as Festas da Uva, os cerimoniais religiosos e as instalações fabris da cidade.[2] Foi contratado pela Municipalidade para documentar o progresso urbano na administração de Dante Marcucci, que procurou embelezar e modernizar a cidade e implementar melhorias de infraestrutura. As imagens coletadas por Geremia da paisagem urbana, na época em rápida transformação, formam um documento histórico da cidade tão vasto quanto único.[1][8] Uma seleção foi compilada em dois álbuns publicados pela Municipalidade, intitulados Obras do Estado Novo – Caxias – Alguns flagrantes da Urbanização e Saneamento. Segundo Mário Tomazoni, esses álbuns "contribuíram para a construção de uma nova visualidade sobre a cidade, na medida em que se optava por mostrar, através de uma narrativa fotográfica, a transformação dos principais logradouros públicos em locais amplos, asseados, ordenados e propícios à circulação dos automóveis, que, então, começavam a substituir os obsoletos meios de transporte de tração animal".[1] Em 1939 reformou o estúdio, e a inauguração foi assinalada com elogios na imprensa: "Produto de um fino gosto artístico, a vitrine que acaba de ser inaugurada coloca-se sem dúvida alguma na vanguarda das demais do gênero, em nosso estado. Estão expostos na mesma belíssimos quadros e fotografias, que constituem uma prova cabal dos ilimitados recursos que possui o Atelier Geremia".[9] No mesmo ano seu "magnífico retrato" do jurista Clóvis Bevilacqua foi instalado oficialmente na sede no Tribunal do Juri,[10] e um retrato de Rui Barbosa foi instalado no Fórum Municipal.[11] Em 1941 um retrato de Eduardo Ruiz Caravantes foi instalado no Salão Nobre do Tribunal.[12] Envolveu-se com a comunidade também de outras maneiras. Em 1922 foi um dos jurados em um concurso de fotografia promovido pela Livraria Saldanha,[13] em 1934 foi membro de uma comissão municipal para escolher um local para a nova sede dos Correios,[14] em 1935 participou da fundação e assumiu um cargo na diretoria do Centro dos Amigos de Caxias, entidade destinada a colaborar com a administração pública na solução dos problemas municipais,[15] e em 1941 participou da fundação do Aero Clube.[16] Participou de eventos políticos,[17][18][19][20][21][22] foi nomeado tenente honorário da Guarda Nacional,[23] foi membro e conselheiro fiscal da influente Associação dos Comerciantes,[24] e fazia doações para a caridade.[25][26][27][28][29][30] Giacomo e sua esposa tiveram sete filhos: Elisabeta, Ulysses, Léo, Duílio, Osmar, Hélio e Remy.[2] Depois da morte de Giacomo, o filho Ulysses (1911-2011), há tempo grande colaborador do pai, assumiu a direção do estúdio, da mesma forma deixando um legado visual importante.[1][8] Parte do acervo do estúdio foi adquirida pela Prefeitura em 2002 e parte Ulysses doou em vida ao Arquivo Histórico Municipal, que descreveu sua importância: "Abrangendo a produção realizada no período compreendido entre 1911-1997, estas fontes documentais testemunham a evolução dos processos fotográficos e revelam padrões estéticos de diferentes épocas. A sua peculiaridade e importância se manifesta no modo como a comunidade se deixou fotografar no contexto público e privado".[2] Em 2016 a Câmara Municipal, em sessão solene comemorativa da Semana da Etnia Italiana, lembrou a trajetória de Giacomo e mais 25 outros fotógrafos que ajudaram a registrar a história do município.[31] Referências
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