Diversas ferramentas foram utilizadas no período de escravidão no Brasil como instrumentos de manutenção da violência. Além disso, suas funções iam desde a imobilização de membros até a deformação do corpo, alternando o uso ora para controle de fuga, ora para demonstração de domínio e condicionamento mental de submissão.
Imobilização da cabeça
Alguns dos instrumentos de tortura tinham o intuito de imobilizar a cabeça, dentre eles eram utilizados as gargalheiras, as golilhas e o libambo, por exemplo.[1]
Aos cativos que tivessem um comportamento reprobatório, eram atribuídas gargalheiras prendidas ao pescoço. O objeto possuía um corpo de ferro fundido, com arcos unidos por elos alongados e arredondados nas partes externas para prender o pescoço do cativo, além de orifícios para amarrá-lo ao próprio corpo ou a outros escravos em momentos de deslocamento[2]. Essa peça tinha como objetivo manter os escravos intitulados como indolentes, contidos e submissos[3].
Com o mesmo propósito das gargalheiras, além de também ser um artefato de captura e punição, haviam as golilhas. Constituída por duas tábuas que se uniam por uma abertura para o pescoço[4], o castigado podia ficar suspenso por correntes e mantido acima do solo pelos pés.
Ao passo que frear as tentativas frequentes de fuga dos escravos era uma necessidade presente durante o período – o libambo – uma ferramenta de contenção, foi amplamente utilizado. A peça de ferro era presa no pescoço do escravo, de onde saía uma haste longa que ultrapassava a cabeça da vítima[2]. As pontas do libambo possuíam duas variações e ambas visavam denunciar a localização do cativo em caso de fuga: bifurcações retorcidas para que, em caso de escapada pela mata, se prendessem em galhos, ou um chocalho na ponta da haste visando denunciar a presença e a localização do cativo.
Imobilização de membros superiores e inferiores
Instrumentos de tortura de ferro nas partes inferiores dos cativos dificultavam a locomoção e consequentemente possíveis fugas. Tais objetos também poderiam ser acoplados nas mãos dos escravos dependendo da punição a ser aplicada. Objetos como algemas, machos e peias eram usados ora nos pés, ora nas mãos[2]. O vira-mundo, por outro lado, prendia simultaneamente os pés e os pulsos para imobilizar o cativo, constituindo-se de um corpo de ferro com dois círculos, um maior e outro menor em cada extremidade.[5].
Deformação do corpo
Muito além de tortura física como punição e tormento, os proprietários mutilavam os cativos como forma de dominação. Com isso, utilizavam ferro em brasa para a deformação do corpo do escravo[6], como o corte de um pedaço da orelha, ou ferramentas para criar identificação. Por exemplo, ao utilizar um ferrete – uma haste de madeira com cerca de 30 cm ligada a uma peça de metal no formato de iniciais ou símbolos – o senhor indicava o cativo como propriedade[7], facilitando a localização em caso de fuga, além de um domínio psicológico de pertencimento. Geralmente era aplicado no peito, braço ou até mesmo no rosto.
Outra forma de deformar o corpo do escravo[6], ao tratá-lo como um animal, era a utilização dos Anjinhos. Estes eram anéis de ferros presos nos polegares da vítima e compressos gradualmente por um parafuso ou chave. Apesar de tal instrumento ser criado na Europa Medieval como forma de fazer criminosos confessarem seus crimes, na escravidão brasileira era utilizada com o intuito de tormento e tortura, quase sempre em conjunto com outros instrumentos durante uma sessão de punição[7] ou até mesmo em práticas comuns ao sadismo[2].