Na década de 2010, duas coproduções brasileiras não-ficcionais, que falam sobre artistas brasileiros, concorreram como Melhor Documentário; a primeira Lixo Extraordinário, sobre o artista plástico paulista Vik Muniz, e a segunda O Sal da Terra, sobre o fotógrafo mineiro Sebastião Salgado. Na edição do Oscar 2016, O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, foi nomeado a Melhor Filme de Animação.[3] Trata-se da primeira produção brasileira indicada ao Oscar de animação. Convém, porém, ressaltar que o brasileiro Carlos Saldanha já dirigiu quatro filmes de animação estrangeiros indicados ao Oscar (Ice Age, Gone Nutty, Rio e Ferdinand). Em 2018, a coprodução envolvendo vários países, inclusive o Brasil, Me Chame Pelo Seu Nome, foi indicada em quatro categorias, tendo vencido a de Melhor Roteiro Adaptado.
Em 2020, Democracia em Vertigem, de Petra Costa, foi indicado na categoria de Melhor Documentário. Já em 2022, o brasileiro Pedro Kos esteve entre os indicados a Melhor Documentário de Curta-Metragem com o filme norte-americano Lead Me Home.[4]
Nomeações
Produções totalmente brasileiras indicadas ao Oscar
A seguir, a lista de coproduções brasileiras indicadas ao Oscar. Cabe ressaltar que, apesar de quatro coproduções brasileiras já terem conquistado a estatueta do Oscar, nenhum dos prêmios foi creditado a brasileiros.
Legenda
"¤" indica que o recipiente possui a nacionalidade brasileira.
Para ser considerado elegível aos prêmios, os filmes produzidos no Brasil devem atender aos critérios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. No caso da categoria de Melhor Filme Internacional, o filme deve passar por uma comissão oficial do Brasil e ser escolhido como o representante do país. Além disso, ele deve ser produzido majoritariamente por brasileiros, ser exibido nos cinemas locais por no mínimo sete dias consecutivos até um determinado período do ano anterior à cerimônia do Oscar ou estrear em festivais e não conter mais de 50% de seus diálogos em inglês. Algumas categorias como as dedicadas a curtas-metragens e documentários têm regras específicas.[28] Para ser elegível nas categorias principais, os filmes devem ser exibidos nos cinemas de Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos, até a meia-noite de 31 de dezembro do ano anterior à cerimônia do Oscar, permanecendo em cartaz por no mínimo sete dias consecutivos e possuir cópias legendadas em inglês.[29][30][nota 4] A maioria dos filmes brasileiros são inelegíveis ao Oscar, uma vez que não costumam ser exibidos nos cinemas norte-americanos.
Campanhas
O Oscar é uma votação e, como tal, elege os filmes que conseguem chamar a atenção dos votantes. Anúncios em revistas, chamadas em emissoras de televisão, eventos e screeners para os membros da Academia são fundamentais para obter indicações ao Oscar. Em 2008, o governo brasileiro criou, através da Ancine, o "Programa de Apoio ao Oscar" e, até 2018, liberava recursos financeiros para serem usados nas campanhas de divulgação dos representantes brasileiros ao Oscar de Melhor Filme Internacional.[32][33]
Abaixo, informações das campanhas de algumas produções brasileiras indicadas ao Oscar:
O Quatrilho
Os filmes brasileiros que tentam uma vaga para o Oscar de Melhor Filme Internacional são escolhidos anualmente por uma comissão formada por profissionais da indústria cinematográfica nacional, porém, após o então presidente Fernando Collor de Mello decretar o fim da Embrafilme, o Brasil ficou sem uma comissão para indicar seu representante de 1996. Foi então que uma comissão independente foi montada, com o filme O Quatrilho, produzido por Luiz Carlos Barreto e dirigido por seu filho caçula, Fábio Barreto, tendo sido o selecionado. Uma vez selecionado como representante brasileiro, a família Barreto tratou de providenciar uma poderosa campanha de divulgação do filme nos Estados Unidos, a começar pela contratação de um experiente lobistas do Oscar, o agente Lloyd Leitzig, que já havia sido responsável pela indicação de outros três filmes na categoria de Filme Estrangeiro. O Quatrilho ganhou distribuição internacional da Pandora Pictures, a mesma que distribuiu o mexicano Como Água Para Chocolate, indicado a diversos prêmios como Bafta e Globo de Ouro. Para dar maior visibilidade ao filme, foram inseridos anúncios publicitários (totalizando seis) nas revistas Variety e Hollywood Reporter; além de chamadas nos intervalos da programação das emissoras de televisão aberta CBS, NBC e ABC.[34] O ponto forte da campanha, entretanto, foi a contratação do influente cineasta Steven Spielberg para promover o filme. Spielberg tornou-se uma espécie de "padrinho" de O Quatrilho, elogiando a produção brasileira para a imprensa.[34][35] O Quatrilho perdeu o Oscar para o drama holandês Antonia, da First Look Pictures.
O Que é Isso, Companheiro?
Dois anos depois da indicação de O Quatrilho, outro filme da família Barreto foi selecionado para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional: O Que É Isso, Companheiro?, dirigido por Bruno Barreto, o irmão mais velho de Fábio Barreto. Logo após ser selecionado como representante brasileiro, os produtores deixaram a cargo da Miramax, à época a distribuidora mais influente no Oscar, a tarefa de promover o filme no mercado americano. Foram investidos US$ 1 milhão de dólares em marketing e publicidade, o que incluía anúncios em jornais e revistas, comerciais em emissoras de televisão e até o lançamento de um livro do político Fernando Gabeira em que a obra foi baseada. Um ponto forte a favor do filme foi ter em seu elenco o norte-americano Alan Arkin, indicado ao Oscar de Melhor Ator em 1967 e 1969. O fato da produção brasileira ter no elenco um ator indicado a dois Oscars, pode ter atraído a atenção dos membros da Academia. Além disso, o trailer do filme foi adaptado para os padrões norte-americanos. Apesar do lobby da Miramax, o filme brasileiro foi derrotado pelo holandês Karakter, que até a data da cerimônia ainda não havia ganhado distribuição nos Estados Unidos.[34]
Central do Brasil
Central do Brasil venceu o Urso de Ouro no Festival de Berlim, o que, por si só, aumentou as chances de indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional, uma vez que a maioria dos contemplados na categoria costumam passar antes por festivais europeus. Segundo o jornalista Hugo Sukman, do O Globo, diariamente saíam anúncios do filme no jornal norte-americano The New York Times e, além disso, os atores norte-americanos Gregory Peck e Jennifer Jones foram contratados para fazer a campanha para Fernanda Montenegro.[36] Os produtores também fizeram diversos anúncios nas revistas Variety e Hollywood Reporter, onde convidavam os membros da Academia para assistir ao filme e a considerá-lo para os prêmios principais.[36] Cerca de um mês e meio antes da cerimônia do Oscar, Fernanda Montenegro participou do Late Show with David Letterman, um dos programas de maior audiência da TV norte-americana, adquirindo, assim, maior visibilidade naquele país.[37] Ao final, a Sony Pictures Classics, distribuidora de Central do Brasil, nos Estados Unidos, investiu cerca de US$ 1 milhão de dólares em publicidade. Por outro lado, a Miramax investiu US$ 12 milhões de dólares na divulgação de La Vita è Bella, conquistando três estatuetas para a produção italiana, incluindo a de Melhor Filme Internacional.[36] O suíço Arthur Cohn, responsável pela produção de Central do Brasil, afirmou em entrevista concedida após a cerimônia: "Temos aí uma prova de que os milhões de dólares investidos pela Miramax fizeram de "A Vida É Bela" um enorme sucesso comercial. E, infelizmente, o dinheiro, mais uma vez, acabou influenciando no resultado da noite passada".[34][38] Fernanda Montenegro perdeu a estatueta de Melhor Atriz para a atuação de Gwyneth Paltrow em Shakespeare in Love, outro filme distribuído pela Miramax.[38]
Cidade de Deus
Cidade de Deus foi escolhido para representar o Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2003, mas acabou ficando de fora da disputa. Essa ausência, pode ser explicada pelos poucos recursos que os produtores brasileiros tinham para a divulgação da obra; além da temática do filme que envolve violência, crimes e tráfico de drogas, o que segundo a imprensa, não teria agradado aos membros conservadores do Oscar.[39] Entretanto, indicações para o filme ainda eram possíveis devido a uma brecha do regulamento da Academia, que diz: "Filmes indicados para a categoria de Melhor Filme Internacional não poderão ser elegíveis para concorrer em outras categorias do ano subsequente. Filmes enviados que não foram indicados para Melhor Filme Internacional são elegíveis para concorrer em outras categorias no ano subsequente, desde que iniciem seus períodos de qualificação de sete dias em Los Angeles durante o calendário daquele ano".[28] Sabendo disso, a Miramax, que havia comprado os diretos de exibição internacional do filme, lançou Cidade de Deus no circuito comercial norte-americano em janeiro de 2003, tornando a obra elegível para as categorias regulares da cerimônia de 2004. A Miramax investiu pesadamente na divulgação da obra nos Estados Unidos e a lançou em 108 salas, levando mais de 1 milhão de espectadores norte-americanos aos cinemas.[40][41] A partir daí, a empresa fez um grande lobby para a indicação do filme ao Oscar, que incluiu o apoio de artistas como Quentin Tarantino e Matt Damon.[42] Após as indicações, Fernando Meirelles, diretor do filme, reconheceu os esforços da distribuidora norte-americana e fez elogios ao então presidente da Miramax, Harvey Weinstein: "Agora o Harvey está dizendo que se arrepende de não ter tentando colocar Cidade de Deus na categoria de melhor filme. [...] "O cara conhece o mercado, tem influência e é bom de estratégia", disse ele.[43]Cidade de Deus perdeu o prêmio de Melhor Fotografia para Master and Commander: The Far Side of the World, da Miramax, enquanto que nas demais categorias foi derrotado por The Lord of the Rings: The Return of the King, da New Line Cinema.
O Menino e o Mundo
O Menino e o Mundo venceu o prêmio principal do Festival de Annecy, o que despertou o interesse da GKIDS, a maior distribuidora de filmes de animação independentes nos Estados Unidos. A GKIDS é conhecida por conseguir que diversos filmes de animação estrangeiros e de baixo orçamento disputem o Oscar com grandes estúdios; dentre os filmes que a empresa emplacou no Oscar, estão o francês Une vie de chat, o espanhol Chico & Rita, o irlandês Song of the Sea e o japonês Omoide no Marnie. Embora tenha sido lançado no Brasil em 2014, O Menino e o Mundo só chegou aos cinemas norte-americanos no ano seguinte, qualificando-se para a cerimônia do Oscar 2016. Após a indicação, os produtores do filme encontraram dificuldades para o financiamento da campanha e recorreram a uma "vaquinha" online, onde foram arrecadados R$ 100 mil por meio de doações.[44][45] O filme, no entanto, acabou sendo derrotado por Inside Out, da Walt Disney Studios Motion Pictures.
Representantes brasileiros ao Oscar de Melhor Filme Internacional
Na 40.ª cerimônia do Oscar (1968), o cantor brasileiro Sérgio Mendes & Brasil '66 perfomaram a canção "The Look of Love", que faz parte da trilha sonora do filme Casino Royale e concorreu a Melhor Canção Original. Em 2012, o próprio Mendes veio a disputar essa mesma categoria com a canção "Real in Rio", do filme Rio.[54]
As primeiras artistas brasileiras convidadas para uma cerimônia do Oscar de que se tem notícia foram as irmãs Carmen e Aurora Miranda, que estiveram presente na 13ª edição da premiação, em 1941.[62]
Além das indicações brasileiras, já foram indicadas ao Oscar diversas produções estrangeiras que têm como temática principal o Brasil, dentre as quais a comédia musical norte-americana Flying Down to Rio[63], a aventura franco-italiana L'Homme de Rio[64] e o documentário alemão Alvorada - Aufbruch in Brasilien.[65]