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Magia negra

John Dee e Edward Kelley dentro de um círculo mágico evocando um espírito em um cemitério.

A magia negra, ou feitiço, é o manejo de forças sobrenaturais com intenções e processos malévolos. É qualquer tipo de magia que se utiliza da sombra, e não da luz, para alcançar seus objetivos. O manejo dessas forças é realizado de várias maneiras por aqueles que creem em sua possibilidade e eficácia, que vão desde a performance de rituais, complexos cerimoniais (como as do ritual satânico laveyano e da goécia medieval), quanto gestos simbólicos cotidianos de malícia, inveja ou outra emoção negativa direcionada (como o famoso mau-olhado).

Na terminologia dualística conhecida como caminho da mão esquerda e caminho da mão direita ou via sinistrae e via dexterae, respectivamente, a magia negra seria a simbólica "mão esquerda", com a "mão direita" a da magia branca ou benevolente. Não raro, alguns críticos hoje concluem que o termo magia negra é mais utilizado como um pejorativo para qualquer prática mágica que um determinado indivíduo ou grupo que pratica magia desaprovam.[1]

Definição

O termo sob a forma "magia negra" parece ser moderno, remetendo a um simbolismo de impureza ritual derivado de culturas religiosas desde o Antigo Oriente Próximo, em contraste à pureza associada à claridade.[2] Uma origem pode ser traçada à palavra "nigromancia" (em latim: nigromantia, "artes negras"; do latim niger, negro), encontrada na Idade Média desde o século XIII, contando com referência no grimório Picatrix a partir da tradução do árabe sihr. Inicialmente era um termo distinto de "necromancia", esta última sendo considerada diabólica.[3][4][5][6][2] A divisão sobre uma magia considerada ou benéfica, ou maléfica é encontrada em diversos povos pré-modernos, como na China, incluindo a ansiedade sobre o conceito que se tornou convencionalmente referido pelo termo "magia negra".[7]

O termo magia negra engloba um amplo e difuso conjunto de diversos sistemas mágicos de origens diversas, que puxa elementos de diversas tradições e culturas não necessariamente malévolos ou religiosos, podendo muitos serem culturais ou mesmo proto-científicos. Muitos casos de magia negra são, de fato, deturpações feitas por ignorância ou por deliberado deboche e blasfêmia, como o uso da palavra Shemhamphorash da cabalá semítica no ritual satânico laveyano.[8] Elementos étnicos que compõem a magia negra incluem, mas não limitados a, resquícios de simbólicas e ritualísticas religiosas e culturais de povos de todas as partes do mundo, como sumérios, acadianos, amorreus, assírios, caldeus, mesopotâmicos, persas, egípcios, fenícios e ainda africanos, asiáticos, polinésios, bem como europeus gregos, romanos, celtas ou escandinavos.

Ilustração de Martin Van Maele de bruxas em um sabbat (1911)

A magia negra também está ligada a correntes do hermetismo e possui uma ramificação originária da antiga cabalá judaica denominada goécia, esta crê-se ser uma prática de magia que foi revelada por Deus ao rei Salomão permitindo que ele invocasse 72 anjos e demônios e sobe seu controle executassem todos os seus anseios, através desta magia acredita-se originar toda a riqueza e a sabedoria que imortalizaram Salomão. A magia negra ainda pode confundir com satanismo, porém este é outro sistema oculto, que se ocupa pela adoração ou realização de pactos ou acordos com satanás ou Lúcifer. Em todos esses diversos sistemas mágicos há invocações de espíritos, anjos e demônios que sobre a autoridade mágica do mago deverá responder à perguntas, revelar passado, presente e futuro e até mesmo intervir no mundo e em seus acontecimentos em favor do mago.

Alguns estudiosos, como Carroll Poke Runyon, destacam que na realidade essas formas de manifestações mágicas são conduzidas completamente segundo a vontade do mago, que este deve ser firme em suas convicções e que jamais deve-se recorrer a essas práticas para fazer mal a terceiros. Nesta concepção, a magia negra é uma forma de manifestação sobrenatural controlável apenas por adeptos treinados e, portanto, não poderá ser operada por pessoas que tendenciam-se ao vício, à degradação e ao egoísmo, pois caso contrário se ia estar concedendo um poder muito grande a quem não pode controlá-lo o que é tanto perigoso a terceiros quanto ao próprio indivíduo. Os indivíduos que iniciam as suas práticas neste campo invocam essas entidades em grandes cerimoniais ritualísticos, e uma vez diante dessas entidades consultam o passado, presente e futuro, buscam aprofundamento no conhecimento oculto e podem pedir alguma vantagem ou coisa que o valha. A invocação de supostas entidades dos gêneros angélico, demoníaco, elemental e espiritual são práticas comuns da magia negra. Já as práticas do vodu, do candomblé constituem outro tipo de magia muito peculiar aos povos de origem africana, e nessas religiões a magia negra não está direcionada para fazer o bem ou o mal, bem e mal são conceitos que se referem à atitude, à atividade e à conduta humana, bem e mal na realidade representam limites da ética.[9]

Ver também

Referências

  1. Petersen, Jesper Aagaard (2009). Contemporary religious Satanism: a critical anthology. [S.l.]: Ashgate Publishing, Ltd. p. 220. ISBN 0-7546-5286-6 
  2. a b James, Alan (março de 1981). «'Black': An inquiry into the pejorative associations of an English word». Journal of Ethnic and Migration Studies (em inglês) (1): 19–30. ISSN 1369-183X. doi:10.1080/1369183X.1981.9975656. Consultado em 9 de fevereiro de 2023 
  3. Tobienne, Francis (27 de maio de 2009). The Position of Magic in Selected Medieval Spanish Texts (em inglês). [S.l.]: Cambridge Scholars Publishing 
  4. Draelants, Isabelle (15 de janeiro de 2019). «The Notion of Properties. Tensions between Scientia and Ars in medieval natural philosophy and magic.». In: Page, Sophie; Rider, Catherine. The Routledge History of Medieval Magic (em inglês). [S.l.]: Routledge 
  5. Summers, Montague (16 de março de 2012). Witchcraft and Black Magic (em inglês). [S.l.]: Courier Corporation 
  6. Lifton, Robert Jay (1996). The Broken Connection: On Death and the Continuity of Life (em inglês). [S.l.]: American Psychiatric Pub 
  7. Wu, Junqing (23 de janeiro de 2017). «A Pre-history: Black Magic and Messianism in Early Political and Legal Discourse». Mandarins and Heretics: The Construction of “Heresy” in Chinese State Discourse (em inglês). [S.l.]: BRILL 
  8. Gilmore, High Priest, Magus Peter H. «F.A.Q. Symbols and Symbolism | churchofsatan.com». www.churchofsatan.com. Consultado em 17 de junho de 2018 
  9. REGARDIE, Israel. Golden Dawn, A Aurora Dourada.

Bibliografia

  • CORRÊA, Alexandre Fernandes. O Museu Mefistofélico e a distabuzação da magia: análise do tombamento do primeiro patrimônio etnográfico do Brasil. São Luis/MA: EDUFMA, 2009, 192p. il.
  • Gravuni, Antonio Vilmar. As trinta e cinco viagens de um bruxo - G777m - S.I.: s.n. 2012.
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