Ocupação alemã de Luxemburgo durante a Segunda Guerra MundialA Ocupação alemã de Luxemburgo durante a Segunda Guerra Mundial começou em maio de 1940 após o Grão-Ducado do Luxemburgo ter sido invadido, sem declaração de guerra, pela Alemanha Nazista. Apesar do país ser neutro, Luxemburgo tinha uma posição estratégica ao fim da linha Maginot francesa.[1] Em 10 de maio de 1940, a Wehrmacht (forças armadas alemãs) invadiu Luxemburgo e também a Bélgica e os Países Baixos, abrindo o caminho para a próxima invasão da França.[2] Luxemburgo foi então colocado sob administração do exército alemão, mas logo depois um governo civil assumiu até que o país foi formalmente anexado à Alemanha Nazista. Os alemães acreditavam que o território luxemburguês era parte do Reich Alemão e iniciaram um programa de repressão cultural, especialmente para livrar o país da influência francesa. Um pequeno número de cidadãos de Luxemburgo colaborou com os nazistas, enquanto outros iniciaram uma resistência contra os alemães. A partir de 1942, cerca de 1 500 a 2 000 luxemburgueses se alistaram voluntariamente nas forças armadas alemãs,[3] o que não correspondeu de longe aos números desejados pelo exército alemão.[1] Paul Dostert afirma que vários casos indicam que muitos "voluntários" não eram de facto voluntários: numerosos casos são conhecidos onde criminosos, mentalmente perturbados e associais se voluntariaram para evitar serem enviados para um campo de concentração.[1] Em Outubro de 1942, os ocupantes forçaram o serviço militar obrigatório. [1] Enquanto isso, cerca de 3 500 judeus de Luxemburgo foram mortos no Holocausto. O processo de libertação do país pelos Aliados finalmente começou em setembro de 1944, mas foi atrasado devido a ofensiva alemã nas Ardenas. Os nazistas só foram expulsos em definitivo no começo de 1945. O número de vítimas luxemburguesas saldou-se em cinco mil e setecentos, o que corresponde a 2% da população de 1940, a maior perda desse tipo na Europa Ocidental.[1] Além disso, 18.658 edifícios foram destruídos ou fortemente danificados, representando 1/3 de todos os edifícios no Luxemburgo (afetando 39% da população).[4] AntecedentesO Luxemburgo já tinha sofrido uma ocupação alemã durante a Primeira Guerra Mundial, com o pretexto de apoio germânico aos exércitos na França vizinha. Entre agosto de 1914 até meados de novembro de 1918, embora sob ocupação militar, Luxemburgo manteve o seu governo próprio e o seu sistema político. Praticamente sem exército próprio, o país não teve outra hipótese senão manter a neutralidade.[5] As tropas alemãs concentraram-se em Luxemburgo para conduzir as suas operações na Bélgica e em França. A ocupação trouxe uma série de calamidades, como dificuldades de abastecimento, racionamento, aumento dos preços, desemprego, contrabando[nota 1] e miséria operária.[5] Em novembro de 1918, a Alemanha assinou o armistício de Compiègne com os Aliados, pondo fim aos combates. Conforme as condições do armistício, as tropas alemãs se retiraram de todos os territórios ocupados, incluindo o Luxemburgo.[6] No início da Segunda Guerra Mundial, em Setembro de 1939, Luxemburgo declarou-se neutro,[7] principalmente na esperança de que isso fosse suficiente para impedir uma nova ocupação alemã. As forças armadas tinham sido aumentadas para um máximo de 268 gendarmes e 425 soldados de uma companhia de voluntários[8] e na fronteira com a Alemanha foi criada a "Linha Schuster", um conjunto de bloqueios de estradas, em betão com portas de aço, para proteger as principais passagens fronteiriças; todas estas medidas visavam, acima de tudo, tranquilizar a opinião pública interna, fortemente preocupada com a política agressiva da Alemanha[7]. A nível militar, estas forças do Luxemburgo - mínimas, devido ás restrições do Tratado de Londres de 1867 - só poderiam abrandar um eventual invasor. A InvasãoAs portas de aço da Linha Schuster foram fechadas em 10 de maio de 1940 às 03:15, após relatos de movimento de tropas alemãs na fronteira. [9] A família real foi evacuada de sua residência em Colmar-Berg para o palácio Grand Ducal em Luxemburgo. Cerca de 30 minutos depois, ao amanhecer, vários aviões alemães foram avistados sobre a capital do Luxemburgo, na direção da Bélgica.[10] A invasão alemã começou às 04:35, quando várias divisões Panzer atravessaram a fronteira em Wallendorf-Pont, Vianden e Echternach. Rampas de madeira foram usadas para atravessar as armadilhas de tanques da Linha Schuster. [9] Houve troca de tiros, mas os alemães não encontraram resistência significativa, exceto algumass pontes destruídas e algumas minas terrestres, já que a maioria do Corpo de Voluntários Luxemburgueses permaneceu nos quartéis. A fronteira foi defendida apenas por soldados que se voluntariaram para o serviço de guarda e gendarmes. Ao fim do dia, Luxemburgo estava totalmente dominado.[11] A Grã-Duquesa do Luxemburgo e o seu governo fugiram para a Grã-Bretanha.[12] A OcupaçãoO Luxemburgo foi submetido a um regime de ocupação militar, mas após 28 de Junho de 1940 o governo passou para uma administração civil alemã sob o Gauleiter Gustav Simon; o país foi anexado ao Gau de Trier-Koblenz (em fevereiro de 1941 renomeado Moselland), antes de ser formalmente anexado ao Reich em Agosto de 1942. O povo do Luxemburgo foi considerado pelos ocupantes como pertencente à etnia germânica e Gustav Simon iniciou no país a política do Heim ins Reich ( "retorno ao Reich"), tentando convencer os luxemburgueses de sua pertença ao povo alemão[13] ; foi iniciada uma ampla política de germanização, tendendo sobretudo a suprimir o uso da língua francesa em favor do alemão, proibindo seu uso em público, na toponímia e em nomes[7] . Ao mesmo tempo, foi iniciada uma política sistemática de desmantelamento do aparelho de Estado luxemburguês: no final de 1940, todos os partidos políticos foram abolidos, o Parlamento e os tribunais do Luxemburgo foram dissolvidos e as leis e tribunais alemães entraram em vigor; foi também lançada uma vasta campanha para persuadir os luxemburgueses a requererem a cidadania alemã e a aderirem ao partido nazi, que, no entanto, deu fracos resultados. [12] Em 10 de outubro de 1941, foi realizado um censo da população, em que cerca de 98% dos recenseados declararam a nacionalidade luxemburguesa, recusando a cidadania alemã e provocando represálias da Gestapo.[7] Em 30 de Agosto de 1942, os ocupantes anunciaram que todos os jovens luxemburgueses nascidos entre 1920 e 1927 seriam obrigatóriamente incorporados na Wehrmacht, para combater os Aliados.[14] A este anúncio seguiu-se uma greve geral - uma raridade em territórios sob ocupação nazi - violentamente reprimida. Cerca de 20 cidadãos considerados responsáveis foram fuzilados.[14] Judeus do LuxemburgoNo início da Segunda Guerra Mundial havia cerca de 3 500 judeus a viver no Luxemburgo: comunidades judaicas estavam presentes no país desde o século XIII, mas a maior parte da população era constituída por judeus da Europa Oriental que tinham fugido para o Luxemburgo nas primeiras décadas do século XIX, incluindo cerca de 1 000 judeus alemães que tinham fugido da Alemanha no início dos anos trinta.[15] Durante o período de ocupação, foram confiscados bens pertencentes a famílias judaicas, mas inicialmente não foram adoptadas regras restritivas específicas para os judeus; as autoridades alemãs encorajaram a emigração e, entre Agosto de 1940 e Outubro de 1941, cerca de 2.500 judeus residentes no Luxemburgo deixaram o país, emigrando principalmente para a França de Vichy ou Portugal [15] . A 5 de Setembro de 1940, Gustav Simon ordenou a aplicação das leis de Nuremberga no território, e as restrições para a população judaica tornaram-se progressivamente mais severas: foi imposta a obrigação de usar a estrela amarela nas roupas, o saque dos seus bens e dinheiro aumentou, foi-lhes proibido o acesso a locais públicos e muitos perderam os seus empregos.[15][1] No início de Outubro de 1941 havia cerca de 750 judeus no país, e a partir de 16 de Outubro, de 674 destes foram gradualmente reunidos e encerrados no campo de trânsito de Funfbrunnen, de onde seriam deportados para o gueto de Lodz e para o campo de concentração de Theresienstadt[15]; a partir daqui os judeus do Luxemburgo foram enviados para o campo de extermínio de Sobibor e para o campo de concentração de Majdanek e Bergen-Belsen. O último grupo de 11 deportados foi enviado diretamente para o campo de concentração de Auschwitz em Junho de 1942.[16] Em 17 de junho de 1943, Gustav Simon declarou que Luxemburgo era um território "limpo de judeus". As grandes sinagogas das cidades de Luxemburgo e Esch-sur-Alzette foram completamente demolidas, enquanto as de Ettelbruck e Mondorf-les-Bains foram seriamente danificadas. Dos 674 luxemburgueses deportados para os campos de extermínio, apenas 36 sobreviveram até serem libertados [15] . Também a pequena comunidade cigana foi vítima da perseguição alemã: cerca de 200 Roma foram deportados e mortos durante o período da Segunda Guerra Mundial .[17][18] ColaboracionismoMesmo antes da guerra do Luxemburgo, já existia um pequeno partido de extrema direita, o Partido nacional Luxemburguês (LNP), fundado em 1936, mas que nunca tinha conseguido um grande número de seguidores. A 17 de Maio de 1940, com a aprovação das autoridades ocupantes, o professor universitário Damian Kratzenberg fundou o Volksdeutsche Bewegung ("Movimento Popular Alemão" ou VDB), um movimento de inspiração nazi que foi declarado pelos alemães como o único partido político legal de todo o Luxemburgo . O VDB foi utilizado pelos alemães para propagar a política de germanização e o Heim ins Reich, bem como para apoiar a anexação de Luxemburgo ao Reich. O movimento atingiu o máximo de 84.000 membros, embora os próprios alemães tenham admitido que apenas 5% deles poderiam ser considerados como verdadeiros apoiantes: o registro no movimento era muitas vezes necessário para manter o emprego.[19] O recrutamento no "Corpo de Gendarmes e Voluntários" do exército luxemburguês, anterior à invasão, [8]continuou durante os primeiros meses da ocupação e até 4 de Dezembro de 1940, quando a formação foi enviada para a Alemanha para ser transformada numa unidade de polícia alemã; nessa qualidade, serviu em vários locais da Europa ocupada,nomeadamente participando na luta contra os guerrilheiros jugoslavos. [20] A Wehrmacht lançou igualmente uma campanha de incentivo ao recrutamento de voluntários luxemburgueses nas forças armadas alemãs, mas o número total de recrutas não ultrapassou cerca de 2.000 homens[21] , para além de outros 110 voluntários para as Allgemeine SS.[19] Em 30 de Agosto de 1942, em resultado da anexação total do país ao Reich, foi introduzido no Luxemburgo o recrutamento obrigatório. Apesar da elevada taxa de recusa e deserção, entre 12.035 e 12.500 [21] [20] luxemburgueses foram recrutados para as várias forças armadas alemãs. Os luxemburgueses, considerados como cidadãos do Reich, não serviram em unidades especialmente a si dedicadas, mas foram dispersos pelas várias formações alemãs. Os mortos e desaparecidos entre os recrutados luxemburgueses foram estimados entre 2 750 e 3 700 homens.[21][20] O recrutamento para o Reichsarbeitsdienst (RAD), o serviço de trabalho do Reich, foi tornado obrigatório para o resto da população útil.[22] Ver tambémNotas
Referências
Bibliografia
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