Operação Samaúma
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Objetivo
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prevenção e repressão ao desmatamento ilegal
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Data
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28 de Junho de 2021
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Operação Samaúma foi uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) iniciada em 28 de Junho de 2021 com o objetivo de combater o desmatamento e incêndios ilegais na Amazônia. O nome da operação vem de uma árvore homônima, conhecida como rainha da Amazônia, que guarda e distribui água para outras espécies.[1] Ela se dá em paralelo com outras operações, como a Operação Muiraquitã 2 e a Operação Mundurukânia.[2] Já foram aplicadas R$ 76 milhões em multas, além 7,5 mil hectares embargados e 3,5 mil m³ de madeira apreendidos.
Antecedentes
A atuação das forças armadas na região da Amazônia não é novidade. Desde 2019, já foram autorizadas duas operações, chamadas Verde Brasil 1 e 2, que foram massacradas pela crítica por fazer pouco mesmo com um grande orçamento.[3]Apesar de haver queda no desmatamento após as operações, houve outra alta quando os militares se retiraram da região. O vice-presidente Hamilton Mourão defende que a alta ocorreu justamente por causa da saída dos militares, enquanto a oposição afirma que a alta já era esperada devido ao ciclo do desmatamento, já que, com o encerramento do regime de chuvas, os criminosos passam a cortar madeira em áreas protegidas.[4] No fim, mesmo com as operações militares, em 2020 houve um aumento dos focos de calor em 15%.[5] Após o encerramento da operação e às vésperas da Cúpula do Clima,[6] foi criado o Plano Amazônia 21/22, já prevendo a continuidade das operações.
O ministro do meio-ambiente nesta época era Ricardo Salles, cuja gestão foi marcada pela alta do desmatamento[7] e por diversas polêmicas, incluindo a facilitação da atuação de policiais militares e bombeiros ao combate ao desmatamento, ato considerado pela oposição como uma militarização do setor. Houve também atritos com outras nações. A Alemanha e a Noruega se posicionaram contra as tentativas de mudança do Fundo Amazônia[8] e Macron[9] e Joe Biden[10] criticaram a gestão do governo brasileiro em relação ao meio-ambiente. Devido a todas as tensões, declarações polêmicas e a associação de Salles com o desmatamento ilegal, ele, ao seu próprio pedido, foi exonerado por Jair Bolsonaro e indicou Joaquim Alvaro Pereira Leite como seu substituto.[11] Joaquim é considerado uma versão "soft" de Ricardo Salles e, ao contrário do ex-ministro, possui boas relações com o vice-presidente Hamilton Mourão.[12] Com a aproximação da COP-26, Mourão decide ampliar as medidas de combate ao desmatamento ilegal.[4] Durante este período diversas catástrofes ambientais ocorreram, entre elas os incêndios no pantanal, pico de queimadas na Amazônia, o surgimento de óleo nas praias do Nordeste e o Desastre de Brumadinho.[13][14][15][16]
Em Junho de 2021, a Amazônia bateu recorde de queimadas. Elas tiveram como fatores o tempo seco, os troncos caídos no chão devido ao desmatamento e o fogo, que não é comum nessa época do ano. Logo em seguida acontece uma crise hídrica, que pode ter origem nos altos índices de desmatamento na Amazônia.[13]
Criação
No dia 28 de julho de 2021, Jair Bolsonaro autoriza GLO para nova atuação dos militares na Amazônia, e no dia seguinte assina decreto que proíbe queimadas para práticas agropastoris no Brasil. A atuação se dá nos estados do Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia e vale para todas as terras indígenas, unidades federais de conservação ambiental e em outras propriedades ou posses da União. A atuação também poderá ser ampliada para qualquer área do território se solicitada pelos governadores. A operação envolve a Marinha, Exército e Aeronáutica, e de acordo com o Ministério da Defesa, tem como principais objetivos a prevenção e repressão ao desmatamento ilegal. A GLO será realizada com o apoio da CNAL. Além disso também receberá o apoio da Gipam, que dará assessoriamento científico.[13] O preço da operação foi estimado em R$ 50 milhões,[17] e foram mobilizados 3 mil militares com o objetivo de derrubar o desmatamento ilegal em 12% em relação a julho do ano passado.[4] 2021 se torna o terceiro ano consecutivo da ação militar contra o desmatamento.[18]
Operação
A FAB está utilizando um Sistema de Aeronave Remotamente Pilotada (SARP) para dar suporte logístico às tropas. A aeronave é pilotada por satélites e escaneia e transmite dados em tempo real. Ela é de difícil detecção e consegue rastrear o movimento de veículos e pessoas, garimpos e áreas de desmate. A base está localizada no município de Novo Progresso, na Serra do Cachimbo. A aeronave já havia sido usada na Operação Verde Brasil 2, nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio de Janeiro e na Intervenção Federal no Rio de Janeiro. Apesar da tecnologia, também foram usados dados gerados por satélites.[19]
Áreas de atuação
As forças armadas atuaram nos seguintes municípios:[20]
- Amazonas: Apuí, Boca do Acre, Canutama, Humaitá, Lábrea, Manicoré, Novo Aripuanã
- Mato Grosso: Apiacás, Aripuanã, Colniza, Cotriguaçú, Marcelândia, Nova Bandeirantes, Peixoto de Azevedo, Paranaíta
- Pará: Altamira, Itaituba, Jacareacanga, Novo Progresso, São Félix do Xingu e Trairão
- Rondônia: Candeiras do Jamari, Cujubim, Itapuã do Oeste, Machadinho D'Oeste, Porto Velho
Histórico
No dia 17 de julho, um garimpo ilegal é encontrado durante um patrulhamento na Floresta Nacional do Jamari. Nele, 700 m³ de madeira ilegal e uma retroescavadeira hidráulica são apreendidas.[21]
No dia 20 e 21 de julho, ocorreu uma operação nas Florestas Nacionais de Jacundá e Jamari, que resultou em mais de R$ 1,7 milhão em multas e a apreenção de duas motosserras.[22]
No dia 30 de julho, foi divulgado o resultado de uma operação na Terra Indígena Trincheira/Bacajá, em São Félix do Xingu. Foram invalidadas duas instalações e uma ponte usadas no garimpo ilegal, além da retirada de cercas para demarcação ilegal. A Infantaria da Selva contou com dois helicópteros e fez a segurança dos agentes, formados por membros da Funai, Ibama, PF e a FNSP.[23]
Nos dias 5 a 8 de agosto, é realizada uma operação na área rural de Novo Progresso, que apresentava 17 hectares de garimpo ilegal e poluição por mercúrio. Foram apreendidas três escavadeiras de esteiras, 1,3 mil litros de combustível, três bombas de sucção e 553 m³ de madeira. As multas emitidas podem chegar próximas de R$ 1 milhão[24]
No dia 17 de agosto, Hamilton Mourão vai em visita oficial ao Pará para debater sobre a operação. De acordo com Mourão, a operação resultou em diminuição do desmatamento ilegal, mas o governo ainda precisa agir em três níveis: "repressão; busca e pagamento pelos serviços ambientais para que proprietários e indígenas tenham condições de subsistir; e a questão do desenvolvimento econômico." Também foi anunciado a contratação de brigadistas para o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PrevFogo).[25]
No dia 24 de agosto, Hamilton Mourão anuncia durante a 6ª reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal que a operação será estendida em 45 dias, e que concursos serão abertos para o Ibama e o ICMBio. A extensão se dá pela demora dos recursos solicitados chegarem, que resultou em sobra de recursos. Na reunião, além do vice-presidente, estavam presentes Ciro Nogueira, Carlos França e Flávio Rocha, além de representantes do Ministério do Meio Ambiente.[26] Também foi anunciado que a redução do desmatamento deve ficar em 5%, sendo que a meta era de 10%.[26]
No dia 11 de agosto, Joaquim Leite faz uma visita não-agendada a Terra Indígena Apyterewa, perto de São Félix do Xingu.[27]
Saldo
Até dia 26 de agosto de 2021, foram R$ 76.007.296,85 em multas, 7.508,549 hectares embargados, 3.513,797 metros cúbicos de madeira apreendidos, além de 2.135 litros de combustível e 114,3 toneladas de cobre. Também houve apreensões de motores, motosserras, retroescavadeiras, entre outras coisas.[2]
Referências
- ↑ Agostinho, Autor Jaime de (19 de julho de 2021). «Operação Samaúma». Ecoamazônia. Consultado em 25 de agosto de 2021
- ↑ a b «Ações federais para combater garimpos ilegais no Pará: o que se sabe e o que falta saber». G1. Consultado em 27 de agosto de 2021
- ↑ «O que a Folha pensa: Fiasco amazônico». Folha de S.Paulo. 11 de fevereiro de 2021. Consultado em 2 de setembro de 2021
- ↑ a b c «Mourão levará 3 mil militares à Amazônia e promete queda de 12% no desmatamento - Sustentabilidade». Estadão. Consultado em 26 de agosto de 2021
- ↑ simonekafruni (8 de janeiro de 2021). «Desmatamento na Amazônia atinge 8,4 mil km² em 2020, segundo pior ano da história». Blog 4Elementos. Consultado em 27 de agosto de 2021
- ↑ «Plano do governo para Amazônia mantém desmatamento em alta». Vermelho. 17 de abril de 2021. Consultado em 2 de setembro de 2021
- ↑ «Desmatamento em dois anos de Bolsonaro tem alta de 82% sobre período Temer/Dilma». Estado de Minas. 8 de janeiro de 2021. Consultado em 25 de agosto de 2021
- ↑ null. «A força da caneta de Ricardo Salles: tudo o que ele fez no Ministério do Meio Ambiente». Gazeta do Povo. Consultado em 25 de agosto de 2021
- ↑ Minas, Estado de; Minas, Estado de (26 de agosto de 2019). «Bolsonaro e Macron: entenda como começou a crise entre os presidentes». Estado de Minas. Consultado em 25 de agosto de 2021
- ↑ «A proposta de Biden para a Amazônia e por que ela irritou Bolsonaro». G1. Consultado em 25 de agosto de 2021
- ↑ «Cai o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente». G1. Consultado em 25 de agosto de 2021
- ↑ «Versão 'soft' de Salles, novo ministro do Meio Ambiente tenta mudar imagem do Brasil, mas é alvo de desconfiança». O Globo. 22 de agosto de 2021. Consultado em 25 de agosto de 2021
- ↑ a b c «Amazônia tem junho com maior nº de focos de incêndio desde 2007 - Sustentabilidade». Estadão. Consultado em 25 de agosto de 2021
- ↑ «Incêndios no Pantanal não igualam recorde; marca está acima da média histórica, diz UFRJ». Folha de S.Paulo. 22 de agosto de 2021. Consultado em 25 de agosto de 2021
- ↑ de Las Casas, Laura (3 de novembro de 2019). «Moradores lutam por nova vida após tragédias em Mariana e Brumadinho». Folha de São Paulo. Consultado em 25 de agosto de 2021
- ↑ «Manchas de óleo no Nordeste: o que se sabe sobre o problema». G1. Consultado em 26 de agosto de 2021
- ↑ «Bolsonaro autoriza uso das Forças Armadas em Rondônia». Agência Brasil. 2 de julho de 2021. Consultado em 26 de agosto de 2021
- ↑ Agostinho, Autor Jaime de (29 de julho de 2021). «Repressão a crimes ambientais conta, mais uma vez, com apoio das Forças Armadas». Ecoamazônia. Consultado em 26 de agosto de 2021
- ↑ especial', 'Sarah Teófilo, enviada (9 de agosto de 2021). «Defesa utiliza avião sem piloto para fiscalizar ações contra meio ambiente na Amazônia». Brasil. Consultado em 27 de agosto de 2021
- ↑ Agostinho, Autor Jaime de (7 de julho de 2021). «Forças Armadas atuarão em 26 municípios para coibir desmatamento». Ecoamazônia. Consultado em 26 de agosto de 2021
- ↑ «Trator e cerca de 700 m³ de madeira ilegal são apreendidos durante operação na Flona do Jamari em RO». G1. Consultado em 27 de agosto de 2021
- ↑ «Mais de R$ 1,7 milhão em multas são aplicadas durante operação contra desmatamento em áreas de preservação em RO». G1. Consultado em 27 de agosto de 2021
- ↑ «Militares inutilizam instalações de suporte ao garimpo e desmatamento ilegal em terra indígena no Pará». G1. Consultado em 27 de agosto de 2021
- ↑ «Operação apreende mais de R$ 2 milhões em equipamentos em garimpo ilegal em Novo Progresso». G1. Consultado em 27 de agosto de 2021
- ↑ «Vice-presidente Mourão acompanha operação contra crimes ambientais no Pará». G1. Consultado em 27 de agosto de 2021
- ↑ a b «Governo prorroga presença das Forças Armadas na Amazônia por mais 45 dias, diz Mourão». G1. Consultado em 27 de agosto de 2021
- ↑ «Ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, visita base de operação das Forças Armadas no Pará». G1. Consultado em 27 de agosto de 2021