A Seleção Britânica de Futebol conquistou três medalhas de ouro nas Olimpíadas, nas edições de 1900, 1908 e 1912. Nessas duas últimas, foi basicamente formada pela seleção amadora da Inglaterra; na primeira, na realidade, quem competiu originalmente foi extinto clube Upton Park, que o COI posteriormente equiparou ao selecionado. Desde a conquista do último ouro, a equipe, sempre formada por amadores, não conseguia ficar sequer entre as três primeiras. Havia sido desativada em 1971, tendo parado de disputar os Jogos Olímpicos desde a edição de 1960. O time foi retomado especialmente para os Jogos Olímpicos de 2012, sediados em Londres, capital da Inglaterra.
Antes de 2012
A Seleção Britânica medalha de ouro nas Olimpíadas de Londres, 1908 (acima), e Estocolmo, 1912 (abaixo). Nelas, o uniforme foi o mesmo do da Seleção Inglesa, mas com a bandeira do Reino Unido bordada no peito
O futebol fez-se presente na primeira edição moderna das Olimpíadas, em 1896, mas sem presença britânica - as disputas foram travadas entre representantes da Dinamarca e das cidades otomanas de Atenas e Izmir, e não tiveram caráter oficial.[3] Os inventores do futebol passaram a participar a partir dos Jogos de 1900. Ainda não propriamente sob uma seleção, sendo representados pelo clube Upton Park, que venceu o torneio realizado com participantes de França e Bélgica.[4][5]
Na época, o futebol foi considerado apenas como esporte de demonstração, não havendo sequer entrega de medalhas a seus vencedores.[4]Apenas posteriormente, já na década de 1990, é que o Comitê Olímpico Internacional (a FIFA, não) reconheceu a validade daquela disputa,[5]inclusive equiparando o Upton Park ao selecionado da Grã-Bretanha.[6] O futebol nos Jogos Olímpicos de Verão de 1904, por sua vez, voltou a não contar com representantes do Reino Unido.[7]
Na primeira vez em que o futebol outorgou medalhas e também na primeira vez em que foi disputado por selecionados propriamente ditos, na edição de 1908 (realizados em Londres),[5]enfim uma seleção britânica conquistou o ouro, não deixando de demonstrar que estava bem à frente dos concorrentes - venceu por 2 a 0 na final a Dinamarca, que havia realizado a maior goleada da história dos Jogos na semifinal (17 a 1 na França).[8] As duas seleções reeditaram a final na edição seguinte, e outra vez os britânicos levaram a melhor, desta vez por 4 a 2, no torneio de futebol com mais representatividade até então - foram onze seleções em Estocolmo.[9]
Desde a conquista do ouro em 1912, porém, a Grã-Bretanha não conseguiu mais ficar sequer entre as três primeiras colocadas no futebol olímpico. Na edição seguinte, a de 1920 (a Primeira Guerra Mundial impedira a realização da de 1916), os britânicos foram eliminados já no primeiro confronto, em um 1 a 3 contra a Noruega.[10] Só voltariam a participar nas Olimpíadas de 1936,[11][12] descontentes com a inclusão de seleções com jogadores profissionais em um torneio que deveria reunir apenas atletas amadores. Ficaram somente na sétima colocação nos Jogos de Berlim.[13]
Na edição seguinte, a de 1948 (a Segunda Guerra Mundial impedira as de 1940 e 1944), com as Olimpíadas sediadas novamente em Londres, ainda havia um dogma pelo amadorismo, o que afastou algumas das principais seleções do mundo, que já haviam se profissionalizado. Foi a melhor campanha dos anfitriões desde o último ouro, ainda que não tornassem a subir no pódio: terminaram em quarto.[14] Nos Jogos de 1952, por sua vez, os britânicos caíram já na fase preliminar, derrotados por Luxemburgo por 3 a 5.[15]
Grã Bretanha (1947)
Grã Bretanha (1955)
Uniformes usados em partidas anteriores: • Azul representando a Escócia em 1947. • Verde representando a Irlanda do Norte em 1955.
As Olimpíadas de 1956 e 1960 haviam marcado as últimas presenças da Grã-Bretanha, sempre amadora. Na primeira, foi eliminada por um 1 a 6 pela Bulgária[16] - que podia contar com seus melhores atletas, oficialmente militares do país comunista (não por acaso, o Leste Europeu conseguiria o ouro no futebol em todas as edições de 1952 a 1980, última a contar obrigatoriamente com amadores);[17] na segunda, caiu outra vez na primeira partida, derrotada por 3 a 4 para o Brasil.[18] A seleção britânica continuou ativa até 1971, mas não conseguiu mais sequer classificar-se para as disputas olímpicas.[19]
Além das disputas olímpicas, o time do Reino Unido jogou também dois amistosos com combinados do resto da Europa, em ambos utilizando a denominação de time da Grã-Bretanha: o primeiro, em 1947, celebrava o retorno das quatro seleções britânicas à FIFA, da qual se haviam desligado em 1920. Tendo a partida sido disputada no Hampden Park, na Escócia, a seleção utilizou uniforme similar ao escocês (camisas e meias azul marinho e calça branca). O outro, em 1955, celebrava o aniversário de 75 da Associação Norte-Irlandesa de Futebol, sendo disputado em Belfast, no estádio Windsor Park. Com isso, o Reino Unido daquela vez vestiu as cores da Irlanda do Norte: camisas e meias verdes e calças brancas.
A volta e as polêmicas
Boicote das associações britânicas não inglesas
Com a escolha de Londres para sediar as Olimpíadas de 2012, criou-se um debate para uma provisória volta da Seleção Britânica, uma vez que o país anfitrião deve estar presente em todos os esportes coletivos e, nas competições olímpicas, o Reino Unido é representado por uma única delegação. A proposta foi logo rechaçada pelas associações de futebol do País de Gales e, principalmente, da Escócia, sendo que a última declarou intenção de vetar que qualquer jogador escocês jogasse pela nova Seleção Britânica - embora um escocês fosse, até então, o mais cotado para dirigir o Reino Unido nos Jogos: Alex Ferguson, o vitorioso técnico do Manchester United desde 1986.
Em outubro de 2007, a associação da Irlanda do Norte, que até então apoiava a proposta, passou a se opor também, fazendo com que apenas a associação da Inglaterra (que compreende também às das Ilhas do Canal e de Man) defendesse o projeto. Embora o presidente da FIFAJoseph Blatter tenha declarado não haver problemas para que um time de futebol do Reino Unido dispute as Olimpíadas de Londres, estes opositores temiam perder a independência que suas associações e seleções de futebol possuem. Outro fator, mais predominante em relação à Escócia, foi a rivalidade nutrida contra a Inglaterra.
Segundo a Associação, o acordo foi feito com a Federação Inglesa de Futebol após esta ter consultado as outras federações. Porém, essa informação foi negada pela Associação Escocesa de Futebol e pela Associação de Futebol do País de Gales, que voltaram a afirmar que não concordavam com a formação de uma equipe olímpica unificada, mesmo havendo britânicos não ingleses apoiando tal ideia: o jogador galêsGareth Bale chegou a dizer que as Olimpíadas seriam uma "ótima oportunidade para um jogador de um país que não costuma ir a grandes torneios".[21] E inclusive ameaçou processar a Associação Galesa caso ela o proibisse de atuar nos Jogos.[22]
Convocação
Em 20 de outubro de 2011, foi escolhido o técnico para dirigir a Seleção Britânica: o inglês Stuart Pearce, que disse "estar honrado" em dirigir a seleção e que desejava que jogadores escoceses, norte-irlandeses e galeses joguem na equipe.[23] Posteriormente, anunciou que não chamaria atletas ingleses que estivessem na Eurocopa 2012, por força do planejamento dos clubes europeus,[24] embora reclamasse da medida; acreditava que ingleses sub-23 usados na Euro (Danny Welbeck, Andy Carroll, Theo Walcott, Martin Kelly, Jordan Henderson, Phil Jones e Alex Oxlade-Chamberlain) deveriam ser liberados, para que a Grã-Bretanha pudesse ser representada com força máxima.[25][19]
O craque inglês David Beckham declarou publicamente que "amaria jogar pela Seleção Britânica".[26][27] Todavia, acabou preterido pelo técnico Pearce, que preferiu ocupar as três vagas permitidas para veteranos com Micah Richards, Craig Bellamy e Ryan Giggs. Estes dois últimos juntaram-se a outros três galeses também convocados: Neil Taylor, Joe Allen e Aaron Ramsey.[28] Giggs foi o único atleta acima de 23 anos que seu clube, o Manchester United, aceitara liberar para os Jogos, em retribuição aos serviços prestados pelo veterano meia, que jamais pôde disputar um torneio por seu País de Gales.[29] Giggs foi escolhido o capitão do elenco, e sua participação ficou estendida até nas reuniões de planejamento do time, para o qual ficou sendo também uma espécie de auxiliar técnico de Pearce.[30] Já Beckham não escondeu sua decepção por não ter sido convocado:
“
Eu deixei claro que fiquei desapontado e as pessoas em minha volta sabem como foi duro não estar lá. Mas sempre fui um fã dos Jogos Olímpicos e sempre disse que se não fosse convocado, estaria aqui como um torcedor, que assistiria aos atletas, e aqui estou.
”
Outro galês, a estrela Gareth Bale, era um nome tido como certo e dos mais importantes,[32] chegando a vestir a camisa britânica para a divulgação do uniforme dos anfitriões.[22] Contudo, o técnico Pearce decidiu exclui-lo em razão de uma lesão.[32]Outra versão atesta que Bale é quem teria pedido para ser desligado,[33] o que geraria outra polêmica, pois, às vésperas da estreia, não só voltou a jogar como marcou um gol em amistoso de seu clube, o Tottenham Hotspur.[34]
Na estreia das seleções britânicas masculina e feminina de futebol nos Jogos Olímpicos de 2012, atletas não ingleses recusaram-se a cantar God Save the Queen (Deus salve a Rainha, em inglês), o hino nacional britânico. Na equipe feminina, Kim Little e Ifeoma Dieke, ambas escocesas, foram as que não cantaram e, na equipe masculina, quem não cantou foram os galesesRyan Giggs e Craig Bellamy. A atitude dos atletas foi muito criticada por torcedores do Reino Unido.[42]
Desempenho nos Jogos Olímpicos de 2012
A reestreia nos Jogos Olímpicos foi em 26 de julho de 2012. A partida foi contra o Senegal, que terminou em 1x1. Craig Bellamy marcou o gol dos britânicos.[43] A equipe chegou às quartas-de-finais, mas foi eliminada pela Coreia do Sul na disputa por pênaltis após um empate de 1x1 no tempo normal.[44]
Quatro outros jogadores foram convocados para uma lista de espera, para o caso de haver necessidade de substituição em virtude de eventual corte de alguém dentre os dezoito acima.[45]