Sobrado (Valongo)
Sobrado (designada originalmente por Santo André de Sobrado) é uma vila portuguesa sede da extinta Freguesia de Sobrado do Município de Valongo, freguesia que tinha 19,40 km² de área e 6.727 habitantes (2011), tendo, por isso, uma densidade de 346,8 hab/km². A Freguesia de Sobrado foi extinta em 2013, no âmbito de uma reforma administrativa nacional, tendo sido agregada à União das Freguesias de Campo e Sobrado, que pelo Município de Valongo pertence à Área Metropolitana do Porto. A Freguesia de Sobrado fazia fronteira com as freguesias de Alfena, Valongo (a sede do município) e Campo (estas no Município de Valongo), Gandra e Lordelo (do Município de Paredes), com Água Longa e Agrela (Município de Santo Tirso) e ainda com Seroa (Município de Paços de Ferreira). A povoação de Sobrado foi elevada à categoria de vila em 19 de Abril de 2001.[1] A existência de Sobrado é conhecida desde os primórdios da nacionalidade portuguesa. É ainda uma vila conhecida nacionalmente pela Festa de São João de Sobrado (Bugiada e Mouriscada), pelo ciclismo, pela antiga fábrica de indústria CIFA e pela actual empresa de vinhos e lacticínios Quinta das Arcas. Possui um rico património, maioritariamente religioso e agrícola. HistóriaJá é referida a existência de Sobrado em 1258, segundo as Inquirições Gerais ordenadas pelo Rei D. Afonso III. Sabe-se que por esta altura, Sobrado pertencia ao Arcediago de Aguiar de Sousa e era atravessada por uma via que ligava Porto a Guimarães. A Igreja estava isenta de direitos relativamente à coroa e o maioral local era D. Gil Martins que era já bastante idoso, estando associado à família de Riba de Vizela. Possuía muitos casais (propriedades), tendo constituído honra e parte do Padroado da Igreja Paroquial de Sobrado. Este Padroado (ou seja, direito de apresentação do pároco ou abade de uma determinada paróquia) passou para a família Baldaia (de mercadores da Cidade do Porto), que por sua vez, no seguimento dos séculos, o legou aos seus descendentes- os Viscondes de Beire e a Família Pamplona, terminando no século XIX com a abolição dos Padroados. Os primeiros registos paroquiais de Sobrado remontam ao ano de 1588, no reinado de Filipe I de Portugal. Já no período seiscentista procedeu-se, em 1671, à construção da nova Igreja Matriz de Santo André de Sobrado, nos terrenos e a expensas da família Baldaia, no actual Largo do Passal. Da igreja anterior, nada resta, sabendo-se, no entanto, que estava situada na Aldeia de Sobrado, antigo centro da freguesia. A igreja permanece quase inalterada, com a excepção da torre sineira, que não existia, sendo um acrescento do século XIX. A Família Baldaia era tão importante para esta freguesia que até alguns elementos da família foram abades de Sobrado. Devido a este apreço mútuo, esta família cedeu as suas propriedades em Sobrado à paróquia, inclusive a sua residência (que assumiu a função de residência paroquial até ao momento). Deste modo, a Quinta dos Baldaias, passa a ser a Quinta do Abade, e todo o Largo do Passal passa a pertencer à Igreja. Assim sendo, para além dos deveres religiosos, os abades de Sobrado tinham ainda o dever de cuidar da sua quinta. A agricultura sempre foi a base económica da povoação e junto ao Rio Ferreira, as terras eram e continuam a ser bastantes férteis, bastando que os aluviões de Inverno tornassem esses solos mais próprios à agricultura, contudo, o mesmo não acontecia com os terrenos mais afastados e mais altos da freguesia. Deste modo, impunha-se a necessidade de inventar um novo sistema de irrigação, e só os párocos reuniam as condições para o fazer. Em 1821 é extinto o concelho de Aguiar de Sousa, passando Sobrado a pertencer ao Julgado de Penafiel. A 23 de Setembro de 1824, Manuel Pamplona Carneiro Rangel Veloso Barreto de Miranda e Figueiroa (1774-1849), descendente e herdeiro da família Pamplona e do Morgadio dos Baldaia, padroeiro de Santo André de Sobrado foi agraciado com o título de Visconde de Beire. Durante a guerra entre Liberais e Absolutistas, Sobrado esteve ocupada por tropas de D. Miguel. Em 1834 foi criado o Concelho de Baltar, constituído por 9 freguesias onde se incluía Sobrado. Este concelho duraria cerca de dois anos. Em 1836, D. Maria II cria o Concelho de Valongo e Sobrado passa a integrar este novo concelho. Neste período, inicia-se por todo o país, a separação da Igreja do Estado, passando os párocos a assumirem a vertente puramente religiosa, ainda que numa freguesia essencialmente rural, o peso da igreja permaneça forte. Em 1860, a Fábrica de Fiação da Balsa inicia a sua produção. Constitui um marco da indústria portuguesa, especialmente da região Norte porque foi equipada com máquina de vapor que utilizava as águas do rio Ferreira como força motriz. É uma das primeiras unidades do género no norte do país e a primeira no concelho de Valongo. Em 1867, António Martins de Oliveira patrocina a construção do Cemitério Público de Sobrado (que é ampliado em 1889), junto da Igreja. Devido a esta sua atitude, ao seu carácter e nobreza de espírito, bem como à beneficência no Hospital Maria Pia no Porto, D. Luís I concede-lhe o título de Visconde de Oliveira do Paço. O seu jazigo familiar encontra-se situado, ainda hoje, no centro da parte antiga do cemitério, mantendo o seu brasão. A Capela de Nossa Senhora das Necessidades (na aldeia de Sobrado) foi reedificada nos anos de 1868 e 1869, tendo a sua bênção decorrido no mesmo dia da bênção do cemitério (9 de setembro de 1869). Em 1874 procede-se à construção da torre sineira da Igreja Matriz sob o patrocínio do benemérito Jozé dos Santos Ferreira, que se tornou Comendador da Ordem de Cristo, após intercessão da Junta da Paróquia de Sobrado junto da Coroa Portuguesa. O ano de 1893 terá sido, porventura, o mais áureo de toda a história de Sobrado, uma vez que Sua Majestade Fidelíssima, o Rei D. Carlos esteve em Sobrado por ocasião dos exercícios militares que decorreram no lugar da Balsa. Este acontecimento decorreu entre 19 e 20 de setembro deste ano. Com a Implantação da República, Sobrado estagnou, tornando-se na freguesia mais rural do concelho de Valongo. A transição política e social entre a monarquia e a república foi fortemente conturbada. O novo regime político não estava seguro da sua posição dominante, uma vez que os Monárquicos não desistiam de tentar recuperar o poder (pelo menos até à Monarquia do Norte em 1919). Neste período a Igreja Católica sofre perseguição política contra o seu património, benefícios e até autoridade religiosa, sendo deste período a legislação da separação da Igreja do Estado. O Padre Mendes Moreira, pároco de Sobrado neste período tão conturbado acaba por ser envolvido numa situação protagonizada pelo Padre António Antunes, pároco de Ermesinde, a 29 de setembro de 1911 quando se preparava uma revolta monárquica apoiada por parte do clero português. A 25 de março de 1946, iniciou-se a construção da Companhia Industrial de Fibras Artificiais, SARL, junto da Capela de São Gonçalo. Começou a laborar três anos depois, no dia 17 de março de 1949. Empregou centenas de homens e mulheres e incrementou o desenvolvimento económico da freguesia. Encerrou em 1983. Em meados dos anos 50 a Fábrica de Fiação da Balsa, que havia sido fundada em 1860 e que se dedicava à fiação e torcedura de algodão, encerrou as suas portas. Foi uma fábrica inovadora porque utilizava as águas do Rio Ferreira como força motriz da sua produção. Para uso particular desta indústria, existiu ainda uma central termoelétrica que já funcionava em 1928 produzindo energia até 1943. Nos anos 80 inaugura-se a Casa do Senhor, onde local onde outrora estava localizada a sede da Junta de Freguesia de Sobrado, que acolherá as salas dedicadas ao serviço catequético. Em abril de 1981 é inaugurada a nova capela de São Gonçalo, erigida pelos populares. Durante a festa em honra do santo, visitou Sobrado o Governador Civil do Porto, Coronel Rocha Pinto, e o Presidente da Câmara Municipal de Valongo, Brigadeiro Aires Martins. Nos anos 90 procede-se ao restauro da Residência Paroquial, outrora residência da família Pamplona, dignificando-a e modernizando-a. Mantém as suas funções de residência paroquial e acolhe ainda salas de catequese e o cartório.Em 2004, o Bispo do Porto inaugura o Centro Social e Paroquial de Sobrado. Nos últimos anos, a presença dos senhores Bispos do Porto tem sido recorrente, devido à vivacidade da Comunidade Sobradense e à imponência da Festa de São João de Sobrado. Entre 2010 e 2011, procederam-se as obras de requalificação da Igreja Matriz de Sobrado, que bem merecia e necessitava. Restauraram-se e inventariaram-se os azulejos setecentistas, restauraram-se os altares principal e laterais, requalificou-se o baptistério, expandiu-se o coro e o presbitério. Retiraram-se os azulejos da fachada, construiu-se os acessos exteriores ao coro, sagrou-se um novo altar e inaugurou-se o órgão de tubos adquirido na Alemanha. Este pequeno pedaço de terra, atravessado pelo Rio Ferreira e rodeado de montes e floresta, sempre assegurou o seu futuro aproveitando os recursos de que dispunha. A agricultura aproveitou a riqueza da terra, a fábrica da Balsa utilizou as águas do Ferreira como força motriz e a fábrica da CIFA aproveitou-se do conhecimento e experiência que já existia da fábrica da Balsa e a indústria do mobiliário cresceu tendo como suporte os concelhos de Paredes e Paços de Ferreira, que são especialistas neste sector. Por mais obstáculos e dificuldades que possam abalar Sobrado, esta vila sempre saberá encontrar horizontes propícios para o seu futuro. A história de Sobrado e da sua paróquia não terminará certamente, aspirando-se a que se escrevam páginas douradas e distintas nos séculos futuros. Família Baldaia: Padroeiros de SobradoA família Baldaia foi, ao longo dos tempos, detentora do padroado da Igreja Matriz de Sobrado e senhora de grande parte das terras desta freguesia. O padroado terá iniciado nos finais do século XV e prolongou-se até à segunda metade do século XIX. Ficam aqui os detentores do padroado: Fernão Alvares Baldaia (a partir de finais do século XV); João Baldaia; Fernão Beliagoa Baldaia; Gil Baldaia; António Baldaia Carneiro Beliagoa; André Baldaia Carneiro; Antónia Teresa de Andrade Baldaia Beliago; Tomé da Silva Baldaia; Francisca Antónia Baldaia; Maria Clara Baldaia de Tovar; José Pamplona Carneiro Rangel de Tovar e por fim Manuel Pamplona Carneiro Rangel Veloso Barreto de Miranda e Figueiroa (no século XIX). PatrimónioSobrado sempre foi uma localidade predominantemente rural. Deste modo, o seu maior legado patrimonial assenta em três pilares: o religioso (igrejas, capelas e nichos), rural/ civil (núcleos habitacionais e casas nobres) e o industrial (com as duas grandes fábricas da balsa e da CIFA):[2]
Importa ainda referir outros locais de interesse de Sobrado como o Monumento aos Bugios e Mourisqueiros (escultura no Largo do Passal), Monumento ao Ciclista (escultura de homenagem aos ciclistas Sobradenses na rotunda de acesso à A41), Monumento ao Padre Agostinho de Freitas (homenagem do povo Sobradense a tão saudoso pároco), Escultura de São João Precursor (no adro da Igreja Matriz), Quinta das Arcas (local de produção de excelentes vinhos e queijos), Marcos de Fronteira (situados na fronteira de Sobrado com Gandra e Campo e que datam de finais da centúria de seiscentos), Núcleo Rural da Costa (com habitações antigas) e Núcleo Rural de Ferreira (com habitações antigas). Equipamentos
Festas e TradiçõesSobrado é uma terra culturalmente rica, com uma história longa e um desenvolvimento económico maioritariamente rural (até meados do século XIX) o que propiciou o surgimento de tradições e festividades essencialmente rurais e religiosas. De todas, a que mais se evidencia é o São João de Sobrado.
Feira das Abelhas A Feira das Abelhas e do Mel já não se realiza. Realizava-se antigamente a 25 de Julho e era uma feira muito famosa em toda a região. Já não se realiza desde meados do século XX. Festa de São Frutuoso A Festa de São Frutuoso é outra festividade que já não se celebra desde meados do século XX. Era uma festividade religiosa com origens bem antigas, uma vez que já aparece mencionada nas Memórias paroquiais de 1758, e realizava-se em abril. Festa de São João de Sobrado (Bugiada e Mouriscada)A Festa de São João de Sobrado[3] é uma tradição muito antiga, com séculos de história e ocorre na Vila de Sobrado, no Município de Valongo. É uma festa anual que decorre no mês de Junho, tradicionalmente a partir de 20 de Junho até ao dia de São João Baptista, dia 24 de Junho. Baseada numa tradição popular, que terá sido transmitida de geração em geração, relaciona-se com as remotas lutas entre Cristãos e Mouros. A festa da Bugiada e da Mouriscada (S. João de Sobrado) assenta na luta entre Bugios e Mourisqueiros, com grande riqueza de indumentárias e costumes, reportando-se a uma tradição medieval. A lenda narra a disputa entre Cristãos e Mouros pela posse da imagem de São João Baptista. O dia da recreação da lenda ocorre a 24 de Junho. Após as celebrações religiosas, segue-se a maravilhosa “Dança de Entrada”. Os rituais medievais, como a “Cobrança dos D’reitos”, a “Sementeira da Praça” e a “Dança do Cego” desenrolam-se sucessivamente e o auge atinge-se com a guerra entre os dois exércitos: cada um dos grupos está no seu castelo. Começam a negociar através de diplomatas e um estafeta a cavalo. Para a história ser completa, as negociações têm que falhar e a guerra estalar. Os Mouriscos assaltam o castelo, aprisionam o “Velho”, chefe dos Bugios. Estes aparecem com uma serpe assustadora e o inimigo foge aterrorizado. A Bugiada e Mouriscada é uma representação teatral da lenda. Desenrola-se na rua e os actores, que habitualmente ultrapassam as seis centenas, são pessoas da freguesia. É, hoje, reconhecida como um riquíssimo fenómeno antropológico e etnográfico. GastronomiaA gastronomia Sobradense é bastante rica e variada. A sua diversidade reflecte a cultura local e a sua tradição agrícola. Deste modo importa referir os pratos principais e característicos desta terra bem como os doces mais conhecidos:
Associações e iniciativasEm Sobrado tem florescido o associativismo. Começando timidamente pelo futebol e pelos ranchos, o associativismo tem vindo a ganhar cada vez mais expressão através de novas associações. De salientar o trabalho da Associação Organizadora da Casa do Bugio e da Festa de S. João de Sobrado (que se dedica à defesa e promoção dos interesses da festa e do seu património cultural), o SBC - Sobrado BTT Clube (que tem mobilizado jovens para a prática deste desporto, conquistado notoriedade pelos inúmeros eventos que organiza), o grupo de Atletismo "5 à hora" (que incluiu elementos das mais diversas gerações e que tem conquistado bastantes prémios), o Clube Desportivo de Sobrado (que é o maior clube de futebol da terra e que já possui cerca de 50 anos de história) e a União Ciclista de Sobrado que reforçou a posição de destaque dos ciclistas Sobradenses tornando-se na maior potência do ciclismo em Portugal. Importa ainda referir os inúmeros grupos e associações religiosas que desenvolvem a sua actividade em Sobrado e que muito fazem em prol desta terra, como os Escuteiros, catequese, grupos de jovens, entre outros. Lugares de SobradoSobrado está dividido em várias zonas ou lugares conforme são conhecidos pela paróquia de Santo André, são no total 18: Alto Vilar; Baldeirão; Balsa; Caminho Novo; Campelo; Capela; Costa; Cumieira; Devesa; Felgueira; Ferreira; Fijós; Gandra; Lomba; Paço; Padrão: Penido: Pinguela; São Gonçalo; Sobrado de Cima; Souto; Terreiro;Vale; Vale Direito e Vilar. Cidadãos Ilustres
Referências
Ligações externas
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