Carção
Carção é uma povoação portuguesa sede da Freguesia de Carção do Município de Vimioso, freguesia com 27,60 km² de área[1] e 388 habitantes (censo de 2021)[2], tendo, por isso, uma densidade populacional de 14,1 hab./km². DescriçãoSitua-se no nó de convergência entre as aldeias de Argozelo e Santulhão, e é passagem obrigatória para quem se dirige à sede do município, da qual dista dez quilómetros. Tem por limites as freguesias de Argozelo, Pinelo, Vimioso, Santulhão e terras do Município de Bragança. A freguesia não compreende outras aldeiras, mas outrora compreendia cinco casais no rio Maçãs e onze moradores na Quinta da Veiga. Pertenceu ao antigo concelho de Outeiro, extinto em 1855, tendo passado a integrar o concelho (atual município) do Vimioso.[3] Os habitantes de Carção estão ligados ao comércio desde tempos muito antigos. Um grande número dos seus habitantes são descendentes de judeus que se refugiaram no século XV nas aldeias raianas. A importância do legado judaico revela-se no símbolo da junta de freguesia de Carção que tem no brasão uma mezuzá e uma menorá, o candelabro de sete braços, um dos mais antigos símbolos judaicos. DemografiaA população registada nos censos foi:[2]
HistóriaPré e Proto-HistóriaO seu povoamento remonta a épocas ancestrais, como atestam os diversos vestígios arqueológicos que apareceram nas proximidades da povoação. De facto, no sítio conhecido por Castro, a cerca de dois quilómetros de Carção, foram encontrados restos de cerâmica e telhas apontados como marcas do seu passado mais recuado, como o “Castelo dos Mouros” e o “Poço dos Mouros”. Este encontra-se talhado na rocha e parece ter bastante profundidade, cerca de vinte metros. Os Romanos também aqui deixaram marcas da sua presença, com destaque para a Ponte Romana sobre o rio Maças, que fazia ligação a Vimioso, e onde ainda hoje se podem ver pormenores bem traçados de uma Via Romana. A “Fraga do Muro” e o “Forno da Batuqueira” constituem mais uma prova do passado da freguesia. Apesar da sua datação ser pouco clara, o povo diz que foram esconderijo dos Cristãos no tempo dos Mouros. Idade MédiaA primeira referência escrita a esta freguesia data de 1187, quando os monges do Convento de Castro de Avelãs deram a el-Rei D. Sancho I a herdade de benquerença, local no que é hoje Bragança, recebendo, em troca, a povoação de Carção. Durante o reinado de D. Sancho I, a freguesia foi dada a um fidalgo, D. Fagundo. Assim nos referem as Inquirições de D. Afonso III de 1285: “tanto Carção como a Igreja pertenciam ao rei D. Afonso Henriques e que o pároco era eleito pelo povo, mas o rei D. Sancho I doou-a a D. Fagundo, fidalgo de Leão”. A Ordem do Hospital (Ordem de Malta) também tinha aqui alguns bens. Por carta de 23 de Fevereiro de 1418, D. João I concedeu ao “Castelo Douteiro de Miranda” as aldeias de Pinelo, Algoso, Santulhão e “Garçam”, ou seja, Garção. Foi um curato de apresentação do cabido de Miranda e tinha um rendimento anual se seis mil réis de côngrua e o pé de altar. Pertenceu ao concelho de Outeiro até 1853, anos em que, pela reforma administrativa, foi extinto e Carção passou a integrar o de Vimioso. A partir do século XV e XVI iniciou-se o seu maior povoamento. Este facto ficou a dever-se à expulsão dos judeus de Espanha pelos Reis Católicos Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão (Decreto de Alhambra de 1492). Assim, entraram em Portugal milhares de pessoas e, pelo lado de Miranda do Douro, calcula-se que tenham entrado cerca de 3000 pessoas. Inicialmente, fixaram-se num local chamado Prado das Cabanas, quatro quilómetros a leste de Vimioso, dispersando-se depois, pouco a pouco. Uma vez que Carção estava bem situada e tinha feira todos os meses, aqui chegaram muitas pessoas de origem judaica, trazendo com elas uma nova cultura e uma nova economia. Idade Moderna e ContemporâneaEm 1855, Carção foi atacada pela cólera-morbo que provocou a morte a cento e catorze pessoas, falecendo três a quatro pessoas por dia. Nesta altura, foi determinante o auxilio do pároco Luís Dias Poças Falcão, natural de Carção. Carção foi referido por Camilo Castelo Branco no seu romance mais conhecido, “Amor de Perdição”. Daqui era natural Bento Machado, o típico recoveiro, cuja morte foi vingada por seu filho. ToponímiaNo que se refere à sua toponímia, Carção parece derivar de Garçom, cujo significado é moço, mancebo, uma vez que a evolução do G para C é frequente no português. Num documento de 1187, chama-se Carzom; em 1914 surge com a forma de Carceo; nas Inquirições, Carzom, Carceon e Carcion; e, em 1530, era já Carçom. É notória a evolução regular para a forma actual de Carção. Na toponímia local sobressaem ainda os nomes de Penas Altas e de Pena Ataínha, talvez de origem germânica. Tanto “Tagina” como “Pena” parecem significar morada construída na rocha e, de facto, as primitivas casas desta povoação estavam edificados sobre a rocha. Diziam os antigos que as primeiras casas foram erguidas nestes locais para as terras férteis ficarem disponíveis para o cultivo. Festas principaisA freguesia de Carção tem por orago Nossa Senhora das Graças, cuja festa se celebra no último Domingo de Agosto. Carção é conhecida no concelho de Vimioso e arredores, principalmente devido às suas festas em honra de São Roque 15/16 de Agosto e principalmente às de Nossa Senhora das Graças no último domingo, onde fazem grandes procissões de fé e tem normalmente grandes conjuntos de música nos últimos 10 dias antecedentes ao último Domingo de Agosto. Bibliografia
Referências
Ligações externas
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