Cirenaica (em grego: Κυρηναϊκή; em árabe: برقة; romaniz.: Barqah; em berbere: Berqa) é a costa oriental da moderna Líbia, uma referência à cidade mais importante da região na antiguidade, Cirene. Também conhecida como "Pentápole" na antiguidade, era parte da província romana de Creta e Cirenaica durante o período romano[1] e foi posteriormente dividida em duas outras regiões, a "Líbia Pentápole" (Líbia Superior) e a "Líbia Sica" (Libia Sicca; Líbia Inferior). No período islâmico, a região passou a ser denominada Barqa, desta vez uma referência à cidade de Barca.
A Cirenaica foi também o nome de uma divisão administrativa da Líbia Italiana entre 1927 e 1943, nome que manteve durante a administração civil e militar britânica entre 1943 e 1951 e, finalmente, do Reino da Líbia entre 1951 e 1963. Num sentido amplo, que ainda é utilizado, a Cirenaica abrange toda a região oriental da Líbia, incluindo o distrito de Cufra. Ela é vizinha da Tripolitânia para o noroeste e de Fezã para o sudoeste. Porém, desde 1963 a região foi oficialmente dividida em diversos xabias (shabiyat), as divisões administrativas da Líbia.
Geograficamente, a Cirenaica está localizada sobre um formação calcária miocena que se ergue abruptamente a partir do Mar Mediterrâneo e que gradualmente desce até ao nível do mar no interior.
Esta formação está dividida em dois blocos. Jabal Acdar ("Montes Verdes") se estende paralelamente à costa a partir do golfo de Sidra seguindo até o golfo de Bomba, alcançando 872 metros de altitude. Não existe na região uma planície costeira contínua e a faixa mais longa começa no recesso do golfo de Sidra, passa por Bengazi e segue até Tolmeita. Dali em diante, com exceção de alguns pontos em Susa e Derna, a costa é toda escarpada. Um alto precipício separa a planície de um platô relativamente plano conhecido como "Planície de Marje", já a 300 metros de altitude. Sobre ele está um outro, a 700 metros, que ostenta os picos mais altos de toda a formação.[3]
A planície de Marje tem áreas de solo vermelho nas quais são abundantes as colheitas de trigo e cevada, tanto antigamente quanto hoje. Muitos cursos d'água despontam das terras mais altas. Oliveiras selvagens são comuns e grandes áreas de savana dão pasto para os rebanhos dos beduínos da região.[6] No passado, a maior parte da região estavam cobertas por florestas, mas as reservas que restaram em Jabal Acdar vem declinando em décadas recentes. Um relatório de 1996 para a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura estima que a cobertura florestal foi reduzida de 500 000 para 320 000 hectares, principalmente para abrir espaço para a agricultura[5] A Green Mountain Conservation and Development Authority estima que ela caiu de 500 000 para 180 000 hectares entre 1976 e 2007.[7]
O segundo bloco, Jabal Alacba, está ao sul e leste de Jabal Acdar e entre os dois está uma depressão. Esta região oriental, conhecida na antiguidade como Marmárica, é muito mais seca que Jabal Acdar e ali o Saara alcança a costa. Historicamente, a indústria do sal e a pesca de esponjas eram atividades muito mais importantes que a agricultura. Além disso, Bomba e Tobruque tinham bons portos.[6]
Ao sul das terras altas na costa de Cirenaica está uma grande depressão que é parte do deserto do Saara e avança de leste para oeste, partindo do golfo de Sidra a leste seguindo até o Egito no oeste. Ela é conhecida como Deserto Líbio e inclui o Grande Mar de Areia e o Calanchio. Existem ali uns poucos oásis, incluindo Aujila (antiga Augila) e Giarabube.
História
Cidades gregas
Durante o período Raméssida (século XIII a.C.), Libu e Meshwesh eram as tribos que viviam na Cirenaica que foram mencionadas nos registros históricos como realizando frequentes incursões no território do Império do Egito. Posteriormente, elas conquistaram o Egito, fundando as dinastias XIX e XXIV.
A partir do século VII a.C., a região recebeu diversas colônias gregas. A primeira e mais importante delas foi Cirene, fundada por volta de 631 a.C. por colonos da ilha de Tera (Santorini) que haviam partido depois de um período de carestia.[9] O comandante da missão era Aristóteles e ele adotou o nome líbio de "Battos",[10] que seria depois tomado emprestado pela dinastia que governou a região, os "Bátidas", apesar da inimizade das outras cidades gregas vizinhas.
Para o leste, a árida Marmárica não tinha nenhuma grande cidade, mas, para o oeste, cinco se destacavam: Cirene, cujo porto era Apolônia (Marsa Susa); Arsínoe ou Taucheira (Tocra), Euespérides ou Berenice (perto da moderna Bengazi), Balagras (Baida) e Barce (Marje). Por isso, a região ficou conhecida como Pentápole,[9] um nome que passou a ser utilizado como sinônimo de Cirenaica. O sul da Pentápole era esparsamente habitado por tribos do Saara, inclusive o famoso oráculo faraônico de Amon em Amônio (no Oásis de Siuá).
Em 525 a.C., depois de tomar o Egito, os persas tomaram a Pentápole. Depois deles veio Alexandre, o Grande, em 332 a.C., que recebeu tributos das cidades da região depois de conquistar o Egito.[9] Finalmente, ela foi formalmente anexada por Ptolemeu I Sóter e passou a fazer parte do Egito ptolemaico. Por um breve período, sob o comando de Magas de Cirene, um enteado de Ptolemeu I, a Cirenaica foi independente, mas foi reabsorvida pelo Egito assim que ele morreu. Finalmente, a região foi separada do reino egípcio por Ptolemeu VIII, que deu-a para seu filho, Ptolemeu Apion, que, por sua vez, deixou a região como herança para a República Romana depois de morrer sem deixar herdeiros em 96 a.C.
O nome latino Cyrenaica data do século I a.C. e nasceu para designar o território durante o período romano. Embora alguma confusão exista sobre qual exatamente seria a extensão do território herdado de Magas, já em 78 a.C. ele já havia sido organizado como uma das províncias administrativas juntamente com Creta. Em 20 a.C., a região transformou-se numa província senatorial juntamente com o seu vizinho muito mais importante, a África Proconsular. O Egito, por outro lado, tornou-se um domínio imperial sui generis, governado por prefeito do Egito (praefectus Aegypti) em 30 a.C.
Os italianos ocuparam a Cirenaica durante a Guerra Ítalo-Turca de 1911 e declaram a região um protetorado em 15 de outubro do ano seguinte. Três anos depois, os otomanos cederam a província oficialmente para o Reino da Itália. Em 17 de maio de 1919, a Cirenaica tornou-se uma colônia e, em 25 de outubro de 1920, o governo italiano reconheceu o xeiqueIdris como líder dos senussos e ele recebeu o status de emir até 1929, quando a decisão foi revogada. Em 1 de janeiro de 1934, as regiões de Tripolitânia, Cirenaica e Fezã foram reunidas na nova colônia da Líbia Italiana.
Em 1949, Idris as-Senussi, com apoio dos britânicos, proclamou a Cirenaica como um emirado independente, que logo se uniu ao Reino da Líbia quando ele foi criado em 24 de dezembro de 1951.
Período contemporâneo
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Referências
↑The New Century Classical Handbook; Catherine Avery, redator; Appleton-Century-Crofts, New York, 1962, p. 351: "Cirenaica...[Também: Pentápolis] Na geografia antiga, um país no norte da África... correspondia intimamente ao território moderno de mesmo nome, no nordeste da Líbia. .. e formou, com Creta, uma província romana." ("Cyrenaica...[Also: Pentapolis] In ancient geography, a country in N Africa... it corresponded closely to the modern territory of the same name, in NE Libya... and formed, with Crete, a Roman province.")
↑ abcdGimingham, C. H., and K. Walton (1954). "Environment and the Structure of Scrub Communities on the Limestone Plateaux of Northern Cyrenaica." Journal of Ecology, Vol. 42, No. 2, Jul., 1954
↑"Mediterranean woodlands and forests". WWF Scientific Report [1]. Accessed March 27, 2011
↑ abcEl-Darier, S. M. and F.M. El-Mogaspi (2009). "Ethnobotany and Relative Importance of Some Endemic Plant Species at El-Jabal El-Akhdar Region (Libya)". World Journal of Agricultural Sciences 5 (3): 353-360, 2009, pp 353-360.
↑ ab"Cyrenaica", from Encyclopædia Britannica Eleventh Edition, 1911
↑The Report: Libya 2008, p. 134. Oxford Business Group.
↑"North Saharan steppe and woodlands" WWF Scientific Report [2]. Accessed March 27, 2011.
↑ abcRing, Trudy et al. (1996) "Cyrene (Gebel Akhdar, Libya)" International Dictionary of Historic Places: Volume 4: Middle East and Africa Fitzroy Dearborn Publishers, Chicago, p. 194, ISBN 1-884964-03-6
↑Detalhes sobre a fundação estão no livro IV das "Histórias" de Heródoto
↑ abRing, Trudy, Robert M. Salkin and Sharon La Boda (1996). "Cyrene (Gebel Akhdar, Libya)" in International Dictionary of Historic Places, Volume 4: Middle East and Africa. Fitzroy Dearborn Publishers, Chicago and London.
↑"Cyrenaica and the Greeks" from The Library of Congress Country Studies: Libya. 2001. [3]. Accessed March 27, 2011.
↑Stewart, John (1996) "Cyrenaica" The British Empire: an encyclopedia of the Crown's holdings, 1493 through 1995 McFarland & Co., Jefferson, North Carolina, p. 125, ISBN 0-7864-0177-X
Bibliografia
Westermann Grosser Atlas zur Weltgeschichte (in German).
Cyrenaica in Antiquity (Society for Libyan Studies Occasional Papers). Graeme Barker, John Lloyd, Joyce Reynolds ISBN 0-86054-303-X
Ligações externas
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Conforme listado no Notitia Dignitatum. A administração provincial foi reformada e as dioceses foram fundadas por Diocleciano(r. 284–305) por volta de 293. As prefeituras pretorianas foram criadas depois da morte de Constantino(r. 306–337). O império foi definitivamente dividido depois de 395. Os exarcados de Ravena e da África foram criados depois de 584. Extensivas perdas territoriais no século VII e as províncias restantes foram reorganizadas no sistema temático por volta de 640-660, embora na Ásia Menor e em partes da Grécia, elas sobreviveram subordinadas aos temas até o início do século IX.