Conta-se que Eugénia era extraordinariamente bela, e que seus cabelos muito longos eram de um castanho incomum conhecido como "castanho-ticiano". Fora educada no convento do Sacré-Coeur, em Paris, onde reebera a formação tradicional da aristocracia católica da época. Sua mãe, que ficara viúva em 1839, havia confiado a educação das duas filhas, Paca e Eugénia, a Stendhal, que se encarrega de lhes ensinar história (essencialmente anedotas sobre o reino de Napoleão, que ele conhecera), e a seu grande amigo Prosper Mérimée, que se ocupa das aulas de francês.[1][2]
Diz-se que, um dia, em uma conversa mais íntima ao pé do ouvido, Napoleão III perguntou-lhe, "qual é o caminho mais curto para seus aposentos", e ela respondeu-lhe "pela capela, meu senhor, pela capela".
Imperatriz dos Franceses
Casaram-se em Paris no dia 19 de janeiro de 1853, e Eugénia ousou em ser uma das primeiras noivas a casar-se de branco — seguindo o exemplo da rainha Vitória, da Inglaterra — em uma época em que as noivas se casavam de azul, verde e até de vermelho:
"O branco começou a ser utilizado apenas em 1840, quando a rainha Vitória casou-se com o príncipe Alberto. Nessa época era a cor azul que simbolizava pureza, enquanto o branco era símbolo de riqueza. Como a cor branca não era geralmente escolhida para o vestido de noiva, a rainha Vitória surpreendeu a todos e lançou a tendência –— que logo foi copiada por mulheres de todo continente europeu e americano."[3]
Durante o reinado de seu marido foi três vezes regente do Império em 1859 durante as campanhas de Napoleão III na península Itálica, em 1865 durante a visita do imperador à Argélia.
Era admiradora da rainha Maria Antonieta e profunda estudiosa e interessada de sua vida e defensora da política e dos direitos temporais do Papa.
Existe uma historinha, que Gilda de Mello e Souza[4] alude apenas por alto, que explica o surgimento da crinolina e de nove anáguas engomadas que eram usadas para armar as saias na corte, decidiu substituí-las. Havia uma fábrica de espetos, em processo de falência, chamada Peugeot. Um belo dia de julho de 1854 a fábrica recebeu a ilustre visita da imperatriz que lhes trouxe um desenho seu de uma espécie de gaiola feita de finíssimos aros de arame de aço e que, desde então, tornaria a indumentária feminina muito mais leve e mais arejada, a crinolina.
Em 1858, o inglês Charles Frederick Worth abriu um ateliê na Rue de la Paix, em Paris, e convidou clientes como a imperatriz Eugénia, mulher de Napoleão III, para ver seus vestidos em modelos de carne e osso, uma novidade. Com isso, inventou tanto os desfiles de moda como a alta-costura. Anos depois, Worth e seu filho criaram a câmara sindical e os requisitos para quem quisesse integrá-la.[5]
A Peugeot foi salva da falência (após 1870, ela passou a produzir guarda-chuvas, depois bicicletas até chegar aos automóveis), a França tornou-se líder mundial inconteste no universo da moda e o nome da bela Eugénia passou a estar associado, para todo o sempre, às “maisons” de alta costura.
A historinha, muito interessante, é sempre veiculada por pessoas ligadas à moda. De qualquer forma, mesmo que a imperatriz Eugénia não estivesse ligada diretamente à invenção das crinolinas, o certo é que ela foi a principal difusora e propagandista deste modismo.
Tal como a imperatriz Teresa Cristina do Brasil, chamada, não sem motivos, a Imperatriz arqueóloga, Eugénia também se encantou com os vestígios da antiguidade, especialmente egípcios.
"Desvendar o passado importava menos do que fazê-lo instrumento do espanto dos patrocinadores das pesquisas, dos leitores de jornal e dos clientes de antiguidades contrabandeadas do inventário dos achados dessa rapinagem oficializada através de alvarás e permissões compradas nas ante-salas das autoridades orientais — muçulmanas —, para as quais o mundo antigo não passava de uma idade de ignorância pagã, brutal, no meio do ouro… Na posse dos alvarás, os europeus se lançavam à disputa das ruínas alheias — enquanto não existiam sábios locais, no Egito, bem preparados para o estudo e a preservação do passado da região. […] Tal frase pode parecer injusta com um Auguste Mariette, por exemplo, se trouxermos à lembrança o episódio da Imperatriz Eugénia, que se encantou com a coleção egípcia levada para a exposição internacional de Paris, em 1867, por ordem do Pachá Said. Maravilhada, ela pediu toda a coleção ao Paxá… e este encaminhou o pedido a Mariette, que deu um jeito de nunca atender aos rogos da encantadora imperatriz dos franceses."[6]
Na inauguração do canal de Suez em 17 de novembro de 1869 estava no iate Aigle juntamente com Lesseps afrente do cortejo de inauguração do canal.
Exílio, velhice e morte
Após a queda do 2.º Império foi juntamente com o marido para o exílio na Inglaterra e quando este morreu em Chislehurst, Kent no dia 9 de novembro de 1873, passou a residir em Biarritz onde nos tempos de imperatriz costumava passar o verão e após no Palácio de Liria e no de Dueñas em Sevilha.
Interessada em novidades tecnológicas, quis conhecer pessoalmente o dirigível de Alberto Santos Dumont, embora vivesse reclusa em sua velhice:
"Uma senhora altiva e cheia de dignidade desejou conhecer o dirigível de Santos Dumont: a Imperatriz Eugénia de Montijo, viúva de Napoleão III, em cuja fronte "luziu o diadema de safiras e diamantes que resplandeceu nas cabeças de Josefina de Beauharnais e de Maria Luísa de Áustria." A ex-soberana dos franceses, da qual ainda podemos admirar a formosura na tela de Winterhalter mulher de "fisionomia e espáduas de rara perfeição", que tinha os pés e as mãos "de uma andaluza de puro sangue", havia se transformado numa "sombra dolorida e silenciosa". Ela vivia num retiro absoluto, completamente afastada da sociedade, sobretudo depois do desaparecimento de seu filho, o príncipe Eugénio Luís, herdeiro do trono, que em 1879 foi morto na África do Sul, durante a guerra dos ingleses contra os zulus. Ninguém conseguia vê-la, Eugénia evitava jornalistas e fotógrafos, […] portanto foi com desvanecimento que Alberto recebeu, no dia 23 de janeiro a visita desta grande dama […] Eugénia, trajada de preto, chegou ao hangar numa carruagem fechada […] achava-se com quase oitenta anos, mas o rosto exibia os vestígios da impressionante beleza que fascinara o filho de Hortênsia de Beauharnais."[7]
Faleceu durante uma visita a Madrid no dia 11 de junho de 1920, aos 94 anos, e foi sepultada na cripta imperial da Abadia de São Miguel, Farnborough, no Condado de Hampshire, Reino Unido, ao lado do filho e do marido.
O "chapéu de Eugénia", famoso na década de 1930 e popularizado pela atriz Greta Garbo, foi nomeado a partir da imperatriz. O paletot Eugenia, um casaco feminino com mangas alargadas e um fecho de botão no pescoço, também foi nomeado a partir dela.
Graças a ela, o verão em Biarritz tornou-se muito popular, quando em 1854, ela construiu um palácio na praia, hoje conhecido como Hôtel du Palais.
O transatlântico francês Impératrice Eugénie, lançado ao mar em 24 de abril de 1864 em Saint-Nazaire, deve seu nome a Eugénia de Montijo, mas, após a queda de Napoleão III, em 1870 , foi renomeado de Atlantique.
O asteróide 45 Eugenia, descoberto por Hermann Mayer Salomon Goldschmidt, foi nomeado a partir de Eugénia[8] e, seu satélite, descoberto em 1998, foi chamado Le Petit-Prince ("o pequeno príncipe") em homenagem ao seu filho.[9]
A imperatriz também é tema das canções Eugenia de Montijo, de Concha Piquer, Eugenia Emperatriz, de Rocío Dúrcal e Eugenia de Montijo, de Marujita Díaz.
Títulos, estilos, e honrarias
Estilo imperial de tratamento de Eugênia da França
↑MONTEIRO, Fernando. «O primeiro monoteísmo da História». Rascunho - O Jornal de Literatura do Brasil. Consultado em 21 de outubro de 2024. Arquivado do original em 6 de outubro de 2009
↑ Schmadel, Lutz D.; International Astronomical Union (2003). Dictionary of minor planet names (em inglês). Berlim, Nova Iorque: Springer-Verlag. p. 19. ISBN978-3-540-00238-3|acessodata= requer |url= (ajuda)