Os sítios fossilíferos da Formação Crato são mundialmente reconhecidos pela excepcional preservação de fósseis continentais, classificados como do tipo Lagerstätte, um raro tipo de ocorrência fossilífera devido às condições excepcionais de preservação de tecidos moles,[4] sendo de grande relevância para a paleontogia.
As diferentes camadas que compõe a formação iniciaram sua deposição durante o início do Aptiano, há cerca de 113 milhões, em um raso mar interior. Naquele tempo, o Atlântico Sul era uma abertura de um longo e estreito mar raso.
História
Os estudos paleontológicos na Bacia do Araripe começaram no século 19, em 1817, quando a arquiduquesa da Áustria, Maria Leopoldina, viajou para o Rio de Janeiro para se casar com o futuro imperador do Brasil, D. Pedro I. Entre os cientistas de sua comitiva, estavam dois membros da Academia de Ciências de Munique, os naturalistas alemães Johann Baptist von Spix e Karl Friedrich Philipp von Martius que realizaram, entre 1817 e 1820, uma viagem pelo território brasileiro. Seus resultados foram publicados em 1823 e 1831, na obra de três volumes “Reise in Brasilien” (Viagem pelo Brasil), onde descreveram amostras de peixes fósseis do Grupo Santana.[5]
As rochas da Formação Crato são representadas por folhelhos papiráceos calcíferos, interestratificados com calcários micríticos laminados, argilosos, formando bancos extensos com mais de 20 m de espessura.
Conteúdo de fósseis
A formação de Crato apresenta diversos e bem preservados fósseis de vertebrados, invertebrados e plantas. Cerca de 25 espécies de peixes fósseis são encontrados frequentemente com o conteúdo do estômago preservados, permitindo aos paleontólogos estudar as relações ecológicas deste ecossistema. Há também bons exemplos de pterossauros, répteis e anfíbios, invertebrados (principalmente insetos), e plantas. Até mesmo dinossauros estão representados: um maniraptora foi descrita em 1996. A incomum tafonomia do local resultou em acreções de calcário que se formaram nódulos em torno de organismos mortos, preservando partes macias como pele e musculatura, auxiliando no entendimento de sua anatomia.[3]
Insetos
Os insetos são o grupo mais diverso na Formação Crato. A primeira espécie descrita foi a Mesoblattina limai, por Irajá Damiani Pinto e Ivone Purper em 1986, desde então, 379 espécies em 121 famílias foram publicadas, segundo dados de 2018.[6]
Um gênero de insetos alados da ordem Neuroptera da família Kalligrammatidae cuja morfologia e ecologia são converjentes às borboletas modernas. Compreendem alguns dos maiores exemplares da ordem que já viveram.
Aparecida dos Reis Polck, Márcia; Marise Sardenberg Salgado de Carvalho; Rafael Miguel, e Valéria Gallo. 2015. Guia de identificação de peixes fósseis das Formações Crato e Santana da Bacia do Araripe, 1-74. Serviço Geológico do Brasil(CPRM).
Jorge de Lima, Flaviana; Antonio Álamo Feitosa Saraiva, e Juliana Manso Sayão. 2012. Revisão da paleoflora das Formações Missão Velha, Crato e Romualdo, Bacia do Araripe, nordeste do Brasil. Estudos Geológicos22. 99-115.
Weishampel, David B. et al. 2004. Dinossauro de distribuição (Início do Cretáceo, a América do Sul) :Weishampel, David B.; Dodson, Pedro; e Osmólska, Halszka (eds.): Dinosauria, 563-570. Berkeley: University of California Press. ISBN0-520-24209-2
Leitura complementar
Bétard, Francisco; Jean-Pierre Peulvast; Alexsandra de Oliveira Magalhães; Maria de Lourdes Carvalho Neta, e Francisco Idalecio de Freitas. 2017. Araripe Basin: Um Grande Geodiversidade Hotspot no Brasil. Geoheritage_. 1-18. Acessado 2018-10-06.