História de Juiz de ForaOrigensAs origens de Juiz de Fora remontam a época do Ciclo do Ouro, portanto confundem-se com a história de Minas Gerais. Devido à dificuldade de acesso à região do atual município, o lugar permaneceu praticamente intocado até o século XIX. A Zona da Mata, então habitada apenas pelos índios puris e coroados, foi desbravada com a abertura do Caminho Novo, estrada construída em 1707 para o transporte do ouro da região de Vila Rica (Ouro Preto) até o porto do Rio de Janeiro. Diversos povoados surgiram às margens do Caminho Novo estimulados pelo movimento das tropas que ali transitavam, entre eles, o arraial de Santo Antônio do Paraibuna povoado por volta de 1713.[1] A vila de Santo Antônio do Paraibuna surgiu no início do século XIX devido à ocupação por famílias de fazendeiros e colonos vindas da região aurífera (Ouro Preto e Mariana), e posteriormente da região das Vertentes (Barbacena e São João del-Rei).[2] O município de Santo Antônio do Paraibuna desmembrou-se de Barbacena em 31 de maio de 1850, e elevado a Cidade do Paraibuna em 1856.[3][4] Em 1865 a Cidade do Paraibuna passa a se chamar Juiz de Fora.[3] O curioso nome de Juiz de Fora gera muitas dúvidas quanto à sua origem. O juiz de fora era um magistrado nomeado pela Coroa Portuguesa para atuar onde não havia juiz de direito. A versão mais aceita pela historiografia admite que um desses magistrados hospedou-se por pouco tempo em uma fazenda da região, passando esta a ser conhecida como a Sesmaria do Juiz de Fora. Mais tarde, próximo a ela, surgiria o povoado. A identidade exata e a atuação dessa personagem na história local ainda são polêmicas.[1] Uma personalidade de grande importância no município foi o engenheiro alemão Heinrich Wilhelm Ferdinand Halfeld (Henrique Guilherme Fernando Halfeld), que empresta seu nome a uma das principais ruas do comércio local e ao parque situado no centro da cidade, nos cruzamentos da mesma rua Halfeld e a Avenida Barão do Rio Branco e com a Rua Santo Antônio e Rua Marechal Deodoro com Avenida Barão do Rio Branco e Rua Santo Antônio, entre o Paço Municipal de Juiz de Fora, a Câmara dos Vereadores, e o Fórum da Comarca e a Igreja Metodista Central. Halfeld, após realizar uma série de obras a serviço do Estado Imperial Brasileiro, acaba por fixar residência na cidade, envolve-se na vida política, constrói a Estrada do Paraibuna e promove diversas atividades no município, sendo considerado um de seus fundadores.[1] Cafeicultura, imigração e comércio escravistaNa década de 1840, começa a crescer a plantação de café, devido ao aumento do consumo de café na Europa e Estados Unidos e ao esgotamento dos solos do Vale do Paraíba contrastante com as terras disponíveis na Zona da Mata.[2] A partir de 1889, a cidade ganhou iluminação pública elétrica, telefone e linhas de bonde, contando ainda com telégrafo e imprensa.[5] De 1850 a 1870, Juiz de Fora vivenciou expansão da economia cafeeira, juntamente com a tendência regional, tornando-se o principal produtor de café da Zona da Mata mineira em torno de 1855, posto que abandonou somente nas primeiras décadas do século XX.[3][6] Assim, ao logo do século XIX, a cidade que era ponto de parada de tropeiros transformou-se em grande centro cafeeiro.[7] A mão-de-obra destas lavouras foi composta predominantemente por escravos crioulos, fazendo a população apresentar alta concentração de cativos durante a segunda metade do século XIX, como, por exemplo, 62,25% da população composta por escravos em 1853.[3][6] Assim, a cidade tornou-se também um importante centro escravista, destacando-se na Zona da Mata e possuindo um contingente escravo que equilibrou-se com o da província do Espírito Santo nos anos 50, 60 e 70 do século XIX.[3][7][8] Após esta expansão, houve coexistência de fazendas cafeeiras de grande porte escravocratas, predominantes, com outras de pequeno e médio portes, o que criava uma hierarquia econômica e social intensa.[3][9] O progresso do capital cafeeiro tornou a cidade em uma cidade de barões do Império, tendo sido visitada 12 vezes pelo imperador. Em 1850 a Câmara Municipal é fundada.[2] Ao mesmo tempo, a cidade passou por diversos problemas no período, como alastramento de epidemias, baixo número de casas populares e alto de cortiços, aumento do custo de vida, entre outros.[3] Muitas famílias de outras regiões de Minas e do país chegam à cidade a partir de meados do século XIX, ampliando as redes de negócio, o fluxo comercial e o comércio escravista.[2] Também chegam os imigrantes alemães, italianos, portugueses, espanhóis, sírios-libaneses e algumas famílias inglesas.[2] As primeiras famílias alemãs começam a se mudar para a cidade em 1856, e desde o início ocupam diversas profissões.[2] O fim do tráfico de escravos na década de 1850 gerou valorização da mão-de-obra escrava, elevando os preços e dificultando seriamente a sobrevivência de uma economia baseada unicamente em relações de produção escravistas.[2][10] Com a crescente necessidade de mão-de-obra para as lavouras cafeeiras, adotou-se o tráfico intra e interprovincial como medida provisória, e em seguida uma política imigrantista, no Brasil.[2][10] Estas condições é que levaram à inserção das famílias imigrantes alemãs na área urbana da cidade.[2] Juiz de Fora, na segunda metade do século XIX, foi um importante entreposto comercial para a mercadoria escrava, tanto pelo estado desenvolvido de suas lavouras cafeeiras quanto por sua posição geográfica privilegiada na Zona da Mata e seus vínculos com o Rio de Janeiro.[10] Mesmo muito tempo depois do fim do tráfico internacional de escravos o comércio de escravos de Juiz de Fora tinha forte vinculação com o Rio de Janeiro.[10] Companhia União e IndústriaNa década de 1850 é fundada por Mariano Procópio Ferreira Lage a Companhia União e Indústria, que iniciou a construção da Estrada União e Indústria, com o intuito de reduzir o tempo de viagem entre a Corte a província de Minas Gerais, acelerando o escoamento da produção cafeeira.[2] Em 1858, a cidade recebeu a primeira leva de imigrantes europeus: 1162 colonos alemães foram contratados para trabalhar na Companhia, entre arquitetos, engenheiros, artífices, agricultores e outros.[2][3] A maioria destes morava na colônia D. Pedro II.[2] A cidade continuou recebendo imigrantes nos anos seguintes, aumentando consideravelmente a população livre.[3] A construção desta rodovia tornou a cidade o maior entreposto comercial da Zona da Mata.[3] Entretanto, o sucesso da Estrada União Indústria foi comprometido pela concorrência com duas estradas de ferro construídas na mesma época com a mesma finalidade de escoamento da produção cafeeira: a Estrada de Ferro D. Pedro II e a Estrada de Ferro Leopoldina.[2] Urbanização e comércio urbanoO povoado iniciou o desenvolvimento de atividades urbanas na década de 1840, quando surgem investimentos no setor de construção e planos de cafeicultores para a construção da Igreja Matriz e da Santa Casa de Misericórida.[3] Porém, é dez anos após a construção da Estrada União e Indústria que foi criado um plano de demarcação e nivelamento da cidade, calçamento das ruas centrais e construção do matadouro municipal, intensificando o comércio com a instalação de diversas vendas e armazéns.[2] Em 1870 instalam-se um telégrafo, um fórum da justiça, um banco e outros serviços.[2] No mesmo ano também é instalada a primeira tipografia da cidade, pertencente ao jornal O Pharol.[11] Ou seja, a cidade passou a ser o principal centro urbano e comercial da Zona da Mata, com interesse tanto da aristocracia cafeeira quanto dos comerciantes.[2] Ao longo da década de 1860 e 1870 surgiram diversos estabelecimentos comerciais e fabris pertencentes aos imigrantes.[2] A ascensão econômica de alguns destes ocorreu no momento de inversão do capital agrário nos setores industriais, financeiros e comerciais da cidade.[2] A reprodução da economia local na década de 1880 inegavelmente teve participação dos imigrantes e fazendeiros.[2] Em 1880 foi organizado um sistema de transporte urbano na cidade, com o contrato para a instalação da linha ferro-carril para fluxo interno de cargas e viajantes.[2] A partir de 1890 os comerciantes, industriais e cafeicultores investem em eletrificação, transporte, comunicação e no sistema bancário, buscando desenvolver a infra-estrutura adequada ao crescimento industrial.[12] IndustrializaçãoUm incipiente setor urbano-industrial começa a se desenvolver na cidade a partir de 1880.[2] A indústria desenvolve-se melhor no período, fazendo a cidade tornar-se o principal centro industrial do estado, deixando-o de ser apenas no fim da década de 1930.[2][3] O processo que levou-a a este posto gerou várias companhias anônimas que ampliaram seu tipo de operação para além do industrial, estendendo-se para outros setores da economia.[3] Este tipo de empresa de ações já vinha sendo utilizado na cidade desde o meio do século XIX, tendo como exemplo a Companhia União e Indústria.[3] A partir de 1890 instalam-se fábricas de maior porte e a população operária aumenta significativamente.[12] Forma-se um segmento financeiro-bancário dentro da economia regional, sendo este de fundamental importância para a industrialização da cidade.[2] Em 1887 é fundado o Banco Territorial e Mercantil de Minas por Bernardo Mascarenhas em conjunto com Francisco Batista de Oliveira e Marcelino de Brito Ferreira de Andrade, que dá autonomia ao capital agrário em relação ao capital do Rio de Janeiro, permitindo que este invista na reprodução ampliada da economia local.[2] Entretanto, este vai à falência em 1892 pelo impacto do encilhamento.[2] Em 1889 foi criado o Banco de Crédito Real de Minas Gerais, a instituição bancária mais importante da região, que até o início da década de 1920 atuou como o único banco da Zona da Mata e possibilitou que o ramo financeiro fosse o elo principal do sistema financeiro regional.[2] Surgiu como um empreendimento financiado majoritariamente pelo capital agrário local, com a liderança de fazendeiros importantes da região.[2] O Credireal, além de financiar o setor agrário, estimulou a abertura de novas firmas na área urbana.[2] O apoio deste banco ao setor ferroviário o tornou responsável direto pelo afastamento do comissário de café fluminense dos assuntos agroexportadores locais, que reduzia o lucro dos cafeicultores ao atuar como entreposto entre os produtores locais e as firmas exportadoras do Rio de Janeiro.[2] Em 1891 assume funções de "banco misto", reunindo na mesma instituição operações de longo e curto prazo.[2] O Estado assume o controle acionário do Credireal em 1911, e em 1919 realiza sua encampação de fato, tornando-o uma instituição oficial.[2] Assim, em Minas o Estado representou o papel do capital comercial, apropriando, centralizando e diversificando o capital cafeeiro, além de amparar diversas atividades agrícolas, por meio dos Bancos de Crédito Real e Agrícola de Minas Gerais.[2] Tendo novos estímulos, capitais e investimentos, a circulação comercial na cidade cresceu em conjunto com o mercado consumidor e de trabalho, ganhando novos serviços urbanos como agências bancárias, telefones e energia elétrica.[2] Neste ambiente favorável, sua industrialização avançou com o aparecimento de diversas unidades fabris e com o crescimento global de sua economia.[2] A chegada dos italianos ajudou a ampliar o mercado de trabalho e o aparecimento de novos empreendimentos.[2] A presença alemã se envolveu neste contexto e assumiu novas funções.[2] Um empreendimento de imigrantes alemães e descendentes era o Curtume Krambeck.[2] Surgiram desordenadamente diversas manufaturas, que transformaram-se em fábricas mecanizadas, mas coexistiam com outras manuais e domésticas, como estava ocorrendo no país.[2] No início do século XX os principais setores da indústria eram o têxtil e o de alimentos, com maior quantia de operários, investimentos e força motriz.[2] As indústrias têxteis já não eram artesanais e manufatureiras, enquanto as de alimentos eram, em sua maioria, de pequeno porte.[2] Entretanto, nas décadas seguintes uma crise estrutural emperra o crescimento industrial de Juiz de Fora.[2] Também com o crescimento de Juiz de Fora e cidades próximas, foi criada a Microrregião de Juiz de Fora, reunindo além do município, outras 33 cidades, como Santos Dumont, São João Nepomuceno, Lima Duarte, Bicas e Matias Barbosa. Em 2006 sua população foi estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em cerca de 760 767 habitantes em uma área total de 8 923,426 km². Seu Índice de desenvolvimento humano (IDH) era de 0,805 e o PIB per capita de R$ 6 693,58 em 2003. Localiza-se na Mesorregião da Zona da Mata.[13] Reindustrialização
A economia de Juiz de Fora estava decadente até que a construção na cidade da primeira unidade da Mercedes-Benz fora da Alemanha, a Mercedes-Benz Juiz de Fora, com um grande[15] investimento de US$ 850 milhões, iniciou um processo de transformação econômica do município.[14] Sendo uma das mais importantes do mercado automotivo mundial, a empresa acarreta uma melhoria da qualidade dos produtos e serviços de seus fornecedores, que acabam gerando uma melhoria em cadeia na cidade.[14] Os benefícios para a cidade com a instalação da Mercedes-Benz são enormes, pois isto atrai novas indústrias, aumenta o recolhimento do ICMS, gera empregos e amplia a renda.[14] Também, outros investimentos começaram a ser atraídos para a cidade.[14] Por exemplo, foi construída a Usina Termelétrica de Juiz de Fora[14] como diretriz de política pública do PMDI 2005.[15] A cidade não estava preparada para receber uma empresa deste porte, e por isto este novo processo de industrialização na cidade exigiu dos cursos profissionalizantes uma revisão completa de seus planos, para adequar a mão-de-obra às indústrias alemãs que chegaram.[14] Referências
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