De acordo com o ensinamento da igreja sobre a universalidade e com o Credo Niceno, as autoridades ortodoxas orientais insistiram que o nome completo da igreja sempre incluísse o termo "Católica", como em "Santa Igreja Católica Apostólica Ortodoxa".[27][28][29]
O nome oficial da Igreja Ortodoxa é a "Igreja Católica Ortodoxa".[3][4][5][30] É o nome pelo qual a igreja se refere a si mesma[31][32][33][34][35][36] e que é emitido em seus textos litúrgicos ou canônicos.[37][38] Os teólogos ortodoxos orientais referem-se à igreja como "católica".[39][40] Este nome e variantes mais longas contendo "católico" também são reconhecidos e referenciados em outros livros e publicações de escritores ortodoxos seculares ou não orientais.[41][42][43][44][45][46] O catecismo de Philaret (Drozdov) de Moscou publicado no século XIX é intitulado: O Catecismo Mais Longo da Igreja Ortodoxa, Católica e Oriental[47] (em russo: Пространный христианский катехизис православныя, кафолическия восточныя Церкви).
Desde os tempos antigos até o primeiro milênio, o grego foi a língua compartilhada mais prevalente nas regiões demográficas onde o Império Bizantino floresceu, e o grego, sendo a língua na qual o Novo Testamento foi escrito, era a língua litúrgica primária da igreja. Por esta razão, as igrejas orientais às vezes eram identificadas como "gregas" (em contraste com a igreja "romana" ou "latina", que usava uma tradução latina da Bíblia), mesmo antes do Grande Cisma de 1054. Depois de 1054, "grego ortodoxo" ou "grego católico" marcava uma igreja como estando em comunhão com Constantinopla, assim como "católica" marcava a comunhão com a Igreja Católica.[48]
Em húngaro, a igreja ainda é comumente chamada de "grega oriental" (em húngaro: Görögkeleti). Essa identificação com o grego, porém, tornou-se cada vez mais confusa com o tempo. Os missionários trouxeram a Igreja Ortodoxa para muitas regiões sem gregos étnicos, onde a língua grega não era falada. Além disso, as lutas entre Roma e Constantinopla para controlar partes do sudeste da Europa resultaram na conversão de algumas igrejas à Igreja Católica, que então também usou "greco-católico" para indicar o uso continuado dos ritos bizantinos. Hoje, apenas uma minoria de adeptos ortodoxos orientais usa o grego como língua de adoração.[49][50]
Até ao século XI, os cristãos da Igreja Ortodoxa e da Igreja Católica Romana têm uma história comum, que começa com a instituição do cristianismo por Jesus de Nazaré e sua difusão por seus discípulos, que, como o relatado no livro bíblico dos Atos dos Apóstolos,[51] espalharam-se a partir da cidade de Jerusalém, fundando a primeira comunidade denominada cristã em Antioquia e depois se espalhando, ainda pelos mesmos, pela Europa Ocidental, Oriente Médio, Ásia e Norte da África. Por volta do século IV, a Cristandade já chegara às mais diversas regiões, apesar das perseguições movidas por poderes tradicionalmente pagãos, e diversas escolas exegéticas haviam se desenvolvido, como a Escola de Antioquia e a Escola Catequética de Alexandria. A ortodoxia cristã, no entanto, era ameaçada por diversas doutrinas consideradas heréticas, como o arianismo, o novacianismo e o adocionismo, além das muitas seitas gnósticas. Em 313, no entanto, o Édito de Milão finalmente instituiu a liberdade religiosa no Império Romano, o que foi seguido por uma progressiva cristianização do Império a partir da conversão do imperador Constantino no ano de 324. Foi então convocado o Primeiro Concílio de Niceia, que buscou a unificação da Cristandade, a solidificação dos preceitos da fé cristã, o anátema das principais heresias da época e a composição de um credo comum ortodoxo, o Credo Niceno.[52]
Neste Concílio, estabeleceu-se que em cada província civil do Império Romano o corpo dos bispos deveria ser encabeçado pelo bispo da capital provincial (o bispo metropolita), mas reconheceu a autoridade super-metropolitana já exercida pelos bispos de Roma, Alexandria e Antioquia. Além disso, decretou que o bispo de Jerusalém tivesse direito a honra especial, embora não a autoridade sobre outros bispos.[53][54] Quando a residência do imperador romano e o senado foram transferidos para Constantinopla, em 330, o Bispo de Roma perdeu influência nas Igrejas orientais, em benefício do Bispo de Constantinopla. Ainda assim, Roma continuou a ter uma autoridade ecumênica especial devido à sua ligação tradicional com o apóstolo Pedro e seu passado como capital do Império Romano.[55]
Uma série de dificuldades estimulou um progressivo distanciamento entre Roma e os demais patriarcados. Primeiramente, a quebra da unidade política. Com a divisão do Império Romano em 395 e a queda do Império Romano do Ocidente em 476, Oriente e Ocidente deixaram de estar sob o mesmo governo. No século VI, o imperador Justiniano I empreendeu uma série de campanhas militares na parte ocidental ocupada pelos germânicos e que resultou na conquista da península itálica, mas que foi posteriormente perdida no século VIII com a progressiva penetração dos lombardos. Mais tarde, com a ascensão do Islamismo, as trocas econômicas e os contatos por via marítima entre o Império Bizantino, de língua grega, e o Ocidente, de língua latina, se tornaram mais difíceis, e a unidade cultural entre os dois mundos deixou paulatinamente de existir. No século VIII, Roma colocou-se sob a proteção do Império Carolíngio, o que criou uma situação em que as Igrejas em Roma e em Constantinopla estavam no seio de dois impérios distintos, fortes e autossuficientes, cada qual com sua própria tradição e cultura.
Além do anteriormente citado, a situação de afastamento ensejou uma escalada de divergências doutrinárias entre Oriente e Ocidente (em particular, a inclusão no sexto século, pela Igreja Latina, da cláusula Filioque (significa "e do filho" e indicava que o Espírito Santo procedia tanto do pai como do Filho), no Credo niceno-constantinopolitano, considerada herética pelos ortodoxos) e a adoção gradativa de rituais diferentes entre si. Ao mesmo tempo, acentuou-se a pretensão, por parte de Roma, de exercer uma autoridade incontestada sobre todo o mundo cristão, enquanto que Constantinopla aceitava somente que Roma tivesse uma posição de honra. O atrito entre Cristandade latina e grega se intensificou com a cristianização do Império Búlgaro, quando missionários da Frância Oriental, da Alemanha e do Império Bizantino chocaram-se na região, deflagrando disputas, por exemplo, quanto à linguagem dos ofícios e ao uso do Filioque, que mesmo ainda não utilizado em totalidade pela Igreja Latina, já fora introduzido pelos francos e alemães.[52][62]
Tais disputas chegariam a seu ápice no Cisma de Fócio, quando, após o Imperador Miguel III, o Ébrio depor o Patriarca Inácio I de Constantinopla em benefício de São Fócio em 858, o Papa Nicolau I condenou a Sé de Constantinopla em 863, que fatalmente excomungou o Papa em 867. Durante o Cisma, em 865, o príncipeBóris I da Bulgária, temendo um invasão bizantina, aceitou o batismo das mãos não do clero alemão, mas do bizantino.[52] O cisma apenas seria resolvido em 867, com a morte de Miguel III, mas, em 879, Basílio I, o Macedônio convocou o Quarto Concílio de Constantinopla, reabilitando São Fócio, que condenava em seus escritos o Filioque como blasfemo, além de dar autocefalia à Igreja da Bulgária.[63][64] Alguns autores ortodoxos chegam a considerar este o Oitavo Concílio Ecumênico.
O mesmo Patriarca Fócio foi conhecido por ter tomado esforços massivos para a cristianização dos eslavos enviando os jovens missionários Cirilo e Metódio para a Grande Morávia no ano de 862, a pedido de seu próprio soberano, o Duque Rastislau. Para isto, os irmãos codificaram a língua eslava eclesiástica com base no dialeto que aprenderam dos eslavos de Salônica, compondo para tal o alfabeto glagolítico (baseado em seu conhecimento anterior de múltiplos sistemas de escrita) e traduziram a Bíblia e livros litúrgicos do rito bizantino para o idioma. Após a morte de Cirilo, Metódio e Rastislau, no entanto (os três hoje venerados como santos tanto na Igreja Ortodoxa quanto na Igreja Católica Romana), Zuentibaldo I, provavelmente por pressão do clero franco, perseguiu seus discípulos (chamados cirilo-metodistas), que foram presos, escravizados ou exilados para a Bulgária, onde seguiram sua missão evangélica sob a liderança de Santos Clemente de Ocrida e Naum de Preslava, em que compensaram a expulsão do clero grego fornecendo ofícios em eslavônico.[65][66][52] Os cirilo-metodistas ainda se expandiriam rapidamente para a Sérvia (que já era considerada um país cristão por volta de 870, com a conversão de Mutímero e outros nobres)[67] e à Rússia de Quieve.
Esta parte do clero franco que expulsara os missionários cirilo-metodistas de língua eslavônica da Morávia aderia à chamada heresia trilíngue, ou heresia pilaciana, que dizia só ser possível adorar a Deus em hebraico, grego ou latim.[66][68]
Todas as supracitadas tensões acumuladas fatalmente levaram à ruptura entre as igrejas, em 1054, com a excomunhão mútua entre autoridades da Igreja Católica Ocidental e da Igreja Ortodoxa (Grécia, Rússia e outras terras eslavas, além de Anatólia, Cáucaso, Síria, Egito, etc., incluindo áreas onde muitos dos cristãos já pertenciam a Igrejas Ortodoxas Orientais). A essa divisão a historiografia ocidental chama Cisma do Oriente ou Cisma do Oriente e do Ocidente, ou simplesmente Grande Cisma.
Tentou-se restabelecer a união no Segundo Concílio de Lyon (em 1274) e no Concílio de Florença (em 1439). Foram feitas pressões para um restabelecimento da comunhão neste segundo, ainda que canonicamente contestáveis e recebidas com oposição por personalidades como São Marcos de Éfeso, mas a união acabou se desfazendo com a Queda de Constantinopla. Algumas comunidades ortodoxas fatalmente entrariam em comunhão em períodos diferentes, juntas formando parte das Igrejas Católicas Orientais.
Em 1453, Constantinopla cai para o Império Otomano, que fatalmente toma quase todos os Bálcãs. O Egito era tomado pelo islamismo desde o século VIII, mas a Ortodoxia ainda era forte na Rússia, que passaria a ser referida como Terceira Roma.[70] O Patriarca de Constantinopla tinha autoridade administrativa sobre os rumes do Império Otomano, que permitia certa liberdade de culto no Império. No Império Russo, a Igreja Ortodoxa Russa era uma instituição desconectada do Estado até 1666, com a deposição do Patriarca Nikon (conhecido pelas reformas que levaram ao cisma dos velhos crentes), influenciada por Aleixo I.
Sob o jugo otomano, os cristãos ortodoxos, organizados sob o millet romano, experienciaram um congelamento da antes florescente atividade missionária, além de eventuais mártires e uma hierarquia crescentemente corrompida em decorrência das pesadas taxações impostas pelos otomanos.[52] O berat, a aprovação do sultão para o ocupante do posto de Patriarca Ecumênico, por exemplo, era frequentemente vendido àquele que oferecesse mais dinheiro, e muitos patriarcas foram depostos e restituídos por questões financeiras: dos 159 patriarcas que ocuparam o trono durante o período otomano, apenas 21 tiveram mortes naturais enquanto exerciam o pontificado, enquanto 105 foram retirados pelos turcos, 27 abdicaram (frequentemente por coação externa) e 6 sofreram mortes violentas.[71] Por outro lado, o poder do Patriarca de Constantinopla teve sua máxima extensão histórica com a subjugação de outros povos ortodoxos sob domínio turco, com o restante da Tetrarquia, ainda que canonicamente autocéfala, tendo extrema influência turca, e as Igrejas da Bulgária e Sérvia gradualmente passando para domínio direto de Constantinopla. Adicionalmente, a estrutura de imperium in imperio dos milletler permitiu que as identidades locais ortodoxas fossem preservadas através dos séculos, de forma que a partir do início do século XIX algumas culturas fossem restauradas como estados-nações independentes.[52]
A Catedral de Cristo Salvador reconstruída, atualmente a segunda igreja ortodoxa mais alta
No século XVIII, a Igreja Ortodoxa volta a estar presente no Hemisfério Ocidental, com a chegada de missionários russos ao Alasca em 1867, então parte do Império Russo. Mesmo no atual estado norte-americano de Alasca, 12,5% da população se declara ortodoxa.[72] Em 1721, Pedro I abole o Patriarcado e transforma a Igreja em uma instituição estatal, o que só é interrompido com a Revolução de Outubro. O ressurgimento da posição, no entanto, não duraria muito, com o Patriarcado sendo extinto pelo governo comunista após a morte do Patriarca Tikhon. Em 1943, no entanto, o Patriarcado foi reinstituído por Joseph Stalin. Ainda haveria perseguições sob Khrushchev, que chegou a fechar 12 mil igrejas. Menos de 7 mil permaneciam ativas à altura de 1982.[73] Hoje, de acordo com dados de 2016, a Igreja Ortodoxa Russa dispõe de cerca de 35 mil paróquias pelo mundo.[74]
Com o ateísmo de Estado dos regimes comunistas que se implantaram em nações com presença ortodoxa como na Europa Oriental, regiões asiáticas da União Soviética e China, a Igreja Ortodoxa sofreu fortemente com perseguição e censura, o caso mais drástico provavelmente sendo o da Albânia de Enver Hoxha, declarada oficialmente ateísta e tendo sua igreja nacional fechada entre 1967 e 1992.[75] Em outros países, no entanto, como na Romênia, a Igreja teve relativa liberdade, apesar do forte controle por parte da polícia e de experiências como as tentativas de lavagem cerebral de crentes na prisão de Piteşti, o que por fim seria rigorosamente punido pelo Estado.
Com a queda das ditaduras comunistas da Europa Oriental, começando pela Albânia em 1976 e depois por uma queda abrupta de todas as restantes entre 1989 e 1992, as jurisdições da Igreja Ortodoxa oprimidas por estes regimes começaram a tomar mais liberdade. Em 2007, a Igreja Ortodoxa Russa no Exterior, que se separara do Patriarcado de Moscou após o Patriarca Sérgio de Moscou, na prisão, jurar aliança ao Estado comunista, restaurou a comunhão.[76] Em 2016, em Creta, foi congregado um Concílio Pan-Ortodoxo, como planejado desde os anos 60.
A Igreja Ortodoxa é uma comunhão de igrejas autocéfalas (ou autodirigidas), com o Patriarca Ecumênico de Constantinopla reconhecido como tendo o status de primus inter pares. O patriarca de Constantinopla tem a honra de primazia, mas seu título é apenas o "primeiro entre iguais" e não tem autoridade real sobre outras igrejas além da Constantinopolitana e estabelece prerrogativas interpretadas pelo patriarca ecumênico,[77][78][79][80] embora às vezes o ofício do patriarca ecumênico tenha sido acusado de papismoConstantinopolitano ou Oriental.[81][82][83]
A Igreja Ortodoxa considera Jesus Cristo o cabeça e a igreja o seu corpo. Acredita-se que a autoridade e a graça de Deus são transmitidas diretamente aos bispos ortodoxos e ao clero por meio da imposição de mãos — uma prática iniciada pelos apóstolos, e que esse vínculo histórico e físico ininterrupto é um elemento essencial da verdadeira igreja (Atos 8:17, 1 Tim 4:14, Hebreus 6:2). Os ortodoxos afirmam que a sucessão apostólica requer fé apostólica, e os bispos sem fé apostólica, que estão em heresia, perdem seu direito à sucessão apostólica.[84] As igrejas ortodoxas se diferenciam de outras igrejas cristãs pela prática de "ritual e liturgia… rica em mistério e simbolismo", semelhante a seus pontos de vista sobre os sacramentos.[85]
Abaixo, a lista das jurisdições que formam a Igreja Ortodoxa, com algumas das respectivas Igrejas autônomas e exarcados. Os quatro primeiros são os antigos patriarcados, que carregam a tradição da pentarquia. Os cinco seguintes são os novos patriarcados, posteriormente reconhecidos pelo Patriarca de Constantinopla. As seis últimas igrejas são autocéfalas, mas não têm seus líderes reconhecidos como patriarcas. As que não têm notas referentes a seu reconhecimento estão em plena comunhão.[88][89][90][91][92]
Outra ruptura parcial de comunhão ocorre entre Antioquia e Jerusalém desde abril de 2014, em virtude da discordância sobre qual das duas teria jurisdição sobre o Catar.[103]
Filiação
As estimativas mais confiáveis atualmente disponíveis indicam um número de adeptos ortodoxos orientais em cerca de 220 milhões em todo o mundo,[11] tornando a Igreja Ortodoxa a segunda maior comunhão cristã do mundo depois da Igreja Católica.[104]
De acordo com o Anuário de Demografia Religiosa Internacional de 2015, a população cristã ortodoxa era de 4% da população global em 2010, caindo de 7,1% em 1910. O estudo também encontrou uma diminuição em termos proporcionais, com os cristãos ortodoxos orientais representando 12,2 % da população cristã total do mundo em 2015, em comparação com 20,4% um século antes.[105] Um relatório de 2017 do Pew Research Center alcançou números semelhantes, observando que a Igreja Ortodoxa teve um crescimento mais lento e menos propagação geográfica do que o catolicismo e o protestantismo, que foram impulsionados pelo colonialismo e pela atividade missionária em todo o mundo.[106]
O cristianismo ortodoxo é a religião que mais cresce em certos países ocidentais, principalmente através da migração de mão-de-obra da Europa Oriental e, em menor grau, da conversão.[118] A Irlanda dobrou sua população cristã ortodoxa entre 2006 e 2011.[118][119][120] A Espanha e a Alemanha têm as maiores comunidades da Europa Ocidental, com cerca de 1,5 milhão cada, seguidas pela Itália com cerca de 900 mil e a França com entre 500 mil e 700 mil. Nas Américas, quatro países têm mais de 100 mil cristãos ortodoxos orientais: Canadá, México, Brasil e Estados Unidos; todos, exceto o último, tinham menos de 20 mil na virada do século XX.[121] Os EUA viram sua comunidade mais do que quadruplicar desde 1910, de 460 mil para 1,8 milhão em 2017,[121] consequentemente, o número de paróquias ortodoxas orientais tem crescido, com um aumento de 16% entre 2000 e 2010.[122]
A Turquia, que durante séculos teve uma das maiores comunidades ortodoxas, viu sua população cristã total cair de aproximadamente um quinto em 1914 para 2,5% em 1927.[123] Isso se deveu principalmente à dissolução do Império Otomano, que viu a maioria dos territórios cristãos se tornarem nações independentes. A população cristã restante foi reduzida ainda mais por genocídios em larga escala contra as comunidades armênia, grega e assíria; subsequentes intercâmbios populacionais entre a Grécia e a Turquia[124] e a Bulgária e a Turquia; e emigração associada de cristãos para países estrangeiros (principalmente na Europa e nas Américas).[125] Hoje, apenas 0,2% da população da Turquia representa judeus ou várias denominações cristãs (320 mil).[126][108]
De forma geral, a Igreja Ortodoxa está fortemente associada ao rito bizantino, ainda que este traga variações locais. Até o século XVII, havia consideráveis diferenças entre os ritos eslavos e os bizantinos, mas reformas do Patriarca Nikon de Moscou diminuíram tal variedade, aproximando drasticamente o uso pela Igreja Ortodoxa Russa daquele encontrado em livros litúrgicos de procedência constantinopolitana, gerando recensão crescentemente introduzida em outras Igrejas eslavas em decorrência da influência russa sobre ortodoxos sob jugo otomano.[127][128]
Esta medida, contudo, não privou a Igreja Ortodoxa de sua diversidade litúrgica original. A Igreja Ortodoxa Georgiana, por exemplo, preserva alguns traços de suas práticas anteriores à introdução do rito bizantino no país, como formas particulares de iconografia e canto polifônico, crescentemente reforçadas por esta Igreja como forma de reafirmação nacional.[129][130] A instituição dos Edinoverie, velhos crentes admitidos na Igreja russa oficial a partir do século XVIII, reintroduziu as práticas pré-nikonianas na Igreja.[131] Ainda, o fenômeno da Ortodoxia de rito ocidental a partir do século XIX reabriu as portas para diversos ritos romanos adaptados, estes não praticados por ortodoxos desde o fim do Mosteiro de Amálfion no século XIII, reduto beneditino no Monte Atos.[132]
A Igreja Ortodoxa é presente no Brasil tanto por imigrantes e seus descendentes quanto por comunidades inteiras de brasileiros convertidos. A primeira Divina Liturgia do país da qual se tem registro foi celebrada em 1897, com a primeira paróquia, a Igreja da Anunciação à Nossa Senhora, construída em São Paulo em 1904 pela comunidade sírio-libanesa e presidida pelo Arquimandrita Silvestros As-Seghir como vicariato patriarcal da Igreja de Antioquia. Em 1958, essa comunidade seria elevada ao status de arquidiocese, com Ignatios Ferzli presidindo-a como o primeiro bispo residente no país.[133][134]
Apesar de toda a Europa Ocidental ser clamada como território canônico próprio pelo Patriarcado Ecuménico, existem em Portugal, além da presença da Igreja Grega sob o omofório deste Patriarca, a Igreja Ortodoxa Búlgara, a Russa e a Romena.[136] O XV Recenseamento Geral da População de Portugal contou 56 550 ortodoxos no país dentre a população com 15 anos ou mais, apesar de, como no caso do Brasil, fazer-se necessário atentar-se para grupos que não são parte da Igreja, como a dita Igreja Católica Ortodoxa Lusitana.[137] Não há bispos residentes em Portugal em comunhão com o restante da Igreja, apesar de já ter havido no passado, antes de os bispos da Igreja Ortodoxa Polonesa no país separar-se do Sínodo.[138]
Moçambique
Há paróquias ortodoxas em Moçambique, todas no território eclesial da Igreja Ortodoxa Grega de Alexandria. Estas paróquias já estiveram, em momentos diferentes, sob a Metrópole de Joanesburgo e sob a Diocese do Zimbábue, mas existe desde 2006 uma Diocese de Maputo, hoje ocupada pelo Bispo João Tsaftarides.[139] A primeira paróquia ortodoxa no sul da África foi edificada no país, o Templo Sagrado da Santa Trindade, a partir de 1876. A maior parte dos ortodoxos do país é de origem grega, mas há nativos convertidos. O Censo de 2007 contabilizou apenas as maiores denominações religiosas no país, deixando de lado a população ortodoxa.[140]
↑ abBrien, Joanne O.; Palmer, Martin (2007). The Atlas of Religion. [S.l.]: University of California Press. p. 22. ISBN978-0-520-24917-2. There are over 220 million Orthodox Christians worldwide.
↑Encyclopædia Britannica Online, "Eastern Orthodoxy" "Because of the use of the name 'Greek Catholics' by the Eastern churches of the Catholic Church and the historical links of the Orthodox Catholic church with the Eastern Roman Empire and Byzantium (Constantinople), however, the exonyms in American English usage referred to it as the 'Eastern' or 'Greek Orthodox' Church. These terms are sometimes misleading, especially when applied to Russian or Slavic churches and to the Orthodox communities in western Europe and America.".
↑Vlasto, A. P. (1970). The Entry of the Slavs into Christendom: An Introduction to the Medieval History of the Slavs. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN978-0-521-07459-9
↑Salamone, Frank A. (2004). Levinson, David, ed. Encyclopedia of Religious Rites, Rituals, and Festivals. New York: Routledge. 304 páginas. ISBN0-415-94180-6
↑"Statistical database: Population Census 2000 – Religious affiliation" . Statistics Estonia. 22 de outubro de 2002. Acessado em 18 de fevereiro de 2011
↑İçduygu, Ahmet; Toktaş, Şule; Soner, B. Ali (1 de fevereiro de 2008). «The politics of population in a nation-building process: emigration of non-Muslims from Turkey». Ethnic and Racial Studies. 31 (2): 358–389. ISSN0141-9870. doi:10.1080/01419870701491937
↑Shipman, Andrew (1913). «Ruthenian Rite». Catholic Encyclopedia (em inglês). 13. Nova Iorque: Robert Appleton Company. Consultado em 4 de março de 2018
↑Suprun, A.E.; Moldovan, A.M. (2005). «Старославянский и церковнославянский язык». In: A.A. Kibrik. Славянские языки. Col: Языки мира. Moscou: Academia. pp. 29—69. ISBN978-5-4469-0830-1
Diamond, Larry Jay; Plattner, Marc F.; Costopoulos, Philip J., eds. (2005), World Religions and Democracy, ISBN978-0-8018-8080-3, Johns Hopkins University and the National Endowment for Democracy, OCLC58807255
Fortescue, Adrian (1908), The Orthodox Eastern Church 2nd ed. , London: Catholic Truth Society / University of Virginia (publicado em 11 de dezembro de 2008), consultado em 2 de junho de 2014
Harakas, Stanley S. (1 de maio de 1987), The Orthodox Church: 455 Questions and Answers, ISBN978-0-937032-56-5, Light & Life Publishing Company, Minneapolis, MN
Hayward, C.J.S. (2016). The Best of Jonathan's Corner. Wheaton, IL: C.J.S. Hayward Publications. ISBN978-1-4782-1991-0
Heinle, Erwin; Schlaich, Jörg (1996), Kuppeln aller Zeiten, aller Kulturen, ISBN3-421-03062-6, Stuttgart
Hierotheos, Metropolitan of Nafpaktos (1998), The Mind of the Orthodox Church, ISBN978-960-7070-39-5, Levadia, Greece: Birth of the Theotokos Monastery