Igreja de Nossa Senhora do Carmo (Sabará)A Igreja de Nossa Senhora do Carmo de Sabará, no estado brasileiro de Minas Gerais, é um importante exemplar da tradição artística barroca e rococó no país, sendo um bem tombado em nível nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). É particularmente notória por ter recebido a contribuição do mestre Aleijadinho em vários elementos de sua decoração, e a Irmandade que a governa ainda preserva tradições seculares. HistóriaA Igreja nasceu por vontade da Ordem Terceira do Carmo, que contratou o mestre Tiago Moreira para fazer o projeto. A pedra fundamental foi lançada em 16 de junho de 1763, e as obras seguiram com bastante celeridade. Em 1767 já havia sido entronizada a padroeira Nossa Senhora do Carmo. Porém, a irmandade decidiu alterar o traçado da fachada no ano seguinte, e novamente em 1771, encarregando o mesmo Moreira das adaptações.[1] Os trabalhos de alvenaria se desenrolaram entre 1771 e 1774, com Aleijadinho responsabilizando-se pelos relevos esculpidos no frontispício e na portada. As obras de talha dourada dos altares se devem a Francisco Vieira Servas, com a colaboração de Joaquim Fernandes Lobo no altar-mor, se estendendo de fins da década de 1770 até o início do século XIX.[1] Aleijadinho e sua equipe participaram novamente na decoração do interior, realizando entre 1779 e 1781 a escultura dos púlpitos, do coro e das balaustradas, e criando as estátuas de São João da Cruz e São Simão Stock, instaladas nos altares do arco cruzeiro. A pintura e douramento da talha e a pintura no forro são obra de Joaquim Gonçalves da Rocha, trabalhando entre 1812 e 1816, mas ao que parece em época posterior foram realizadas algumas outras intervenções. Em 1828 o terreno no entorno foi aplainado para evitar a infiltração de água, e iniciou-se a construção das catacumbas do cemitério, consagrado em 1847.[1] As estátuas de São Simão e São João de Aleijadinho foram restauradas em 1989 e em 2003, e estão em excelente estado de conservação. São considerados exemplares superiores de seu trabalho e estão entre as poucas peças de sua autoria que têm documentação comprobatória.[2] Os atlantes também são considerados peças de alta qualidade.[1] EstruturaSua planta segue o modelo tradicional da colônia, com uma nave única com forro em gamela e uma capela-mor separada, em torno da qual existem, lateralmente, uma sacristia e um consistório. Um elaborado coro cobre a entrada, com uma balaustrada entalhada e sustentado por duas colunas de capitel compósito em estilo rococó e dois atlantes nas extremidades, onde o coro se apoia nas paredes.[1] A fachada também é padrão, com um corpo retangular com grande entrada centralizada decorada com relevos e duas janelas no nível superior, também com relevos na sobreverga. Acima deste bloco, separado por larga cimalha, se eleva o frontão ornamental, com um óculo centralizado ladeado de volutas e coroado por uma grande cruz ladeada de pináculos.[1] De ambos os lados do corpo da Igreja existem torres sineiras de partido quadrado, neste caso perfuradas por seteiras bastante amplas no trecho inferior. No superior, se abrem arcos redondos para os sinos, com coruchéus abobadados coroados de pináculos. Abaixo do arco da torre esquerda existe um relógio.[1] DecoraçãoDestaca-se na fachada o grande frontispício em pedra-sabão na portada, atribuído ao trabalho pessoal de Aleijadinho, onde dois grandes anjos dão realce e sustentam o brasão coroado da Ordem do Carmo. Os outros ornamentos da fachada provavelmente não foram executados por ele, devido ao seu acabamento inferior, mas devem ser seus os projetos.[1] A Igreja tem um piso de tabuado em toda a sua extensão, que também se encontra nas salas anexas. O interior é ricamente decorado com talha, pinturas e estatuária. Na apreciação do IPHAN,
Outros elementos de interesse na decoração são as pinturas parietais da capela-mor descrevendo os Dez Mandamentos, também de autoria de Joaquim Gonçalves da Rocha e datadas do início do século XIX. Elas imitam o estilo empregado na pintura de azulejos, com as cenas realizadas em monocromia de azul e emolduradas com rocalhas e pintura em imitação de mármore.[3] O piso do coro, que serve de teto à entrada, tem em sua face inferior pinturas com alegorias das Virtudes Teologais, ladeadas por cenas com o sacrifício de Abraão e Moisés tirando água da pedra. TradiçõesA Igreja do Carmo de Sabará desde sua fundação criou uma rica tradição religiosa, tornando-se um dos mais importantes polos devocionais da cidade. A festa do orago, naturalmente, é a mais importante, definida como tal nos estatutos da Ordem. Comemorada em 16 de junho, era tradicionalmente antecedida de uma novena, e no dia próprio celebrava-se "Missa cantada, Sermão e Muzica com o Senhor exposto no Throno e em toda a Novena na porta do Sacrario", como informa um documento do século XIX. A tarde era ocupada com uma procissão suntuosa em que eram conduzidas as estátuas de Nossa Senhora do Carmo, Santa Teresa e Elias.[4] Também era importante a festa de Santa Teresa, comemorada em 15 de outubro, mas de todas nenhuma excedia em pompa e relevo devocional as da Semana Santa, pois dizia respeito não apenas aos carmelitas, mas a todo o universo católico. Em tempos antigos a Semana era preparada ao longo de toda a Quaresma com uma sucessão de cerimônias, procissões, orações, penitências e jejuns, e os irmãos da Ordem em particular, mesmo os residentes fora da cidade, eram obrigados a acompanhar todos os preceitos litúrgicos e devocionais, sob pena de expulsão.[4] O Termo de Compromisso da Ordem publicado no século XVIII era taxativo:
De acordo com os costumes altamente hierarquizados do tempo colonial e imperial, as Irmandades disputavam poder, prestígio, precedências e privilégios mesmo no terreno sacro, e aos carmelitas eram atribuídas especialmente a procissão do Triunfo, no Domingo de Ramos, o Lava-pés na Quinta-feira Santa, e a procissão do Enterro na Sexta-feira da Paixão, sendo esta última exclusiva da Irmandade. Essas cerimônias tinham enorme complexidade ritual e eram realizadas com grande pompa.[4] Segundo a historiadora Rosana de Figueiredo Ângelo, que estudou as costumes da Irmandade do Carmo de Sabará,
Mesmo que os costumes tenha se modificado profundamente na contemporaneidade, a Igreja do Carmo ainda preserva muitas de suas tradições antigas, entre elas o hábito de vestir seus altares encobrindo a estatuária com panos roxos durante a Quaresma, que remonta aos tempos coloniais. Ainda há um numeroso público fiel e devoto que acorre aos principais festejos, e a Irmandade tem se caracterizado por sua preocupação em preservar também o patrimônio material de sua Igreja com especial cuidado.[4][2] Referências
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