Henrique Alberto Quádrios Teles Carreira, mais conhecido pela alcunha Iko Carreira (Luanda, 3 de junho de 1933 — Madri, 30 de maio de 2000), foi um militar, político, diplomata, escritor e ideólogo anticolonial angolano,[1] uma das principais figuras do país no século XX.
Serviu como o primeiro Ministro da Defesa de Angola, de 1975 a 1980, durante a Guerra Civil Angolana.[2] Após a morte de Agostinho Neto a sua posição no partido enfraqueceu. Mais tarde serviu como embaixador na Argélia e adido militar na Espanha.[3] Era considerado o terceiro em comando no partido e no Estado angolano durante a década de 1970, atrás somente de Agostinho Neto e Lúcio Lara.
Biografia
Iko Carreira nasceu em Luanda, em 3 de junho de 1933, numa família angolana de origem portuguesa e italiana.[4] Seus pais eram funcionários públicos em Angola e, por isso mesmo, teve uma educação razoavelmente boa no Liceu Salvador Correia.[5]
Na juventude, na década de 1950, partiu para estudar direito na Universidade de Lisboa,[1] residindo na Casa dos Estudantes do Império,[5] mas abadonou o curso no segundo ano para seguir carreira militar.[6] Foi alistado e serviu na Força Aérea Portuguesa,[1] sendo treinado na Academia da Força Aérea como piloto de avião a hélice.[6] Não chegou a combater como piloto na Guerra Colonial Portuguesa por ser reprovado por condições de saúde ainda durante o treinamento.[6] Foi posto à disponibilidade do Exército Português, passando a servir nesta tropa.[6]
Luta anticolonial
Estava servindo em Argel quando estabeleceu contactos com o movimento anticolonial angolano[1] e filiou-se ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).[7] Desertou das tropas portuguesas na "Fuga dos 100", em 1961,[5] juntamente com Pedro Pires (posteriormente Presidente de Cabo Verde)[8] e Joaquim Chissano (posteriormente Presidente de Moçambique).[5]
Carreira avançou rapidamente no MPLA como um dos mais astutos estrategistas militares[5] que auxiliavam Agostinho Neto.[1] Como profissional militar, foi um dos comandantes designados a organizar o Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA) e comandou operações contra as forças portuguesas durante a Guerra de Independência de Angola.[1] Sua fama como estrategista militar aumentou bastante após o "Plano Iko", onde elaborou a bem sucedida operação de tomada da Lunda Norte e de Malanje, onde o EPLA/MPLA pode controlar a famosa "Rota Agostinho Neto" que se estendia desde Luena e Lungué-Bungo até Malanje.[9] A partir de 1974 foi um dos responsáveis por reorganizar o EPLA e transformá-lo em Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA).[1][5]
Com a aposentadoria por idade do vice-presidente do partido Domingos Kileba em 1971, o quadro de comando do MPLA, após reunião do Comité Director (que seria integralmente substituído em 1974 pelo Comité Central), passa a ser Lúcio Lara como vice e Iko Carreira como secretário-geral.[10]
Em 1974 e 1975, foi designado a participar das negociações que culminaram nos Acordos de Alvor.[5]
Ministro da Defesa
Após a declaração da independência angolana, assumiu o cargo de Ministro da Defesa da República Popular de Angola[4] em 12 de novembro de 1975. Em estreita cooperação com a Força Expedicionária Cubana e com os assessores militares soviéticos,[4] Carreira conseguiu que as FAPLA constituíssem rapidamente uma força pronta para o combate.[1] Sua capacidade militar imprimiu severas derrotas a partir de 1976 nas tropas regulares da África do Sul, bem como nas formações armadas do Exército de Libertação Nacional de Angola (ELNA) — ligado à Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) — e das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA) — ligadas à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).[5] Na chefia do ministério liderou o processo de formação da Polícia Nacional e de outros órgãos militares.[5]
Em 27 de maio de 1977 ocorreu o golpe de Estado falhado nitista em Luanda. O Ministro Carreira, passou a ser identificado como o principal representante da "elite branco-mulata", despertando um ódio particular nos líderes da rebelião, que se posicionaram como "porta-vozes dos interesses dos negros pobres". O Ministro da Defesa desempenhou um papel importante na repressão ao movimento do Fraccionismo. Liderou o tribunal militar que sentenciou à morte os participantes da rebelião.[11] Foi um dos principais organizadores das repressões em massa de 1977-1979.[12]
Enfraquecimento de sua posição no Estado
Após a morte do presidente Agostinho Neto e a ascensão ao cargo de chefe de Estado de José Eduardo dos Santos, em 1979, a posição de Carreira enfraqueceu drasticamente.[4]
Em 1980, foi afastado do cargo de Ministro da Defesa alegadamente para receber treino militar para graduar-se,[4] uma vez que era somente coronel.[1] Foi enviado para a União Soviética,[1] onde estudou na Academia Militar K. E. Voroshilov do Estado Maior das Forças Armadas Soviéticas,[1] tornando-se, em 1982,[1] o primeiro oficial militar africano a receber um diploma de formação como general.[13]
Em 1983 foi nomeado comandante da Força Aérea Popular de Angola, cargo que parmaneceu até 1986,[1] altura em que tornou-se brigadeiro da tropa.[4] Foi o maior responsável pela modernização da aeronáutica angolana a partir de aparelhos militares soviéticos.[4]
Foi enviado, em 1987, como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Angola na Argélia.[4][1] Neste país, enquanto em serviço sofreu uma hemorragia cerebral,[1] após a qual se aposentou da política ativa.[4] Nos últimos 13 anos de sua vida ele viveu com o lado esquerdo paralisado.[1] Foi tratado na França e nos Estados Unidos, depois se mudou para a Espanha com sua esposa e filhos.[4] O governo angolano o nomeou adido militar em Espanha.[3]
Suas últimas posições de Estado não tinham relevância política e eram consideradas secundárias. Na década de 1990 Carreira passou a criticar publicamente a abertura de mercado e as privatizações em Angola, classicando como "sistema de capitalismo selvagem" com "corrupção desenfreada".[14]
Últimos anos e morte
O derrame que o paralisou não o impediu de escrever dois romances com um dedo, em um computador especial, além de memórias políticas e de várias obras de ficção. As duas principais obras são: "O Pensamento Estratégico de Agostinho Neto", Publicações Dom Quixote, e; "Memorias", publicadas em Angola por Nzila.[1]
Morreu em Madri, Espanha, em 30 de maio de 2000, poucos dias antes de completar 67 anos.[4]
Em junho de 2000, o obituário de Victoria Brittain do The Guardian escreveu: "Como seu amigo e mentor, Presidente Neto, Carreira será sempre um ponto de referência para os angolanos durante o período heróico da sua história.".[4]
Vida pessoal
Era casado com Maria Helena Diniz "Bucha" Carreira com quem teve quatro filhos.[5]
Referências
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Iko Carreira».