Língua suaíli
O suaíli ou suaíle (Kiswahili), também chamado de suahíli e conhecido pelas formas vernáculas Swahili ou Kiswahili, é a língua banta com o maior número de falantes. É uma das línguas oficiais do Quénia, de Ruanda, da Tanzânia e de Uganda, embora os seus falantes nativos, os povos suaílis, sejam originários apenas das regiões costeiras do oceano Índico. É uma das línguas de trabalho da União Africana. Essa língua africana pertence ao subgrupo sabaki das línguas bantu. É falada por cinquenta milhões de pessoas no mundo, incluindo, além dos países que a têm como língua oficial, Uganda e a República Democrática do Congo,[1] onde é usada como língua franca. É também falado com alguma frequência nas áreas urbanas do Burundi e de Ruanda, no sul da Somália até ao norte de Moçambique (ao longo do litoral de África oriental), na Zâmbia e no sul da Etiópia. Existem também algumas comunidades de falantes de suaíli em Madagascar e nas ilhas Comores. Contudo, a maior parte dos seus falantes não a usa como língua materna. De fato, crê-se que apenas dois a três milhões dos cinquenta milhões estão nesta situação, o que significa que a grande maioria fala como língua materna algum outro idioma níger-congolês (por exemplo, bantu) ou cuxítico (somali, por exemplo). O comoriano, falado nas ilhas Comores, às vezes é considerado um dialeto do suaíli, embora outras autoridades o considerem um idioma distinto.[2] GeralO suaíli é a língua nativa de diversos grupos que habitaram e habitam uma faixa de 2500 km da costa leste da África. Em função do contato dos povos dessa área com comerciantes e navegadores de Língua árabe durante alguns séculos, o suaíli tem cerca de um quarto de suas palavras originadas do árabe. Outras influências foram a língua persa, alemão, português, inglês e idiomas da Índia. É oficial e segundo idioma na Tanzânia, no Congo e no Quênia. Em Uganda é obrigatória nas escolas de primeiro grau desde 1992, tendo sido declarada oficial em 2005. O suaíli e línguas correlatas são também faladas em Burundi, Ruanda, Moçambique, Somália, Zâmbia e Comores. A palavra Kiswahili vem do árabe سواحل, transliterado como sawāhil; é o plural da palavra ساحل, sāhel, "fronteira" ou "litoral", usada como adjetivo de "negociantes do litoral" A adição do prefixo ki o define como um idioma. Waswahili se refere aos povos da "costa suaíli" e Uswahili indica a cultura dos suaíli." Sahel" também é o nome que se dá à região austral do deserto do Saara. O suaíli foi escrito com caracteres árabes até a era colonial da África, quando a escrita árabe foi substituída pelo alfabeto latino, através de missionários cristãos e de administradores coloniais. Um dos mais antigos documentos em suaíli, é um poema épico, Utendi wa Tambuka ("A História de Tambuka"), de 1728, em escrita árabe. Dialetos e línguas relacionadasAs listagens abaixo se baseiam no livro Swahili and Sabaki: a Linguistic History de Nurse, Derek e Hinnebusch, Thomas J. Dialetos
Línguas similares
HistóriaNão existem ainda evidências históricas ou arqueológicas que permitam que se afirme quando e onde surgiram a língua e a cultura suaíli. Porém, pode-se considerar que falantes dessa língua ocupavam as mesmas áreas atuais ao longo do Oceano Índico bem antes do ano 1000. Desde o século VI há registros de contatos pela presença de negociantes Persas e Árabes na região. Também houve muita interação entre nativos e muçulmanos com a expansão do Islão a partir do século IX. Grupos vindos de Omã e do Golfo Pérsico se estabeleceram nas ilhas de Zanzibar e Pemba e daí difundiram a língua suaíli e o Islã para maiores centros de comércio e cultura, tais como Sofala em Moçambique, Quíloa na Tanzânia, Mombaça e Lamu no Quênia; Baraua, Merca, Quismaiu e Mogadíscio na Somália, Ilhas Comores; norte de Madagascar;. Por volta de 1800, os governantes de Zanzibar realizaram expedições ao continente, até os muitos lagos do “Great Rift Valley” e aí criaram rotas permanentes de comércio, com negociantes que falavam suaíli estabelecidos em postos ao longo dessas rotas comerciais. Isso não foi realmente uma Colonização autêntica. Processo de colonização ocorreu realmente ao leste do Lago Malaui, no que hoje é a chamada região de Catanga da República Democrática do Congo, onde surgiu um dialeto bem diferente. A Alemanha estabeleceu colônia em Tanganica, hoje Tanzânia, em 1886 e, tendo percebido o quanto a língua Suaíli era disseminada (embora em baixa densidade) na região, fez dessa a língua oficial da colônia. Os colonizadores ingleses não fizeram o mesmo no vizinho Quênia, embora tenham feito tentativas nesse sentido. Ambas nações europeias queriam facilitar a administração das colônias que tinham dezenas de línguas diferentes entre os nativos, pela escolha de uma língua única que tivesses boa aceitação entre os povos locais. O suaíli era a única com essa característica nessas áreas. Com a derrota da Alemanha na Primeira Grande Guerra esta perdeu suas colônias da África (Tanganica, Namíbia, Togo, Camarões), ficando Tanganica para os britânicos. Com ajuda de ativos missionários cristãos, os administradores locais britânicos se decidiram a fazer do suaíli a língua oficial comum tanto nas escolas primárias como nas administrações locais menores por toda África oriental, nas colônias Uganda, Tanganica, Zanzibar e Quênia. O idioma suaíli deveria se subordinar ao Inglês, sendo que seria o idioma das Universidades, o prioritário nas escolas secundárias e na administração de alto nível. Em junho de 1928 foi dado um passo importante para criação de uma língua escrita padrão para o suaíli. Uma reunião intraterritorial em Mombaça definiu o dialeto Kiunguja de Zanzibar como padrão linguístico. A atual versão, em alfabeto latino, é a segunda língua desses países. Situação atualHoje, cerca de 90% da população da Tanzânia fala o suaíli, e um percentual um pouco menor no Quênia. 66 milhões de congoleses falam o idioma nas seis províncias orientais do país, fazendo com que essa língua já rivalize com o lingala como língua principal do Congo. Em Uganda, os baganda não falam o suaíli, mas cerca de 25 milhões de pessoas no resto do país têm essa língua como principal, visando a preparação para a Comunidade da África Oriental. Nos demais países o suaíli é mais usado nas cidades comerciais por refugiados ou perto das fronteiras com a Tanzânia e o Quênia. Mesmo assim o idioma é, possivelmente, mais falado que o hauçá da África do Oeste como a língua nativa mais falada na região subsaariana. Conforme o Banco Mundial, o suaíli é falado por 10 a 15% dos habitantes da África ao sul do deserto do Saara. Referências fora da África
SonsSuaíli difere das demais línguas subsaarianas por não apresentar “tons”. Outra exceção é o grupo de dialetos Mijikenda, que inclui o dialeto Mvita, de Mombaça, segunda cidade e porto de Quênia. AlfabetoO alfabeto latino veio, com a colonização europeia, substituir o alfabeto árabe que já apresentava algum uso entre os povos da região. O alfabeto latino utilizado com o suaíli apresenta 24 letras, não tendo o Q e o X. A letra C vem sempre como "Ch". O único diacrítico usado é o "chifre" (apóstrofo) em Ng'. São usados os seguintes encontros consonantais:
VogaisSão cinco as vogais do suaíli, bastante similares aos sons das vogais do italiano e do espanhol. As vogais não são reduzidas, mesmo se átonas. Não há ditongos, as vogais são pronunciadas separadamente.
Consoantes
Notas:
GramáticaA característica gramatical mais proeminente das línguas bantu é o uso extensivo de morfemas sob a forma de prefixos. Cada substantivo pertence a uma classe e cada idioma pode ter aproximadamente dez classes, um pouco como gêneros em idiomas europeus. A classe é indicada por um prefixo no substantivo, como também em adjetivos e verbos que concordam com aquele. O plural é indicado por uma mudança de prefixo. Por exemplo, em suaíli, Mtoto mdogo amekisoma significa A criança pequena leu isto (um livro, implícito). Mtoto = criança governa o prefixo do adjetivo "m" (mdogo) e o sujeito do verbo com o prefixo "a". A seguir vem o tempo do verbo (perfeito) "me" - e um marcador de objeto "ki" - concordando com kitabu (implícito), livro. O plural desta frase é: Watoto wadogo wamekisoma; se usarmos o plural para livros (vitabu), a frase torna-se: Watoto wadogo wamevisoma. Classes de substantivosSuaíli, como outras línguas bantu, divide os substantivos em Classes, as quais no sistema mais antigo (estudados por Carl Mainhof) chegaram a ser 22, incluindo aí os Plurais. Pelo menos 10 dessas classes são comuns às demais línguas bantu. Em Suaíli são 16 classes, sendo 6 para o singular, 5 para o plural, uma para conceitos abstratos, uma para infinitivos de verbos usados como substantivos, 3 para localizações. Ver exemplos a seguir:
Outras classes são mais difíceis de caracterizar:
Adjetivos ou numerais em geral pegam o prefixo do substantivo relacionado. Verbos apresentam outro conjunto de prefixos.
Uma mesma raiz de substantivo pode ser usada com prefixos de classe diferentes para significados diversos:: humano mtoto (watoto) "criança (crianças)", abstrato utoto "infância", diminutivo kitoto (vitoto) "infante(s)", aumentativo toto (matoto) "criança grande (crianças idem)". Vegetais: mti (miti), "árvore(s)", utensílio de madeira, kiti (viti) "(cadeiras)"; aumentativo jiti (majiti) "árvore grande", kijiti (vijiti) "pedaço(s) de pau", ujiti (njiti) "árvore alta e esguia". As classes Suaíli são tecnicamente gêneros gramaticais, mas há uma diferenças entre os muitos gêneros dessa lingual e, por exemplo, os três gêneros que algumas línguas europeias apresentam para não humanos. Em Suaíli a divisão em classes tem significado “semântico”, é regida por certas regras enquanto que nas línguas europeias isso é arbitrário. No entanto, as classes não têm limites tão simples, assim como “pessoas”, “árvores”. Há extensões e subextensões desses significados numa lógica própria, que formam uma rede semântica que já teve um sentido lógico em outros tempos, não fazendo sentido para iniciados no idioma. Vejamos a classe ki-/vi- que é para utensílios e ferramentas (Bantu 7/8) e também para diminutivos (Bantu 12). Exemplo do primeiro caso: kisu "faca"; kiti "cadeira" (que vem de “mti "árvore,.madeira”); chombo "barco" (contração ki-ombo). Dos diminutivos temos kitoto "infante", que vem de mtoto "criança"; kitawi "ramo delgado", que vem de tawi "ramo galho"; chumba (ki-umba) "quarto", que vem de nyumba "casa". O sentido de diminutivo foi estendido num modo bem comum em algumas línguas pela semelhança ou aproximação, como sendo um “pouco de algo”. Como exemplo temos kijani "verde", que vem de ani "folha"; kichaka "arbusto retorcido", que vem chaka "amontoado"; kivuli "escuro", que vem de uvuli "sombra". Esse “pouco de algo” num verbo pode ser a consequência instantânea de uma ação como: kifo "morte", do verbo -fa "morrer"; kiota "ninho" de -ota "chocar"; chakula "comida" de kula "comer"; kivuko "vau, passagem" de -vuka "cruzar"; kilimia "as Plêiades, de -limia "cultivar" (essas estrelas indicam época de plantio). Essas semelhanças, o fato de ser um "pouco como algo", implicam uma condição marginal dentro de uma categoria, faz com que se use o prefixo ki-/vi-. Exemplo: chura (ki-ura) "sapo", sendo “ura” um animal terrestre, mas o sapo é apenas “meio” terrestre. Vale isso para deficiências, tais como: kilema "coxo, aleijado", kipofu "cego", kiziwi "surdo". Enfim, há também diminutivos que indicam “desdém”, em especial ao que poderia ser perigoso, com o nos casos kifaru "rinoceronte", kingugwa "hiena malhada", kiboko "hipopótamo". As classes Bantu 3 e 4 - m-/mi- – “árvores” têm também muitos usos. Vem de mti, miti "árvore(s)", é um protótipo, mas não tem só essa aplicação “vegetal”, como em mwitu 'floresta' e mtama 'milheto'; mais que isso cobre também outras entidades com vitalidade que não somente vegetais, animais ou humanos:
Pode haver mais de uma metáfora ao produzir uma classe de substantivo: mkono (braço) é uma parte ativa do corpo, mas também é longo e esguio. Ideias que indicam trajetória como mpaka 'borda, fronteira' e mwendo 'jornada', são identificadas por longas e estreitas, o que pode se estender por analogia para mwaka 'ano' e talvez mshahara 'salário'.Também ficam na classe 3+4 animais que são excepcionais em algumas características e que não se enquadram em outras classes. As demais classes numa análise preliminar não parecem ser intuitivamente identificáveis. Ver aqui for details.</ref> VerbosO verbo em Suaíli se constitui numa “raiz” complementada por “infixos”, em sua maioria “prefixos, usados parta indicar “pessoa”, “tempo” e condições que exigiriam uma conjunção em outros idiomas. A maior parte dos verbos, em especial os muitos de origem Bantu, terminam em '-a'. Isso é importante para saber com o usar a forma Imperativa (de comando) e as Negações. Nos dicionários os verbos são listados, é claro, por suas “raízes”. Exemplo: -kata (cortar). Numa frase simples são adicionados à raiz os prefixos de “pessoa” e “tempo”; ninakata. onde ni- é 'Eu' e na- é o tempo presente, portanto “eu estou cortando”. Conjugação
A frase pode ser modificada pela mudança do prefixo de tempo ou de pessoa. Exemplo:
O presente simples é mais complexo e os iniciados por vezes tomam esse tempo como gíria antes de saber o correto uso. Nasoma significa “eu leio”. Não é ninasoma ('Eu estou lendo – presente contínuo'). -A- é o tempo indefinido, genérico no tempo, onde no caso o prefixo ni- se assimila com esse “A”, parecendo um único prefixo.
Lista completa dos prefixos básicos para sujeito – classe “humana” m-/wa-;
Prefixos de tempo mais comuns::
Prefixos de tempo não servem apenas para marcar “tempos” verbais no sentido da lingual portuguesa. São usados também para marcar “conjunções”. O prefixo ki- tem função de “condicional” em "nikinunua nyama wa mbuzi sokoni, nitapika leo" (Se eu comprar um cabrito no mercado, vou cozinha-lo hoje). O SE é representado na frase pelo -ki Inicial. Um terceiro prefixo pode ser incluído no verbo, aquele do “objeto” que fica logo antes e junto à “raiz” e pode se referir a uma pessoa, substituir um objeto ou enfatizar um objeto.
Não há somente prefixos, sendo que a vogal final também é um afixo, embora pareça ser parte da raiz em muitos dicionários. No caso dos dicionários a vogal final marca o modo “indicativo”. Pode haver “negação”, não havendo aí vogal final, é o sufixo “nulo”, "-", como em 'sisomi- após o si:
Outros casos em que há mudança da vogal final inclui o modo “conjuntivo”, quando é afixado um -e , o que só se usa nos verbos Bantus que terminam em “-a”. Os que vieram Árabe são mais complexos. Há ainda sufixos que podem ser considerados “infixos” e que ficam antes da vogal final:
HorasHorários (África do Leste) Suaíli vão da aurora até o crepúsculo, em ligar de meia-noite até meio-dia, ou seja, nossas 7h e 19h são respectivamente 1h e 13h. Nossos meio-dia e meia-noite são respectivamente 6 e 18h. Palavras como asubuhi 'manhã', jioni 'tarde' e usiku 'noite' demarcam os períodos do dia. Há marcações mais específicas: adhuhuri 'início da tarde', alasiri 'fim de tarde', usiku wa manane 'tarde da noite, depois de meia-noite', 'aurora' macheo e anoitecer machweo.
Quando há uma superposição há dois modos de se dizerem as horas: 7:00 h pode ser saa moja jioni ou saa moja usiku. Podem ser usados ainda na robo 'e um quarto', na nusu 'e meia', kasarobo/kasorobo 'um quarto para', dakika 'minuto(s)':
Amostra de textoDeclaração Universal dos Direitos Humanos: (Swa) Watu wote wamezaliwa huru, hadhi na haki zao ni sawa. Wote wamejaliwa akili na dhamiri, hivyo yapasa watendeane kindugu. (Por) Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. ReferênciasBibliografia
Ligações externas
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