Liébana
Liébana ou La Liébana é uma comarca histórica do norte de Espanha, da província e comunidade autónoma da Cantábria. É constituída por sete municípios e a sede comarcal é Potes. Tem 574,8 km² e é uma das comarcas mais bem definidas da Cantábria em termos geográficos e culturais. Em 2021 tinha 5 228 habitantes.[3] Apesar de já existir uma lei para a divisão em comarcas da Cantábria desde 1999, esta ainda não foi regulamentada, pelo que a comarca, como as restantes da comunidade autónoma, não tem carácter administrativo oficial.[4] A comarca limitada a norte pelas Astúrias e pelo cântabro de Peñarrubia (na comarca de Saja-Nansa), a oeste e sul com Castela e Leão (província de Leão e de Palência, respetivamente) e a leste com os municípios e vales de Lamasón e Polaciones (também da comarca de Saja-Nansa).[5] Municípios
GeografiaA comarca é uma região rural de difícil acesso, situada nas montanhas dos Picos da Europa, que ocupa uma grande cova entre vertentes escarpadas de calcário, o que faz dela a mais bem definida da Cantábria.[5] Está muito isolada do resto da comunidade autónoma e o principal acesso é feito pela estrada N-621, a qual liga a província de Leão, a sul, passando pelo desfiladeiro de La Hermida, no vale do Deva, a sul, e a norte atravessa parte das Astúrias antes de voltar a entrar na Cantábria. É constituída por quatro vales (Valdebaró, Cereceda, Valdeprao e Cillorigo), que confluem em Potes. Os principais rios são o Deva, o Quiviesa e o Bullón. O seu relevo escarpado é constituído principalmente por calcário do período Carbonífero, afetado por processos cársticos. No fundo dos vales surgem ardósias e arenitos.[5] A sua situação de grande vale fechado, com grandes diferenças de altitude e de encostas muíto íngremes, faz com que haja uma grande variedade de condições ambientais, que dão lugar a uma multitude de formações vegetais, nomeadamente azinheiras, sobreiros, faias, carvalhos-alvarinho, carvalhos-negral, pastagens e terras de cultivo. A região tem um microclima, de características mais mediterrânicas do que o resto da Cantábria, onde o clima é de tipo atlântico. O clima de Liébana é mediterrânico no fundo dos vales, torna-se progressivamente atlântico húmido à medida que se sobe, alcançando características subalpinas no cimos elevados dos Picos da Europa. As temperaturas médias anuais são 28 °C para as máximas e 8 °C para as mínimas. Chove menos do que noutras zonas da Catntábria (800 m anuais em vez dos 1 000–1 200 mm).[6] HistóriaA menção mais antiga a Potes data de 847. Um século depois, há registo de que a vila estava dependente do Mosteiro de São Turíbio de Liébana.[7] Em finais do século XII e início do século XIII figuram como senhorios de Liébana vários membros da Casa de Girón [es]: Rodrigo Gutiérrez Girón (m. 1193), Gonçalo Rodríguez Girón (m. 1231) e Rodrigo González Girón [es] (m. 1256).[8] Gonçalo deve ter sido o senhor mais poderoso da zona, pois também as tenências de Monzón, La Pernía, Gatón de Campos, Herrín de Campos, Peñas Negras, Cervera, Guardo e metade da importante tenência de Carrión, além de ter sido proprietário de vários outros lugares.[9] No final do século XIV, o rei João I de Castela outorgou o senhorio de Liébana ao seu primo João Teles de Castela [es], senhor de Aguilar de Campoo e filho do infante Telo de Castela [es]. Em meados do século XV, a posse do senhorio de Liébana deu origem a uma das frequentes guerras nobiliárias daquele tempo e, posteriormente, a um prolongado litígio judicial entre os marqueses de Aguilar de Campoo [es], herdeiros de João Teles de Castela, e os sucessores do segundo marido da sua esposa, Leonor da Vega (1365–1432), os duques do Infantado da Casa de Mendoza. O pleito terminou em 1576, quando os tribunais se pronuciaram a favor dos últimos, que tiveram a posse da região até ao fim do regime senhorial no século XIX. Na Idade Moderna, a região foi chamada "Província de Liébana" e foi governada por um corregedor e juntas de província, em certa medida com algum nível de autogoverno. Em 1778 essas juntas foram cofundadoras da Província da Cantábria [es][10] Entre 1785 e 1833 essa província fez parte da Intendência de Burgos [es], antecessora da atual província de Burgos. Em 1934, forças esquerdistas assaltaram o quartel da Guarda Civil de Potes durante a Revolução de outubro 1934, detendo os guardas e formando um comité revolucionário, até que, ante o avanço de forças governamentais pelo desfiladeiro de La Hermida, se viram forçados a fugir para as montanhas.[11] MosteirosHá registo da existência de mosteiros em Liébana desde o século VIII, uma consequência da chegada de cristãos da Meseta Central ibérica durante o repovoamento impulsionado por Afonso I das Astúrias, após a expulsão dos muçulmanos. Foram criados mais de uma dezena de cenóbios no território da comarca, entre os quais se destaca o de São Martinho de Turieno, que mais tarde foi rebatizado Mosteiro de São Turíbio de Liébana.[12] Dessas primeiros assentamentos monásticos estão documentados os de São Salvador de Vileña, na serra de Villeña, entre Pembes e Cosgaya, no município de Camaleño, já perto de Fuente Dé; Santa Maria em Cosgaya; São Facundo e São Primitivo em Tanarrio; São Salvador de Osina; São Pedro de Vión; Santa Maria de Baró, São Paulo e São Pedro de Naroba; Santo Adriano e Natália de Sionda em Argüébanes; Santa Maria de Naranco; Santo Estêvão de Mesaina em Mieres; e Santa Leocádia de Cebes.[12][13] No século X foram fundados os mosteiros de Santiago em Colio, São Vicente em Potes, São Julião em Congarna e o de Santa Eulália em Lon. No mesmo século destacou-se o Real Mosteiro de São João de Naranco, situado no sopé da Peña Vieja, que é mencionado pela primeira vez em 932.[14] A maioria destes mosteiros tiveram uma existência efémera e pouca importância, tendo sido rapidamente absorvidos pelo crescimento do de São Turíbio de Liébana e, ainda no século X, pelo de Santa Maria de Piasca [es].[15] EconomiaA economia da região, tradicional baseada no setor primário, é atualmente baseada no turismo rural, devido à sua importância paisagística e à popularidade do Parque Nacional dos Picos da Europa, em cujo território se encontram os municípios de Camaleño, Cillorigo de Liébana e Tresviso. No entanto, o turismo concentra-se quase exclusivamente na localidade de Potes, pelo que o crescimento populacional ali verificado nos últimos anos não ocorre nas outras localidades, que têm taxas de crescimento demográfico negativas. Além do turismo, o setor primário continua a ser importante na economia local, especialmente o cultivo de vinha para produção de vinho e orujo[a] bem como a produção hortofrutícola. Praticamente não há indústrias na comarca. Notas
Referências
Bibliografia
Ligações externas
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