Francisco de Assis Stolze Cardoso, pai de Louise Cardoso assistiu a um filme com Maurice Chevalier. Encantado com uma música da trama, chamada Louise, prometeu a si mesmo que se tivesse uma filha lhe daria o nome da música.[1]
Louise tem um único irmão, dois anos mais novo, de nome Wagner, o compositor que Francisco Cardoso mais apreciava. A paixão da atriz por música vem do pai dela. O que ela mais gosta de fazer em teatro é musical.[2] Toda sua família por parte de mãe fazia teatro em Santana de Sapucaí, atual Silvianópolis no Sul de Minas.[3]
O gosto pela leitura a levou ao curso de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Porém desistiu da faculdade seis meses antes de concluir o curso. O pai lhe deu um conselho que fundamentou sua decisão: "Você é atriz. Por que vai querer um diploma de Letras?".[4]
Louise fez parte de um conjunto musical quando era adolescente. Com quatro amigas formava a banda The Snakes, seguindo os passos do irmão. Tocavam mal, mas o fato de serem bonitinhas facilitava na hora de conseguir apresentações. Era o auge dos Beatles e a atriz era beatlemaníaca de carteirinha. John Lennon era seu beatle preferido. Assistiu ao filme Os Reis do Iê, Iê, Iê (1964) trinta e seis vezes.[5]
Depois de uma estripulia na escola a diretora a colocou como responsável pelo teatro do local. A missão era encenação algo toda sexta-feira. Suas adaptações para o teatro começaram a dar certo e ela passou a se dedicar completamente àquela atividade. Em 1970 entrou para o teatro Tablado, onde tinha aulas com Maria Clara Machado.[6]
Em 1975 na peça O Dragão, dirigida por Maria Clara, Louise fez o papel de um gato. Arrumou um gato de verdade que batizou de Tati e ficava o dia inteiro com ele imitando os movimentos. A intenção era que o gato a enxergasse como um felino também. Com os treinos o gato passou a atacar Louise. A peça foi traduzida por Maria Julieta, filha de Carlos Drummond de Andrade. Com o Dragão ganhou o prêmio de atriz revelação.[7]
Estreou no Teatro profissional, em 1976, com a peça O Quarteto. Louise interpretava uma garota do subúrbio que se envolvia com um homem muito mais velho, papel de Ziembinski. O Quarteto chegou a ser censurada, pois havia cenas picantes entre a garota e o homem mais velho.[10]
Também em 1976 fez A Gata Borralheira, de Maria Clara Machado e dirigida por Wolf Maia. A personagem-título era interpretada por Lucélia Santos.[11]
Em 1979 participou de A Feira Livre, peça de Plínio Marcos direção de Emiliano Queiroz, que era narrado em vinte e nove músicas que os atores cantavam e dançavam: as coreografias era da uruguaia Graciela Figueroa. Plínio assistiu ao espetáculo no Teatro Opinião.[12]
Foi convidada por Marco Nanini para fazer parte da peça Fulaninha e Dona Coisa e acabou sendo uma das produtoras do espetáculo. Foi a primeira peça que produziu, e ficou em cartaz por três anos. Depois foi Neuza Sueli na peça Navalha na Carne de Plínio Marcos.[13]
Os trinta anos de carreira completados em 2007 foram comemorados com a peça Mãe Coragem e seus Filhos, de Bertolt Brecht. Houve montagem do espetáculo no Rio e em Brasília e também no Festival de Curitiba.[14]
Em 2018 aconteceu a estreia da peça O Que é Que Ele Tem com texto baseado o livro do livro homônimo. Louise leu o livro por sugestão de Flávio Marinho que lhe disse que ela iria querer fazer um monólogo. Ela duvidou disso, mas depois de ler o livro ficou apaixonada pela história dele e resolveu que a contaria no Teatro.[15][16]
O livro, lançado em 2016, conta a história da cantora Olívia Byington e o filho dela, João, que nasceu com a síndrome de Apert. Na época do nascimento de João não havia muito conhecimento sobre a síndrome. A peça teve estreia em 2018, tem músicas de Olívia Byington, texto de Renata Miszhari e direção de Fernando Philbert. O Que é Que Ele Tem foi o primeiro monólogo da atriz.[17]
Televisão
Os atores de teatro dos anos 1970 tinham preconceito com a televisão, Louise não era diferente. Considerava o veículo uma coisa menor.
Os primeiros convites para trabalhar na rede Globo surgiram quando encenou a peça O Dragão, em 1975.[18]
O conceito que Louise tinha sobre a televisão mudou quando trabalhou com Ziembinski lhe falou que com a experiência que tinha no teatro nunca seria uma atriz pior. Foi Ziembinski que levou Louise Cardoso para a Globo.[19]
Estreou na emissora como a protagonista do caso especial Ciranda, Cirandinha (1977), de Paulo Mendes Campos e direção de Paulo José.[20] Depois fez a novela Gina.[21] Em seguida fez Marrom Glacê, de Cássio Gabus Mendes.[22] Ainda atuando nessa novela recusou o papel da heroína da novela das oito, Coração Alado, que Janete Clair escrevia especialmente para ela.[23]
Pouco tempo depois dessa recusa foi chamada para o humorístico Viva o Gordo onde atuou por um ano e meio.[23]
Em 1983 fez Champanhe, de Cássio Gabus Mendes, sua primeira novela das oito.[25]
Em 1984 participou na TV Manchete da minissérie Viver a Vida que foi escrita por Manoel Carlos inspirada no filme Um Lugar ao Sol. Foi a protagonista junto com Cláudia Magno e Paulo Castelli.[26] Em 1985 foi a vez de O Tempo e o Vento, série dirigida por Paulo José, em que fez a personagem Bibiana na juventude.[27] Depois fez Tenda dos Milagres com filmagens em Salvador, na Bahia.[28]
Em Cambalacho, de 1986, fez a vilã Daniele, que passou a fazer parte da trama no capítulo oitenta.[29]
Na novela Mico Preto, de 1990, foi a mocinha ingênua Cláudia.[30]
Em 1992 fez a Gilda na Deus nos Acuda, escrita por Sílvio de Abreu e dirigida por Jorge Fernando.[31] Também em 1992 fez uma participação de vinte capítulos em 1992 na novela Felicidade, de Manoel Carlos.[32]
Em 1995 fez a professora Laurinha de Cara e Coroa, novela de Antônio Calmon, dirigida por Wolf Maya.[33] Na novela Zazá, de 1997 deu vida à secretária argentina Mercedes Hidalgo que jurava ser carioca de Madureira e tinha um caso com seu patrão, personagem de Cecil Thiré. O bordão da personagem em portunhol fez sucesso: "Sou cariôca".[34]
Em 2004 foi chamada para trabalhar emComo uma Onda, novela de Walther Negrão.[37]
A Mulher do Barbosa
Em 1988 estreou o humorístico TV Pirata, dirigido por Guel Arraes. Faziam parte do elenco dez atores que faziam diversos personagens. Uma das suas personagens preferidas era Clotilde, esposa do Barbosa, personagem de Ney Latorraca. Clotilde e Barbosa faziam parte da novela Fogo no Rabo, paródia da novela Roda de Fogo. Louise passou a ser reconhecida nas ruas como a mulher do Barbosa.[38][39]
Cada um dos atores da TV Pirata homenageava um ator. A Clotilde de Louise era inspirada nas atrizes Renata Sorrah e Natália do Vale. A enfermeira Wanda era uma das personagens preferidas. A atriz se inspirou em Marilyn Monroe, principalmente na parte do biquinho. Símbolo sexual do programa o slogan da personagem era: Pastilhas Wanda, chupe Wanda. Outra personagem de Louise era a grã-fina Isabelle Duffon de Montpellier, do quadro As Presidiárias, que tinha um caso com o Tonhão, personagem de Cláudia Raia.[40][41]
A atriz saiu do programa em 1990 - Cláudia Raia também - para dar uma refrescada, fazer uma novela. Maria Zilda Bethlem e Denise Fraga se juntaram ao elenco depois da saída das duas atrizes.[42] Louise Combinou com Guel Arraes de voltar no ano seguinte. Porém o programa saiu do ar inexplicavelmente.[43]
A TV Pirata acabou retornando em abril de 1992, com episódios mensais sobre temas específicos. O último episódio foi exibido em 8 de dezembro de 1992.[42]
Sua consagração no cinema só viria em 1986 no filme Baixo Gávea ao interpretar Ana, uma atriz gay que fazia o papel do poeta português Mário de Sá carneiro, que coincidentemente é um dos seus poetas preferidos. Pelo filme foi eleita 'Melhor Atriz' pelo Festival de Brasília.[61][62] No ano seguinte, foi destaque novamente, desta vez na pele da protagonista Leila Diniz, nome homônimo da obra, garantindo a premiação pelo segundo ano consecutivo.[63][64] Além disso, também fez atuações em Urubus e Papagaios como Inês e Sonhos de Menina-Moça, dirigido por Teresa Trautman, esta última atuando como Beatriz, eleita 'Melhor Atriz Coadjuvante em filme' no Prêmio APCA.[65][66][67] Concluiu o decênio na curta-metragem Por Dúvida das Vias.[68]
Louise interpretou Leila Diniz no filme homônimo de 1987. Recebeu o convite do diretor do filme Luis Carlos Lacerda. Mesmo com agenda apertada, estava fazendo filme, novela e teatro, aceitou o convite, pois sentia que a própria Leila Diniz a tinha escolhido para o papel. Afinal, a atriz que viveria Leila Diniz, Tássia Camargo, ficou grávida e não pôde fazer o filme. A mãe de Leila lhe deu os diários da filha e Louise conversou com os amigos íntimos e irmãs da atriz.[81] A irmã de Leila, Lígia, estudava na mesma escola de Louise. À época Leila estava no elenco da novela Eu Compro Essa Mulher em que interpretava a personagem Úrsula.[82] A atriz ia ao colégio buscar a irmã e Louise ficava olhando para ela.[83] A preparação de Louise para o filme durou seis meses e as gravações duraram dois meses.[84]
Vida pessoal
Nas filmagens do filme Leila se apaixonou perdidamente pelo ator Carlos Alberto Riccelli. Porém não aconteceu nada porque na época ambos eram casados. Riccelli aparecia nos sonhos de Louise toda noite.[85]
Louise nunca se casou de papel passado. Quando bem jovem ouviu do pai que atriz não casava, juntava. Ela diz não ser contra o casamento, mas não aconteceu. Namorou o diretor Guel Arraes, o empresário paulista Ricardo Aranovich, morou junto com o fotógrafo belga Jean Louis e a relação terminou quando ele voltou para a Bélgica. Depois namorou o português Filipe Tenreiro que a dirigiu na peça A Rosa Tatuada. Na época da peça eles na haviam terminado. Também namorou o diretor Fernando Philbert que conheceu quando participou da novela Zazá.[86]