Diz a lenda oficial que Mariano José de Larra foi um homem turbulento, emotivo e sofredor, como corresponde ao clichê romântico. Aos 27 anos, no flor da idade e no auge do êxito, apaixonou-se por uma mulher casada e, por puro desespero, acabou por se matar, com um tiro na cabeça. Mas as lendas, como se sabe, esquematizam e não raro traem os fatos. A vida de Larra tem muitos mais ingredientes, mais matizes e um bom de número de enigmas não resolvidos.
Era um jovem de estatura baixa, bem apessoado e julgado chato pela história. As gravuras o mostram com bochechas carnudas, boca frouxa, olhos grandes e ovalados. Um rosto mole e algo bovino, arrematado por um topete de cabelo, no qual cada cacho era fixado com precisão. Era meticuloso, obsessivamente minucioso, ao se vestir e pentear, como costumam ser os adolescentes românticos que se sentem feios. Foi criança-prodígio e adulto precoce. Seus textos, brilhantes e profundos, são apreciados até hoje.