O Livro dos Espíritos (na língua francesa, Le Livre des Esprits) é o primeiro livro da Codificação Espírita publicado por Hippolyte Léon Denizard Rivail sob o pseudônimo de Allan Kardec. Esta obra contém os princípios do Espiritismo sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as Leis Morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade (segundo os ensinamentos dos Espíritos Superiores, através de diversos médiuns, recebidos e ordenados por Allan Kardec). É uma das oito obras fundamentais para o estudo da Doutrina Espírita juntamente com: O Que É o Espiritismo? (1859); O Livro dos Médiuns (1861); O Evangelho segundo o Espiritismo (1863); O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo (1865); A Gênese - os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (1868), Obras Póstumas (1890) e Revista Espírita (1858–1869).
História
A obra veio a público em 18 de abril de 1857, lançada no Palais Royal, em Paris, na forma de perguntas e respostas, originalmente compreendendo 501 itens. Foi fruto dos estudos de Kardec sobre fenômenos como mesas girantes, psicografia e psicofonia, difundidos por toda a Europa e Estados Unidos em meados do século XIX, e que, segundo muitos pesquisadores da época, possuíam origem mediúnica. Foi o primeiro de uma série de cinco livros editados pelo pedagogo sobre o mesmo tema.
As médiuns que serviram a esse trabalho foram inicialmente as jovens Caroline e Julie Boudin (respectivamente, com 16 e 14 anos à época), às quais mais tarde se juntou Celine Japhet (com 18 anos à época) e a senhorita Ermmance Defaux (14 anos na época), que teria como guia espiritual São Luiz, no processo de revisão do livro. Após o primeiro esboço, o método das perguntas e respostas foi submetido à comparação com as comunicações obtidas por outros médiuns franceses, num total de "mais de dez", nas palavras de Kardec, cujos textos psicografados contribuíram para a estruturação do texto.
Segundo Canuto de Abreu, na página 7 de "O Primeiro Livro dos Espíritos", a segunda edição francesa foi lançada em 18 de março de 1860, tendo O Livro dos Espíritos, naquela reimpressão, sido revisto quase "como trabalho novo, embora os princípios não hajam sofrido nenhuma alteração, salvo pequeníssimo número de exceções, que são antes complementos e esclarecimentos que verdadeiras modificações".[1] Para esta revisão, Kardec manteve contato com grupos espíritas de cerca de 15 países da Europa e das Américas. Nesta segunda edição é que aparecem 1018 perguntas e respostas, sendo que algumas edições atuais trazem 1019 perguntas, acréscimo que, segundo a Federação Espírita Brasileira (FEB), foi devido ao Codificador não ter numerado a pergunta imediatamente após a 1010, aquela que seria a 1011. Assim sendo, o livro teria, na prática, 1019 e não, 1018 perguntas.
Características
O Livro dos Espíritos é a obra fundadora do Espiritismo. Ele trata dos aspectos científico, filosófico e religioso da doutrina, lançando as bases que seriam posteriormente aprofundadas, por Allan Kardec, nas demais obras da Codificação Espírita. A sua edição definitiva é composta de quatro partes: Livro Primeiro - Causas primeiras; Livro Segundo - Mundo espiritual ou dos Espíritos; Livro Terceiro - Leis morais; Livro Quarto - Esperanças e consolações.[2]
A obra encontra-se divida da seguinte forma:[2]
- INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA
- PROLEGÔMENOS
- LIVRO PRIMEIRO - AS CAUSAS PRIMÁRIAS
- CAPÍTULO I - DEUS
- I - Deus e o Infinito
- II - Provas da Existência de Deus
- III - Atributos da Divindade
- IV - Panteísmo
- CAPÍTULO II - ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO
- I - Conhecimento do Princípio das Coisas
- II - Espírito e Matéria
- III - Propriedades da Matéria
- IV - Espaço Universal
- CAPÍTULO III - CRIAÇÃO
- I - Formação dos Mundos
- II - Formação dos Seres Vivos
- III - Povoamento da Terra. Adão
- IV - Diversidade das Raças Humanas
- V - Pluralidade dos Mundos
- VI - Considerações e Concordâncias Bíblicas Referentes à Criação
- CAPÍTULO IV - PRINCÍPIO VITAL
- I - Seres Orgânicos e Inorgânicos
- II - A Vida e a Morte
- III - Inteligência e Instinto
- LIVRO SEGUNDO - MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
- CAPÍTULO I - DOS ESPÍRITOS
- I - Origem e Natureza dos Espíritos
- II - Mundo Normal Primitivo
- III - Forma e Ubiquidade dos Espíritos
- IV - Perispírito
- VI - Escala Espírita
- VII - Progressão dos Espíritos
- VIII - Anjos e Demônios
- CAPÍTULO II - ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS
- I - Finalidade da Encarnação
- II - Da Alma
- III - Materialismo
- CAPÍTULO III - RETORNO DA VIDA CORPÓREA À VIDA ESPIRITUAL
- I - A Alma após a Morte. Sua Individualidade. Vida Eterna
- II - Separação da Alma e do Corpo
- III - Perturbação Espírita
- CAPÍTULO IV - PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS
- I - Da reencarnação
- II - Justiça da Reencarnação
- III - Encarnação nos Diferentes Mundos
- IV - Transmigração Progressiva
- V - Sorte das Crianças Após a Morte
- VI - Sexo nos Espíritos
- VII - Parentesco, Filiação
- VIII - Semelhanças Físicas e Morais
- IX - Ideias Inatas
- CAPÍTULO V - CONSIDERAÇÕES SOBRE A PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS
- CAPÍTULO VI - VIDA ESPÍRITA
- I - Espíritos Errantes
- II - Mundos Transitórios
- III - Percepções, Sensações e Sofrimentos dos Espíritos
- IV - Ensaio Teórico Sobre a Sensação dos Espíritos
- V - Escolha das Provas
- VI - Relações de Além-Túmulo
- VII - Relações Simpáticas e Antipáticas dos Espíritos. Metades Eternas
- VIII - Lembrança da Existência Corpórea
- IX - Comemoração dos Mortos. Funerais
- CAPÍTULO VII - RETORNO À VIDA CORPORAL
- I - Prelúdio do Retorno
- II - União da Alma com o Corpo. Aborto
- III - Faculdades Morais e Intelectuais
- IV - Influência do Organismo
- V - Idiotismo e Loucura
- VI - Da Infância
- VII - Simpatias e Antipatias Terrenas
- VIII - Esquecimento do Passado
- CAPÍTULO VIII - EMANCIPAÇÃO DA ALMA
- I - O Sono e os Sonhos
- II - Visitas Espíritas Entre Vivos
- III - Transmissão Oculta de Pensamentos
- IV - Letargia, Catalepsia, Morte Aparente
- V - O Sonambulismo
- VI - Êxtase
- VII - Dupla Vista
- VIII - Resumo Teórico do Sonambulismo, do Êxtase e da Dupla Vista
- CAPÍTULO IX - INTERVENÇÕES DOS ESPÍRITOS NO MUNDO CORPÓREO
- I - Penetração do Nosso Pensamento Pelos Espíritos
- II - Influência Oculta dos Espíritos Sobre os Nossos Pensamentos e Nossas Ações
- III - Possessos
- IV - Convulsionários
- V - Afeição dos Espíritos por Certas Pessoas
- VI - Anjos da Guarda, Espíritos Protetores, Familiares ou Simpáticos
- VII - Pressentimentos
- VIII - Influência dos Espíritos Sobre os Acontecimentos da Vida
- IX - Ação dos Espíritos Sobre os Fenômenos da Natureza
- X - Os Espíritos Durante os Combates
- XI - Dos Pactos
- XII - Poder Oculto, Talismãs, Feiticeiros
- XIII - Bênção e Maldição
- CAPÍTULO X - OCUPAÇÕES E MISSÕES DOS ESPÍRITOS
- CAPÍTULO XI - OS TRÊS REINOS
- I - Os minerais e as Plantas
- II - Os animais e o Homem
- III - Metempsicose
- LIVRO TERCEIRO - AS LEIS MORAIS
- CAPÍTULO I - A LEI DIVINA OU NATURAL
- I - Caracteres da Lei Natural
- II - Conhecimento da Lei Natural
- III - O Bem e o Mal
- IV - Divisão da Lei Natural
- CAPÍTULO II - LEI DE ADORAÇÃO
- I - Finalidade da Adoração
- II - Adoração Exterior
- III - Vida Contemplativa
- IV - Da Prece
- V - Politeísmo
- VI - Sacrifícios
- CAPÍTULO III - LEI DO TRABALHO
- I - Necessidade do Trabalho
- II - Limite do Trabalho. Repouso
- CAPÍTULO IV - LEI DA REPRODUÇÃO
- I - População do Globo
- II - Sucessão e Aperfeiçoamento das Raças
- III - Obstáculos à Reprodução
- IV - Casamento e Celibato
- V - Poligamia
- CAPÍTULO V - LEI DA CONSERVAÇÃO
- I - Instinto de Conservação
- II - Meios de Conservação
- III - Gozo dos Bens da Terra
- IV - Necessário e Supérfluo
- V - Privações Voluntárias. Mortificações
- CAPÍTULO VI - LEI DE DESTRUIÇÃO
- I - Destruição Necessário e Destruição Abusiva
- II - Flagelos Destruidores
- III - Guerras
- IV - Assassino
- V - Crueldade
- VI - Duelo
- VII - Pena de Morte
- CAPÍTULO VII - LEI DE SOCIEDADE
- I - Necessidade da Vida Social
- II - Vida de Isolamento. Voto de Silêncio
- III - Laços de Família
- CAPÍTULO VIII - LEI DO PROGRESSO
- I - Estado Natural
- II - Marcha do Progresso
- III - Povos Degenerados
- IV - Civilização
- V - Progresso da Legislação Humana
- VI - Influência do Espiritismo no Progresso
- CAPÍTULO IX - LEI DE IGUALDADE
- I - Igualdade Natural
- II - Desigualdade de Aptidões
- III - Desigualdades Sociais
- IV - Desigualdade das Riquezas
- V - Provas da Riqueza e da Miséria
- VI - Igualdade dos Direitos do Homem e da Mulher
- VII - Igualdade Perante o Túmulo
- CAPÍTULO X - LEI DE LIBERDADE
- I - Liberdade Natural
- II - Escravidão
- III - Liberdade de Pensamento
- IV - Liberdade de Consciência
- V - Livre-Arbítrio
- VI - Fatalidade
- VII - Conhecimento do Futuro
- VIII - Resumo Teórico do Móvel das Ações Humanas
- CAPÍTULO XI - LEI DE JUSTIÇA, AMOR E CARIDADE
- I - Justiça e Direito Natural
- II - Direito de Propriedade. Roubo
- III - Caridade e Amor ao Próximo
- IV - Amor Maternal e Filial
- CAPÍTULO XII - PERFEIÇÃO MORAL
- I - As Virtudes e os Vícios
- II - Das Paixões
- III - Do Egoísmo
- IV - Características do Homem de Bem
- V - Conhecimento de Si Mesmo
- LIVRO QUARTO - ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES
- CAPÍTULO I - PENAS E GOZOS TERRENOS
- I - Felicidade e Infelicidade Relativas
- II - Perda de Entes Queridos
- III - Decepções, Ingratidão, Quebra de Afeições
- IV - Uniões Antipáticas
- V - Preocupação com a Morte
- VI - Desgosto pela Vida. Suicídio
- CAPÍTULO II - PENAS E GOZOS FUTUROS
- I - O Nada. A Vida Futura
- II - Intuição das Penas e dos Gozos Futuros
- III - Intervenção de Deus nas Penas e Recompensas
- IV - Natureza das Penas e Gozos Futuros
- V - Penas Temporárias
- VI - Expiação e Arrependimento
- VII - Duração das Penas Futuras
- VIII - Ressurreição da Carne
- IX - Paraíso, Inferno, Purgatório. Paraíso Perdido. Pecado Original
- CONCLUSÃO
Censura
Em setembro de 1861 o Sr. Lachâtre encomendou, de Barcelona, 300 volumes de obras espíritas, dentre as quais O Livro dos Espíritos. Ao chegarem, os livros foram apreendidos pelo bispo local, num episódio que ficou conhecido como "Auto de fé de Barcelona". A sentença foi executada a 9 de outubro, data que marca a intolerância religiosa, reagindo contra a divulgação da Doutrina Espírita.
A 1 de maio de 1864, a Igreja Católica incluiu a obra no "Index Librorum Prohibitorum" - o catálogo das obras cuja leitura é vedada aos seus fiéis.
Referências
- ↑ Abreu, Canuto (1957). O Primeiro Livro dos Espíritos. São Paulo: Companhia Editora Ismael
- ↑ a b KARDEC, Allan [Tradução de Evandro Noleto Bezerra a partir da 2ª, 4ª, 5ª, 6ª, 10ª e 12ª edições francesas] (2016). O Livro dos Espíritos. 4ª ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira (FEB). ISBN 978-85-7328-752-3
Bibliografia
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. [Tradução de Evandro Noleto Bezerra]. 4ª Edição. Brasília: FEB, 2016.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. [Tradução de Salvador Gentile com revisão de Elias Barbosa]. 182ª Edição. Araras, SP: IDE, 2009.
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