Palácios de Pena
Palácios de Pena é uma média-metragem de fantasia portuguesa de 2011, realizada, escrita e editada por Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt.[1][2] O filme retrata o modo como duas pré-adolescentes (interpretadas por Andreia Martina e Catarina Gaspar) enfrentam uma herança cultural de opressão durante a visita à sua avó doente (papel interpretado por Alcina Abrantes).[3] A obra foi selecionada para a secção "Horizontes" da 68ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza, onde estreou a 2 de setembro de 2011.[4] A sua primeira exibição pública em Portugal decorreu no ano seguinte, a 1 de maio, no âmbito do 9° Festival IndieLisboa.[5] Ao longo da sua distribuição, Palácios de Pena foi multipremiado, nomeadamente com os prémios de melhor filme narrativo no Ann Arbour Film Festival e no Chicago Underground Film Festival.[6] SinopseDuas primas de classe média alta vivem a sua pré-adolescência sem rumo, indiferentes a incêndios florestais, globalização, património mundial da UNESCO e tudo o que as rodeia. Mantêm uma relação fria e estranhamente distante entre si. Reencontram-se finalmente quando visitam a sua avó assim que esta fica doente. Esta visita leva-as a perceber que são uma geração alheia ao passado. As famílias querem que as jovens compitam pela avó, para que esta decida qual delas herdará a sua fortuna, a centenária propriedade e palacete lisboetas.[7] Nos momentos que passam no palacete, as meninas fantasiam com um passado medieval, a opressão do fascismo e a história colonial portuguesa. A avó doente também contribui ao descrever um sonho em que ela é juíza da Inquisição. Entre estas fantasias, surge a condenação de dois mouros homossexuais à queima na fogueira. Afinal, a ignorância das jovens estava aliada a uma vontade familiar de oprimir violentamente. Ao acordar, as meninas descobrem que a avó morreu. Uma delas consegue obter a herança total do testamento às custas da outra. As primas tentam enfrentar toda a sua herança expressando sentimentos de medo, desejo e culpa.[8] Elenco
Equipa técnica
ProduçãoPalácios de Pena é uma média-metragem iniciada no contexto da exibição "O Dia pela Noite", após um convite do Lux Frágil. O projeto viria a ser produzido pela A Mutual Respect Productions, com a participação financeira da EDP.[11] O então recém-criado Fundo de Apoio à Produção IndieLisboa/FNAC atribuiu diretamente um apoio de oito mil euros a Gabriel Abrantes, por este ter vencido o Prémio Talento Fnac em 2009 e o Grande Prémio da Competição Nacional do IndieLisboa em 2010.[12] Segundo o diretor do Indielisboa, esta opção deveu-se também ao facto de que com a entrada na secção competitiva Orizontti do Festival de Veneza, Palácios de Pena teria de ser finalizado com urgência.[13] RodagemO filme foi rodado em Portugal, em película Kodak S-16 mm, transferida posteriormente para Video HD.[14]. Os atores não-profissionais não puderam ler o argumento antes das gravações. Tentando inverter o Método de Interpretação para o Ator, os autores ditavam o texto de cada cena para que os atores repetissem enquanto as câmaras rodavam. Não tendo sido gravado som ao vivo, todos os diálogos foram dobrados à posteriori.[15] Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt pediram ao elenco para sussurrar as suas falas diretamente para um microfone, num tom monótono, para que esta entrega artificial contrastasse com a linguagem melodramática do argumento original, que hiperboliza os estados emocionais dos personagens.[16] Estilo e temasGabriel Abrantes pretendia fazer um filme em Portugal que explorasse a relação do cinema com a nação, particularmente como máquina propagandística de mitos nacionais (tomando como exemplo os filmes americanos O Nascimento de uma Nação de D. W. Griffith e 00:30 Hora Negra de Kathryn Bigelow). Deste modo, Palácios de Pena procura explorar o fardo da memória de Portugal representando o seu impacto através de uma amálgama radicalmente estilizada de histórias de cavaleiros, inquisições religiosas, mouros, mensagens de texto e pinturas.[17] Deste modo, o filme mistura filme de época e género melodramático, desfile medieval com alegoria política, imagens da infância com o imaginário histórico e social. Por isso as protagonistas são adolescentes, fase da vida em que se navega entre o amoral e o moral, a criança e o adulto, existindo tanta responsabilização própria como um estado de suspensão mágica.[18] Nas palavras dos autores "queríamos ver como a história do governo de Portugal, que sancionou a xenofobia e a intolerância sexual desde a inquisição ao fascismo, apareceria no rico círculo adolescente de Lisboa".[16] Continuidade artísticaAinda que Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt se tenham conhecido em Nova Iorque e não tenham crescido em Portugal, os três filmes que fizeram em colaboração até 2018 (A History of Mutual Respect, Palácios de Pena e Diamantino) estão relacionados com a cultura portuguesa.[19][20] Abrantes considera que todas as obras abordam como boas intenções podem tornar-se a base de hipocrisia ou ignorância "e em como as noções de multiculturalismo e respeito mútuo muitas vezes partem do discurso de uma cultura dominante que intenta justificar, subliminarmente, o seu predomínio através da falsa promoção de valores que supostamente se baseiam numa procura de igualdade".[21] Ainda que Diamantino se distinga das obras anteriores no seu tom e uso de comédia[22], em termos de narrativa, a dupla de cineastas evita nestes filmes mecanismos literários meta-narrativos, de fragmentação ou não-lineares, mostrando-se interessada em trabalhar numa estrutura mais clássica tradicional, como forma de reação à abertura e flexibilidade que surgiram do pós-modernismo.[16][23] DistribuiçãoLançamentoPalácios de Pena teve a sua estreia mundial na 68º edição do Festival de Cinema de Veneza, onde foi exibido a 2 e 3 de setembro de 2011.[24] Gabriel Abrantes mostrou-se muito satisfeito pela seleção do filme para integrar a secção Horizontes: "Representa um grande salto no meu trabalho porque é um festival muito importante".[25] Em Portugal, a sua primeira exibição pública foi a 1 de maio de 2012, na secção Observatório Curtas do 9° Festival IndieLisboa.[26] FestivaisO filme percorreu um circuito de Festivais internacionais de cinema, dos quais se destacam os seguintes:
Exposições e mostrasPalácios de Pena integrou também vários espaços e eventos de arte, de entre os quais:
ReceçãoCríticaO filme foi geralmente bem recebido pela crítica. Joe Bowman (Fin de cinéma) listou Palácios de Pena entre os seus 100 filmes favoritos dos anos 2010.[32] O curador Adam Pugh, escrevendo para Experimenta blog, elogia a cinematografia de Natcho Checa e Eberhard Schedl e admira a dificuldade em categorizar este filme pelo modo como promove "uma curiosa disjunção tanto na narrativa como na forma".[33] Em Filmuforia, o crítico Michael Pattison apresenta uma opinião mais moderada. Também elogia a cinematografia pelo modo como "desmente o orçamento aparentemente escasso do filme, enquanto Abrantes e Schmidt demonstram muito tato em disfarçar a sua falta de recursos, principalmente por meio de cortes oportunos e cenários remotos bem escolhidos". Ainda assim, considera que os autores não assumiram um compromisso sincero de questionar o status quo com a sua abordagem à temática do filme.[34] Na sua crítica Conrado Heoli (Papo de cinema) atribui apenas uma estrela a Palácios de Pena, apelidando o filme de "obra irregular e oca, por vezes risível", uma vez que "toda sua promissora introdução é logo suprimida pela lacuna de objetividade de Abrantes e Schmidt, que parecem perdidos no abstracionismo de suas ideias – ou da falta delas".[35] PremiaçõesApresentam-se de seguida as nomeações e premiações de Palácios de Pena:
Referências
Ligações externas
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