Recuperação verdePacotes de recuperação verde são propostas de reformas ambientais, regulatórias e fiscais para construir prosperidade após uma crise econômica, como a pandemia de COVID-19 ou a crise financeira de 2007–2008. Eles dizem respeito a medidas fiscais que visam recuperar o crescimento econômico e, ao mesmo tempo, beneficiar positivamente o meio ambiente, incluindo medidas relacionadas a energia renovável, eficiência energética, soluções baseadas na natureza, transporte sustentável [en], ecoinovação e empregos verdes, entre outras.[1][2][3][4] Vários partidos políticos, governos, ativistas e acadêmicos em toda a União Europeia, apoiaram a recuperação verde em resposta à pandemia de COVID-19,[5] além de Reino Unido,[6][7] Estados Unidos,[8][9] e outros países. Seguindo medidas similares em resposta à crise de 2007–2008,[10] uma parte fundamental dos pacotes é garantir que as ações de combate à recessão também combatam o aquecimento global, incluindo a redução do uso de carvão, petróleo e gás, transporte limpo, energia renovável, edifícios ecologicamente corretos e práticas corporativas ou financeiras sustentáveis. Essas iniciativas são apoiadas pela Organização das Nações Unidas e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.[11] Várias iniciativas globais forneceram rastreamento ao vivo das respostas fiscais nacionais, incluindo o Observatório de Recuperação Global (da Universidade de Oxford, das Nações Unidas e do Fundo Monetário Internacional),[12] o Rastreador de Política Energética (de um consórcio de seis organizações),[13] e o Rastreador de Recuperação Verde da OCDE.[14] Delineando entre investimento de resgate e recuperação, uma análise da Universidade de Oxford em março de 2021 descobriu que 18% do investimento de recuperação e 2,5% do total de gastos foram verdes.[1] Em julho de 2021, a Agência Internacional de Energia apoiou essa análise, observando que apenas cerca de 2% do dinheiro econômico mundial de bailout iria para energia limpa.[15] De acordo com uma análise de 2022 dos 14 trilhões de dólares que os países do G20 gastaram como estímulo econômico, apenas cerca de 6% dos gastos com a recuperação da pandemia foram alocados para áreas que também reduzirão as emissões dos gases do efeito estufa, incluindo veículos eletrificados, edifícios mais eficientes em termos energéticos e instalação de energias renováveis.[16] AntecedentesDesde a Revolução Industrial, a queima de carvão, petróleo e gás liberou milhões de toneladas de dióxido de carbono, metano e outros gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera, causando o aquecimento global. Em 2020, a temperatura média da Terra aumentou mais de 1 °C desde os níveis pré-industriais. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas calculou que continuar a queimar combustíveis fósseis aquecerá o planeta entre 0,8 a 2,5 °C por mil gigatoneladas de queima de carbono[17] e que 2,9 mil gigatoneladas de carbono permanecem em reservas comprovadas.[18] A queima de uma fração das reservas de combustível fóssil levará, portanto, a um aquecimento planetário perigoso, resultando em quebras generalizadas de colheitas e na extinção em massa do Holoceno.[19] Até o final de 2019, incidentes crescentes de incêndios florestais na Austrália, na floresta amazônica no Brasil, e nas florestas do Ártico na Rússia [en] foram relatados,[20] bem como o aumento dos riscos de furacões nos Estados Unidos e no Caribe e inundações. Em 2015, a maioria dos países assinou o Acordo de Paris comprometendo-se a limitar as emissões globais de carbono para evitar aumentos de temperatura em mais de 2 °C, com a ambição de limitar o aumento de temperatura a 1,5 °C. Ativistas e políticos, principalmente os mais jovens, exigiram um "Green New Deal" nos EUA,[21] e uma Revolução Industrial Verde no Reino Unido,[22] para acabar com o uso de combustíveis fósseis nos transportes, geração de energia, agricultura, edifícios e finanças. No final de 2019, a UE anunciou um Acordo Verde Europeu, embora isso tenha ficado muito aquém da meta de acabar com o uso de combustíveis fósseis no bloco até 2050.[23] No início de 2020, a pandemia de COVID-19 fez com que os países fechassem suas economias, na tentativa de prevenir infecções e mortes. Isso exigiu que muitas empresas suspendessem o trabalho, pois as pessoas viajavam menos, compravam menos e ficavam em casa para trabalhar mais. Na maioria dos países, isso causou perdas de empregos. A queda da atividade econômica também causou uma queda nas emissões de GEE.[24][25] Em discursos anteriores, os efeitos colaterais positivos das políticas verdes foram denominados co-benefícios [en]. De acordo com o IPCC, co-benefícios são "os efeitos positivos que uma política ou medida destinada a um objetivo pode ter sobre outros objetivos, independentemente do efeito líquido no bem-estar social geral".[26] Energias renováveis podem impulsionar o emprego e o desenvolvimento industrial. Dependendo do país e do cenário de implantação, a substituição de usinas a carvão por energia renovável pode mais que dobrar o número de empregos por capacidade média de MW (embora isso represente uma perda concomitante de 50% de produtividade).[27] Além dos efeitos econômicos, as estratégias de mitigação do clima podem fornecer co-benefícios relacionados à saúde. Minirredes solares podem melhorar o acesso à eletricidade para áreas rurais[28] e a substituição da energia à base de carvão por energias renováveis pode diminuir o número de mortes prematuras causadas pela poluição do ar.[29] Propostas de recuperação verdeNos Estados Unidos, um grupo de acadêmicos e ativistas introduziu "um estímulo verde para reconstruir nossa economia" em março de 2020.[9][30] O menu de políticas visava oito campos: habitação e infraestrutura cívica, transporte, trabalho e manufatura verde, geração de energia, alimentos e agricultura, meio ambiente e infraestrutura verde, política de inovação e política externa. Seu nível de financiamento solicitado foi fixado em 4% do PIB dos EUA, ou cerca de 850 bilhões de dólares por ano, até a dupla conquista da descarbonização total e uma taxa de desemprego abaixo de 3,5%.[9][30] No Reino Unido, o governo propôs "uma recuperação verde e resiliente" e anunciou 3 bilhões de libras em financiamento para reformas de edifícios em julho de 2020.[31] Por outro lado, no início de julho, um grupo acadêmico e think tank propôs uma "Lei de Recuperação Verde" que visava nove campos: transporte, geração de energia, agricultura, combustíveis fósseis, governo local, acordo internacional, finanças e governança corporativa, emprego e investimento. Isso estabeleceu deveres em todos os órgãos públicos e reguladores para acabar com o uso de combustíveis fósseis "tão rápido quanto tecnologicamente praticável", com exceções estritas se alternativas técnicas forem ausentes.[7][32] Em junho de 2020, o governo alemão prometeu uma recuperação verde com financiamento de 40 bilhões de euros como parte de um pacote de 130 bilhões de recuperação.[33] Em julho de 2020, o Conselho Europeu concordou com um fundo de recuperação de 750 bilhões de euros, com a marca Next Generation EU [en] (NGEU). Uma meta climática global de 30% será aplicada ao montante total das despesas do NGEU em conformidade com o acordo climático de Paris.[34] Em fevereiro de 2021, comentaristas como o Conselho de Relações Exteriores observaram que outras grandes economias, como China, Índia e União Europeia, começaram a "implementar algumas das políticas previstas pelo Green New Deal".[35][36] Na primavera de 2021, o presidente dos EUA Joe Biden apresentou planos, como parte de seu Build Back Better Plan, que incorporou princípios de recuperação verde, incluindo investimentos em captura e armazenamento de carbono, energia renovável e um Corpo Civil Climático semelhante ao Corpo de Conservação Civil [en] da Grande Depressão. Os progressistas criticaram os planos como não suficientemente ambiciosos.[37][38][39][40] Uma atualização de 2021 ao Alerta dos Cientistas do Mundo para a Humanidade [en] mostrou que 17% dos fundos de investimentos em recuperação da COVID-19 que haviam sido alocados para uma recuperação verde em março de 2021 eram insuficientes. Os cientistas alertaram que as políticas climáticas devem fazer parte da recuperação da COVID-19, e exigiram que os planos tratassem das causas básicas e que reduções imediatas e drásticas nos gases do efeito estufa fossem priorizadas.[41][42] De acordo com uma análise de 2021 do Overseas Development Institute, a China poderia fazer mais para apoiar uma recuperação verde nos países em desenvolvimento.[43] As tecnologias digitais são importantes para alcançar a transição verde e os objetivos ambientais do Acordo Verde Europeu. As tecnologias digitais emergentes, se aplicadas corretamente, têm o potencial de desempenhar um papel crítico na abordagem de questões ambientais. Mobilidade inteligente de cidades, agricultura de precisão, cadeias de suprimentos sustentáveis, monitoramento ambiental e previsão de catástrofes são alguns exemplos.[44][45] Empresas avançadas digitalmente investem mais dinheiro em estratégias de economia de energia. Na União Europeia, 59% das empresas que fizeram investimentos em tecnologias básicas e avançadas também investiram em medidas de eficiência energética, em comparação com apenas 50% das empresas EUA na mesma categoria. No geral, há uma disparidade significativa entre os perfis digitais das empresas e os investimentos em eficiência energética.[44] No Brasil, ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central assinaram em 2020 uma carta-manifesto por uma recuperação econômica sustentável.[46] EconomiaO crescimento econômico tem sido um dos principais impulsionadores das emissões de CO2.[47] Preço de emissõesUm governo pode especificar um preço de emissões de GEE e usar esse número para definir alíquotas de impostos para empresas e, possivelmente, residências.[48] Os impostos de carbono são considerados especialmente úteis, porque as receitas fiscais pagam os gastos do governo enquanto reduzem as emissões de GEE.[48] Há um consenso entre os economistas que os impostos sobre o carbono são o método de menor custo para reduzir as emissões.[49] Poucos países implementaram tais impostos, devido à resistência do público e da indústria. O imposto é tipicamente regressivo.[50][51] Liberalização e reestruturação dos mercados de energia [en] ocorreram em vários países e regiões, incluindo a UE, África, América Latina, e os EUA. Estas políticas foram concebidas principalmente para aumentar a concorrência no mercado, mas podem ter um impacto significativo nas emissões. A reforma poderia permitir que o mercado respondesse melhor aos sinais de preço atribuído às emissões. Em 2020, estimou-se que, até 2022, a substituição de todas as centrais elétricas a carvão existentes por energias renováveis e armazenamento seria lucrativa no total, mas que "Uma barreira fundamental para acelerar a eliminação progressiva é que a grande maioria (93 por cento) das usinas de carvão globais são isoladas da concorrência das energias renováveis por contratos de longo prazo e tarifas não competitivas".[52] Notas
Referências
Leitura adicional
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