Concluídos seus estudos, Sinésio viajou para Atenas, porém tanto a própria cidade como sua ativa escola neoplatônica o decepcionaram profundamente.[b] De regresso a Cirene, no ano 399 seus concidadãos o encarregaram de chefiar uma comitiva para solicitar ao imperador que reduzisse os impostos exigidos a Pentápole. Para cumprir sua tarefa, Sinésio mudou-se para Constantinopla, onde permaneceu por três anos. Em seu discurso Acerca da realeza (latim: De regno), pronunciado diante o imperador Arcádio, criticou o abuso de poder e a corrupção, assim como o fato de as defesas das fronteiras terem sido confiadas a germânicos, que Sinésio considerava bárbaros.[4]
Sua estadia de três anos em Constantinopla, foi cansativa e desagradável; seu lazer foi devotado, em parte, à composição literária. O Aegyptus sive de providentia é uma alegoria em que o bom Osíris e o mau Tifão, que representam Aureliano e o godoGainas (magister sob Arcádio), lutam pelo domínio; a questão da permissão divina do mal é tratada.[carece de fontes?]
No ano 402, voltou com êxito: havia conseguido uma redução significativa nos impostos. Mudou-se para Alexandria, onde se casou com uma cristã, pertencente a nobreza da cidade.[5] O patriarca Teófilo de Alexandria casou pessoalmente o casal.[6]
De volta a Cirene, empenhou-se pessoalmente na defesa das fronteiras, construindo um novo modelo de catapulta e reforçando as fortificações. No final de 409, ou em 410, em agradecimento por seus serviços prestados, o clero e o povo de Ptolemais o elegeram como seu bispo. Sinésio resistiu em aceitar o cargo, porém acabou assumindo-o em 411 com muita relutância[7], mas não antes de explicar ao patriarca Teófilo suas condições: não renunciaria ao seu matrimonio nem a suas convicções filosóficas, que o impediam de aceitar algumas crenças populares.[c] A juízo de Quasten, até o final de seus dias, Sinésio seguiu sendo "mais platónico que cristão, como revela em seus escritos".[6] Contudo, a partir de sua nomeação como bispo não voltou a fazer referencia a sua mulher em suas cartas, como alguns investigadores suspeitam que o patriarca o obrigou a renunciar a sua vida conjugal.[8]
Já bispo, Sinésio utilizou sua autoridade para defender seus compatriotas dos ataques das tribos do deserto e dos abusos de Andrônico, um alto funcionário do governo que por vários anos vinha cometendo graves abusos contra a população. Sinésio pronunciou contra ele a primeira excomunhão solene de que se tem notícia.[d]
Apesar da prudência e bom critério que demonstrou como bispo, os últimos anos de Sinésio foram muito amargos. Seu irmão se viu forçado a fugir para evitar ser nomeado decurião, cargo que supunha a ruína econômica do interessado, obrigado a responder como garantidor da arrecadação de impostos. No ano 413, após perder três filhos, escreveu a sua mestra Hipátia, que havia sofrido "tantos infortúnios como é capaz de sofrer um homem" e repreendeu que nem ela nem seus amigos de Alexandria tivessem respondido suas cartas.[9] Nesse mesmo ano, faleceu, consumido pelas recordações de seus filhos mortos.[10]
Segundo uma lenda, seria santo[11], mas os estudiosos não admitem sequer atribuir-lhe o título de Pai da Igreja.[12]
As obras de Sinésio, “bispo filósofo”, testemunham seu esforço para conciliar os dogmascristãos e a filosofia neoplatônica. Observam-se também, em seus tratados, ideias gnósticas e herméticas. Sinésio enfatiza o caráter transcendente de Deus e sua unidade absoluta, que não resulta em incompatibilidade com a Trindade, por ser esta “interna à unidade”. Dentro da unidade divina, o Pai engendra o Espírito Santo e ambos engendram o Filho. Somente através do mito pode o homem divisar a Deus e compreender a natureza da alma, que se encontra presa na matéria (oposta a Deus) e anseia retornar à patria celeste, de onde procede.[13]
Obras
Suas obras que chegaram aos nossos dias são:
Um discurso perante o imperador Arcádio: De regno;
Dio, sive de suo ipsius instituto, em que ele significa o seu propósito de dedicar-se à verdadeira filosofia;
Elogio à Calvície (Encomium calvitii), uma literatura jeu d'esprit, em resposta a uma obra de Dião Crisóstomo, o Elogio à Cabeleira
Aegyptus sive de providentia, em duas partes, sobre a guerra contra o godo Gainas e o conflito entre os dois irmãos Aureliano e Cesário;
De insomniis, um tratado sobre os sonhos;
Constitutio;
Catastasis, uma descrição do fim da Cirenaica romana;
159 Epistolae (cartas, incluindo um texto – Carta 57 – que é na verdade um discurso);
10 Hymni, de caráter contemplativo, característica neoplatônica;
Garzya, Terzaghi, e Lacombrade (eds.), Opere di Sinesio di Cirene, Classici greci, Turin: Unione Tipografico-Editrice Torinese, 1989 (com tradução em italiano);
Lacombrade, Garzya, and Lamoureux (eds.), Synésios de Cyrène, Coleção Budé, 6 vols., 1978-2008 (com tradução em francês por Lacombrade, Roques, e Aujoulat).
Notas
[a]^ As cartas de Sinésio são uma das poucas fontes disponíveis para acesso à figura de Hipátia, a quem Sinésio se dirige com afeto como sua «mãe, irmã e mestra, minha benfeitora em tudo, e tudo o que para mim é valioso em palavras e ações» [14]
[b]^ Segundo a interpretação de Von Campenhausen [15], Sinésio defendeu a preexistência da alma, a eternidade do universo e uma interpretação alegórica da ressurreição. Escreveu em sua carta 105, dirigida a seu irmão: «asseguro que eu nunca discutirei a crença de que a origem da alma é posterior a do corpo. Não admitirei que o cosmos e a suas partes estão destinados a uma destruição conjunta. A tão alardeada ressurreição considero algo sagrado e inefável e bem distante estou de coincidir com as opiniões das massas. (...) Se isto me consentem as leis do ministério sagrado que vou desempenhar, poderia exercê-lo da seguinte maneira: em privado, dedicar-me-ia à filosofia, porém, em público, contaria fábulas (μῦθοι) em meus ensinamentos (δυναίμην ἂν ἱερᾶσθαι τὰ μὲν οἴκοι φιλοσοφῶν τὰ δ’ ἔξω φιλομυθῶν)» [16].
[c]^A Atenas de hoje não tem de venerável nada mais que os nomes famosos de seus lugares. E como uma vítima sacrificada da qual só a pele nos diz que uma vez foi uma criatura viva, também a filosofia que saiu desta cidade não deixou nada para seus admiradores além da visão da Academia e do Liceu, e em verdade também a pintada stoa, da qual recebeu seu nome a filosofia de Crisipo (...) Em nossos dias, os egípcios se enriquecem com a colheita que os fez colher Hipátia; a cidade de Atenas, outrora sede da sabedoria, é famosa hoje em dia somente por seu mel. O mesmo serve para a parelha de sábios Plutarcos, que não reúnem a juventude em suas aulas por sua sabedoria, mas pelo mel do Himneto[17].
[d]^ O decreto de excomunhão faz parte de sua Carta 42[18]
Referências
↑Cfr. M. Barbanti. Sinesio di Cirene, in Enciclopedia filosofica, vol.11. Milano, Bompiani, 2006, pag. 10671 e segg. anche Henry Chadwick Sinesio di Cirene in Dizionario di Antichità classiche, Milano, Paoline, 1995, pag.1949.
↑Hans von Campenhausen (1974). Los padres de la Iglesia. T. 1: padres griegos. [S.l.]: Ediciones Cristiandad. ISBN978-84-7057-155-8 pág. 158.
↑Nell Epistola 113 Sinésio reivindica orgulhosamente sua descendência mística
↑H. I. Marrou, Synesius of Cyrene and the Alexandrian Neoplatonism, in «The conflict between Paganism and Christianity in the fourth century», Oxford, Clarendon 1963, pp. 126-150
↑H. v. Campenhausen, Griechischen Kirchenväter, Stuttgart, Kohlhammer 1967, p. 125
↑Ferrater Mora, Diccionario de filosofía, s.v. Sinesio.
Synesius is portrayed in Ki Longfellow's Flow Down Like Silver, Hypatia of Alexandria[1] in a highly imaginative way.
Ligações externas
«Synesius of Cyrene». www.livius.org at livius.org (Introdução de Jona Lendering e traduções de todas as epístolas, discursos, hinos, homilias e os tratados);