Soyuz 11
Soyuz 11 (em russo: Союз 11) foi a única missão tripulada a embarcar na primeira estação espacial do mundo, Salyut 1 (a Soyuz 10 havia acoplado, mas não tinha sido capaz de embarcar devido a problemas na trava).[2] A tripulação, Georgi Dobrovolski, Vladislav Volkov e Viktor Patsayev,[3][4][5] chegaram na estação no dia 7 de junho de 1971 e partiram no dia 29. A missão terminou num desastre quando a cápsula despressurizou durante a preparação para a reentrada, matando os três tripulantes.[6] Os tripulantes da Soyuz 11 são os únicos humanos a terem falecido no espaço.[7] Tripulação
Notas da tripulaçãoA tripulação original da missão consistia de Alexei Leonov, Valeri Kubasov e Pyotr Kolodin. Um exame de raio-x quatro dias antes do lançamento sugeriu que Kubasov estivesse com tuberculose e de acordo com os regulamentos, a tripulação teria de ser substituída pelos reservas.[8] Parâmetros da MissãoMissãoFoi usado o código de chamada Yantar. A Soyuz 7K-OKS foi lançada no dia 6 de junho de 1971 a partir do Cosmódromo de Baikonur, República Socialista Soviética Cazaque. Alguns meses antes, a primeira missão para a Salyut 1, a Soyuz 10, não havia conseguido acoplar com a estação.[10] Durante o primeiro dia de voo, foram realizadas manobras para possibilitar um encontro com a Salyut (1971-032A). Quando a Soyuz 11 estava de 6 a 7 quilômetros da Salyut, o sistema automático tomou o controle e em 24 minutos, diminuiu a distância entre as duas naves em até 9 metros, assim reduzindo a diferença da velocidade relativa entre as duas naves para 0,2 m/s. O controle das naves retornaram para manual em 100 m. A acoplagem demorou 3 horas e 19 minutos para ser completada, envolvendo a realização deixar a conexão mecanicamente rígida, conectando vários links elétricos e hidráulicos e estabelecendo um lacre impermeável antes da trava ser aberta. Quando a pressão foi equalizada, as travas foram abertas e os três cosmonautas entraram na Salyut 1.[11] A Soyuz 11 acoplou de forma bem sucedida no dia 7 de junho de 1971 e os cosmonautas permaneceram nela por 22 dias, batendo o recorde de permanência no espaço que não seria atingido até a Skylab 2 em 1973.[6] Ao entrar na estação, eles encontraram uma atmosfera com cheiro de fumaça e queimado, que ficou assim até substituírem uma parte do sistema de ventilação no dia seguinte, onde no meio tempo eles tiveram de ficar na Soyuz. Sua permanência na Salyut foi produtiva, onde também realizaram cinco transmissões televisivas. Um incêndio ocorreu no décimo primeiro dia de permanência na estação, fazendo com que os responsáveis em solo considerassem o abandono da estação. O ponto alto teria sido a observação do lançamento do N1, mas foi adiado.[12] No dia 29 de junho de 1971 a tripulação embarcou espécimes científicos, filmes, fitas e outros objetos na Soyuz 11. Então transferiram o controle manual da Salyut 1 de volta para a Soyuz 11 e retornaram para a cápsula. A desacoplagem ocorreu as 18:28 GMT. A Soyuz 11 voou ao lado da Salyut e realizou a retro propulsão as 22:35 GMT. O módulo de habitação e de serviço foram ejetados antes de entrarem na densa atmosfera. As comunicações por rádio terminaram de forma abrupta no momento da separação do módulo de habitação (por volta das 22:47 GMT), antes do blackout ionosférico esperado. Os sistemas automáticos pousaram a nave de forma segura as 23:16:52 GMT. A duração total foi de 570,22 horas e envolveu cerca de 383 órbitas—18 antes da acoplagem, 362 acopladas e 3 após desacoplarem. Ao chegarem na área de pouso e abrirem a escotilha, a equipe de resgate descobriu os três tripulantes mortos em seus assentos. A investigação oficial demonstrou que eles haviam falecido por embolia pulmonar, quando o lacre imperfeito da escotilha entre o módulo de descida e de habitação permitiu que o ar vazasse nos segundos após a separação dos módulos.[11] Morte da tripulaçãoNo dia 29 de junho de 1971, após uma reentrada aparentemente normal, a equipe de resgate descobriu que a tripulação havia falecido.[6][13][14] Kerim Kerimov, presidente da Comissão Estatal, relembrou: "Externamente, não havial qualquer dano. Bateram no lado, mas não houve resposta. Ao abrirem a escotilha, encontraram os três em seus assentos, imóveis, com marcas azul escuras em seus rostos e traços de sangue em seus narizes e ouvidos. Foram removidos do módulo de descida. Dobrovolski ainda estava quente. Os médicos realizaram respiração artificial. Baseado em seus relatos, a causa da morte foi sufocação".[15] Logo tornou-se aparente que eles haviam sido asfixiados. A culpa foi de uma válvula de ventilação localizada entre o módulo de habitação e o de descida, que havia sido aberto quando o módulo de descida se separou do de serviço, aos 12 minutos e 3 segundos após a retro ignição.[16][17] Os dois módulos eram segurados por parafusos explosivos projetados para um disparo sequencial, mas dispararam simultaneamente.[16] A força da explosão simultânea fez com que um mecanismo interno da válvula de equalização soltasse um lacre que geralmente seria descartado mais tarde, o que permitiria o equilíbrio automático da pressão da cabine.[16] A válvula abriu numa altitude de 168 quilômetros, e a perda de pressão foi fatal em segundos.[16][18] A válvula estava localizada em baixo dos assentos e foi impossível encontrá-la e bloqueá-la antes da perda da atmosfera. O gravador de dados vitais de um único cosmonauta usando os sensores indicou que a parada cardíaca ocorreu em 40 segundos após a perda de pressão. Aos 15 minutos e 35 segundos após a retro ignição, a pressão da cabine estava zerada e continuou assim até a reentrada na atmosfera da Terra.[16] O corpo do Patsayev foi encontrado perto da válvula e ele pode ter tentado fechá-la ou bloqueá-la quando perdeu a consciência. Uma extensa investigação foi realizada para estudar todos os componentes e sistemas da Soyuz 11 que poderiam ter causado o acidente, apesar dos médicos rapidamente concluírem que os cosmonautas haviam morrido por asfixia.[16] As autópsias foram realizadas no Hospital Militar de Burdenko, e foi descoberto que a causa específica da morte foi a hemorragia dos vasos sanguíneos no cérebro e com menores quantidades de sangue na pele, no ouvido interno e cavidade nasal, que ocorreu quando a exposição ao vácuo fez com que o oxigênio e nitrogênio nas correntes sanguíneas borbulhassem e rompessem os vasos. Também foi descoberto que o sangue deles possuía uma grande concentração de ácido láctico, um sinal de extremo estresse psicológico. Apesar deles poderem ter ficado conscientes por até 40 segundos após o início da descompressão, menos de 20 segundos teriam se passado antes que os efeitos da falta de oxigênio tornassem impossível qualquer reação.[15] Alexei Leonov, o comandante original da Soyuz 11, havia aconselhado aos cosmonautas antes do voo que eles deviam fechar manualmente as válvulas entre o módulo de habitação e de descida, já que ele não confiava que eles fechassem de forma automática - um procedimento em que ele pensou após passar muito tempo no simulador. Entretanto, os tripulantes ou escolheram ignorar esses avisos ou esqueceram no decorrer da longa missão. Após o voo, Leonov voltou ao simulador e tentou fechar uma das válvulas manualmente, descobrindo que é algo que necessita de quase um minuto - tempo demais numa situação de emergência onde a atmosfera da nave está escapando de forma rápida.[15] A mídia soviética tentou diminuir o final trágico da missão e buscou enfatizar suas realizações durante a permanência da Salyut 1. Como eles demoraram quase dois anos para publicamente anunciar a causa da morte da tripulação, os Estados Unidos ficaram extremamente preocupados com o programa Skylab, já que eles não sabiam se uma longa permanência em microgravidade seria fatal. Entretanto, o médico da NASA, Charles Berry manteve uma firme convicção de que os cosmonautas não podiam ter morrido por terem passado muitas semanas em microgravidade. Até que os soviéticos anunciassem o que havia ocorrido, Berry teorizou que a tripulação havia sucumbido devido a inalação de substâncias tóxicas.[15] Posteriormente foi desclassificado um vídeo mostrando as equipes de resgate tentando reanimação cardiorrespiratória nos cosmonautas.[19] Não foi conhecido até a autópsia que eles haviam sucumbido devido a despressurização. A equipe de solo havia perdido o contato por rádio com a tripulação antes do começo da reentrada e já haviam iniciado preparativos para o caso da tripulação ter sido perdida.[3] Os cosmonautas receberam um grande funeral de Estado e foram enterrados na Necrópole da Muralha do Kremlin, na Praça Vermelha, Moscou, perto dos restos de Iuri Gagarin.[6] O astronauta Tom Stafford foi um dos carregadores do caixão. Eles também receberam de forma póstuma o título de Herói da União Soviética.[15] O Presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, fez a seguinte declaração oficial ao líder soviético Leonid Brejnev:[13]
A nave Soyuz foi reprojetada de forma extensa para carregar dois cosmonautas. O espaço adicional permitiu que a tripulação usasse o traje espacial Sokol. O Sokol era um traje pressurizado leve feito para situações de emergência, suas versões atualizadas ainda são usadas.[15] MemoriaisAs coordenadas do pouso são Karazhal, Karaganda, Cazaquistão e cerca de 500 km ao nordeste de Baikonur. No lugar estava um monumento memorial na forma de uma coluna metálica de três lados, com a imagem engravada dos rostos dos três tripulantes num triangulo estilizado em cada um dos três lados perto do topo. O memorial está numa área aberta e plana, longe de quaisquer área populada, dentro de uma cerca pequena e circular.[20] Em 2012 foi descoberto que o memorial foi vandalizado de tal forma que ficou irrecuperável, com somente a base da coluna sobrando e quaisquer estradas ao redor soterradas.[21] Entretanto, em 2013, a Roscosmos restaurou o lugar com um monumento reprojetado, refletindo a forma de três lados do original, mas feito de tijolos. Também foi colocado no lugar um sinal explicando a história do lugar e o destino do monumento original.[22] , ou seja: 90 km ao sudeste deTrês crateras lunares foram batizadas em homenagem à tripulação: Dobrovol'skiy, Volkov e Patsaev. Seus nomes também foram incluidos na placa Astronauta Caído, deixada na Lua durante a Apollo 15 em agosto de 1971. Em homenagem à tripulação, um grupo de colinas em Plutão foi chamado de Soyuz Colles (en). Na cidade de Penza, Rússia, perto da escola-ginásio No. 39, em homenagem aos cosmonautas, uma estela memorial foi feita com citações do poema de Ievguêni Ievtuchenko: "Entre nossa Pátria Mãe e vocês existe uma conexão bidirecional eterna" (em russo: "Между Родиной нашей и вами – двусторонняя вечная связь").[23] Além do selo soviético apresentado acima, em 1971 também foi criada uma série de selos em Ajmã[24] e na Bulgária[25] em homenagem aos cosmonautas. Referências
Leitura adicional
Ligações externas
|