Varão de Dores (mais conhecido no Brasil como Homem das Dores) é a mais importante das prefigurações do Messias identificada pelos cristãos na Bíblia hebraica nas chamadas "Canções do Servo" de Isaías 53. É conhecido como vir dolorum no latim da Vulgata. Uma das mais famosas e populares imagens devocionais da arte cristã, o "Varão de Dores" aparece geralmente desnudo da cintura para cima mostrando as chagas de Paixão, com as mãos abertas e o flanco exposto, muitas vezes com a coroa de espinhos e, em outras, acompanhado por anjos. A imagem se desenvolveu na Europa no século XIII e era especialmente popular no norte do continente.
A imagem continuou se espalhando e desenvolvendo sua complexidade iconográfica até bem depois do Renascimento, mas o "Varão de Dores", em suas muitas formas artísticas, é a mais precisa expressão visual da piedade popular do final da Idade Média, que emprestou seu caráter devocional da contemplação e não da especulação teológica.[1] Com a "Pietà", foi a mais popular das imagens do tipo "Andachtsbilder" do período - imagens devocionais destacadas da narrativa da Paixão de Cristo.
«Era desprezado e rejeitado dos homens; um varão de dores, e que tinha experiência de enfermidades. Como um de quem os homens escondiam o rosto, era ele desprezado, e dele não fizemos caso. Verdadeiramente foi ele quem tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos como aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, esmagado por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos devia trazer a paz, caiu sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos nós sarados. Todos nós temos andado desgarrados como ovelhas; temo-nos desviado cada um para o seu caminho; e Jeová fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós.» (Isaías 53:3–6)
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Desenvolvimento da imagem
A imagem se desenvolveu a partir do "epitaphios"bizantino, que possivelmente data do século VIII. Um milagroso ícone em mosaico bizantino dele é conhecido como Imago Pietatis ou "Cristo da Piedade". A obra parece ter sido levada a um grande centro de peregrinação de Roma, a Basílica de Santa Cruz de Jerusalém no século XII[a] e, a partir do século XIII, foi ganhando popularidade no ocidente como imagem devocional para contemplação, sendo reproduzida em esculturas, pinturas e manuscritos. Ela continuar a ganhar fama, ajudada pelo Jubileu de 1350, quando a imagem parece ter tido, provavelmente apenas para o Jubileu a princípio, uma indulgência papal de 14 000 concedida aos que rezassem em sua presença.[2]
A imagem formava parte do tema da "Missa de São Gregório" e, já em 1350, o ícone romano já era tido como uma representação contemporânea da visão que São Gregório havia tido.[3] Na imagem, a figura de Cristo era típica dos precursores bizantinos do "Varão de Dores", com meio corpo, braços cruzados e a cabeça pensa para o lado esquerdo do observador.
As várias versões da imagem do "Varão de Dores" mostram todas um Cristo com as chagas da crucificação, incluindo o ferimento da lança. Especialmente na Alemanha, os olhos de Cristo estão geralmente abertos e olham diretamente para o observador; na Itália, os olhos fechados do ephitaphios bizantino, que originalmente pretendia representar um Cristo morto, perduraram ainda algum tempo. Para alguns, a imagem representava as duas naturezas de Cristo - ele estava morto como homem, mas vivo como Deus.[4] Imagens de corpo inteiro também apareceram pela primeira vez no sul da Alemanha em pinturas de parede no século XIII e em esculturas a partir do século XIV.[5] Outros elementos apareciam frequentemente, nas várias distintas versões da imagem, incluindo as "Arma Christi", a cruz, um cálice para o qual verteu o sangue das chagas (uma ênfase à Eucaristia), anjos segurando estes objetos ou dando apoio ao corpo amaciado do próprio Cristo, pessoas lamentando ou adorando.[6] O "Trono da Misericórdia" é uma imagem da Trindade com Cristo, geralmente diminuto, como "Varão de Dores" e apoiado por Seu Pai.
Parshall, Peter, in David Landau & Peter Parshall, The Renaissance Print, Yale, 1996, ISBN 0-300-06883-2
Pattison George, in W. J. Hankey, Douglas Hedley (eds),Deconstructing radical orthodoxy: postmodern theology, rhetoric, and truth, Ashgate Publishing, Ltd., 2005, ISBN 0-7546-5398-6, ISBN 978-0-7546-5398-1. Google books
G Schiller, Iconography of Christian Art, Vol. II,1972 (English trans from German), Lund Humphries, London, figs 471-75, ISBN 0-85331-324-5
Snyder, James; Northern Renaissance Art, 1985, Harry N. Abrams, ISBN 0-13-623596-4