Zoltán Czibor
Zoltán Czibor Suhai (Kaposvár, 23 de agosto de 1929 — Győr, 1 de setembro de 1997) foi um futebolista húngaro. Czibor é normalmente considerado o maior jogador da Hungria depois de Ferenc Puskás, seu colega de Honvéd e Seleção Húngara.[1] E foi como um dos nomes daqueles dois elencos, os melhores do mundo no início da década de 1950,[2] que Czibor se celebrizou. Por sinal, ele e Puskás, além do uruguaio José Pedro Cea e do argentino Ángel Di María, são os únicos jogadores que marcaram gols em finais de Olimpíada e Copa do Mundo. Czibor, que fez sucesso também no Barcelona, atuando ali ao lado dos compatriotas Sándor Kocsis e László Kubala, atuava na ponta esquerda e, em tempos em que os ponteiros ou eram habilidosos ou eram velozes, Czibor reunia as duas qualidades,[1] sendo comum ser visto partindo para cima dos adversários com dribles secos e fazendo grandes lançamentos para a grande área.[1] Além dos dribles e assistências, também marcava seus gols.[1] Sua velocidade, outra característica, foi desenvolvida nas pistas de atletismo da cidade onde nasceu, Kaposvár.[1] Carreira em clubesNa HungriaA estreia de Czibor por uma equipe adulta foi no pequeno Komárom, em 1945. Três anos depois, ainda antes dos 20 anos, chegava a um dos principais clubes do país, o Ferencváros. Neste clube, faturou o campeonato húngaro de 1949. Porém, naquele mesmo ano, sua equipe perderia importância frente a uma reforma no futebol magiar desenvolvida pelo vice-ministo dos esportes, Gusztáv Sebes. A fim de aprimorar os talentos húngaros, Sebes recrutou os melhores do país e os dividiu em duas equipes, o Kispest e o MTK Hungária, que tornaram-se as equipes do Exército e da Polícia, respectivamente, mudando seus nomes para Honvéd (Defensor) e Vörös Lobogó (Estrela Vermelha), onde os jogadores teriam disciplina militar.[3] Mesmo já sendo atleta de Seleção Húngara, Czibor foi de certa forma tardiamente "convocado": ficou no Ferencváros até 1950, passou pelo Csepel Varas, clube da indústria química,[1] no biênio 1951-1952 e só em 1953 chegou ao Honvéd, onde já estava seu ex-colega de Ferencváros Sándor Kocsis. Em sua primeira temporada, ganhou o campeonato húngaro de 1953/54. Seria bi na posterior, 1954/55. Em 1956, tudo mudou. O clube estava na Espanha, onde jogaria contra o Athletic Bilbao [4] pela Copa dos Campeões da UEFA [5] quando a Revolução Húngara de 1956, movimento de ampla adesão popular em que a Hungria tentou livrar-se da excessiva influência soviética, foi reprimida pelo Pacto de Varsóvia.[4] Os jogadores não quiseram voltar a Hungria; a partida de volta teve de ser realizada na Bélgica. Eliminados, os jogadores decidiram, para se sustentarem financeiramente,[5] realizar amistosos pelo mundo em 1957,[4] incluindo alguns pelo Brasil, onde jogaram contra Flamengo e Botafogo.[2] A FIFA, então, proibiu os jogadores de atuarem enquanto não regularizassem sua situação com a Federação Húngara.[2] Tal situação arrastou-se por mais de um ano, até que um acordo foi feito: por ele, oito jogadores regressariam à Hungria e os demais se espalhariam pela Europa.[2] Dentre os que sairiam da equipe, estavam Puskás, Kocsis e Czibor, que acabaram indo jogar na Espanha. Puskás pelo Real Madrid, Kocsis e Czibor pelo rival Barcelona. O Honvéd, que no início dos anos 50 era indiscutivelmente o melhor time do mundo,[2] só voltaria a ser campeão na década de 1980. BarcelonaO Barcelona contratou ele e a Czibor por indicação de László Kubala, um compatriota que já havia se exilado do comunismo húngaro havia oito anos, e uma das maiores celebridades futebolísticas europeias naqueles tempos. Durante as negociações com a FIFA, Czibor estivera na equipe italiana da Roma, mas não pôde jogar partidas oficiais. A primeira temporada no Barça, 1958/59, foi perfeita: o clube conquistou o campeonato espanhol e a Copa do Rei. Na segunda, a de 1959/60, foi novamente campeão espanhol, com dois pontos de diferença sobre o rival Real Madrid. Na Taça das Cidades com Feiras, precursora da atual Liga Europa da UEFA, a equipe sagrou-se campeã após bater por 4 x 1 os ingleses do Birmingham City. Paralelamente, o time competia também na Copa dos Campeões da UEFA. O clube fazia boa campanha, chegando a passar pelo Milan, além de ganhar do Wolverhampton Wanderers na Inglaterra com quatro gols dele. As semifinais seriam contra o arquirrival. O Real Madrid não deu chances. Com duas vitórias por 3 x 1, os madridistas passaram às finais, das quais sairiam campeões. O troco no torneio europeu veio na temporada 1960/61: os clubes se enfretaram nas oitavas-de-final. O Real era pentacampeão das cinco edições realizadas do torneio. Insitigados, os barcelonistas conseguem arrancar um empate em 2 x 2 no Santiago Bernabéu e vencer por 2 x 1 no Camp Nou, provocando a primeira eliminação dos merengues na competição. O Barcelona rumou até a final, passando no caminho também pelo forte Hamburgo de Uwe Seeler, decidindo o torneio com o Benfica. A final seria disputada no Wankdorfstadion, o mesmo palco de Berna em que ele e Kocsis perderam a final da Copa do Mundo de 1954 pela Hungria. Czibor realizou uma grande partida, veloz e incisivo, criando grandes oportunidades.[6] Kocsis abriu o marcador aos vinte minutos, com sua característica cabeçada forte e certeira.[6] Poderia ter feito o segundo em uma meia bicicleta, salva em cima da linha.[6] Em doze minutos, porém, os portugueses conseguiram virar, aproveitando-se de duas falhas do goleiro Antoni Ramallets, e ainda salvaram novamente em cima da linha nova tentativa de Kocsis, aos 41 minutos.[6] Para piorar, o adversário conseguiu fazer 3 x 1 aos dez minutos do segundo tempo. Nos 35 minutos finais, o Barcelona se lançou ao ataque, com tabelas bem arranjadas, mas com desespero.[6] Após bola mal desviada pela defesa encarnada, Kocsis ficou cara a cara com a meta adversária, sem goleiro. No entanto, o chute acertou a trave esquerda. No minuto seguinte, os postes voltaram a ser perversos ao Barcelona: um chute de Kubala bateu no poste direito e, após passar sobre a linha, bateu no esquerdo e voltou a campo, frustrando as comemorações blaugranas.[6] Czibor diminuiu para 2 x 3 faltando quinze minutos, com um petardo no ângulo de Costa Pereira.[6] Faltando dez, ele desferiu outro chute violento que explodiu surpreendentemente na trave esquerda. O resultado foi mantido e eram os lusitanos, para o espanto de todos, os campeões. Para a equipe catalã, ficou a grande frustração de não atingir a glória que o arquirrival Real Madrid conhecera cinco vezes. Czibor declarou após a partida que "Normalmente, um jogo assim acabaria 10 x 0".[6] A derrota seria seu último jogo pelo Barcelona: Czibor iniciou a temporada seguinte, a de 1961/62, jogando pelo rival local Español (nome à época do atual Espanyol). Rodaria ainda por Basel, Austria Viena até se aposentar definitivamente em 1963, na equipe canadense do Primo Hamilton. Seleção HúngaraSebes também procurou reformular a Seleção Húngara: quando os principais jogadores não estavam em seus clubes, treinavam juntos em tempo integral na seleção.[3] Em um inovador esquema, em que o centroavante Nándor Hidegkuti recuava e ajudava na armação das jogadas, confundindo as defesas adversárias, os quatro meias juntavam-se a ele e aos ponteiros, um deles sendo Czibor. Assim, a Hungria conseguia atacar com até sete atletas.[3] Outra tática era correr pelo campo com o adversario ainda no vestiário: com este pré-aquecimento, os húngaros enfrentavam o oponente ainda frio e costumavam marcar cedo um ou dois gols.[7] Como a Hungria, porém, declinou em participar das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1950, juntamente com os demais na órbita de influência soviética,[8], o mundo só veio a conhecer a arte húngara nas Olimpíadas de 1952. A campanha terminou com cinco jogos, cinco vitórias, vinte gols marcados e apenas dois tomados.[3] No ano seguinte, novos feitos: a Hungria sagrou-se campeã da Copa Dr. Gerö, precursora da atual Eurocopa, e tornou-se a primeira seleção não-britânica a derrotar a Inglaterra nos domínios ingleses, um verdadeiro choque para o povo inglês.[3] A vitória por 6 x 3 em Wembley foi seguida por um sonoro 7 x 1 na revanche, em Budapeste, a um mês da Copa do Mundo de 1954. Copa do Mundo de 1954Os húngaros não precisaram disputar as eliminatórias para se classificarem - seus únicos adversários, a Polônia, retirou-se da disputa. Ninguém, porém, duvidava de que a classificação húngara viria mesmo se disputada em campo.[9] Os magiares chegaram na Suíça como uma impressionante invencibilidade de quatro anos, com 23 vitórias, 4 empates, 114 gols a favor e 26 contra.[3] Czibor marcou um dos gols na vitória por 2 x 0 na decisão, contra a Iugoslávia. Reconhecida com a melhor seleção do mundo na época,[3] a Hungria massacrou a Coreia do Sul na estreia com um 9 x 0, com um dos gols sendo marcado por Czibor. Na partida seguinte, outra goleada, um 8 x 3 sobre a Alemanha Ocidental. Todavia, os magiares, que enfrentavam o time reserva alemão, saíram dali no prejuízo: Ferenc Puskás torceu seriamente o tornozelo ao cair de mau jeito após sofrer entrada por trás de Werner Liebrich.[10] Sem sua principal figura, os húngaros teriam mais dificuldades nos dois jogos seguintes, já pelos mata-matas. O jogo seguinte foi válido pelas quartas-de-final, contra o Brasil. Czibor foi deslocado para o meio campo, para ocupar ali o lugar de Puskás, enquanto o ponta-esquerda foi o reserva Mihály Tóth.[11] Com o pré-aquecimento característico, os húngaros abriram 2 x 0 em sete minutos. O Brasil conseguiu diminuir, e o gramado escorregadio também segurou um pouco o ímpeto húngaro.[11] Aos poucos, a partida virou uma batalha campal,[11] em que três jogadores sairiam expulsos, József Bozsik para os húngaros e Humberto e Nilton Santos para os brasileiros. A "Batalha de Berna", como a partida ficou conhecida, não terminou com o fim da partida, vencida pelos europeus por 4 x 2: na saída de campo, os jogadores continuaram a discutir, até que Maurinho deu um soco em Czibor.[12] Até o contundido Puskás, que não jogara, e os técnicos Sebes e Zezé Moreira acabaram participando da confusão.[12] O adversário seguinte, nas semifinais, era o campeão Uruguai. Sándor Kocsis e Nándor Hidegkuti puseram a Hungria na frente e o time, contrariando seu estilo de jogo, parou de atacar.[13] Os sul-americanos, então conseguiram empatar a quatro minutos do fim, com dois gols de Juan Hohberg. Em uma extenuanete e disputadíssima prorrogação, o mesmo Hohberg chegou a acertar a trave. O tempo extra só foi decidido com outros dois gols de Kocsis.[13] A final seria um reencontro com a Alemanha Ocidental, agora com os titulares e mais confiante após uma campanha crescente,[14] o que incluía uma goleada de 6 x 1 sobre a Áustria nas semifinais. Por outro lado, Puskás finalmente pôde voltar, ainda sem totais condições de jogo.[14] Determinado a provar sua recuperação, ele mesmo marcou o primeiro gol, aos seis minutos.[15] Aos nove, Czibor marcou o segundo em lance de puro oportunismo: o zagueiro Werner Kohlmeyer recuava a bola para o goleiro Toni Turek e os dois se trombaram, deixando a bola livre para que o ponta marcasse.[15] Ainda antes dos vinte minutos, porém, os alemães conseguiram empatar. A partir de dado momento do segundo tempo, os húngaros, cansados das duras partidas contra Brasil e Uruguai, anteveram nova prorrogação e passaram a pouparem-se, segurando o ímpeto.[14] Os alemães, faltando seis minutos para o fim, viraram a partida. Puskás ainda marcou um gol aos 43 minutos do segundo tempo, mas um bandeirinha anulou o lance.[14] O resultado foi mantido em favor dos germânicos que surpreendentamente tiravam a invencibilidade húngara no jogo mais importante, sagrando-se campeões. Czibor acabou não atuando mais pela Hungria depois de 1956 em razão de optar pelo exílio com a repressão à revolução. Um de seus últimos jogos foi justamente contra a União Soviética, principal repressora do movimento, no mês anterior à invasão. Em plena Moscou, a Hungria ganhou com um gol dele.[1] Títulos
Referências
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