A Regra do Jogo é uma telenovela brasileira produzida e exibida pela TV Globo originalmente de 31 de agosto de 2015 a 11 de março de 2016[7] em 167 capítulos, com o último capítulo reexibido no dia subsequente, 12 de março. Substituiu Babilônia e foi substituída por Velho Chico,[8] sendo a 9.ª "novela das nove" exibida pela emissora.
Bandido ou vilão? Mocinho ou injustiçado? Várias dúvidas permeiam a vida do controverso Romero Rômulo, um ex-vereador que se apresenta como um homem altruísta, atuando como defensor público e proprietário de uma ONG que visa a reintegração de ex-detentos. Na adolescência, Romero - que sempre teve um pé na marginalidade - foi expulso de casa pela mãe, a professora Djanira, passando a viver nas ruas e ser criado por Ascânio, malandro explorador que lhe ensinou tudo sobre a "arte de roubar e ludibriar as pessoas". Sem que ninguém suspeite, Romero integra uma das facções criminosas mais perigosas do Rio de Janeiro, cujo líder é o misterioso "Pai", criminoso cuja identidade todos desconhecem. Seu filho adotivo, o policial federal Dante, orgulhosa-se do heroísmo do pai, sem sequer suspeitar que ele é um dos principais integrantes da quadrilha que sua equipe deseja prender.
A vida de Romero muda completamente ao ter seu destino cruzado com o de duas mulheres: a primeira é Atena, estelionataria sedutora e oportunista, que usa várias identidades falsas e está sempre à procura de uma vítima para aplicar um golpe financeiro. Aproximando-se dele para lhe roubar, Atena acaba se apaixonando por Romero, com quem vive uma relação intensa e bipolar. Já a segunda é Tóia, promoter e filha de criação de Djanira, com quem mora no Morro da Macaca. Batalhadora e honesta, Tóia aguarda a libertação do noivo, o ex-lutador de MMA Juliano, acusado falsamente de tráfico de drogas. Djanira faz de tudo para afastar Tóia de Romero, alegando que ele é um homem falso, perigoso e perturbado. Para Romero, o verdadeiro bandido é seu desafeto, Zé Maria, criminoso e pai de Juliano, que há anos vive fugindo da polícia e alegando Inocência, tendo deixando o filho sob os cuidados de Djanira, sua ex-namorada, que acredita fielmente em suas alegações. No passado, Romero participou do Massacre de Seropédica, chacina que ceifou a vida de diversas pessoas, incluindo os pais biológicos de Tóia e Dante, e do qual Zé Maria é acusado de ser o principal mandante.
Paralelamente, há a família Stewart, cujo patriarca é o magnata farmacêutico Gibson, um poderoso homem de negócios. Casado com a bondosa Nora, Gibson possui duas filhas, Kiki e Nelita, ambas mulheres fragilizadas. No passado, Kiki, que foi casada com Romero e adotou Dante, foi vítima de um sequestro e desapareceu misteriosamente; já Nelita é uma dependente química depressiva que vive em constante atrito com o pai, não dando atenção aos filhos, Belisa e Cesário, que desconhecem a identidade do pai. Sócio de Gibson e membro da facção, o cientista Orlando é um homem frio e e calculista, que aproveita-se da saúde frágil de Nelita para casar-se com ela, ambicionando mais poder e prestígio no seio da família Stewart.[7]
Tramas parelas
"Primo pobre" de Gibson, Feliciano é um ex-playboy que nunca foi muito chegado a trabalho e nem soube administrar sua herança. Apesar de tudo, Feliciano é um eterno otimista, que leva a vida com bom humor e vive no único bem que lhe restou, uma decadente cobertura na zona sul do Rio de Janeiro, junto com sua grande família: os filhos Vavá, Dalila e Úrsula, o genro Breno e os netos Luana e Kim. As confusões entre a família só pioram com a chegada da periguete Mel, amante que Vavá faz de tudo para esconder da esposa, Janete.
Já Adisabeba é líder da comunidade do Morro da Macaca. Ex-prostituta e dona de vários imóveis na região, Béba ou Bébinha, como é conhecida entre os íntimos, ainda é proprietário de um hostel e administra a carreira do filho, o MC Merlô, rapaz mimado e complexado que vive uma relação cômica com suas dançarinas, as merlôzetes Alison e Ninfa. Grande apoiadora do amor entre Tóia e Juliano, Adisabeba também é confidente de Djanira, com quem disputou o amor de Zé Maria no passado.[7]
Outras histórias também são ambientadas no Morro da Macaca, entre elas a de Domingas, mulher que sofre violência doméstica por parte do marido Juca. Ela acaba redescobrindo o amor ao lado do misterioso César, rapaz perturbado por uma tragédia familiar do passado. Já Lara, ex-mulher de Orlando, chega a cidade para procurá-lo após ter sido abandonada por ele no interior de Minas Gerais, envolvendo-se com Dante.
Uso do "quem matou?" e identidade do "Pai da facção"
No capítulo 42, Djanira é assassinada durante a tentativa de casamento de Tóia e Juliano;[10] o crime ficou sem culpado até o último capítulo da trama, quando é revelado que o vilão Zé Maria foi o responsável pelo crime.[11]
No capítulo 93, um dos maiores mistérios da trama vem a tona: Gibson Stewart é o misterioso "pai" da facção.[12] O milionário criou a organização criminosa após ter sua mansão invadida no passado, tendo visto sua família ser rendida por assaltantes.[13] Zé Maria, um psicopata falso, traiçoeiro e braço direito de Gibson, é o responsável pela série de crimes cometidos pela equipe[14]; no passado Kiki descobriu os crimes do pai e foi sequestrada por ele, sendo mantida todos esses anos em cárcere privado e desenvolvendo a síndrome de Estocolmo por Zé Maria, com quem teve uma filha, Aninha.[15]
No capítulo de 7 de março de 2016 ocorre o assassinato de maior impacto na trama. Após ser desmascarado pela família, Gibson enlouquece e rende todos seus familiares dentro da mansão. Dante prepara uma operação policial para tentar negociar com o avô, mas não consegue. Além disso, Zé Maria e Juliano também invadem a casa. Ocorre um tiroteio, Gibson corre para o seu escritório e tenta pegar sua metralhadora, mas é assassinado. Foram gravados quatro finais para a história, com quatro supostos responsáveis pelo crime.[16] Revelou-se, numa das últimas cenas da trama, que Kiki matou o pai, enquanto Nora limpou a arma para não deixar impressões digitais.[17]
A produção da telenovela foi inicializada com o máximo de sigilo possível, tendo poucas informações divulgadas.[79] O título inicial da trama seria Favela Chic, porém como o título de sua antecessora fazia menção ao Morro da Babilônia, comunidade carioca, e a trama das 19 horas, I Love Paraisópolis, a comunidade homônima de São Paulo, o título foi alterado para A Regra do Jogo, após recomendações que visavam evitar a repetição do termo favela e nomes de comunidades.[80][81][82][83] A troca do título atendeu uma orientação da direção da TV Globo, após desconfortos internos, por se tratar de uma obra que fala sobre uma comunidade.[84][85]
Com os baixos índices de Babilônia, a produção de A Regra do Jogo teve que ser acelerada,[86] já que a emissora determinou que Babilônia fosse encurtada em pelo menos três semanas. A previsão era que Babilônia fosse ao ar até 18 de setembro, entretanto foi anunciado que iria acabar em 28 de agosto.[87]
A diretora Amora Mautner faz uso de câmeras escondidas, de forma que as cenas sejam capturadas de ângulos diferentes, visando buscar emoções diferentes nos atores.[88] Na construção da cidade cenográfica, foram usados móveis de segunda mão, para que os resultados sejam os mais realistas possíveis.[89]
A primeira chamada da trama começou a ser divulgada no dia 30 de julho de 2015, e de cara causou um grande impacto no público, principalmente na internet,[90] no qual os personagens da história apareciam em uma espécie de xadrez humano, terminando em um possível "xeque" de Atena (Giovanna Antonelli) em Romero (Alexandre Nero). Inclusive, o teaser gerou controvérsias na rede, sendo acusado de ter sido uma reprodução de campanhas publicitárias da série americana Revenge, da ABC, e da telenovela Amor e Intrigas, da RecordTV. Porém, a verdadeira inspiração veio de uma cena do último capítulo da novela Vamp, no qual os personagens do "Exército Branco" enfrentavam os do "Exército Negro", simulando um jogo de xadrez[91] e, inclusive, a diretora de "A Regra", Amora Mautner atuou no elenco da novela de Antonio Calmon.
O autor João Emanuel Carneiro inovou no momento de escrever os roteiros da novela. Ao invés de enumerar os capítulos como "Capítulo 1", como é feito costumeiramente pelos escritores, João deu nome aos capítulos. O première se chamou A Outra Face, e os outros sucessivamente.[92] A ideia foi implantada em parceria com a diretora Amora Mautner. Segundo Mautner, os nomes dos capítulos resumem o tema marcante de cada capítulo e os títulos foram idealizados por Carneiro.[93]
Escolha de elenco
Murilo Benício havia sido oficializado como o protagonista Romero, mas acredita-se que o ator teria colocado condições, como estipular os dias em que gravaria para não contracenar com sua ex-esposa, além de desentendimentos com a diretora Amora Mautner; o que não foi bem-visto pela direção da emissora.[94][95] Posteriormente, Benício alegou que deixou a produção para se dedicar a direção de seu primeiro longa-metragem.[96] Para substituí-lo, foram feitos testes com Mateus Solano, Fábio Assunção, Alexandre Nero, Eduardo Moscovis e Marcelo Serrado.[97] Assunção chegou a ser o favorito para assumir o personagem, mas acabou remanejado para o elenco de Totalmente Demais e o papel ficou com Nero.[98][99][100] No entanto, a chegada de Nero no elenco, não agradou a todos, pois o mesmo acabara de finalizar os trabalhos em Império, deixando um papel marcante para o público. Portanto, o ator começou a desenvolver o novo trabalho com a perspectiva de não lembrar o personagem que interpretou anteriormente, sendo orientado pela produção nesse aspecto a evitar utilizar vestimentas pretas.[101]
José Mayer foi convidado para interpretar Zé Boi, mas recusou o papel.[108] Tony Ramos entrou no lugar de Mayer, mas em razão de ser garoto-propaganda da Friboi, o nome foi alterado para Pantera; porém por razão desconhecida o nome do personagem de Tony Ramos foi novamente alterado para Zé Maria.[109][110][111] Deborah Evelyn interpretaria Nelita, mas acabou tendo o papel trocado com Bárbara Paz.[112][113]
Recepção
Audiência
O primeiro capítulo de A Regra do Jogo rendeu 31,5 pontos no IBOPE, segundo dados consolidados, sendo a pior estreia de uma novela das nove, superando Império, que até então, era a telenovela das nove com menor audiência em seu primeiro capítulo, com 32,1 pontos.[114] No entanto, a expectativa pela estreia fez com que a rede social Twitter ficasse inativa por alguns minutos.[115][116][117] O segundo capítulo, intitulado "Bandido Pobre", rendeu 29,5 pontos, 6% a menos que o primeiro.[118] O terceiro capítulo registrou 25,3 pontos, uma queda de 19,5% em relação ao primeiro, e com números inferiores a novela das sete (26,1) e ao SPTV (25,6).[119] Em Florianópolis, a trama estreou com 43,9 pontos de média, e um share de 64,9% — o que garante a atenção de mais de seis entre dez televisores ligados naquele momento.[120]
Durante as primeiras semanas, a telenovela sofreu forte incômodo com a Record, que exibia Os Dez Mandamentos.[121] Para que o impacto sobre a novela não fosse tão grande, a Globo resolveu estender o Jornal Nacional, para que a disputa por audiência entre as duas tramas tivesse o menor tempo possível.[122] Apenas após o fim da trama bíblica, a Globo pôde respirar aliviada ao ver os números de A Regra do Jogo subirem.[123]
No dia 16 de dezembro, a novela marcou novo recorde de audiência. Em São Paulo, chegou a 31 pontos de média e 34 no Rio de Janeiro. Na ocasião, foi revelado o mistério de quem da identidade do 'Pai' da facção.[124] Em São Paulo bateu recorde novamente em 4 de janeiro, no capítulo A Última Ceia, quando bateu 31,9 pontos.[125]
Nos capítulos "Recaída" e "O Tremor de Uma Suspeita", exibidos em 13 e 14 de janeiro, a trama das nove bateu novos recordes com 32,3 e 32,5 pontos no IBOPE da Grande São Paulo, respectivamente.[126][127] Impulsionada pela estreia de Êta Mundo Bom!, em 18 de janeiro, A Regra do Jogo marcou 33,4 pontos, sua maior audiência até então.[128] No capítulo intitulado "Abraço Partido", exibido em 28 de janeiro, a trama bateu seu recorde absoluto: 35 pontos em São Paulo e 40 pontos no Rio de Janeiro.[129]
Com 37 pontos, a trama das 9 bate seu recorde em 22 de fevereiro, com o capítulo "Quem Risca o Fósforo?", repetindo o índice no dia seguinte, com o capítulo "Culpada". Seu recorde negativo ocorreu na noite de réveillon, com o capítulo "Lama no Pescoço", quando cravou apenas 17 pontos.[130] No dia 3 de março, a trama consegue novo recorde, chegando a 39 pontos de audiência. Na ultima semana, no dia 8 de março, a novela alcançou 39,2 pontos, novo recorde.[131]
Em seu penultimo capitulo, alcança novo recorde, com 39,7 pontos.[132] Em 11 de março, seu último capitulo registrou 41 pontos com 43 pontos de pico. Superou as audiências do ultimo capitulo de Babilônia e Em Família.[133]
A trama terminou com uma média de 29 pontos, um acréscimo de 4 pontos em relação à sua antecessora Babilônia que teve 25,4 pontos de média geral.[134]
Avaliação em retrospecto
Vera Magalhães, da Folha de S.Paulo, avaliou o primeiro capítulo positivamente: "No aspecto formal, o primeiro capítulo de A Regra do Jogo mostrou elementos que têm tudo para prender o telespectador, como um microcosmo [...] bem construído, gírias que têm tudo para pegar, um casal com química e uma trilha sonora sofisticada". A jornalista deu três estrelas para a trama, isto é, classificou-a como "ótima".[135] Em texto para o Notícias da TV, Raphael Scire comparou a novela aos projetos anteriores de Carneiro, como Avenida Brasil e A Favorita, completando que "apesar de repetido, o enredo de Carneiro é cativante pela maneira como o autor narra sua história. Seus personagens oscilam o tempo todo na ambiguidade — a tal "outra face" que intitulou o primeiro capítulo — e mesmo assim não perdem o maniqueísmo, recurso primordial do gênero. Sem dúvida, o diferencial do autor está em saber brincar com essas nuances de personalidade como quem manipula peças de um jogo de xadrez".[136] Escritora do Diário de Pernambuco, Fernanda Guerra notou que "a novela aposta em uma aproximação com a realidade, a partir de personagens ambíguos e fotografia mais próxima do gênero reality show", citando cenas como a "do assalto a um banco, estrelada por Alexandre Nero como o ex-vereador Romero Rômulo", que, segundo ela, "foi de tirar o fôlego".[137] Lucas Rezende, do portal Heloisa Tolipan, adjetivou a trama de "eletrizante" e afirmou: "Lembrando ou não tramas antigas, a nova narrativa é um grande acerto, bem como seu elenco e o ritmo acelerado. Ainda há muita peça para sair desse jogo, mas o xeque mate não é difícil se ser previsto".[138]
O segundo capítulo da trama foi atrasado em torno de 30 minutos para não concorrer com a telenovela Os Dez Mandamentos, da RecordTV, que havia atrapalhado a estreia de A Regra do Jogo e tirado o primeiro lugar de Babilônia anteriormente.[150] Devido a instabilidade na audiência, novela foi encerrada um mês antes do previsto e sua sucessora, Velho Chico, teve que ser antecipada as pressas.[151]
↑José Armando Vannucci (19 de maio de 2015). «"A Regra do Jogo" acelera sua produção». Parabólica - Jovem Pan FM - UOL. Consultado em 1º de agosto de 2015. Arquivado do original em 15 de julho de 2015
↑«CD A Regra do Jogo - Vol 3». Lojas Globo. 27 de novembro de 2015. Consultado em 27 de novembro de 2015. Arquivado do original em 8 de dezembro de 2015