Crise separatista nos Camarões[7][8] ou crise anglófona nos Camarões[9] é um conflito nas regiões anglófonas dos Camarões, com os separatistas lutando contra o governo dos Camarões pela independência das regiões noroeste e sudoeste dos Camarões, onde vive a minoria anglófona do país[10] A crise teve início em outubro de 2016 com manifestações, greves e "cidades fantasmas", mas acabariam se agravando para confrontos armados após dura repressão do governo.[11][12][13]
O conflito causou a morte de mais de 6.000 civis, enquanto que 765.000 tornaram-se refugiados, internos e externos, escapando principalmente para a Nigéria. Tem sido marcado por uma forte repressão governamental, que a oposição acusa de conduzir prisões arbitrárias, torturas e atribuir condenações sem julgamento.
Protestos
Em outubro de 2016 uma série de protestos tiveram início após a nomeação de juízes francófonos em áreas de língua inglesa da República dos Camarões;[14] esses protestos ocorreram em duas regiões majoritariamente anglófonas: a Região Noroeste e a Região Sudoeste.[14] Em 23 de novembro de 2016, foi relatado que pelo menos duas pessoas foram mortas e 100 manifestantes foram presos em Bamenda, uma cidade da Região Noroeste.[15][16]
A partir de 17 de janeiro de 2017, surgiram relatos de que um bloqueio na internet havia sido implementado nas principais cidades das regiões Noroeste e Sudoeste dos Camarões; com muitos suspeitando que seria uma manobra do governo para desorganizar e acabar com os protestos anglófonos.[17][18]
Em 22 de setembro de 2017, milhares de manifestantes saíram às ruas exigindo a independência total. Em Buea, a capital dos Camarões do Sul, os secessionistas retiraram a bandeira nacional de uma delegacia de polícia e hastearam a bandeira azul de listras brancas da Ambazônia enquanto crianças pintaram o rosto de azul e branco para representar o território e cantaram "we want freedom" ("queremos liberdade"). Cerca de oito pessoas foram mortas, com fotos que circularam nas redes sociais.[19][20][21]
Em 1 de outubro, os camaroneses anglófonos declararam independência dos Camarões francófonos.[22] Marchas pacíficas ocorreram nas ruas das regiões anglófonas e os protestos ocorreram em várias cidades: Buea, Bamenda, Kumba, Kumbo e Mamfe. Os manifestantes levaram folhas para simbolizar a liberdade e cantaram músicas enquanto celebravam sua independência. No dia seguinte, 2 de outubro, a Amnistia Internacional informou que pelo menos 17 pessoas morreram em confrontos militares.[23][24]
Declaração de guerra
Em 9 de setembro de 2017, o Conselho de Defesa da Ambazônia (em inglês: Ambazonia Defense Council, ADC) implantou as Forças de Defesa da Ambazônia (em inglês: Ambazonia Defence Forces, ADF) nos Camarões do Sul. O líder do grupo Benedict Kuah declarou formalmente guerra ao governo dos Camarões e o lançamento de operações de combate para alcançar a independência da Federação da Ambazônia.[4] O Conselho de Defesa da Ambazônia declarou:
"O estado de guerra que foi declarado sobre o estado da Ambazônia pelo governo colonial ilegítimo e brutal de La Republique du Cameroun está por este meio comprometendo na autodefesa e pela libertação da Federação da Ambazônia dos abusos sistemáticos dos direitos humanos e a anexação ilegal sem um tratado de união".
[4]
Estratégia militar
O Exército dos Camarões trava uma guerra de contra-insurgência, com o objetivo de atingir a base de apoio dos separatistas. Isso inclui incendiar casas onde armas são encontradas e, de acordo com moradores locais (porém negado pelo exército), realizando ataques de vingança.[25]
Os separatistas ambazonianos travam uma guerra de guerrilha. Numerosa e materialmente inferiores ao Exército dos Camarões realizam ataques de "bater e correr", emboscadas e raides. De acordo com a Forças de Defesa da Ambazônia, em junho de 2018 havia 1.500 soldados do grupo, espalhados por vinte campos em todo os Camarões anglófonos.[26]
Violência
Camarões
Há evidências fotográficas que mostram uma política consistente de incendiar aldeias. O exército alegou que os soldados que foram filmados eram separatistas usando uniformes roubados do exército dos Camarões, uma alegação que foi negada pelos moradores locais. Imagens de satélite mostram grandes danos nas aldeias. Os jornalistas foram impedidos de entrar nas zonas de conflito e os soldados foram proibidos de transportar telefones celulares.[27]
Ambazônia
No final de 2017, os separatistas declararam um boicote escolar e atacaram e incendiaram escolas que se recusaram a fechar. Entre fevereiro de 2017 e maio de 2018, pelo menos 42 escolas foram atingidas.[27]
Consequências humanitárias
Em janeiro de 2018, 15.000 pessoas haviam fugido dos Camarões anglófonos para a Nigéria.[9] Esse número aumentou para pelo menos 40.000 pessoas até fevereiro.[28]
Segundo um relatório do International Crisis Group, até fevereiro de 2022 pelo menos 6.000 pessoas foram mortas no conflito, enquanto que 765.000 se tornaram refugiados internos e externos, especialmente na Nigéria.[29]
Baixas
No final de junho de 2018, o governo camaronês alegou que mais de 120 soldados e policiais haviam morrido desde o início do conflito.[30]
Ver também
Referências
- ↑ Explosions in Bamenda and Killings in Besongabang Military Base, ADF Claims Responsibility Arquivado em 2019-12-23 no Wayback Machine, Daily News Cameroon, 14 de setembro de 2017. Acessado em 19 de abril de 2018.
- ↑ Just In-Dr Samuel Ikome Sako Is New Acting Interim President of The ‘Federal Republic of Ambazonia’, Cameroon News Agency, 4 de fevereiro de 2018.
- ↑ President Ayuk Julius Tabe Wife Makes First Statement, Bareta News, 1 de fevereiro de 2018.
- ↑ a b c ADC Lands Ground Troops in Southern Cameroons, Declares War on LRC, Cameroon Journal, 10 de setembro de 2017.
- ↑ a b c d e Who are Cameroon's English-speaking separatists?, Daily Nation, 20 de fevereiro de 2018
- ↑ «Ambazonia defense forces». Cameroon Journal. 13 de setembro de 2017
- ↑ «Crise separatista nos Camarões fez fugir 43 mil anglófonos para Nigéria». ASemana Online. 26 de Janeiro de 2018
- ↑ «Separatismo anglófono nos Camarões põe em causa 35 anos de regime de Biya». Lusa. 21 de Dezembro de 2017
- ↑ a b «Cameroon's Anglophone crisis is threatening to spin out of control». Quartz Africa. 14 de Janeiro de 2018
- ↑ «Deadly clashes between troops, ADF forces leave Nguti on the brink». Journal du Cameroun. 13 de Março de 2018
- ↑ César Avó (28 de Janeiro de 2018). «O território dos Camarões perseguido por se falar inglês». Diário de Noticias
- ↑ «Há 35 anos no cargo, presidente de Camarões anuncia que tentará reeleição». UOL. 13 de julho de 2018
- ↑ «Pode a Igreja Católica mediar a "crise anglófona" nos Camarões?». Deutsche Welle. 8 de maio de 2018
- ↑ a b «Rights groups call for probe into protesters' deaths in Cameroon». CNN
- ↑ «Cameroon: Two were reported killed during pro-Anglophone protests» (em inglês). Africanews
- ↑ «Cameroon urged to investigate deaths amid anglophone protests» (em inglês). The Guardian. 13 de dezembro de 2016. ISSN 0261-3077
- ↑ «JUST IN: Internet Blocked in Bamenda Regions of Cameroon». pctechmag.com. 18 de janeiro de 2016
- ↑ «ÁFRICA/CAMARÕES - Há 50 dias sem internet as áreas anglófonas para tentar bloquear o protesto pelo bilinguismo». Agenzia Fides. 9 de Março de 2017
- ↑ «English speakers protest in Cameroon, demand equal rights amid calls for secession». Deutsche Welle. 22 de setembro de 2017
- ↑ Kindzeka, Moki Edwin. «Cameroon's French-English Divide Flares Up»
- ↑ «English speakers take to the streets in Cameroon»
- ↑ «António Guterres pede inquérito à violência nos Camarões». DN/Lusa. 3 de outubro de 2017
- ↑ «At least 17 killed in Cameroon anglophone unrest». Vanguard News. 2 de outubro de 2017
- ↑ «Cameroon's "Anglophone" crisis has reached a boiling point as security forces kill 17 protesters»
- ↑ 'Dirty war' ravages Cameroon's Buea region, Daily Nation, 5 de maio de 2018.
- ↑ Cameroon: I spent a week embedded with Anglophone armed separatists, RFI, 14 de junho de 2018.
- ↑ a b Burning Cameroon: Images you're not meant to see, BBC, 25 de junho de 2018.
- ↑ «Cameroon separatists claim to have abducted missing soldier». Africa News. 14 de fevereiro de 2018
- ↑ «Cameroonian families torn apart by Anglophone crisis detentions». Aljazeera. 15 de dezembro de 2022. Consultado em 15 de dezembro de 2022
- ↑ Cameroon says Military Casualties Mounting, Voice of America, 27 de junho de 2018.
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