A dieta diabética tem como principais objetivos, além da satisfação das necessidades nutricionais básicas do indivíduo com diabetes, o alcance do peso, do controle glicêmico, dos níveis de pressão e do percentual plasmático de lipídios adequados.[1]
Para tal, é imprescindível a adoção de uma alimentação variada e diversificada, baseada em alimentos in natura e minimamente processados e com ingestão limitada de alimentos com alto teor de gordura saturada, sal e açúcar adicionados e bebidas alcoólicas e açucaradas.[1][2]
É recomendado que os alimentos sejam preparados, de preferência, de modo grelhado, assado, cozidos no vapor ou, ainda, ingeridos crus. O fracionamento do plano alimentar em cinco a seis refeições distribuídas ao longo do dia também é importante, a fim de promover maior saciedade e um fornecimento equilibrado de micronutrientes.[1]
Terapia nutricional
A terapia nutricional é um tratamento para uma doença ou condição através da intervenção alimentícia.[1] Esta é fundamental no manejo do diabetes Mellitus (DM), visto que o controle metabólico contribui para a redução dos riscos de complicações relacionadas a esta doença.[1] A abordagem nutricional deve ser individualizada e requer alterações no estilo de vida[1], bem como ajustes na quantidade, proporção ou balanço de proteínas, lipídios e carboidratos e a reorganização do número e da frequência das refeições.[3]
Para pacientes obesos ou em sobrepeso, é recomendado a perda de 5% do seu peso inicial, com sua manutenção ao longo de todo o tratamento, pois o tecido adiposo visceral está relacionado a danos no pâncreas e no fígado, reduzindo significativamente a captação da glicose e a sensibilidade à insulina.[4]
Em alguns casos, a diabetes também está relacionada à perda de peso involuntária, visto que a relação entre a desnutrição e a hiperglicemia gera um comprometimento imunológico, associado a uma redução da massa magra.[4]
Nos pacientes diabéticos, a terapia nutricional pode levar a uma redução do valor sérico da hemoglobina glicada em 3 a 2%.[4] Estudos mostram que a adoção de padrões alimentares saudáveis, combinada à prática de atividade física, redução do peso corporal, baixa ingestão alcoólica e ausência do tabagismo, reduziu em torno de 70% o risco do desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2.[3] A terapia nutricional deve ser aplicada mediante o acompanhamento profissional, de maneira precoce e mantida durante toda a progressão da doença, a fim de atingir as metas terapêuticas.[4]
Recomendação para a ingestão de macronutrientes
As recomendações para a ingestão de macronutrientes para pessoas com diabetes mellitus[3] [5][1][4] são apresentadas na tabela 1.
Tabela 1. Recomendação para a ingestão de macronutrientes
VET: valor energético total (considerar as necessidades individuais, considerando parâmetros semelhantes aos da população sem diabetes, em todas as faixas etárias).
Recomendação para a ingestão de micronutrientes
Pacientes com uma dieta balanceada e variada apresentam satisfação das quantidades requeridas de micronutrientes, de modo que não existe uma recomendação específica para a sua ingestão.[5]
No entanto, algumas complicações podem estar relacionadas a vitaminas e minerais, como uma possível deficiência de ácido fólico e vitamina B1, decorrente do uso prolongado de metformina. Além disso, a deficiência de vitamina B12 pode estar associada a neuropatia diabética, enquanto a vitamina D está relacionada a efeitos positivos na secreção e sensibilidade à insulina. Porém, não existem evidências do benefício da suplementação em pacientes com diabetes.[1]
Contagem de carboidratos
A contagem de carboidratos constitui uma ferramenta para o controle glicêmico em pacientes com diabetes.[3] Estes não devem ser excluídos da alimentação, mas sim ingeridos na proporção adequada em relação às suas necessidades energéticas.
Um dos métodos que a constituem é a contagem em gramas, que permite ajustar, a partir da quantidade de carboidratos ingerida, as doses de insulina aplicadas previamente às refeições. Com isso, o indivíduo tem a possibilidade de controlar sua resposta glicêmica e, logo, realizar escolhas alimentares mais flexíveis.[6]
Tendo em vista que não somente a quantidade, mas também a qualidade dos carboidratos consumidos é determinante na resposta glicêmica, tal estratégia deve ser atrelada ao consumo prioritário de carboidratos complexos, os quais são digeridos e absorvidos de maneira mais lenta, gerando um aumento gradativo da glicemia. É importante que a ingestão destes se dê principalmente por meio de alimentos in natura e minimamente processados1 e de forma conjunta a outros nutrientes, como as fibras, proteínas e gorduras, que corroboram a redução da velocidade de sua absorção.[1]
Padrões alimentares recomendados para pacientes com Diabete Mellitus
Alguns padrões alimentares específicos são referidos na literatura por possuírem benefícios comprovados no controle dos indicadores de diabetes.
Um deles é a dieta mediterrânea, que, além de promover a longevidade, possibilita a redução de 9% do índice de mortalidade decorrente de doenças cardiovasculares. Ela é baseada no consumo de alimentos de origem vegetal in natura e minimamente processados e fontes de gorduras insaturadas (com destaque para o azeite de oliva), consumo moderado de peixes, aves, ovos e laticínios e quantias limitadas de carnes vermelhas e doces.[7]
Outro padrão que é destacado pela literatura é o DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), que caracteriza-se pelo aumento do consumo de ácidos graxos monoinsaturados e saturados e redução do teor de lipídios totais.[1]
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes. Brasília (DF): Clannad; 2019 [acesso em 22 jun 2022]. Disponível em: http://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2020/02/Diretrizes-Sociedade-Brasileira-de-Diabetes-2019-2020.pdf.
- ↑ Silva MVV. Alimentação e diabetes: material de educação alimentar e nutricional para profissionais de saúde no contexto da atenção primária à saúde. Porto Alegre: Grupo Hospitalar Conceição, 2020. Trabalho de Conclusão de Residência do Programa Saúde da Família e Comunidade. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2021/04/1177215/tcr-matheus-vinicius-vieira-da-silva.pdf
- ↑ a b c d Mahan LK, Raymond JL. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2018.
- ↑ a b c d e Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral e Federación Latinoamericana de Nutrición Parenteral y Enteral. Diretriz BRASPEN de Terapia Nutricional no Diabetes Mellitus. 4. ed. São Paulo: BRASPEN Journal; 2020. v. 35 [acesso em 22 jun 2022]. Disponível em: http://www.braspen.org/braspen-journal.
- ↑ a b Ministério da Saúde (BR). Abordagem nutricional em diabetes mellitus. Brasília (DF); 2000 [acesso em 20 jun 2022]. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/abordagem_nutricional_diabetes_mellitus.pdf.
- ↑ Melo DS, Oliveira CF, Setti C, Bortoli MC, DeMaio P, Boeira LS. Revisão Rápida: Estratégias alimentares efetivas para o tratamento da diabetes mellitus em adultos. Brasília (DF): Instituto Veredas; 2021 [acesso em 15 jun 2022]. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Laura-Boeira/publication/352669772_Estrategias_alimentares_efetivas_para_o_tratamento_da_diabetes_mellitus_em_adultos_Revisao_Rapida/links/60f1bd3b9541032c6d461a95/Estrategias-alimentares-efetivas-para-o-tratamento-da-diabetes-mellitus-em-adultos-Revisao-Rapida.pdf
- ↑ Ministério da Saúde (BR), Universidade de Brasília. Protocolos de uso do Guia Alimentar para a população brasileira na orientação alimentar de pessoas adultas com obesidade, hipertensão arterial e diabetes mellitus: bases teóricas e metodológicas. Brasília (DF); 2022 [acesso em 15 jun 2022]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/protocolos_guia_obesidade_fasciculo1.pdf