Diogo Gomes (c. 1402-1420? – c. 1502), também referido como Diogo Gomes de Sintra, foi um navegador e exploradorportuguês do século XV mais conhecido por sua exploração do estuário do rio Gâmbia e sua alegação de ter descoberto a ilha de Santiago, Cabo Verde.
Biografia
Poucos detalhes biográficos sobre Gomes são conhecidos com certeza. Acredita-se que ele tenha nascido em Portugal no início do século XV, estima que sua data de nascimento tenha sido na faixa de c. 1402-1420.[1] Foi moço de câmara do Infante D. Henrique, por ele enviado em expedições de descobrimento à costa ocidental da África. Em 1440 foi nomeado colector das alfândegas reais. Das viagens que efectuou, participou, com Gil Eanes e Lançarote de Freitas da expedição militar de 1445 à ilha de Tider, perto do cabo Branco.
Nomeado escrivão da carreagem real (12 de Junho de 1451), seguiu prestando serviços em simultâneo tanto ao Infante quanto à Coroa.
Como referiu Teixeira da Mota, Diogo Gomes navegou em 1456 até à embocadura do rio Grande, canal de Geba-Caió. No regresso subiu o rio Gâmbia até Cantor, em busca de informações sobre o comércio do ouro e das rotas que ligavam as regiões auríferas do Senegal, do Alto Níger e do entreposto comercial de Tombuctu às rotas saarianas que desembocavam no litoral marroquino. Durante esta expedição, Diogo Gomes capitaneava uma esquadra de três navios. Possivelmente no seu regresso tocou o arquipélago de Cabo Verde, cujo descobrimento reclama para si, na companhia do italiano Antonio da Noli[2]. Ainda antes da morte do Infante D. Henrique (1460), regressou à costa africana onde explorou o rio de Barbacins (Salum).
Após o falecimento do Infante estreitou-se a sua ligação com a Corte, adquirindo o título de cavaleiro. Em 1463 exercia o cargo de escudeiro de Afonso V de Portugal. Exerceu o cargo de almoxarife de Sintra, de 28 de Outubro de 1459 até 1480, tendo exercido ainda as de juiz dos "Feitos das Coutadas, das Caças e Montarias" de Sintra (25 de Março de 1466) cargo que acumulou com o de juiz das Sisas da vila de Colares (confirmado em 5 de Março de 1482).
Embora não se saiba ao certo em que ano faleceu, existe o registo de um pagamento que a sua viúva fez pela sua alma, em 1502.
Obra
Foi o único navegador do círculo do Infante a legar-nos memórias das próprias navegações. Estas foram transmitidas oralmente a Martin Behaim, à época radicado em Portugal, que seria autor do "Globo de Nuremberg" (c. 1492), uma das influências de Cristóvão Colombo em seu projecto de navegar para o Oriente pelo Ocidente.
Behaim redigiu essas notas em latim com o título de "De prima inuentione Guinee" ("Acerca do primeiro Descobrimento da Guiné"), inserta no "Manuscrito Valentim Fernandes". Este relato, também denominado como "Relação de Diogo Gomes", é essencial para o estudo do início da navegação marítima portuguesa. O manuscrito compreende duas outras partes: "De insulis primo inventis in mare Occidentis" e "De inventione insularum de Açores", este último o único relato contemporâneo do reconhecimento dos Açores pelos portugueses.
Em termos de historiografia não tem sido pacífica a atribuição da autoria da narrativa oral de Diogo Gomes a Behaim. Em estudo introdutório a recente edição desse texto, o latinista Aires Nascimento devolve a Diogo Gomes a sua autoria, demonstrando a falta de consistência de outras atribuições e apontando que o manuscrito representa um apógrafo em que o impressor moravo introduziu correcções preparatórias de uma edição, que nunca se realizou.
↑Outros autores atribuem-lhe o descobrimento de uma das ilhas de Cabo Verde no dia de São Vicente (22 de Janeiro) em 1462. Na altura seria escudeiro do infante D. Fernando.
Bibliografia
MOTA, Avelino Teixeira da. "Diogo Gomes, Primeiro Grande Explorador do Gâmbia (1456)". in: Actas da 2ª Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais, Lisboa, 1950, pp. 309–317.
SINTRA, Diogo Gomes de. Descobrimento Primeiro da Guiné (estudo preliminar, edição crítica, tradução, notas e comentário de Aires A. Nascimento. Introdução histórica de Henrique Pinto Rema). Lisboa: Edições Colibri, 2002. 174 pp.
CINTRA, Diogo Gomes de. "De Inventione Insularum de Açores" (1460). Códice da Biblioteca de Munique. Tradução in Arquivo dos Açores, vol. I. Ponta Delgada (Açores): 1878.
THOMAS, David; Mallett, Alexander. Christian-Muslim Relations. A Bibliographical History. Volume 5 (1350-1500). Leida: BRILL, 2013. ISBN 9004252789