Da principal nobreza de Viana, vindo ter à Bahia por acaso da fortuna, Diogo alcançou a costa na altura do Arraial do Rio Vermelho como náufrago de uma embarcação francesa, entre 1509 e 1510[5] ou, segundo outras fontes, após 1530.[6] Acerca do episódio, afirma-se:[7][8]
“
Viajando para São Vicente por volta de 1510, o Fidalgo da Casa Real Diogo Álvares naufragou nas proximidades do Rio Vermelho, em Salvador, na baía de Todos os Santos. Seus companheiros foram mortos pelos Tupinambá, mas ele conseguiu sobreviver e passou a viver entre os índios, de quem recebeu a alcunha de Caramuru, que significa moreia.
”
O apelido seria uma referência ao fato de Diogo Álvares ter sido encontrado pelos indígenas em meio às pedras da praia e às algas, como se fosse uma moreia.[4] Segundo outra versão, muito difundida, embora contestada por vários historiadores,[8] ele teria conseguido impor-se definitivamente perante os indígenas por ter disparado para o ar uma arma de fogo, desconhecida dos indígenas, os quais, muito assustados, teriam passado a chamá-lo, desde então, "Caramuru", nome para o qual foram atribuídos muitos significados, a depender da fonte consultada: 'filho do fogo', 'filho do trovão', 'homem do fogo', 'dragão do mar', 'dragão que o mar vomita', peixe semelhante à moreia, grande moreia ou 'aquele que sabe falar a língua dos índios'. O episódio da arma de fogo - pela primeira vez referido, por escrito, pelo padre jesuíta Simão de Vasconcelos -, aparece em quase todas as narrativas sobre o Caramuru até meados do século XIX. Varnhagen foi o primeiro a duvidar desse relato e a ironizá-lo. Historiadores posteriores, porém, continuaram a repetir a mesma história.[6] As origens nobres de Diogo Álvares começariam a ser afirmadas no século XVII, com Frei Vicente do Salvador[9] e o padre Simão de Vasconcelos,[10] prosseguindo com Sebastião da Rocha Pita, no século XVIII.[11]
O náufrago foi bem acolhido pelos Tupinambás, a ponto de o chefe deles, Taparica, ter-lhe dado uma de suas filhas, Paraguaçu, como esposa. Ao longo de quatro décadas Correia manteve contatos com os navios europeus que aportavam ao litoral da Bahia em busca de madeira da "Caesalpinia echinata" (pau-brasil) e outros géneros tropicais. As relações com exploradores franceses[6]:3 levaram-no, entre 1526 e 1528, a visitar aquele país, onde a companheira foi batizada em Saint-Malo, Catherine du Brésil, possivelmente em homenagem a Catherine des Granches, esposa de Jacques Cartier, que foi a sua madrinha. Posteriormente, Paraguaçu passaria a ser referirda como Catarina Álvares Paraguaçu.[12][13] Na mesma ocasião, foi batizada outra índigena Tupinambá, Perrine, o que fundamenta outra lenda segundo a qual várias índigenas, por ciúmes, teriam se jogado ao mar para acompanhar Caramuru quando este partia para a França com Paraguaçu.
Sob o governo do donatário da capitania da Bahia, Francisco Pereira Coutinho, recebeu importante sesmaria, tendo procurado exercer uma função mediadora entre os colonos e os indígenas, não conseguindo, todavia, evitar o reencontro de Itaparica, onde, após naufrágio do bergantim que possuía vindo de Porto Seguro, Pereira Coutinho perdeu a vida devorado pelos tupinambás no local hoje conhecido como Cacha Pregos. Diogo Álvares, por suas ligações e proeminência entre os indígenas, escapou ileso, retornando a Salvador.
Conhecedor dos costumes nativos, Diogo Álvares contribuiu para facilitar o contato entre estes e os primeiros missionários e administradores europeus. Em 1548, tendo D. João III de Portugal formulado o projeto de instituição do governo-geral no Brasil, recomendou ao Caramuru que criasse condições para que a expedição de Tomé de Sousa fosse bem recebida, fato que revela a importância que o antigo náufrago alcançara também na Corte portuguesa.
Apolônia Álvares Correia, casada com o Capitão João de Figueiredo Mascarenhas, o Boatucá, Buatacá ou Mboy-Tatá (o Cobra de Fogo) (Faro, 1537 - Bahia), FidalgoCavaleiro da Casa Real em 1567, com descendência;
Grácia Álvares Correia, casada com Antão Gil (Évora - 31 de Outubro de 1603), com descendência.
E além destes, teve inúmeros filhos com outras esposas indígenas, como era comum entre os Tupinambás:[1][24][25]
Gaspar Álvares, casado com Maria Rabelo, Rabello, Rebelo ou Rebello, irmã de Lopo Rabelo, Rabello, Rebelo ou Rebello, Escrivão da Alçada;
Marcos Álvares;
Manoel Álvares (da mesma mãe de João);
João Álvares (da mesma mãe de Manoel);
Diogo Álvares;
Brites Álvares, casada com Antônio Vaz, com descendência;
Madalena Álvares, considerada a primeira mulher alfabetizada do Brasil, casada com Afonso Rodrigues, com descendência;
Helena Álvares, casada com João Luiz, com descendência;
Izabel Álvares, casada com Francisco Rodrigues, com descendência;
Catarina Álvares, casada com Gaspar Dias, com descendência.
Na mídia
Em 2001, a sua história foi transformada em um filme brasileiro Caramuru - A invenção do Brasil. No filme, Paraguaçu tinha como irmã a lendária Moema, originariamente citada (sem essa relação de parentesco) no poema "Caramuru" de Frei Santa Rita Durão (1781).
↑ abCaramuru, o mito: conquista e conciliação. Por David Treece. Tradução de Marcos César de Paula Soares. Teresa - revista de Literatura Brasileira [12|13]; São Paulo, p. 307-344, 2013.
↑SALVADOR, Frei Vicente do. História do Brasil (1500-1627). São Paulo: Melhoramentos, 1965
↑VASCONCELLOS, Simão de. Chronica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil.
↑ROCHA PITTA, Sebastião da. História da America Portugueza desde o anno de mil e quinhentos do seu descobrimento até o de mil e setecentos e vinte e quatro. Lisboa: Francisco Arthur da Silva, 1880
↑ OBRY, Olga. Catherine du Brésil, filleule de Saint Malo. Paris: Nouvelles Editions Latines, 1953.
↑JABOATÃO, A. DE S. M. Catálogo genealógico das principais famílias: que procederam de Albuquerques, e Cavalcantes em Pernambuco, e Caramurus na Bahia, tiradas de memorias, manuscritos antigos e fidedignos, autorizados por alguns escritores, e em especial o Theatro Genealógico de D. Livisco de Nazáo Zarco e Colona, aliás Manoel de Carvalho de Atahide, e acrescentado o mais moderno, e confirmado tudo, assim moderno, como antigo com assentos dos livros de baptizados, cazamentos, e enterros, que se guardam na Camara Ecceziastica da Bahia. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, tomo LII, parte 1, 1889.
↑MACEDO, J. O sangue do Caramuru no Cariri cearense: novos subsídios para o estudo dos Bezerra de Menezes. Itaytera, Crato (CE), n. 30, p. 111-120, 1986.
↑JABOATÃO, A. DE S. M. Catálogo genealógico das principais famílias: que procederam de Albuquerques, e Cavalcantes em Pernambuco, e Caramurus na Bahia, tiradas de memorias, manuscritos antigos e fidedignos, autorizados por alguns escritores, e em especial o Theatro Genealógico de D. Livisco de Nazáo Zarco e Colona, aliás Manoel de Carvalho de Atahide, e acrescentado o mais moderno, e confirmado tudo, assim moderno, como antigo com assentos dos livros de baptizados, cazamentos, e enterros, que se guardam na Camara Ecceziastica da Bahia. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, tomo LII, parte 1, 1889.
↑JABOATÃO, Fr. Antonio de S. Maria. Catálogo Genealógico das principais famílias que procederam de Albuquerques e Cavalcantis em Pernambuco e Caramurús na Bahia. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol.LII e Notas de Pedro Calmon ao Catálogo.
↑CALMON, Pedro. Introdução e Notas ao Catálogo Genealógico das principais Famílias, de Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão. Salvador, Bahia. Empresa Gráfica da Bahia, 1985. 2v, 809 p.
↑MOYA, Salvador de. Anuário Genealógico Brasileiro - Titulares do Império. Publicações do Instituto Genealógico Brasileiro. São Paulo, 1941 - ANO III. pp 482-502.
↑CASTRO, Orlando Guerreiro de. Casa da Torre de Garcia de Avila, Varonia - Chefia - Representação. Rio de Janeiro, junho de 1961. 4 p.
↑MACEDO, J. O sangue do Caramuru no Cariri cearense: novos subsídios para o estudo dos Bezerra de Menezes. Itaytera, Crato (CE), n. 30, p. 111-120, 1986.
↑JABOATÃO, A. DE S. M. Catálogo genealógico das principais famílias: que procederam de Albuquerques, e Cavalcantes em Pernambuco, e Caramurus na Bahia, tiradas de memorias, manuscritos antigos e fidedignos, autorizados por alguns escritores, e em especial o Theatro Genealógico de D. Livisco de Nazáo Zarco e Colona, aliás Manoel de Carvalho de Atahide, e acrescentado o mais moderno, e confirmado tudo, assim moderno, como antigo com assentos dos livros de baptizados, cazamentos, e enterros, que se guardam na Camara Ecceziastica da Bahia. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, tomo LII, parte 1, 1889.