O Movimento Primeiro de Março, ou Movimento Sam-il (3-1) (coreano: 삼일 운동; hanja: 三一 運動)), foi uma das primeiras demonstrações públicas da resistência coreana durante a ocupação do Império Coreano pelo Japão. O nome refere-se a um evento que ocorreu em 1º de março de 1919, daí o nome do movimento, significando literalmente "Movimento Três Um" ou "Movimento Primeiro de Março" em coreano. Ele é às vezes chamado de Demonstrações Manse (coreano: 만세운동; hanja: 萬歲運動;).
Segundo o historiador coreano Park Eun-sik, a repressão teria resultado em cerca de 7.500 mortos, 16.000 feridos e 46.000 prisões.
Outro fato que impulsionou as mobilizações, foi a morte do Imperador Gojong, no dia 21 de janeiro de 1919, pois havia uma suspeita generalizada de que ele tinha sido envenenado pelos japoneses.
No dia 1º de março, ocorreu o funeral do Imperador, que reuniu uma grande quantidade de coreanos[1][2][3][4][5].
Eventos na Coreia
Às 14 horas de 1º de março de 1919, os 33 nacionalistas que formavam o núcleo do Movimento Samil reuniram-se no restaurante Taehwagwan em Seul, e leram, em voz alta, a declaração de independência coreana que havia sido escrita pelo historiador Choe Nam-seon. Os nacionalistas inicialmente planejaram reunir-se no Parque Tapgol no centro de Seul, mas eles acabaram escolhendo um local mais privado com medo de que o encontro poderia se tornar em um motim. Os líderes do movimento assinaram o documento e enviaram uma cópia para o Governador-Geral da Coreia.
Os líderes do movimento então telefonaram para a polícia para informar sobre suas ações e foram presos.
Antes da declaração formal, a Coreia também exibiu as seguintes queixas do povo japonês através de suas publicações e mídia:
A crença de que o governo deveria discriminar quando empregasse coreanos ao invés de japoneses; eles exigiam que nenhum coreano tivesse posições importantes no governo.
A existência de uma disparidade na educação oferecida aos coreanos e aos japoneses.
Os japoneses desprezaram e mal trataram os coreanos em geral.
Oficiais políticos, coreanos e japoneses, eram arrogantes.
Não havia nenhum tratamento especial para as classes altas ou acadêmicos.
Os processos administrativos eram muito complicados e muitas leis foram criadas para guiar o comportamento do povo.
Havia muito trabalho forçado que não era desejado pelo público.
A carga tributária era muito alta e os coreanos estavam pagando mais do que antes, enquanto recebiam a mesma quantidade de serviços.
A terra continuou a ser confiscada pelos japoneses por razões pessoais.
Professores de vilas coreanas foram forçados a deixar seus empregos porque os japoneses tentavam suprimir suas tradições e ensinamentos.
O desenvolvimento da Coreia foi almejado em benefício dos japoneses. Eles argumentavam que apesar de os coreanos trabalharem para alcançar o desenvolvimento, eles não recebiam os benefícios de seu próprio trabalho.
Estas queixas foram altamente influenciadas pela Declaração de Wilson do Princípio da Autodeterminação.[6]
Apesar das preocupações dos nacionalistas, multidões se reuniram no Parque Pagoda para ouvir um estudante, Chung Jae-yong, ler a declaração publicamente. Após isso, formou-se uma procissão, que a polícia militar japonesa tentou suprimir. Delegados especiais associados com o movimento também leram cópias da proclamação da independência por vários locais pelo país às 14 horas do mesmo dia.
Os protestos continuaram a se espalhar e, como a polícia local e militar japonesa não conseguiam conter as multidões, o exército e até mesmo a marinha foram chamados. Há alguns relatos de atrocidades. Em um exemplo notável, a polícia japonesa trancou os habitantes da vila de Jeam-ri em uma igreja antes de queimá-los.
Aproximadamente dois milhões de coreanos participaram em mais de 1,5 mil demonstrações, muitos das quais foram massacrados pela força policial japonesa e exército.[7] O livro A Sangrenta História do Movimento de Independência Coreana (한국독립운동지혈사, 韓國獨立運動之血史), escrito por Park Eunsik alega que 7.509 pessoas foram mortas, 15.849 feridas e 46.303 presas.
Entre 1º de março e 11 de abril, oficiais japoneses relataram que 553 pessoas foram mortas e mais de 12 mil presos, enquanto 8 policiais e policiais militares foram mortos e 158 foram feridos. Muitos desses presos foram levados à infame Prisão de Seodaemun em Seul onde eles foram aprisionados sem julgamento e torturados. Algumas centenas de pessoas foram assassinadas em assassinatos extrajudiciais na "casa da morte".[8]
Em junho de 1920, ocorreu a Batalha de Chingshanli, que foi a primeira batalha em grande escala entre as milícias que lutavam pela independência da Coreia e o exército japonês na Manchúria.
Em outubro de 1920, ocorreu a Batalha de Qingshanli, outra importante batalha entre as milícias que lutavam pela independência da Coreia e o exército japonês na Manchúria.
Efeitos
O Movimento Primeiro de Março resultou em uma grande mudança na política imperial em relação à Coreia. Hasegawa Yoshimichi, então Governador-Geral da Coreia, aceitou a responsabilidade pela perda do controle (embora a maioria das medidas repressivas em relação ao levante foram também utilizadas pelos seus predecessores) e foi substituído por Saito Makoto. Alguns dos aspectos do domínio japonês considerados mais desagradáveis aos coreanos foram suprimidos. A polícia militar foi substituída por uma força civil e uma liberdade de imprensa limitada foi permitida sobre o que foi chamado de 'política cultural'. Muitas dessas políticas moderadas foram revertidas durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa e Segunda Guerra Mundial.
Após o movimento, pela primeira vez na Coreia, as mulheres encontraram oportunidades para expressar suas opiniões. Ideias da liberação feminina passaram a ser publicadas após a rebelião. Jornais como o Sin Yoja (Nova Mulher) e Yoja Kye (Mundo da Mulher) foram impressos.
Devido à repressão e à caça de ativistas pelos japoneses, muitos líderes coreanos foram para o exílio na Manchúria, em Xangai e em outras partes da China, onde continuaram suas atividades. O Movimento foi um catalisador para o estabelecimento do Governo Provisório da República da Coréia em Xangai, em abril de 1919. Também influenciou o crescimento da resistência não violenta na Índia e em muitos outros países. [7] O Exército de Libertação Coreano foi posteriormente formado e autorizado a operar na China pelo Governo Nacionalista da China. Durante este período, houve uma mobilização de ativistas católicos e protestantes na Coréia, com o ativismo incentivado entre a diáspora coreana nos Estados Unidos, China e Rússia[9].
Entre 12 e 14 de abril de 1919, foi convocado o Primeiro Congresso Coreano foi convocado por Soh Jaipil, na Filadélfia (Estados Unidos) em apoio à independência da Coréia.
Uma delegação de emigrantes coreanos de Japão, China e Havaí buscou ganhar apoio internacional pela independência na Conferência de Paz de Paris (1919). Os Estados Unidos e o Japão Imperial bloquearam a tentativa da delegação de discursar na conferência.[10]
Em abril de 1919, o Departamento de Estado dos Estados Unidos contou ao embaixador no Japão que "o consulado [em Seul] deveria ser extremamente cuidadoso para não encorajar qualquer crença de que os Estados Unidos irão auxiliar os nacionalistas coreanos em prosseguir com seus planos e que não deveria fazer nada que pudesse deixar as autoridades japonesas com a suspeita de que o governo americano simpatiza com o movimento nacionalista coreano".[11]
↑[Anchor Briefing 'Soldados médicos coreanos são como enxames de moscas'], em coreano, acesso em 17/09/2021.
↑[Em busca dos vestígios daquele dia A vontade do povo para a independência floresce com farol e tocha na fortaleza de Namhansanseong], em coreano, acesso em 17/09/2021.