O carnaval do Grupo Especial foi temático, em comemoração ao aniversário de quinhentos anos da descoberta do Brasil pelos portugueses. Todas as escolas escolheram enredos sobre a história do Brasil.[1][2] O ano também foi marcado pelo impasse entre a Unidos da Tijuca e a Arquidiocese do Rio de Janeiro sobre um painel com a pintura de Nossa Senhora da Boa Esperança e uma cruz de madeira que seriam utilizadas no abre-alas da escola. Os objetos chegaram a ser apreendidos pela polícia e o carnavalesco da Tijuca foi detido.[3] O caso foi parar na Justiça, que liberou a utilização dos símbolos religiosos.[4] Em acordo com a Arquidiocese, a Tijuca decidiu manter a cruz e modificar o painel.[5] Outra polêmica ocorreu no desfile da Porto da Pedra, pelo fato da modelo Ângela Bismarchi desfilar nua, com o corpo pintado com um desenho da bandeira brasileira. Correndo risco de ser presa por vilipêndio aos símbolos nacionais, a modelo precisou cobrir o corpo.[6]
Assim como no ano anterior, a Imperatriz Leopoldinense foi a campeã por meio ponto de diferença para a Beija-Flor.[7] A Imperatriz conquistou seu sétimo título no carnaval carioca com um desfile sobre a descoberta do Brasil. O enredo "Quem Descobriu o Brasil, Foi Seu Cabral, no Dia 22 de Abril, Dois Meses Depois do Carnaval" foi desenvolvido pela carnavalesca Rosa Magalhães, que garantiu seu quinto título no carnaval do Rio.[8] Após 21 anos consecutivos na elite do carnaval, a Vila Isabel foi rebaixada para a segunda divisão junto ao Porto da Pedra.[9][10][11]
O desfile do Grupo Especial foi organizado pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA) e realizado no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, a partir das 20 horas dos dias 5 e 6 de março de 2000.[13] Em comemoração ao aniversário de quinhentos anos da descoberta do Brasil pelos portugueses, a LIESA decidiu que todas as escolas teriam enredos referentes ao país. A própria Liga forneceu 21 opções temáticas para as agremiações. Cada escola recebeu uma quantia extra de quinhentos mil reais da Prefeitura do Rio de Janeiro para confeccionar os desfiles. Este foi o segundo desfile temático da história do carnaval carioca. Em 1965, as escolas desfilaram com enredos ligados ao Rio de Janeiro, em comemoração ao quarto centenário da cidade.[1][2][14]
Ordem dos desfiles
Seguindo o regulamento do ano, a campeã de 1999, Imperatriz Leopoldinense, pôde escolher dia e posição de desfile. A primeira noite de apresentações foi aberta pela vice-campeã do Grupo A do ano anterior, Unidos do Porto da Pedra; enquanto a segunda noite foi aberta pela campeã do Grupo A do ano anterior, Unidos da Tijuca. A ordem de desfile das demais escolas foi definida através de sorteio realizado no dia 14 de junho de 1999, na quadra da Imperatriz.[15]
Foi mantida a quantidade de três julgadores por quesito. Dez quesitos foram julgados, ante nove do ano anterior. O quesito Conjunto, fora do julgamento desde 1997, voltou a ser avaliado.[16]
A apuração do resultado foi realizada na tarde da quarta-feira de cinzas, dia 8 de março de 2000, na Praça da Apoteose.[17] De acordo com o regulamento do ano, as notas variam de cinco a dez, podendo ser fracionadas em meio ponto. O desempate entre agremiações que obtiveram a mesma pontuação final seguiu a ordem inversa de leitura das notas, sendo Bateria, o primeiro quesito de desempate.[18][16]
As quatro primeiras colocações foram exatamente as mesmas do carnaval anterior.[19] A Imperatriz Leopoldinense conquistou seu sétimo título no carnaval carioca.[7] Quarta escola da segunda noite, a Imperatriz realizou um desfile sobre o descobrimento do Brasil.[20] O enredo "Quem Descobriu o Brasil, Foi Seu Cabral, no Dia 22 de Abril, Dois Meses Depois do Carnaval" foi desenvolvido pela carnavalesca Rosa Magalhães, que garantiu seu quinto título no carnaval do Rio.[8] O desfile retratou toda a expedição saída de Portugal até a chegada ao Brasil. Em toda a apuração, a escola perdeu apenas meio ponto (no quesito Mestre-Sala e Porta-Bandeira).[1]
A Beija-Flor novamente ficou com o vice-campeonato por meio ponto de diferença para a Imperatriz. O desfile da Beija-Flor apontou uma "conspiração celestial" que determinou o Brasil como "pátria de todos os povos".[21][22] Terceira colocada, a Unidos do Viradouro retratou os paraísos e infernos vividos por índios, negros e brancos na história do Brasil.[23] Com um desfile sobre as cores da bandeira do Brasil, a Mocidade Independente de Padre Miguel se classificou em quarto lugar. Cada setor do desfile apresentou uma cor da bandeira, com fantasias e alegorias monocromáticas.[24][25] Campeã do Grupo A no ano anterior, a Unidos da Tijuca conquistou a última vaga do Desfile das Campeãs apresentando um enredo semelhante ao da campeã Imperatriz, sobre a expedição que resultou no Descobrimento do Brasil e a primeira semana dos navegadores no Brasil.[26] Dias antes do desfile, a polícia, a pedido da Arquidiocese do Rio de Janeiro, apreendeu um painel com a pintura de Nossa Senhora da Boa Esperança e uma cruz de madeira que estaria no abre-alas da escola. A alegoria representava a celebração da primeira missa no Brasil. O carnavalesco da escola, Chico Spinoza, chegou a ser detido.[3] O caso foi parar na Justiça, que liberou a utilização dos símbolos religiosos.[4][27] Em acordo com a Arquidiocese, a Tijuca decidiu manter a cruz, mas modificar o painel.[5]
Acadêmicos do Salgueiro foi a sexta colocada com um desfile sobre a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil e a transição do Brasil de Colônia para Reino, no começo do século XIX.[28] Sétima colocada, a Estação Primeira de Mangueira abordou a luta dos negros pela liberdade, tendo como fio condutor a figura de Dom Obá, príncipe da nação iorubá que chegou ao Brasil como escravo.[29][30] Com um desfile sobre os artistas de desafiaram a Ditadura Militar no Brasil, a União da Ilha do Governador se classificou em oitavo lugar.[31]Acadêmicos do Grande Rio ficou em nono lugar abordando o contraste entre o espírito festivo dos indígenas e a repulsa a essas manifestações por parte dos colonizadores portugueses.[32]Portela e Caprichosos de Pilares somaram a mesma pontuação final. O desempate, no quesito Bateria, deu o décimo lugar à Portela, que realizou um desfile sobre a Era Vargas.[33] Caprichosos foi a décima primeira colocada retratando o período de 1956 a 1992 (pré, durante, e pós ditadura militar).[34] Antepenúltima colocada, a Tradição desfilou a influência da cultura negra no Brasil. Após 21 anos consecutivos na elite do carnaval, a Unidos de Vila Isabel foi rebaixada para a segunda divisão. A escola se classificou em penúltimo lugar com um desfile sobre os povos indígenas no Brasil.[35] Recém promovida ao Grupo Especial, após conquistar o vice-campeonato do Grupo A de 1999, a Unidos do Porto da Pedra foi rebaixada de volta para a segunda divisão. Com um desfile sobre a transição do Brasil de Império para a República, a escola obteve a última colocação.[36]
Legenda: Desfile das Campeãs Rebaixadas para o Grupo A
O Desfile das Campeãs foi realizado a partir da noite do sábado, dia 11 de março de 2000, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. O desfile foi aberto por crianças de escolas de samba mirins. Em seguida se apresentou a escola de samba italiana Cento Carnavalle d'Europa e a Unidos do Mundo, em que foliões de doze países desfilaram ao som de um samba inédito de Martinho da Vila.[39] Logo após, as cinco primeiras colocadas do Grupo Especial desfilaram seguindo a ordem inversa de classificação.[40] Assim como no ano anterior, a campeã, Imperatriz, recebeu vaias do público. A partir desse ano, as escolas do grupo de acesso deixaram de participar do Desfile das Campeãs.[41]
Desfile da Viradouro em 2000. Escola se classificou em terceiro lugar.
Desfile de 2000 da Mocidade. Escola foi a quarta colocada do Especial.
De acordo com o regulamento do ano, as notas variam de cinco a dez, podendo ser fracionadas em meio ponto. O desempate entre agremiações que obtiveram a mesma pontuação final seguiu a ordem inversa de leitura das notas. Unidos do Cabuçu, Estácio de Sá e Império da Tijuca foram penalizadas por infringirem itens do regulamento.[44]
Com nota máxima de todos os julgadores, o Império Serrano foi campeão, garantindo seu retorno ao Grupo Especial, de onde foi rebaixado no ano anterior. Este foi o segundo título do Império na segunda divisão. A escola realizou um desfile sobre a Batalha dos Guararapes.[45] Vice-campeã, a Paraíso do Tuiuti garantiu sua promoção inédita à primeira divisão.[7][1] A escola teve a mesma pontuação final que a Em Cima da Hora. O desempate foi no quesito Harmonia.[10][42]
Legenda: Promovidas ao Grupo Especial Rebaixadas para o Grupo B
O desfile do Grupo B (terceira divisão) foi organizado pela AESCRJ e realizado a partir da noite da terça-feira, dia 7 de março de 2000, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí.[13][46]
O desfile do Grupo C (quarta divisão) foi organizado pela AESCRJ e realizado a partir da noite do domingo, dia 5 de março de 2000, na Avenida Rio Branco.[13][49]
O desfile do Grupo D (quinta divisão) foi organizado pela AESCRJ e realizado a partir da noite da segunda-feira, dia 6 de março de 2000, na Rua Cardoso de Morais, em Bonsucesso.[13][51]
O desfile do Grupo E (sexta divisão) foi organizado pela AESCRJ e realizado a partir da noite da terça-feira, dia 7 de março de 2000, na Rua Cardoso de Morais.[13][52]
Bastos, João (2010). Acadêmicos, unidos e tantas mais - Entendendo os desfiles e como tudo começou 1.ª ed. Rio de Janeiro: Folha Seca. 248 páginas. ISBN978-85-87199-17-1
Gomes, Fábio; Villares, Stella (2008). O Brasil É Um Luxo: Trinta Carnavais de Joãosinho Trinta 3.ª ed. São Paulo: CBPC - Centro Brasileiro de Produção Cultural Ltda. e AXIS Produções e Comunicação Ltda. 256 páginas. ISBN978-85-87134-04-2
Gomyde Brasil, Pérsio (2015). Da Candelária à Apoteose - Quatro décadas de paixão 3.ª ed. Rio de Janeiro: Multifoco. ISBN978-85-7961-102-5
Valença, Rachel; Valença, Suetônio (2017). Serra, Serrinha, Serrano - O Império do Samba 1.ª ed. Rio de Janeiro: Record. 433 páginas. ISBN978-85-0110-897-5