Tambor de crioula
Tambor de crioula ou punga[1] é uma dança de origem africana praticada por descendentes de escravos africanos no estado brasileiro do Maranhão, em louvor a São Benedito, um dos santos mais populares entre os negros. É uma dança alegre, marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração.[2] Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de crioula são variados: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos. É praticado em qualquer época do ano, mas com maior frequência no carnaval e durante as festas juninas. A Lei nº 13.248 de 12 de janeiro de 2016 estabeleceu a data de 18 de junho como o dia do Tambor de Crioula.[3] Em 2007, foi registrado como forma de expressão e patrimônio Cultural do Brasil[4] - aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) -[5] ao lado de manifestações como o marabaixo (Amapá), o carimbó (Pará), o maracatu (Parnanbuco) e a arte kusiwa do povo indígena waiãpi (Amapá). CoreografiaA dança não requer ensaios. Originalmente, não exigia um tipo de indumentária fixa, mas nos dias atuais a dança pode ser vista com as brincantes vestidas em saias rodadas com estampas em cores vivas, anáguas largas com renda na borda e blusas rendadas e decotadas brancas ou de cor. Os adornos de flores, colares, pulseiras e torços coloridos na cabeça terminam de compor a caracterização da dançante. Os homens trajam calça branca, chapéu de palha e camisa estampada. A animação é feita com o canto puxado pelos homens, com o acompanhamento das mulheres. Um brincante puxa a toada de levantamento que pode ser uma toada já existente ou improvisada. Em seguida, o coro, integrado pelos instrumentistas e pelas mulheres, acompanha, passando esse canto a compor o refrão para os improvisos que se sucederão. Os temas, puxados livremente em toadas, podem ser classificados como de auto-apresentação, louvação aos santos protetores, sátiras, homenagem às mulheres, desafio de cantadores, fatos do cotidiano e despedida. A coreografia da dança apresenta vibrantes formas de expressão corporal, principalmente pelas mulheres que ressaltam, em movimentos coordenados e harmoniosos, cada parte do corpo (cabeça, ombros, braços, cintura, quadris, pernas e pés). As dançantes se apresentam individualmente no interior de uma roda formada por um grupo de vários brincantes, incluindo dirigentes, dançantes, cantadores e tocadores. Da roda, participam também os acompanhantes do tambor. Todos acompanham o ritmo com palmas. O tambor de crioula apresenta coreografia livre e variada. A brincante que está no centro é responsável pela demonstração coreográfica principal, mostrando sua forma individual de dançar. No centro da roda, os movimentos são mais livres, mais intensos e bem acentuados, seguindo o compasso dos tocadores. A dança apresenta uma particularidade: a punga ou umbigada. Entre as mulheres, se caracteriza como um convite para entrar na roda. Quando a brincante está no centro e quer sair, avança em direção a outra companheira, aplicando-lhe a punga, que consiste no toque com a barriga. A que estiver na roda vai para o centro para continuar a brincadeira. Instrumentos musicaisToda a marcação dos passos da dança é feita por um conjunto de tambores que os brincantes chamam de parelha. São três tambores nos tamanhos pequeno, médio e grande, feitos de troncos de mangue, pau d'arco, soró ou angelim. Um par de matracas batidas no corpo do tambor grande auxilia na marcação. O tambor pequeno é conhecido como crivador ou pererengue; o médio é chamado de meião, meio ou chamador e o grande recebe, entre os tocadores, os nomes de roncador ou rufador. Os tambores são bastante rústicos, feitos manualmente de troncos cortados nos três tamanhos e trabalhados exteriormente com plainas para que a parte superior fique mais larga que a inferior. Internamente, o tronco é trabalhado a fogo com o auxílio de instrumentos de ferro para que fique oco. A cobertura do tambor é feita com o couro de boi, veado, cavalo ou tamanduá. Depois da cobertura, é derramado azeite doce no couro, que fica exposto ao sol para enxugar e atingir o "ponto de honra", quando é considerado totalmente pronto. Durante a dança, os tambores são esquentados na fogueira para que tenham afinação perfeita. Casa do Tambor de Crioula
Em julho de 2018, foi inaugurada a Casa do Tambor de Crioula, no bairro da Praia Grande, um espaço destinado a preservar e divulgar a manifestação cultural, e concebido como um um centro de pesquisa, memória e documentação da história afrobrasileira.[7] O local conta um espaço multiuso destinado à exposição permanente, com artefatos, painéis e informação sobre o Tambor de Crioula. Na área de vivência, ocorrem as apresentações dos grupos. Há salas de dança, oficinas, estúdio de gravação e auditório. [7] No espaço para atividades de ensino e formação, são realizadas oficinas de saberes tradicionais (ritmo/dança, confecção de indumentárias e de tambores, artesanato e demais inúmeras formas de produção e reprodução material e imaterial sobre a manifestação).[8] Além do espaço audiovisual, há um centro de pesquisa e documentação sobre temas relacionados ao Tambor de Crioula e demais temas relacionados a cultura popular de base africana e foi instalado um estúdio de gravação de CD.[8] Ver Também
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