A chegada dos viquingues na península ibérica data de 840, quando um número indeterminado de embarcações bordeou a costa galega e asturiana, até chegar à actual Torre de Hércules - torre e farol situado na península da cidade da Corunha, em Espanha. O seu grande tamanho deve ter-lhes parecido importante, e saquearam a pequena aldeia situada a seus pés. Ordonho I teve notícias da expedição e convocou o seu exército para fazer frente à incursão, derrotando os viquingues e recuperando boa parte da pilhagem. Mandou afundar entre sessenta e setenta dos seus barcos, o que não deve ter sido uma grande vitória como demonstra o facto de que seguiram a sua campanha de saques. Em Lisboa, os cronistas falam de uma esquadra composta por 53 baixéis.[1]
No ano 844, outra expedição normanda arrasou a cidade de Gijón e seguiu a costa atlântica até chegar a Lisboa e atacá-la. Em seguida, tomaram Cádis e subiram de novo pelo Guadalquivir, saqueando minuciosamente Sevilha durante sete dias, a partir da qual lançaram ataques por terra. No entanto, quando Abderramão II saiu com os seus homens, e após algumas batalhas, os viquingues viram que não podiam vencer a força andaluza e fugiram, abandonando Sevilha e deixando muitos para trás, que se renderam às forças do Emir. Destes, os mais afortunados acabaram criando cavalos ou fazendo queijo; os menos, com o velho castigo para a pirataria: enforcados.
Durante o reinado de Afonso III das Astúrias, os viquingues chegaram a cortar as comunicações navais com o resto de Europa. O historiador e hispanista Richard Fletcher[2] menciona pelo menos duas incursões assinaláveis na Galiza em 844 e 858.
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Afonso III estava bastante preocupado pela ameaça dos viquingues para estabelecer postos fortificados na costa, como faziam outros reis.
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Em 858, os normandos subiram pelo Ebro desde Tortosa, subiram-no até ao Reino de Navarra, deixando atrás as inexpugnáveis cidades de Saragoça e Tudela, seguindo depois pelo seu afluente, o rio Aragão, até encontrarem o rio Arga, o qual também subiram, chegando até Pamplona, que saquearam, raptando ao rei navarro. Uma expedição similar atacou Orihuela a partir do rio Segura. Em 859, os viquingues chegaram de novo a Pamplona e sequestraram o novo rei Garcia I Iñíguez.
Em 968, o bispo Sisnando de Santiago de Compostela foi assassinado e o mosteiro de Curtis saqueado, tendo sido necessário adotar medidas para defender a cidade interior de Lugo. O saque de Tui, no século XI, deixou o cargo episcopal da cidade vazio por meio século. A montante no rio Minho, já na margem esquerda, nas arribas ribeirinhas de Melgaço, existem no monte do Prado dezenas de misteriosas e grandes cabeças de figuras fantásticas, iguais às que os viquingues esculpiam, pensam alguns historiadores terem esta origem. A captura e sequestro de reféns para pedir um resgate também foi prática comum: Fletcher menciona o pagamento de Amarelo Mestáliz para garantir a segurança da sua terra e resgatar as suas filhas, capturadas em 1015. O bispo Crescónio de Compostela (1036–66) repeliu ainda outro ataque viquingue e mandou construir as Torres do Oeste, em Catoira, como fortaleza naval para proteger Compostela. A Póvoa de Varzim, no norte de Portugal e a praia da Nazare foram colonizadas pelos viquingues; a cidade de Braga, muitas vezes saqueada, bem como todo o vale e localidades do vale do rio Cávado, com tanta frequência, que motivou a construção das impressionantes muralhas da cidade de Guimarães. Também a cidade do Porto e Lisboa sofreram ataques de grande importância. Mais contundente foi o conde Gonçalo Sancho, que destruiu toda a frota de Gunrod da Noruega; o conde Sancho capturou e esfaqueou toda a tripulação e seu rei.[1]
Não se sabe com certeza a causa ou causas que terminaram com os ataques viquingues. Alguns autores opinam que a aceitação da fé cristã por volta do ano 1000 pela maioria destes, atenuou o seu desejo de atacar a seus correligionários. Também se aponta que as incursões só constituíam uma moda e que terminaram quando deixaram de ser novidade. De qualquer modo, os reinos nórdicos desejavam cada vez mais abrir-se ao resto de Europa e comerciar com eles em lugar de os invadir. Como exemplo, está o caso do rei castelhano Afonso X de Leão e Castela, que casou o seu irmão Filipe com a princesa Cristina da Noruega a 31 de março de 1252, porque o dito casamento era conveniente tanto para Afonso X como para Haquino IV.[3]
Referências
↑ abEduardo Morais Moreno, Os viquingues em Espanha, nº 12 de História de Iberia Velha, HRH Editores, Madrid, 2006.
↑Ricardo Herren, Uma capilla para a princesa vikinga, nº 54 de A aventura da História, Arlanza Edições, Madrid, abril de 2003
Bibliografia
Pires, Hélio (2017). Os vikings em Portugal e na Galiza : as incursões nórdicas medievais no Ocidente Ibérico 1a. edição ed. Sintra, Portugal: [s.n.] OCLC 1009053452